O vício em Smartphones
Proponho uma brincadeira: da próxima vez que você estiver com amigos ou em um encontro, meça
quanto tempo passa antes que alguém pegue o celular para ver se recebeu alguma mensagem. [...]
O problema de olhar de modo recorrente os nossos aparelhos eletrônicos tem um lado social e
um lado fisiológico. A cabeça humana média pesa entre 4,5 e 5,5 quilos, e, quando curvamos nossos
pescoços para escrever uma mensagem de texto ou olhar o Facebook, a atração gravitacional sobre a
cabeça e a tensão no pescoço crescem até o equivalente a 27 quilos de pressão. Essa postura comum
[...] resulta em perda gradual da curva espinhal.
O “pescoço de SMS” está se tornando um problema médico que aflige inúmeras pessoas, e a maneira
pela qual mantemos nossas cabeças voltadas para baixo também acarreta outros riscos de saúde.
Há provas de que a postura afeta o humor, o comportamento e a memória, e ficar encurvado também
pode causar depressão, de acordo com o Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia norteamericano. A maneira pela qual ficamos em pé afeta tudo, da quantidade de energia de que dispomos
ao desenvolvimento dos ossos e músculos, e até mesmo a quantidade de oxigênio que nossos pulmões
são capazes de absorver. [...]
Cerca de 75% dos norte-americanos acreditam que seu uso de smartphones não afeta sua capacidade
de prestar atenção, em situações de grupo, e cerca de um terço dos norte-americanos acredita que
usar celulares em situações sociais contribui para a conversação. Mas será que contribui de fato?
Especialistas em etiqueta e cientistas sociais respondem em completo acordo: não.
O comportamento “sempre conectado”, para o qual os smartphones contribuem nos leva a nos
afastar de nossa realidade. E quando ficamos de cabeça baixa nossas capacidades de comunicação e
nossos bons modos também encolhem.[...]
Niobe Way, professora de psicologia aplicada na Universidade de Nova York, estuda o papel da
tecnologia em dar forma ao desenvolvimento adolescente. As interações conduzidas de cabeça baixa
nos afastam do presente, não importa em que grupo estejamos, ela diz. E não é problema só para os
jovens. É um comportamento incorporado, aprendido, copiado e repetido, em boa parte por imitação
aos adultos. Quando crianças veem seus pais de cabeça baixa, emulam essa ação. O resultado é uma
perda de indicadores não verbais, e isso pode atrofiar o desenvolvimento.
“Os aparelhos móveis são a mãe da cegueira por desatenção”, disse Henry Alford. “É esse o nome
que se dá ao estado de esquecimento maníaco que toma conta de alguém que se deixa absorver por
uma atividade que exclua tudo mais”.Todas as idades são afetadas.[...]
Velhos ou jovens, somos todos uma geração de casos em teste. Etiqueta, bons modos, linguagem
corporal, a maneira pela qual respondemos e interagimos e mesmo nossa aparência - tudo está
mudando. Estamos abrindo mão de toda uma vida, que acontece apenas 90 graus acima de nossos
celulares. Comece a olhar para cima. Jamais seja a primeira pessoa em um grupo a pegar o celular.
POPESCU, Adam. Como o vício em smartphones tem acabado com os bons modos. New York Times, 29 jan. 2018.
Trad. Paulo Migliacci. Disponível em: http://m.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2018/01/1954141-como-o-vicioem-smartphones-tem-acabado-com-os-bons-modos.shtml?mobile. Acesso em 30 jan. 2018. [Fragmento]