Leia o texto a seguir para responder a questão.
Quais os desafios dos professores para
incorporar as novas tecnologias no ensino?
A incorporação das novas tecnologias no
ensino tornou-se um dos principais debates da
educação na atualidade. Robótica, jogos
eletrônicos, inteligência artificial e realidade
aumentada são apenas algumas das novidades
que têm movimentado o mercado educacional e
sido inseridas nas escolas.
Na realidade da sala de aula, porém, ainda há
muita discussão sobre como integrar as novidades
ao dia a dia escolar. Por mais que a desconfiança
docente com relação ao uso das novas
tecnologias venha diminuindo, ainda há muitos
desafios para incorporar essas ferramentas de
forma efetiva, contribuindo para a aprendizagem
dos alunos. Para compreender quais são esses
obstáculos, professores da educação básica
falaram sobre o panorama da área e
compartilharam suas experiências com o uso dos
recursos tecnológicos em sala de aula. Entre as
principais dificuldades apontadas pelos
educadores está a formação docente insuficiente
para a área.
“As novas tecnologias ajudam no aprendizado
a partir do momento em que o professor se
apropria desse conhecimento”, avalia Diego
Trujillo: “Mas vejo que a formação ainda é carente.
Há um desejo do professor de aprender, mas ele
não sabe para onde ou como ir.”
Os números demonstram que a formação é
mesmo um dos grandes desafios no que diz
respeito ao uso da tecnologia. De acordo com a
pesquisa TIC Educação 2016, do Centro Regional
de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade
da Informação (Cetic.br), 54% dos professores
não cursaram na graduação disciplina específica
sobre como usar computador e internet em
atividades com os alunos. Além disso, 70% não
realizaram formação continuada sobre o tema no
ano anterior ao levantamento. Dos que realizaram,
20% afirmaram que a capacitação “contribuiu
muito” para a atualização na área.
Nesse cenário, a busca por novas formas de
explorar os recursos tecnológicos acaba por
depender da iniciativa do próprio professor. Na
visão de Trujillo, a própria escola pode ajudar a
reverter o quadro oferecendo apoio ao docente. “É
necessário que a equipe pedagógica tenha um
especialista em tecnologia educacional. Esse é um novo profissional de extrema importância”,
afirma.
Dada a formação insuficiente, torna-se mais
difícil explorar as potencialidades pedagógicas
das novas tecnologias. E, em muitos casos, isso
pode levar a uma certa resistência com relação ao
seu uso, fazendo com que métodos mais
tradicionais sigam sendo reproduzidos.
“O maior desafio atualmente é os professores
conseguirem notar que a tecnologia pode tornar o
processo de ensino-aprendizagem melhor”, opina
Rafael Ribeiro. Para o educador, parte da
desconfiança de alguns docentes com relação ao
uso das novas tecnologias vem das mudanças
que elas causam na própria rotina da aula. “É algo
que tira o professor da zona de conforto. É uma
ferramenta que precisa de estudo em casa, de um
planejamento maior, de um período semanal que
exige reflexão e estudo.” Outro fator que gera
desconfiança é o medo de a tecnologia atuar como
um distrator. No uso da internet, por exemplo, o
receio é que os alunos acabem desviando a
atenção do conteúdo para as redes sociais.
Na visão de Edilene von Wallwitz, driblar o
problema também passa pela formação docente.
“O professor precisa dominar essas ferramentas,
participar de cursos, se inteirar a respeito, praticar.
É preciso estar embasado para manter a atenção
do aluno”, analisa.
No caso da rede pública, há um problema
ainda anterior à apropriação das novas
tecnologias: a falta de infraestrutura. Segundo
uma pesquisa de 2017 do movimento Todos pela
Educação, 66% dos professores da rede apontam
o número insuficiente de equipamentos como
limitador no uso dos recursos tecnológicos no
ensino. Além disso, 64% indicam a velocidade
insuficiente da internet como restrição. “[Nas
escolas públicas] temos o básico, que é internet
na escola para documentação, secretaria. Para
uso de aluno e professor, a gente não tem”, conta
Regina de Freitas, professora de língua
portuguesa na rede pública.
Quando a escola dispõe do equipamento,
podem surgir novos empecilhos — como a falta de
manutenção. “A gente não consegue terminar o
trabalho com o aluno porque o computador está
com problema, a lousa digital tem algum defeito, a
internet não funciona legal”, diz Angélica
Guimarães, professora de Língua Portuguesa na
rede pública. “Muitos professores optam por não
utilizar [os recursos tecnológicos] para não perder
tempo da aula. Às vezes, ao invés de otimizar o
aprendizado, otimizar o tempo, acaba
prejudicando.”
O que eles fazem:
Regina de Freitas, professora de Língua
Portuguesa na rede pública, criou, um projeto que
incorporou o uso do WhatsApp para o estudo dos
gêneros textuais. Para isso, ela criou grupos com
os estudantes dos oitavo e nono anos, que
passaram a mandar os textos produzidos em casa
pelo aplicativo de mensagens. Com um projeto
simples, ela afirma ter observado como resultados
a facilitação da comunicação e um aumento da
motivação das turmas. “Alguns alunos que já
tinham gosto pela escrita me enviaram até outros
textos, que não estavam relacionados com o
gênero que eu estava pedindo. Eu aceitava e
revisava”, conta.
Edilene von Wallwitz, professora de Língua
Portuguesa e Alemão na rede privada, é uma
entusiasta do uso da tecnologia na educação,
especialmente pela aproximação com o cotidiano
dos adolescentes. A educadora utiliza, entre
outras ferramentas, aplicativos que permitem
gamificar as aulas — como o Kahoot. “O fator
motivação, com jogos e competição, ajuda no
aprendizado”, avalia.
Rafael Ribeiro, professor de Biologia na rede
privada, explora a tecnologia em sala de aula
desde 2014. Entre as principais vantagens da
utilização desses recursos, ele destaca a
possibilidade de mostrar vídeos e modelos 3D aos
alunos, o que facilita a visualização dos conteúdos
estudados. Além disso, o educador busca utilizar
ferramentas que otimizem processos. “Também
aplico provas utilizando formulário Google, que
corrige automaticamente as questões-testes. Já
as dissertativas eu corrijo individualmente e envio
a nota para o aluno por e-mail com o gabarito
embaixo. Ou seja, todo esse processo ficou muito
mais instantâneo.”
Fonte: FONTOURA, Juliana. Revista Educação. Edição 249. 09 maio 2018. Disponível em: <https://revistaeducacao.com.br>. Acesso em: 09 jul. 2024 (adaptado).