“Precisamos criar uma cultura de vacinação para todas as faixas etárias”, diz especialista
Além de prevenir doenças, a imunização protege de complicações decorrentes das enfermidades
Com as raras exceções de pais que preferem acreditar em teorias conspiratórias e deixam de vacinar os filhos, a maioria sabe que, com a caderneta de vacinação em dia, as crianças terão uma infância mais saudável e protegida. No entanto, conforme envelhecemos, minimizamos o valor da imunização na fase adulta – e mudar esse quadro é o objetivo de médicos e cientistas, como explicou Rodrigo Schrage Lins, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro. “Este é um novo conceito: precisamos criar uma cultura de vacinação para todas as faixas etárias. As vacinas não se limitam a prevenir doenças, mas também diversas condições de saúde que não parecem estar associadas com a imunização, mas estão”, afirmou. O doutor Lins participou, na semana passada, de seminário on-line sobre os benefícios da vacinação de adultos que contou com especialistas estrangeiros e dados de sobra para contextualizar a argumentação. Trago alguns deles: a expectativa de vida deve aumentar 4.4 anos entre 2016 e 2040 e, em 2050, o número de pessoas acima dos 60 vai superar o daquelas na faixa entre 10 e 24 anos. Como os idosos apresentam um risco maior de complicações decorrentes de infecções, o envelhecimento global vai exigir novas abordagens em termos de saúde pública. Basta lembrar que quase 75% das mortes por doença pneumocócica invasiva e influenza ocorrem entre os indivíduos acima dos 65. Para os especialistas, o sucesso das vacinas para conter a pandemia foi um divisor de águas, porque conscientizou a população sobre sua eficácia e segurança, e é de extrema importância detalhar o papel da imunização para evitar complicações de longo prazo que são menos conhecidas. Num quadro severo de influenza, ou gripe, as artérias se inflamam e estreitam, aumentando as chances de um evento cardiovascular para pacientes que já têm uma placa de gordura obstrutiva (ateroma). Prevenindo a infecção aguda através da vacina, a pessoa fica mais protegida desses riscos. Da mesma forma que a influenza, o herpes zóster pode levar a complicações como o infarto do miocárdio e derrame; a Covid-19 inclui, além do infarto e derrame, insuficiência cardíaca e embolia pulmonar. Outra frente de trabalho tem como objetivo aumentar a eficácia das vacinas para os idosos, de forma a contornar o declínio do sistema imunológico. Yannick Vanloubbeeck, chefe do setor do departamento de pesquisa e desenvolvimento voltado para descobertas e ensaios pré-clínicos da gigante farmacêutica GSK, adiantou que a combinação de tecnologias terá um papel decisivo para dar mais um passo nesta direção: “na verdade, caminhamos para uma medicina personalizada e de precisão, que levará em conta a genética do indivíduo e o ambiente no qual ele está inserido, porque esses são fatores que interagem com o patógeno e demandam uma solução sob medida”.