TEXTO: EDUCAÇÃO E PRÁTICA DE CIDADANIA
(1º§) Quase todas as escolas têm, atualmente, um projeto que prega a educação para a cidadania. Na hora de
escolher a escola, muitos pais priorizam esse item porque acreditam que esse é um valor importante no
mundo atual e apostam que a escola cumpra essa missão. Mas, pelo jeito, ou essa tal educação existe só na
teoria e no papel - esta é a hipótese mais próxima da realidade ou a escola ensina e os alunos não aprendem,
ou seja, ela não sabe ensinar.
(2º§) Podemos levantar essas hipóteses a partir de situações que foram notícia nos jornais nos últimos meses
em que jovens e a falta de comportamento civilizado caminharam lado a lado. A última notícia, aliás, merece
destaque por ter ocorrido justamente dentro de uma escola, o campus dé Franca da UNESP.
(3º§) Pela reportagem publicada pela Folha em 14/11/2010, sete alunos do curso de história foram punidos
com expulsão em virtude do protesto que fizeram na presença do reitor contra a falta de estrutura da
universidade. (...)
(4º§) O que é, afinal, educar para o exercício da cidadania? Esse é um conceito bem abrangente, mas,
certamente, alguns princípios estão vinculados a ele.
(5º§) A escola que pretende educar para a cidadania precisa, por exemplo, ensinar a conviver com justiça,
respeito e solidariedade, praticar a participação democrática efetiva, ensinar o compromisso com a liberdade,
dar lições a respeito da responsabilidade com os deveres e da luta pelos direitos, entre alguns outros pontos.
Além de ensinar tudo isso tendo como eixo principal o conhecimento, a escola precisa também praticar o que
ensina com todos os envolvidos no processo educativo. Isso acontece? Basta um dia em qualquer escola para
testemunhar o contrário.
(6º§) E como a escola reage? A maioria é cega ou faz vista grossa para as contradições: entre sua prática e seus
anseios educacionais. Para saber qual é o projeto político - pedagógico de uma escola, por exemplo, é preciso
ler o documento em que ela declara o que pretende e como entende o que significa educar para a cidadania.
Isso deveria ser possível, entretanto, apenas observando um dia de vida na escola, não é verdade?
(7º§) A hostilidade e a agressividade nas relações de convivência entre alunos são fruto de muitos fatores. Um
deles é, sem dúvida nenhuma, a educação que recebem em casa e na escola.: Por isso podemos concluir que
pais e professores não têm estado atentos a essa questão.
(8º§) Para exercitar a cidadania é preciso saber dialogar, debater, discordar e protestar. Com firmeza e com
respeito. Mas pais e professores ensinam aos mais novos que participar é dizer, o que se pensa, é expressar a
opinião a respeito de algum assunto sem crítica nenhuma. Aliás, os adultos ensinam isso tanto pela educação
que praticam quanto pelo próprio comportamento, sempre atentamente observado pelos mais novos. Os
jovens e as crianças não sabem o que é dialogar, negociar, ceder. Os argumentos que usam nos debates são,
em geral, vazios e imaturos.
(9º§) Os estudantes da UNESP que foram expulsos discordam da punição, é claro. Sabe qual a razão que
usam, segundo a reportagem, para justificar o desacordo com a medida? Consideram a decisão "exagerada"
porque todos os alunos envolvidos são primários. E pensar que são universitários do curso de história que têm
esse discurso. (...) Reflita mais um pouco sobre “educação e prática de cidadania”
(10º§) Pais e professores precisam saber que educar para o exercício da cidadania, ou seja, ensinar aos mais
novos o que torna possível a convivência no espaço público e exigir que tenham comportamentos e atitudes
coerentes com o que aprendem é uma questão de sobrevivência social.
(ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de “Como Educar Meu Filho?" Folha de São Paulo. (ed. Publifolha] —
(Adaptado)