Questões de Concurso
Comentadas sobre português
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Texto para o item.
Lima Barreto. Recordações do Escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 1995.
Internet: <http://www.dominiopublico.gov.br/>
A respeito dos aspectos gramaticais e dos sentidos do texto apresentado, julgue o item.
O prefixo des–, em “desprazer” (linha 5), exprime os
sentidos de intensidade e oposição.
Texto para o item.
Lima Barreto. Recordações do Escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 1995.
Internet: <http://www.dominiopublico.gov.br/>
Considerando as ideias, os sentidos e os aspectos linguísticos do texto apresentado, julgue o item.
O último período do texto é, em parte, opinativo, pois
nele o narrador tece uma crítica à onipotência dos
escrivães.
Texto para o item.
Lima Barreto. Recordações do Escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 1995.
Internet: <http://www.dominiopublico.gov.br/>
Considerando as ideias, os sentidos e os aspectos linguísticos do texto apresentado, julgue o item.
Infere-se do último parágrafo que o gerente do hotel
utilizava anedotas como estratégia para intimidar o
narrador.
O verbo disponibilizar (2º parágrafo) é
grafado com o sufixo “izar” por não
possuir um “s” na terminação de seu
radical. Essa regra também atinge a
palavra:
ESCREVA BEM, É SIMPLES
Não é preciso ser professor de língua portuguesa para conhecê-la. Os gramáticos não são os únicos capazes de produzir textos coerentes, concisos e adequados. Não, a língua portuguesa não é a mais difícil de ser entendida. Não, português não é difícil de aprender. Acredite, você é capaz de produzir textos concisos, caprichados e perfeitamente entendíveis às pessoas que você deseja que tenham acesso a eles.
Para começar, defina seu assunto, ou seja, sobre o que você pretende falar ou discursar. Entenda que não é o título (ao concluir seu texto, não se esqueça dele), mas o assunto a ser desenvolvido, aquele que será seu objeto de análise, tal como uma matéria-prima que precisa ser moldada para ter os formatos de acordo com o estilo de cada um.
Uma das dicas para isso é inserir em seu cotidiano a leitura em suas formas verbais e não verbais, tendo um olhar atencioso a todas as formas de textos que o rodeiam, tais como propaganda, folder, charge, placa de trânsito, anúncio de emprego, discurso de algum político, enfim, atente-se a tudo o que é capaz de transmitir uma mensagem. Aproveite para se questionar sobre como esses exemplos conseguem fazer com que uma mensagem seja entendida por um determinado grupo de pessoas.
Bom, escolhido o assunto, defina, indispensavelmente, seu público-alvo, pois ninguém escreve bem se não souber para quem vai escrever. Essa dica vale até mesmo se você desejar que seu texto seja lido por um grande número de pessoas. Nesse caso, utilize-se de uma linguagem simples e formal, ou seja, não utilize palavras que parecem existir apenas em dicionários e, muito menos, não utilize expressões grosseiras e gírias.
Observadas essas dicas, você pode, enfim, começar seu rascunho. Isso mesmo! Rascunho, pois um bom texto, na maioria das vezes, é o resultado de uma releitura realizada pelo próprio autor. Isso acontece porque, ao reler o que escrevemos, vamos identificando outras formas de passar a mesma informação. Nesse processo, aumentamos nossa garantia de que a mensagem será entendida pelos nossos receptores.
Além dessas regras que podem ser lembradas mais facilmente, vale uma dica muito importante: peça que outra pessoa leia seu texto, pois nada como um olhar diferente para apontar algumas falhas que, mesmo após nossa releitura, não conseguimos identificar.
(Adaptado de Erika de Souza Bueno, O Globo, 17-03-2012)
Todas as palavras abaixo, retiradas do
texto, foram formadas pelo processo de
sufixação; os sufixos acrescentados
possuem um papel estrutural na
formação dessas novas palavras. A
alternativa em que esse papel foi
corretamente indicado, em relação à
palavra destacada, é:
Entre os adjetivos qualificadores dos substantivos do texto 4 destacados abaixo, aquele que tem valor subjetivo é:
O demonstrativo ISSO (l. 9) se refere:
"Já vi muito comentarista burro, mas burro comentarista é a primeira vez."
Percebe-se que a classe gramatical das palavras se altera em função da ordem que elas assumem na expressão. Assinale a alternativa em que isso não ocorre:
UM PIROMANÍACO DESTRÓI UM MARCO
A sanha de um piromaníaco deixou a população coreana consternada na semana passada. Um homem de 69 anos, identificado apenas pelo nome de Chae, ateou fogo ao histórico portão Namdaemun, em Seul. Construído no século XIV, o portão era o principal monumento histórico do país. Durante séculos, marcou a entrada da cidade, circundada por muros. A estrutura do portão, de madeira, não resistiu às chamas e ruiu completamente. Chae confessou o crime e disse ter agido em retaliação pela baixa indenização que recebera da Prefeitura por um terreno. As autoridades coreanas planejam reconstruir o portal. Os trabalhos devem durar três anos e custar cerca de US$24 milhões. Em 2006, Chae já havia sido preso por incendiar uma parte do Palácio Real.
(Revista Época, 18 de fevereiro de 2008. pág. 16)
O processo de formação da palavra
“Piromaníaco” é:
I - Embora tivesse dinheiro, era uma pessoa muito agradável.
II- À medida que estudo, descubro que não sei de nada.
III- Como tinha previsto, não durou muito aquele relacionamento.
A sequência correta quanto à oração subordinada adverbial é:
O Texto a seguir refere-se ao item.
Adaptado
de: https://www.novaserrana.mg.gov.br/portal/noticias/0/3/1559/comunicado--respostas-de-oficios. Acesso em: 16 mar. 2022.
Considerando os aspectos linguísticos e semânticos do texto, julgue o seguinte item.
Em “...] venho solicitar a Vossa Excelência
[...]”, a expressão em destaque é uma
locução verbal cujo verbo auxiliar expressa
o resultado de uma ação, como em “Vim a
saber dessas coisas muito tarde”.
A arte silenciosa e o café
Ia escrever sobre café. Já escrevi algumas vezes sobre esse prazer que hoje me é proibido, por conta de uma esofagite. Queria refletir sobre o motivo de o nome das casas de café, muitas vezes, associarse à arte: Café Sabor & Arte, Café e Arte, Arte do Café, Café, Letras & Arte, etc. Uma amiga me disse que é porque a cafeína conduz a um estado sublime, tal qual a arte. Às vezes, o café pode estar amargo; e a arte também, muitas vezes, tem de ser amarga. Frequentar cafés, os estabelecimentos, não é um hábito tão comum no Brasil quanto na Europa ou nos EUA, onde tem dois cafés a cada quadra. Justo nós que somos seu maior e talvez melhor produtor.
Nos últimos anos, essa moda parece ter crescido. Nas grandes cidades, como aqui em Natal, já há lugares onde se pode sentar sem pressa, pedir um expresso, ler um livro. E há uma profusão de tipos para escolher: tem café orgânico, descafeinado, macchiato … tem até café para quem não quer sentir o gosto do café. Talvez, o café seja artístico porque saber tirar o café seja uma arte; que aliás dá nome a uma profissão que tem curso e sindicato na Itália, é a do barista (o operador de máquinas de café). A gente só descobre a diferença quando toma café tirado por barista, com pó de qualidade, máquina limpa e, sim, arte no tirar.
Sobre tudo isso eu queria escrever e reabilitar a minha paixão pelo café. Mas ontem à noite revi o filme O Rosto, de Bergman, e fui dormir (ou não domir) pensando na condição do artista enquanto escravo da tentativa de agradar. E nessa fase de pandemia em que proliferam lives e mais lives, às vezes, surdas plataformas de exibicionismo, o quanto talvez não caiamos na ilusão de que “somos atraentes quando somos mascarados”, nas palavras do cineasta sueco. O filme também discute fé e ceticismo, misticismo versus ciência, só para agregar mais atualidade a outro tema da película.
A morte, um de seus temas, também está lá, além da procura de Deus, um Deus silencioso que deixou os homens à própria sorte – lembremos que o cineasta era filho de um pastor austero. A solidão da certeza da morte, em muitos de seus filmes, é aliviada apenas pelo amor. Além de O Rosto, vemos isso em Ana e os lobos, Persona, O silêncio, Gritos e Sussurros, Cenas de um casamento e na mais psicanalítica de suas películas, plena de imagens surreais, Morangos Silvestres.
Tinha terminado esta coluna quando soube de uma homenagem ao cineasta italiano Michelangelo Antonioni na Itália. Reabro esse texto, apanho uma xícara de café (não posso, mas para isso existe omeprazol). Me lembro de que os dois morreram no mesmo dia, 30 de julho de 2007. Como esquecer a força que me causou Blow up, fita que vi sozinho, num quarto escuro, e que até hoje tento entender? Nela, com sutileza, sempre sutileza, e objetividade, esgarça o mais tênue limite entre aparência e realidade. Antonioni das mulheres sábias, do diálogo surdo entre Mastroianni e Monica Vitti em A Noite, dos espaços entre as falas para se adivinhar o que pensam as personagens. Antonioni da noite vazia, escura como café.
O que mais assemelha os dois cineastas talvez seja o silêncio, hoje tão raro nesse nosso descartável cinema barulhento. A força do silêncio, na amarga arte dos dois. Se Antonioni foi uma xícara vazia, Bergman foi o café do cinema ocidental.
André Carrico. Disponível em: https://apartamento702.com.br/cronica-arte-silenciosae-o-cafe/
A arte silenciosa e o café
Ia escrever sobre café. Já escrevi algumas vezes sobre esse prazer que hoje me é proibido, por conta de uma esofagite. Queria refletir sobre o motivo de o nome das casas de café, muitas vezes, associarse à arte: Café Sabor & Arte, Café e Arte, Arte do Café, Café, Letras & Arte, etc. Uma amiga me disse que é porque a cafeína conduz a um estado sublime, tal qual a arte. Às vezes, o café pode estar amargo; e a arte também, muitas vezes, tem de ser amarga. Frequentar cafés, os estabelecimentos, não é um hábito tão comum no Brasil quanto na Europa ou nos EUA, onde tem dois cafés a cada quadra. Justo nós que somos seu maior e talvez melhor produtor.
Nos últimos anos, essa moda parece ter crescido. Nas grandes cidades, como aqui em Natal, já há lugares onde se pode sentar sem pressa, pedir um expresso, ler um livro. E há uma profusão de tipos para escolher: tem café orgânico, descafeinado, macchiato … tem até café para quem não quer sentir o gosto do café. Talvez, o café seja artístico porque saber tirar o café seja uma arte; que aliás dá nome a uma profissão que tem curso e sindicato na Itália, é a do barista (o operador de máquinas de café). A gente só descobre a diferença quando toma café tirado por barista, com pó de qualidade, máquina limpa e, sim, arte no tirar.
Sobre tudo isso eu queria escrever e reabilitar a minha paixão pelo café. Mas ontem à noite revi o filme O Rosto, de Bergman, e fui dormir (ou não domir) pensando na condição do artista enquanto escravo da tentativa de agradar. E nessa fase de pandemia em que proliferam lives e mais lives, às vezes, surdas plataformas de exibicionismo, o quanto talvez não caiamos na ilusão de que “somos atraentes quando somos mascarados”, nas palavras do cineasta sueco. O filme também discute fé e ceticismo, misticismo versus ciência, só para agregar mais atualidade a outro tema da película.
A morte, um de seus temas, também está lá, além da procura de Deus, um Deus silencioso que deixou os homens à própria sorte – lembremos que o cineasta era filho de um pastor austero. A solidão da certeza da morte, em muitos de seus filmes, é aliviada apenas pelo amor. Além de O Rosto, vemos isso em Ana e os lobos, Persona, O silêncio, Gritos e Sussurros, Cenas de um casamento e na mais psicanalítica de suas películas, plena de imagens surreais, Morangos Silvestres.
Tinha terminado esta coluna quando soube de uma homenagem ao cineasta italiano Michelangelo Antonioni na Itália. Reabro esse texto, apanho uma xícara de café (não posso, mas para isso existe omeprazol). Me lembro de que os dois morreram no mesmo dia, 30 de julho de 2007. Como esquecer a força que me causou Blow up, fita que vi sozinho, num quarto escuro, e que até hoje tento entender? Nela, com sutileza, sempre sutileza, e objetividade, esgarça o mais tênue limite entre aparência e realidade. Antonioni das mulheres sábias, do diálogo surdo entre Mastroianni e Monica Vitti em A Noite, dos espaços entre as falas para se adivinhar o que pensam as personagens. Antonioni da noite vazia, escura como café.
O que mais assemelha os dois cineastas talvez seja o silêncio, hoje tão raro nesse nosso descartável cinema barulhento. A força do silêncio, na amarga arte dos dois. Se Antonioni foi uma xícara vazia, Bergman foi o café do cinema ocidental.
André Carrico. Disponível em: https://apartamento702.com.br/cronica-arte-silenciosae-o-cafe/
A arte silenciosa e o café
Ia escrever sobre café. Já escrevi algumas vezes sobre esse prazer que hoje me é proibido, por conta de uma esofagite. Queria refletir sobre o motivo de o nome das casas de café, muitas vezes, associarse à arte: Café Sabor & Arte, Café e Arte, Arte do Café, Café, Letras & Arte, etc. Uma amiga me disse que é porque a cafeína conduz a um estado sublime, tal qual a arte. Às vezes, o café pode estar amargo; e a arte também, muitas vezes, tem de ser amarga. Frequentar cafés, os estabelecimentos, não é um hábito tão comum no Brasil quanto na Europa ou nos EUA, onde tem dois cafés a cada quadra. Justo nós que somos seu maior e talvez melhor produtor.
Nos últimos anos, essa moda parece ter crescido. Nas grandes cidades, como aqui em Natal, já há lugares onde se pode sentar sem pressa, pedir um expresso, ler um livro. E há uma profusão de tipos para escolher: tem café orgânico, descafeinado, macchiato … tem até café para quem não quer sentir o gosto do café. Talvez, o café seja artístico porque saber tirar o café seja uma arte; que aliás dá nome a uma profissão que tem curso e sindicato na Itália, é a do barista (o operador de máquinas de café). A gente só descobre a diferença quando toma café tirado por barista, com pó de qualidade, máquina limpa e, sim, arte no tirar.
Sobre tudo isso eu queria escrever e reabilitar a minha paixão pelo café. Mas ontem à noite revi o filme O Rosto, de Bergman, e fui dormir (ou não domir) pensando na condição do artista enquanto escravo da tentativa de agradar. E nessa fase de pandemia em que proliferam lives e mais lives, às vezes, surdas plataformas de exibicionismo, o quanto talvez não caiamos na ilusão de que “somos atraentes quando somos mascarados”, nas palavras do cineasta sueco. O filme também discute fé e ceticismo, misticismo versus ciência, só para agregar mais atualidade a outro tema da película.
A morte, um de seus temas, também está lá, além da procura de Deus, um Deus silencioso que deixou os homens à própria sorte – lembremos que o cineasta era filho de um pastor austero. A solidão da certeza da morte, em muitos de seus filmes, é aliviada apenas pelo amor. Além de O Rosto, vemos isso em Ana e os lobos, Persona, O silêncio, Gritos e Sussurros, Cenas de um casamento e na mais psicanalítica de suas películas, plena de imagens surreais, Morangos Silvestres.
Tinha terminado esta coluna quando soube de uma homenagem ao cineasta italiano Michelangelo Antonioni na Itália. Reabro esse texto, apanho uma xícara de café (não posso, mas para isso existe omeprazol). Me lembro de que os dois morreram no mesmo dia, 30 de julho de 2007. Como esquecer a força que me causou Blow up, fita que vi sozinho, num quarto escuro, e que até hoje tento entender? Nela, com sutileza, sempre sutileza, e objetividade, esgarça o mais tênue limite entre aparência e realidade. Antonioni das mulheres sábias, do diálogo surdo entre Mastroianni e Monica Vitti em A Noite, dos espaços entre as falas para se adivinhar o que pensam as personagens. Antonioni da noite vazia, escura como café.
O que mais assemelha os dois cineastas talvez seja o silêncio, hoje tão raro nesse nosso descartável cinema barulhento. A força do silêncio, na amarga arte dos dois. Se Antonioni foi uma xícara vazia, Bergman foi o café do cinema ocidental.
André Carrico. Disponível em: https://apartamento702.com.br/cronica-arte-silenciosae-o-cafe/
Para responder à questão, leia o texto abaixo.
Não é de hoje que algumas mulheres marcam presença na política, como Magdalena Andersson e Sanna Marin, chanceleres da Suécia e da Finlândia. As duas ganharam evidência com o pedido de adesão de seus países à OTAN, diante da invasão da Rússia na Ucrânia. Pesquisa do Fórum Econômico Mundial sobre o tema (Global Gender Gap Report), publicada anualmente, aponta países da Escandinávia no topo dos mais igualitários quanto a cargos executivos e parlamentares divididos por homens e mulheres, com o Brasil em 106º lugar, entre 156 analisados. A participação cresce em Parlamentos e alguns ministérios importantes, como das Relações Exteriores. No último encontro do G7, em 12 de maio, em Wengels (Alemanha), a presença feminina chamou atenção. Participaram ministras como a britânica Elizabeth Truss, a canadense Melanie Joly, a americana Victoria Nuland e a alemã Annalena Baerbock. E a maior líder do continente nas últimas décadas já tinha sido uma mulher: a alemã Angela Merkel, recém-aposentada. Mesmo assim, ainda há um longo caminho a percorrer.
Para responder à questão, leia o texto abaixo.
Não é de hoje que algumas mulheres marcam presença na política, como Magdalena Andersson e Sanna Marin, chanceleres da Suécia e da Finlândia. As duas ganharam evidência com o pedido de adesão de seus países à OTAN, diante da invasão da Rússia na Ucrânia. Pesquisa do Fórum Econômico Mundial sobre o tema (Global Gender Gap Report), publicada anualmente, aponta países da Escandinávia no topo dos mais igualitários quanto a cargos executivos e parlamentares divididos por homens e mulheres, com o Brasil em 106º lugar, entre 156 analisados. A participação cresce em Parlamentos e alguns ministérios importantes, como das Relações Exteriores. No último encontro do G7, em 12 de maio, em Wengels (Alemanha), a presença feminina chamou atenção. Participaram ministras como a britânica Elizabeth Truss, a canadense Melanie Joly, a americana Victoria Nuland e a alemã Annalena Baerbock. E a maior líder do continente nas últimas décadas já tinha sido uma mulher: a alemã Angela Merkel, recém-aposentada. Mesmo assim, ainda há um longo caminho a percorrer.
Texto I
O conto do vigário (Joseli Dias)
Um conto de réis. Foi esta quantia, enorme para a época, que o velho pároco de Cantanzal perdeu para Pedro Lulu, boa vida cuja única ocupação, além de levar à perdição as mocinhas do lugar, era tocar viola para garantir, de uma casa em outra, o almoço de todos os dias. Nenhum vendeiro, por maior esforço de memória que fizesse, lembraria o dia em que Pedro Lulu tirou do bolso uma nota qualquer para comprar alguma coisa. Sempre vinha com uma conversa maneira, uma lábia enroladora e no final terminava por comprar o que queria, deixando fiado e desaparecendo por vários meses, até achar que o dono do boteco tinha esquecido a dívida, para fazer uma nova por cima.
A vida de Pedro Lulu era relativamente boa. Tocava nas festas, ganhava roupas usadas dos amigos e juras de amor de moças solteironas de Cantanzal. A vida mansa, no entanto, terminou quando o Padre Bastião chegou por ali. Homem sisudo, pregava o trabalho como meio único para progredir na vida. Ele mesmo dava exemplo, pegando no batente de manhã cedo, preparando massa de cimento e assentando tijolos da igreja em construção. Quando deu com Pedro Lulu, que só queria sombra e água fresca, iniciou uma verdadeira campanha contra ele. Nos sermões, pregava o trabalho árduo. Pedro Lulu era o exemplo mais formidável que dava aos fiéis. “Não tem família, não tem dinheiro, veste o que lhe dão, vive a cantar e a mendigar comida na mesa alheia”, pregava o padre, diante do rebanho.
Aos poucos Pedro Lulu foi perdendo amizades valiosas, os almoços oferecidos foram escasseando e até mesmo nas rodas de cantoria era olhado de lado por alguns.
“Isso tem que acabar”, disse consigo.
Naquele dia foi até a igreja e prostou-se diante do confessionário. Fingindo ser outra pessoa, pediu ao padre o mais absoluto segredo do que iria contar, porque havia prometido a um amigo que não faria o mesmo diante das maiores dificuldades, mas que vê-lo em tamanha necessidade, tinha resolvido confessar-se passando o segredo adiante.
O Padre, cujo único defeito era interessar-se
pela vida alheia, ficou todo ouvidos. E foi assim que
a misteriosa figura contou que Pedro Lulu era, na
verdade, riquíssimo, mas que por uma aposta que
fez, não podia usufruir de seus bens na capital, que
somavam milhares de contos de réis. [...]
Texto I
O conto do vigário (Joseli Dias)
Um conto de réis. Foi esta quantia, enorme para a época, que o velho pároco de Cantanzal perdeu para Pedro Lulu, boa vida cuja única ocupação, além de levar à perdição as mocinhas do lugar, era tocar viola para garantir, de uma casa em outra, o almoço de todos os dias. Nenhum vendeiro, por maior esforço de memória que fizesse, lembraria o dia em que Pedro Lulu tirou do bolso uma nota qualquer para comprar alguma coisa. Sempre vinha com uma conversa maneira, uma lábia enroladora e no final terminava por comprar o que queria, deixando fiado e desaparecendo por vários meses, até achar que o dono do boteco tinha esquecido a dívida, para fazer uma nova por cima.
A vida de Pedro Lulu era relativamente boa. Tocava nas festas, ganhava roupas usadas dos amigos e juras de amor de moças solteironas de Cantanzal. A vida mansa, no entanto, terminou quando o Padre Bastião chegou por ali. Homem sisudo, pregava o trabalho como meio único para progredir na vida. Ele mesmo dava exemplo, pegando no batente de manhã cedo, preparando massa de cimento e assentando tijolos da igreja em construção. Quando deu com Pedro Lulu, que só queria sombra e água fresca, iniciou uma verdadeira campanha contra ele. Nos sermões, pregava o trabalho árduo. Pedro Lulu era o exemplo mais formidável que dava aos fiéis. “Não tem família, não tem dinheiro, veste o que lhe dão, vive a cantar e a mendigar comida na mesa alheia”, pregava o padre, diante do rebanho.
Aos poucos Pedro Lulu foi perdendo amizades valiosas, os almoços oferecidos foram escasseando e até mesmo nas rodas de cantoria era olhado de lado por alguns.
“Isso tem que acabar”, disse consigo.
Naquele dia foi até a igreja e prostou-se diante do confessionário. Fingindo ser outra pessoa, pediu ao padre o mais absoluto segredo do que iria contar, porque havia prometido a um amigo que não faria o mesmo diante das maiores dificuldades, mas que vê-lo em tamanha necessidade, tinha resolvido confessar-se passando o segredo adiante.
O Padre, cujo único defeito era interessar-se
pela vida alheia, ficou todo ouvidos. E foi assim que
a misteriosa figura contou que Pedro Lulu era, na
verdade, riquíssimo, mas que por uma aposta que
fez, não podia usufruir de seus bens na capital, que
somavam milhares de contos de réis. [...]
Texto I
Durante toda a minha vida lidei mal com as demonstrações públicas de sofrimento. Sempre que tive que enfrentá-las, experimentei a inquietante sensação de que meu cérebro bloqueava a sensibilidade, inclusive em relação a mim mesmo. Lembro-me de que, quando minha mãe morreu no hospital, meu pai se jogou sobre seu corpo sem vida e começou a gritar. Sabia que ele a amara durante toda a sua vida de forma muito sincera, e eu mesmo estava tão aturdido pela dor que mal conseguia articular uma palavra, mas, mesmo assim, não pude evitar de sentir que toda a cena era extraordinariamente falsa, e aquilo me perturbou quase mais do que a morte em si. Logo parei de sentir, o quarto me pareceu maior e vazio, e na metade desse espaço pensei que todos nós tínhamos ficado rígidos como estátuas. A única coisa que eu era capaz de me repetir, sem parar, era: “Boa atuação, papai, que boa atuação, papai...”.
Quando vi aquela mulher gritando na praça, tive uma sensação parecida. O cabelo desgrenhado, as duas garotas quase adolescentes, os claros sinais de embriaguez... havia algo tão obsceno nela que nem sequer fiquei escandalizado com minha ausência de compaixão. Eu a olhava da janela do meu escritório como se a distância que nos separasse fosse cósmica. Ela gritava, e seus gritos não faziam sentido. Insultava alternadamente o prefeito e Camilo Ortiz, que deveria estar escutando tudo de sua cela. Eu me sentei e continuei trabalhando. A mulher se calou. Houve um silêncio inesperado e então começou a gritar de novo, mas de forma muito diferente: “Foram as crianças! Foram as crianças!”.
(BARBA, Andrés. República Luminosa.
São Paulo: Todavia, 2018, p. 35)