Leia o texto para responder à questão.
Por que manter cotas na pós-graduação?
Deu na Folha de São Paulo que coletivos da USP estão
furibundos com o Departamento de Filosofia, cuja pós-graduação ainda não adotou ações afirmativas em seu processo
seletivo.
Não sou o maior fã das cotas raciais. Ainda estou preso
a ideias como a de que as políticas públicas devem preferencialmente estar baseadas no princípio da universalidade
e que, quando dirigidas a grupos específicos, devem seguir
critérios objetivamente mensuráveis. Reconheço, porém, que
o “Zeitgeist” (espírito da época) se enamorou da reserva de
vagas para minorias e gosto do resultado que essa política
produz, ainda que faça restrições ao método.
Há, contudo, um ponto que, para mim, permanece enigmático, que é a pós-graduação. Os entusiastas das cotas
celebram com razão as várias pesquisas que mostraram
que, na graduação, o desempenho dos alunos cotistas é tão
bom quanto o dos não cotistas, às vezes até um pouquinho
melhor. Diante desse diagnóstico, tenho dificuldades para
entender por que a reserva de vagas deveria se estender à
pós-graduação. Se a performance dos estudantes é semelhante, então uma prova de conhecimentos específicos da
disciplina, que são adquiridos na graduação, torna-se um critério muito razoável para presidir ao processo seletivo.
Até acho que podemos e devemos discutir outros tipos
de ação afirmativa, como uma reserva de bolsas de estudo.
Frequentemente, a dificuldade dos alunos de famílias pobres
é mais manter-se estudando, isto é, sem trabalhar para ajudar a pagar os boletos, do que o processo seletivo.
Desconheço os motivos que levaram o pessoal da filosofia, que, afinal, é a minha “alma mater”, a não instituir cotas
raciais na pós, mas gostaria de acreditar que foi o apego
à lógica.
(Hélio Schwartsman. Folha de S.Paulo. 13.08.2022. Adaptado)