Questões de Concurso Sobre português

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Q3114194 Português
A vida dá voltas

   Sou um tipo meio fatalista. Acho que a vida dá voltas. Um amigo meu, Luís, casou-se com Cláudia, uma mulher egoísta. Ele era filho único, de mãe separada e sem pensão. Durante algum tempo, a mãe de Luís foi sustentada pelo próprio tio, um solteirão. Quando este faleceu, começaram as brigas domésticas: Cláudia não admitia que Luís desse dinheiro à mãe. Ele era um rapaz de classe média. Por algum tempo, arrumou trabalhos extras para ajudar a idosa.
   Convencido pela esposa, ele mudou-se para longe. Visitava a mãe uma vez por ano. Para se livrar da questão financeira, Luís convenceu a mãe a vender o apartamento. Durante alguns anos, ela viveu desse dinheiro. Muitas vezes, lamentava a falta do filho, mas o que fazer? Luís, sempre tão ocupado, viajando pelo mundo todo, não tinha tempo disponível. Na casa da mãe, faltou até o essencial. E ela faleceu sozinha.
     O tempo passou. Hoje, Luís, antes um profissional disputado, está desempregado. Foi obrigado a se instalar com a família na casa dos sogros, onde é atormentado diariamente. A filha de Luís e Cláudia cresceu e saiu de casa. Quer seguir seu próprio rumo!
     Luís não tem renda, nem bens. Está quase se divorciando. Ficou fora do mercado de trabalho. O que vai acontecer? A filha cuidará dele? Tenho dúvidas, porque ele não a ensinou com seu próprio exemplo.
    A vida é um eterno ciclo afetivo. Em uma época todos nós somos filhos. Em outra, tornamo-nos pais: é a nossa vez de cuidar de quem cuidou de nós.

(Walcyr Carrasco)
Disponível em: http://vejasp.abril.com.br. Acesso em 25.09.2024. Adaptado) 
Na frase "Na casa da mãe, faltou até o essencial", o advérbio "até" tem sentido de: 
Alternativas
Q3114122 Português
Leia com atenção as afirmativas abaixo:

I.Fui ao supermercado ontem e comprei frutas.
II.Vamos sair mais tarde para encontrar os amigos.
III.Choveu bastante durante a madrugada.
IV.Disseram que a festa será incrível.
V.Estava pensando em viajar no próximo feriado.

Em quais das afirmativas lidas há o emprego de um sujeito oculto?
Alternativas
Q3114121 Português
Leia atenciosamente as alternativas abaixo e assinale aquela que não possui nenhum erro de concordância nominal: 
Alternativas
Q3114120 Português
Leia com atenção a afirmativa abaixo:

O humorista agradeceu a oportunidade ao público.

Qual a transitividade verbal presente na sentença acima?
Alternativas
Q3114119 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.

Estudo brasileiro usa nanotecnologia para detectar dengue, zika e chikungunya

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) busca acelerar o diagnóstico de arboviroses, como zika, chikungunya e dengue. O novo teste, ainda em estudo, se baseia na utilização de nanopartículas de ouro para detectar proteínas específicas do organismo e indicar infecções e surge como alternativa aos exames tradicionais, que podem demorar dias para apresentar os resultados.

O trabalho é orientado pela professora do Departamento de Química Inorgânica da UFF, Célia Machado Ronconi, em parceria com pesquisadores do Instituto de Biologia da UFF e visa apresentar um diagnóstico diferencial entre dengue, zika e chikungunya de forma mais rápida e eficiente.

"Os sintomas de doenças como dengue, zika e chikungunya são muito parecidos, o que dificulta a identificação clínica sem um exame laboratorial preciso. Decidimos, então, adaptar a metodologia que já tínhamos utilizado com sucesso para a Covid-19", explica Ronconi, em comunicado divulgado pela UFF.

O novo teste foi inspirado em uma pesquisa anterior, realizada durante a pandemia da Covid-19, na qual pesquisadores da UFF criaram um método utilizando nanopartículas de ouro para identificar rapidamente a presença da proteína-base do vírus no organismo humano. A estratégia resultou em uma forma eficaz de detectar o microrganismo. A solução foi publicada e patenteada pelo grupo de pesquisadores.

No estudo, as nanopartículas foram ligadas aos anticorpos específicos da zika para detectar uma proteína chamada NS1, que aparece no sangue de pessoas infectadas pelo vírus causador da doença. Segundo Ronconi, as propriedades das nanopartículas de ouro espalham a luz e, consequentemente, quando são ligadas aos anticorpos que identificam o vírus ou a proteína NS1, é possível monitorar a mudança no espalhamento da luz em função da alteração do tamanho das nanopartículas.

Além disso, na ausência da proteína, essas partículas se agregam. No entanto, quando a proteína está presente, ela impede a agregação das nanopartículas. Consequentemente, é possível identificar a presença da proteína NS1 pela mudança no espalhamento da radiação.

A proteína NS1 é produzida no organismo durante a infecção pelo vírus da zika e, por isso, ao ser identificada, é possível confirmar que a pessoa está doente, de acordo com a professora. "Ela [a proteína] é liberada no organismo quando o vírus da zika começa a se replicar e pode ser detectada em concentrações significativas no plasma sanguíneo", explica Ronconi.

O próximo passo dos pesquisadores é validar o método em amostras reais de plasma sanguíneo de pacientes. Para a pesquisadora, o desenvolvimento de testes mais rápidos e eficazes é essencial para garantir diagnósticos assertivos e direcionados.

"Às vezes, é preciso esperar dias para realizar o exame e obter o resultado, mas nesse tempo a pessoa já poderia estar sendo medicada corretamente. Atualmente, muitos diagnósticos são baseados nos sintomas relatados pelos pacientes, o que pode gerar incertezas", comenta Ronconi. "Sem exames laboratoriais rápidos, é comum que o médico fique em dúvida entre as diferentes doenças pela semelhança dos sintomas, como dengue, chikungunya, zika, ou até o recente vírus oropouche, que tem se espalhado devido ao desmatamento."

Além disso, a professora defende que testes mais rápidos podem evitar a sobrecarga nos sistemas de saúde em cenários de epidemias.

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estudo-brasileiro-usa-nanotecnolog ia-para-detectar-dengue-zika-e-chikungunya/
Como a presença da proteína NS1 indica a infecção pelo vírus da zika no estudo descrito? 
Alternativas
Q3114118 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.

Estudo brasileiro usa nanotecnologia para detectar dengue, zika e chikungunya

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) busca acelerar o diagnóstico de arboviroses, como zika, chikungunya e dengue. O novo teste, ainda em estudo, se baseia na utilização de nanopartículas de ouro para detectar proteínas específicas do organismo e indicar infecções e surge como alternativa aos exames tradicionais, que podem demorar dias para apresentar os resultados.

O trabalho é orientado pela professora do Departamento de Química Inorgânica da UFF, Célia Machado Ronconi, em parceria com pesquisadores do Instituto de Biologia da UFF e visa apresentar um diagnóstico diferencial entre dengue, zika e chikungunya de forma mais rápida e eficiente.

"Os sintomas de doenças como dengue, zika e chikungunya são muito parecidos, o que dificulta a identificação clínica sem um exame laboratorial preciso. Decidimos, então, adaptar a metodologia que já tínhamos utilizado com sucesso para a Covid-19", explica Ronconi, em comunicado divulgado pela UFF.

O novo teste foi inspirado em uma pesquisa anterior, realizada durante a pandemia da Covid-19, na qual pesquisadores da UFF criaram um método utilizando nanopartículas de ouro para identificar rapidamente a presença da proteína-base do vírus no organismo humano. A estratégia resultou em uma forma eficaz de detectar o microrganismo. A solução foi publicada e patenteada pelo grupo de pesquisadores.

No estudo, as nanopartículas foram ligadas aos anticorpos específicos da zika para detectar uma proteína chamada NS1, que aparece no sangue de pessoas infectadas pelo vírus causador da doença. Segundo Ronconi, as propriedades das nanopartículas de ouro espalham a luz e, consequentemente, quando são ligadas aos anticorpos que identificam o vírus ou a proteína NS1, é possível monitorar a mudança no espalhamento da luz em função da alteração do tamanho das nanopartículas.

Além disso, na ausência da proteína, essas partículas se agregam. No entanto, quando a proteína está presente, ela impede a agregação das nanopartículas. Consequentemente, é possível identificar a presença da proteína NS1 pela mudança no espalhamento da radiação.

A proteína NS1 é produzida no organismo durante a infecção pelo vírus da zika e, por isso, ao ser identificada, é possível confirmar que a pessoa está doente, de acordo com a professora. "Ela [a proteína] é liberada no organismo quando o vírus da zika começa a se replicar e pode ser detectada em concentrações significativas no plasma sanguíneo", explica Ronconi.

O próximo passo dos pesquisadores é validar o método em amostras reais de plasma sanguíneo de pacientes. Para a pesquisadora, o desenvolvimento de testes mais rápidos e eficazes é essencial para garantir diagnósticos assertivos e direcionados.

"Às vezes, é preciso esperar dias para realizar o exame e obter o resultado, mas nesse tempo a pessoa já poderia estar sendo medicada corretamente. Atualmente, muitos diagnósticos são baseados nos sintomas relatados pelos pacientes, o que pode gerar incertezas", comenta Ronconi. "Sem exames laboratoriais rápidos, é comum que o médico fique em dúvida entre as diferentes doenças pela semelhança dos sintomas, como dengue, chikungunya, zika, ou até o recente vírus oropouche, que tem se espalhado devido ao desmatamento."

Além disso, a professora defende que testes mais rápidos podem evitar a sobrecarga nos sistemas de saúde em cenários de epidemias.

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estudo-brasileiro-usa-nanotecnolog ia-para-detectar-dengue-zika-e-chikungunya/
Como as nanopartículas de ouro ajudam a detectar a presença do vírus da zika no estudo realizado?
Alternativas
Q3114117 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.

Estudo brasileiro usa nanotecnologia para detectar dengue, zika e chikungunya

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) busca acelerar o diagnóstico de arboviroses, como zika, chikungunya e dengue. O novo teste, ainda em estudo, se baseia na utilização de nanopartículas de ouro para detectar proteínas específicas do organismo e indicar infecções e surge como alternativa aos exames tradicionais, que podem demorar dias para apresentar os resultados.

O trabalho é orientado pela professora do Departamento de Química Inorgânica da UFF, Célia Machado Ronconi, em parceria com pesquisadores do Instituto de Biologia da UFF e visa apresentar um diagnóstico diferencial entre dengue, zika e chikungunya de forma mais rápida e eficiente.

"Os sintomas de doenças como dengue, zika e chikungunya são muito parecidos, o que dificulta a identificação clínica sem um exame laboratorial preciso. Decidimos, então, adaptar a metodologia que já tínhamos utilizado com sucesso para a Covid-19", explica Ronconi, em comunicado divulgado pela UFF.

O novo teste foi inspirado em uma pesquisa anterior, realizada durante a pandemia da Covid-19, na qual pesquisadores da UFF criaram um método utilizando nanopartículas de ouro para identificar rapidamente a presença da proteína-base do vírus no organismo humano. A estratégia resultou em uma forma eficaz de detectar o microrganismo. A solução foi publicada e patenteada pelo grupo de pesquisadores.

No estudo, as nanopartículas foram ligadas aos anticorpos específicos da zika para detectar uma proteína chamada NS1, que aparece no sangue de pessoas infectadas pelo vírus causador da doença. Segundo Ronconi, as propriedades das nanopartículas de ouro espalham a luz e, consequentemente, quando são ligadas aos anticorpos que identificam o vírus ou a proteína NS1, é possível monitorar a mudança no espalhamento da luz em função da alteração do tamanho das nanopartículas.

Além disso, na ausência da proteína, essas partículas se agregam. No entanto, quando a proteína está presente, ela impede a agregação das nanopartículas. Consequentemente, é possível identificar a presença da proteína NS1 pela mudança no espalhamento da radiação.

A proteína NS1 é produzida no organismo durante a infecção pelo vírus da zika e, por isso, ao ser identificada, é possível confirmar que a pessoa está doente, de acordo com a professora. "Ela [a proteína] é liberada no organismo quando o vírus da zika começa a se replicar e pode ser detectada em concentrações significativas no plasma sanguíneo", explica Ronconi.

O próximo passo dos pesquisadores é validar o método em amostras reais de plasma sanguíneo de pacientes. Para a pesquisadora, o desenvolvimento de testes mais rápidos e eficazes é essencial para garantir diagnósticos assertivos e direcionados.

"Às vezes, é preciso esperar dias para realizar o exame e obter o resultado, mas nesse tempo a pessoa já poderia estar sendo medicada corretamente. Atualmente, muitos diagnósticos são baseados nos sintomas relatados pelos pacientes, o que pode gerar incertezas", comenta Ronconi. "Sem exames laboratoriais rápidos, é comum que o médico fique em dúvida entre as diferentes doenças pela semelhança dos sintomas, como dengue, chikungunya, zika, ou até o recente vírus oropouche, que tem se espalhado devido ao desmatamento."

Além disso, a professora defende que testes mais rápidos podem evitar a sobrecarga nos sistemas de saúde em cenários de epidemias.

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estudo-brasileiro-usa-nanotecnolog ia-para-detectar-dengue-zika-e-chikungunya/
Qual é uma das principais razões para a necessidade de testes mais rápidos, segundo a pesquisadora Ronconi?
Alternativas
Q3114116 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.

Estudo brasileiro usa nanotecnologia para detectar dengue, zika e chikungunya

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) busca acelerar o diagnóstico de arboviroses, como zika, chikungunya e dengue. O novo teste, ainda em estudo, se baseia na utilização de nanopartículas de ouro para detectar proteínas específicas do organismo e indicar infecções e surge como alternativa aos exames tradicionais, que podem demorar dias para apresentar os resultados.

O trabalho é orientado pela professora do Departamento de Química Inorgânica da UFF, Célia Machado Ronconi, em parceria com pesquisadores do Instituto de Biologia da UFF e visa apresentar um diagnóstico diferencial entre dengue, zika e chikungunya de forma mais rápida e eficiente.

"Os sintomas de doenças como dengue, zika e chikungunya são muito parecidos, o que dificulta a identificação clínica sem um exame laboratorial preciso. Decidimos, então, adaptar a metodologia que já tínhamos utilizado com sucesso para a Covid-19", explica Ronconi, em comunicado divulgado pela UFF.

O novo teste foi inspirado em uma pesquisa anterior, realizada durante a pandemia da Covid-19, na qual pesquisadores da UFF criaram um método utilizando nanopartículas de ouro para identificar rapidamente a presença da proteína-base do vírus no organismo humano. A estratégia resultou em uma forma eficaz de detectar o microrganismo. A solução foi publicada e patenteada pelo grupo de pesquisadores.

No estudo, as nanopartículas foram ligadas aos anticorpos específicos da zika para detectar uma proteína chamada NS1, que aparece no sangue de pessoas infectadas pelo vírus causador da doença. Segundo Ronconi, as propriedades das nanopartículas de ouro espalham a luz e, consequentemente, quando são ligadas aos anticorpos que identificam o vírus ou a proteína NS1, é possível monitorar a mudança no espalhamento da luz em função da alteração do tamanho das nanopartículas.

Além disso, na ausência da proteína, essas partículas se agregam. No entanto, quando a proteína está presente, ela impede a agregação das nanopartículas. Consequentemente, é possível identificar a presença da proteína NS1 pela mudança no espalhamento da radiação.

A proteína NS1 é produzida no organismo durante a infecção pelo vírus da zika e, por isso, ao ser identificada, é possível confirmar que a pessoa está doente, de acordo com a professora. "Ela [a proteína] é liberada no organismo quando o vírus da zika começa a se replicar e pode ser detectada em concentrações significativas no plasma sanguíneo", explica Ronconi.

O próximo passo dos pesquisadores é validar o método em amostras reais de plasma sanguíneo de pacientes. Para a pesquisadora, o desenvolvimento de testes mais rápidos e eficazes é essencial para garantir diagnósticos assertivos e direcionados.

"Às vezes, é preciso esperar dias para realizar o exame e obter o resultado, mas nesse tempo a pessoa já poderia estar sendo medicada corretamente. Atualmente, muitos diagnósticos são baseados nos sintomas relatados pelos pacientes, o que pode gerar incertezas", comenta Ronconi. "Sem exames laboratoriais rápidos, é comum que o médico fique em dúvida entre as diferentes doenças pela semelhança dos sintomas, como dengue, chikungunya, zika, ou até o recente vírus oropouche, que tem se espalhado devido ao desmatamento."

Além disso, a professora defende que testes mais rápidos podem evitar a sobrecarga nos sistemas de saúde em cenários de epidemias.

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estudo-brasileiro-usa-nanotecnolog ia-para-detectar-dengue-zika-e-chikungunya/
Qual é a principal vantagem do novo teste para diagnóstico de arboviroses desenvolvido pela Universidade Federal Fluminense (UFF)? 
Alternativas
Q3114115 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.

Estudo brasileiro usa nanotecnologia para detectar dengue, zika e chikungunya

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) busca acelerar o diagnóstico de arboviroses, como zika, chikungunya e dengue. O novo teste, ainda em estudo, se baseia na utilização de nanopartículas de ouro para detectar proteínas específicas do organismo e indicar infecções e surge como alternativa aos exames tradicionais, que podem demorar dias para apresentar os resultados.

O trabalho é orientado pela professora do Departamento de Química Inorgânica da UFF, Célia Machado Ronconi, em parceria com pesquisadores do Instituto de Biologia da UFF e visa apresentar um diagnóstico diferencial entre dengue, zika e chikungunya de forma mais rápida e eficiente.

"Os sintomas de doenças como dengue, zika e chikungunya são muito parecidos, o que dificulta a identificação clínica sem um exame laboratorial preciso. Decidimos, então, adaptar a metodologia que já tínhamos utilizado com sucesso para a Covid-19", explica Ronconi, em comunicado divulgado pela UFF.

O novo teste foi inspirado em uma pesquisa anterior, realizada durante a pandemia da Covid-19, na qual pesquisadores da UFF criaram um método utilizando nanopartículas de ouro para identificar rapidamente a presença da proteína-base do vírus no organismo humano. A estratégia resultou em uma forma eficaz de detectar o microrganismo. A solução foi publicada e patenteada pelo grupo de pesquisadores.

No estudo, as nanopartículas foram ligadas aos anticorpos específicos da zika para detectar uma proteína chamada NS1, que aparece no sangue de pessoas infectadas pelo vírus causador da doença. Segundo Ronconi, as propriedades das nanopartículas de ouro espalham a luz e, consequentemente, quando são ligadas aos anticorpos que identificam o vírus ou a proteína NS1, é possível monitorar a mudança no espalhamento da luz em função da alteração do tamanho das nanopartículas.

Além disso, na ausência da proteína, essas partículas se agregam. No entanto, quando a proteína está presente, ela impede a agregação das nanopartículas. Consequentemente, é possível identificar a presença da proteína NS1 pela mudança no espalhamento da radiação.

A proteína NS1 é produzida no organismo durante a infecção pelo vírus da zika e, por isso, ao ser identificada, é possível confirmar que a pessoa está doente, de acordo com a professora. "Ela [a proteína] é liberada no organismo quando o vírus da zika começa a se replicar e pode ser detectada em concentrações significativas no plasma sanguíneo", explica Ronconi.

O próximo passo dos pesquisadores é validar o método em amostras reais de plasma sanguíneo de pacientes. Para a pesquisadora, o desenvolvimento de testes mais rápidos e eficazes é essencial para garantir diagnósticos assertivos e direcionados.

"Às vezes, é preciso esperar dias para realizar o exame e obter o resultado, mas nesse tempo a pessoa já poderia estar sendo medicada corretamente. Atualmente, muitos diagnósticos são baseados nos sintomas relatados pelos pacientes, o que pode gerar incertezas", comenta Ronconi. "Sem exames laboratoriais rápidos, é comum que o médico fique em dúvida entre as diferentes doenças pela semelhança dos sintomas, como dengue, chikungunya, zika, ou até o recente vírus oropouche, que tem se espalhado devido ao desmatamento."

Além disso, a professora defende que testes mais rápidos podem evitar a sobrecarga nos sistemas de saúde em cenários de epidemias.

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estudo-brasileiro-usa-nanotecnolog ia-para-detectar-dengue-zika-e-chikungunya/
Qual é o principal objetivo do trabalho orientado pela professora Célia Machado Ronconi, da UFF? 
Alternativas
Q3114114 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.

Estudo brasileiro usa nanotecnologia para detectar dengue, zika e chikungunya

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) busca acelerar o diagnóstico de arboviroses, como zika, chikungunya e dengue. O novo teste, ainda em estudo, se baseia na utilização de nanopartículas de ouro para detectar proteínas específicas do organismo e indicar infecções e surge como alternativa aos exames tradicionais, que podem demorar dias para apresentar os resultados.

O trabalho é orientado pela professora do Departamento de Química Inorgânica da UFF, Célia Machado Ronconi, em parceria com pesquisadores do Instituto de Biologia da UFF e visa apresentar um diagnóstico diferencial entre dengue, zika e chikungunya de forma mais rápida e eficiente.

"Os sintomas de doenças como dengue, zika e chikungunya são muito parecidos, o que dificulta a identificação clínica sem um exame laboratorial preciso. Decidimos, então, adaptar a metodologia que já tínhamos utilizado com sucesso para a Covid-19", explica Ronconi, em comunicado divulgado pela UFF.

O novo teste foi inspirado em uma pesquisa anterior, realizada durante a pandemia da Covid-19, na qual pesquisadores da UFF criaram um método utilizando nanopartículas de ouro para identificar rapidamente a presença da proteína-base do vírus no organismo humano. A estratégia resultou em uma forma eficaz de detectar o microrganismo. A solução foi publicada e patenteada pelo grupo de pesquisadores.

No estudo, as nanopartículas foram ligadas aos anticorpos específicos da zika para detectar uma proteína chamada NS1, que aparece no sangue de pessoas infectadas pelo vírus causador da doença. Segundo Ronconi, as propriedades das nanopartículas de ouro espalham a luz e, consequentemente, quando são ligadas aos anticorpos que identificam o vírus ou a proteína NS1, é possível monitorar a mudança no espalhamento da luz em função da alteração do tamanho das nanopartículas.

Além disso, na ausência da proteína, essas partículas se agregam. No entanto, quando a proteína está presente, ela impede a agregação das nanopartículas. Consequentemente, é possível identificar a presença da proteína NS1 pela mudança no espalhamento da radiação.

A proteína NS1 é produzida no organismo durante a infecção pelo vírus da zika e, por isso, ao ser identificada, é possível confirmar que a pessoa está doente, de acordo com a professora. "Ela [a proteína] é liberada no organismo quando o vírus da zika começa a se replicar e pode ser detectada em concentrações significativas no plasma sanguíneo", explica Ronconi.

O próximo passo dos pesquisadores é validar o método em amostras reais de plasma sanguíneo de pacientes. Para a pesquisadora, o desenvolvimento de testes mais rápidos e eficazes é essencial para garantir diagnósticos assertivos e direcionados.

"Às vezes, é preciso esperar dias para realizar o exame e obter o resultado, mas nesse tempo a pessoa já poderia estar sendo medicada corretamente. Atualmente, muitos diagnósticos são baseados nos sintomas relatados pelos pacientes, o que pode gerar incertezas", comenta Ronconi. "Sem exames laboratoriais rápidos, é comum que o médico fique em dúvida entre as diferentes doenças pela semelhança dos sintomas, como dengue, chikungunya, zika, ou até o recente vírus oropouche, que tem se espalhado devido ao desmatamento."

Além disso, a professora defende que testes mais rápidos podem evitar a sobrecarga nos sistemas de saúde em cenários de epidemias.

https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estudo-brasileiro-usa-nanotecnolog ia-para-detectar-dengue-zika-e-chikungunya/
Qual é a origem da metodologia usada no novo teste para diagnosticar dengue, zika e chikungunya, segundo o comunicado divulgado pela UFF?
Alternativas
Q3114048 Português
Visitante noturno

        O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.
        Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.
        Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal algum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?
        O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorrava, sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza; curto e pobre.
        Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animáculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fora o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas fora aquela a casa de sua preferência.
        A menos que o acaso determinasse aquele encontro? Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a essa hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugo a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada, mas já é noite alta e de sono profundo.
        Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.
        O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.
        Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.
        A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disso. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma forma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.
        Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. Brasil, Editora Record, 1984.) 
O autor faz uso do termo “multidão” para designar uma grande quantidade conjunta de insetos (8º§). Uma outra forma de designar o coletivo desses animais poderia se dar pelo termo: 
Alternativas
Q3114047 Português
Visitante noturno

        O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.
        Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.
        Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal algum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?
        O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorrava, sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza; curto e pobre.
        Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animáculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fora o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas fora aquela a casa de sua preferência.
        A menos que o acaso determinasse aquele encontro? Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a essa hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugo a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada, mas já é noite alta e de sono profundo.
        Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.
        O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.
        Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.
        A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disso. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma forma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.
        Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. Brasil, Editora Record, 1984.) 
Considere o termo “animáculo” (5º§). Trata-se do termo “animal” acrescido de afixo que tem significado oposto ao do sufixo do termo disposto na alternativa: 
Alternativas
Q3114046 Português
Visitante noturno

        O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.
        Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.
        Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal algum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?
        O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorrava, sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza; curto e pobre.
        Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animáculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fora o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas fora aquela a casa de sua preferência.
        A menos que o acaso determinasse aquele encontro? Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a essa hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugo a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada, mas já é noite alta e de sono profundo.
        Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.
        O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.
        Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.
        A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disso. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma forma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.
        Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. Brasil, Editora Record, 1984.) 
Considere o termo sublinhado em “Ele fora o escolhido de um inseto, [...]” (5º§). Pode-se corretamente identificar o termo sublinhado, no contexto em que se insere, como: 
Alternativas
Q3114045 Português
Visitante noturno

        O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.
        Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.
        Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal algum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?
        O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorrava, sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza; curto e pobre.
        Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animáculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fora o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas fora aquela a casa de sua preferência.
        A menos que o acaso determinasse aquele encontro? Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a essa hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugo a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada, mas já é noite alta e de sono profundo.
        Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.
        O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.
        Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.
        A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disso. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma forma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.
        Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. Brasil, Editora Record, 1984.) 
Considere a expressão sublinhada em “Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.” (7º§). É correto afirmar que o uso do acento grave se deu para demonstrar: 
Alternativas
Q3114044 Português
Visitante noturno

        O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.
        Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.
        Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal algum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?
        O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorrava, sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza; curto e pobre.
        Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animáculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fora o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas fora aquela a casa de sua preferência.
        A menos que o acaso determinasse aquele encontro? Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a essa hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugo a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada, mas já é noite alta e de sono profundo.
        Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.
        O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.
        Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.
        A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disso. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma forma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.
        Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. Brasil, Editora Record, 1984.) 
Considere o termo sublinhado em “Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, [...]” (7º§). É correto afirmar que sua classe morfológica pode ser corretamente identificada como: 
Alternativas
Q3114043 Português
Visitante noturno

        O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.
        Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.
        Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal algum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?
        O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorrava, sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza; curto e pobre.
        Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animáculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fora o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas fora aquela a casa de sua preferência.
        A menos que o acaso determinasse aquele encontro? Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a essa hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugo a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada, mas já é noite alta e de sono profundo.
        Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.
        O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.
        Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.
        A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disso. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma forma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.
        Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. Brasil, Editora Record, 1984.) 
Nos termos “deteve-se” (3º§), “sentiu-lhe” (2º§) e “aferrar-se” (6º§), o hífen foi usado de modo a demarcar: 
Alternativas
Q3114042 Português
Visitante noturno

        O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.
        Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.
        Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal algum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?
        O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorrava, sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza; curto e pobre.
        Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animáculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fora o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas fora aquela a casa de sua preferência.
        A menos que o acaso determinasse aquele encontro? Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a essa hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugo a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada, mas já é noite alta e de sono profundo.
        Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.
        O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.
        Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.
        A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disso. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma forma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.
        Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. Brasil, Editora Record, 1984.) 
Nas alternativas a seguir constam verbos sublinhados cujo sujeito pode ser corretamente identificado como desinencial, EXCETO em: 
Alternativas
Q3114041 Português
Visitante noturno

        O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.
        Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.
        Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal algum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?
        O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorrava, sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza; curto e pobre.
        Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animáculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fora o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas fora aquela a casa de sua preferência.
        A menos que o acaso determinasse aquele encontro? Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a essa hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugo a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada, mas já é noite alta e de sono profundo.
        Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.
        O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.
        Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.
        A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disso. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma forma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.
        Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. Brasil, Editora Record, 1984.) 
O texto por vezes chama o personagem de “gigante” em referência à: 
Alternativas
Q3114040 Português
Visitante noturno

        O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.
        Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.
        Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal algum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?
        O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorrava, sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza; curto e pobre.
        Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animáculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fora o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas fora aquela a casa de sua preferência.
        A menos que o acaso determinasse aquele encontro? Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a essa hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugo a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada, mas já é noite alta e de sono profundo.
        Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.
        O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.
        Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.
        A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disso. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma forma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.
        Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. Brasil, Editora Record, 1984.) 
Considere os termos sublinhados em “Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, [...]” (10º§) Eles poderiam ser, correta e conjuntamente, substituídos sem alteração de sentido por, EXCETO:
Alternativas
Q3114039 Português
Visitante noturno

        O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.
        Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.
        Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal algum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?
        O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorrava, sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza; curto e pobre.
        Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animáculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fora o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas fora aquela a casa de sua preferência.
        A menos que o acaso determinasse aquele encontro? Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a essa hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugo a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada, mas já é noite alta e de sono profundo.
        Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. Aquela não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.
        O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.
        Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.
        A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disso. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma forma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.
        Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de luar. Brasil, Editora Record, 1984.) 
Quanto ao termo “ignorância” (3º§), é correto afirmar que sua acentuação se dá pela mesma razão que o termo disposto na alternativa: 
Alternativas
Respostas
1101: B
1102: C
1103: B
1104: C
1105: C
1106: D
1107: A
1108: A
1109: A
1110: D
1111: C
1112: D
1113: D
1114: C
1115: C
1116: D
1117: B
1118: A
1119: B
1120: D