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O ensino baseado nessa filosofia é caracterizado por uma abordagem empírica, objetiva e rigorosa, com foco na observação e na experiência sensorial como fontes primárias de conhecimento. Esse modelo de ensino busca se fundamentar em fatos observáveis e mensuráveis, promovendo o método científico como o caminho adequado e mais confiável para a obtenção de saberes objetivos, válidos e seguros.
As características explicitadas desse tipo de prática dizem respeito ao
Skinner foi o expoente principal dessa corrente psicológica, também conhecida como behaviorista. No método de ensino decorrente dessa perspectiva, o aluno é visto como depositário passivo dos conhecimentos, que devem ser acumulados na mente, por meio de associações. O professor é quem deposita os conhecimentos, pois ele é visto como um especialista na aplicação de manuais, sendo sua prática extremamente controlada. Articula-se diretamente com o sistema produtivo, com o objetivo de aperfeiçoar a ordem social vigente, que é o capitalismo, formando mão de obra especializada para o mercado de trabalho.
A tendência pedagógica descrita no quadro corresponde à
I Os sistemas de ensino estabelecerão, para a educação básica e superior, regime escolar especial para o atendimento das mães estudantes lactantes.
II É proibida pela legislação brasileira a organização e a abertura de cursos ou instituições de ensino experimentais.
III O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, inclusive, de educação continuada.
IV Como objetivo dos programas de educação e pesquisa para a comunidade surda, a União deverá elaborar e publicar sistematicamente material didático bilíngue, específico e diferenciado.
As assertivas que refletem as disposições gerais sobre a educação da maneira como se encontram na Lei nº 9.394/96 são
I Participar da elaboração do projeto político-pedagógico e do regimento interno da unidade de ensino.
II Ministrar os conteúdos curriculares de sua competência, cumprindo integralmente as quantidades de dias letivos e de aulas estabelecidas, sendo vedado o trabalho nos finais de semana.
III Sugerir alterações nos currículos, considerando os documentos legais vigentes.
IV Participar da elaboração do plano de ação escolar dissociado do projeto político-pedagógico da respectiva unidade de ensino.
Dentre as assertivas, as que constituem atribuições dos professores da rede municipal na função de docente são
A questão se refere ao texto abaixo.
Protejam as crianças da literatura
Wilson Gomes
"Eu sou a favor da suspensão, porque não é certo o ensinamento desse livro", afirmou uma jovem mãe mineira, ao ser indagada sobre o que achava de o "Menino Marrom", de Ziraldo, ter tido o seu uso didático temporariamente suspenso em Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. Essa convicção se repete na voz de um jovem pai, que acrescenta que é preciso estar alerta aos livros escolares, sim, e já tinha até planejado ir à Secretaria de Educação "com relação a alguns livros" de leitura obrigatória. Notem o plural.
Fatos dessa natureza têm recebido enorme cobertura da mídia e inundado o debate público nacional a partir dos ambientes digitais. Não é claro para mim se foi a cobertura que aumentou ou se realmente houve um incremento nas ações de pais e autoridades para restringir o acesso de crianças e jovens a determinados livros. De todo modo, é notável como esses episódios continuam a se repetir.
Há quem salte para grandes conclusões, atribuindo ao avanço da extrema direita uma onda de moralismo inquisitorial e uma temporada de caça a livros e a outras bruxarias artísticas e literárias no país. E há quem diga claramente que a paixão por censurar se restringe a obras antirracistas ou com temáticas relacionadas à cultura africana no Brasil. As evidências, contudo, não autorizam saltos tão grandes.
Primeiro, se é verdade que a ultradireita acredita que o mal pode residir em livros e representações artísticas, identitários de esquerda compartilham o mesmo temor e idêntica vontade de proibir, cancelar e punir. A única diferença real entre as duas posições reside na definição do que exatamente constitui o mal. Para identitários, livros ofendem minorias, oferecem "gatilhos" que acionam sofrimentos em certas pessoas, induzem ao racismo, à misoginia, à homofobia e à transfobia e colonizam o pensamento. Para os ultraconservadores, a literatura ensina ideias religiosas falsas, induz à homossexualidade, faz doutrinação ideológica, promove a ideologia de gênero e o comunismo, além de expor crianças à violência e ao sexo.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
A rapidez com que se passa do julgamento moral de alguém que se sente ofendido — e o "sentir-se ofendido" é considerado motivo suficiente para a decisão de que um livro não presta — até o pedido de censura e punição ao autor é a mesma nos dois grupos. O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em segundo lugar, ao examinar as razões enunciadas por quem considera que a obra faz mal, notamos que a censura é invariavelmente vista como um ato de amor e zelo, pois o censor está sempre protegendo alguém vulnerável — crianças, jovens, membros de minorias, pessoas ignorantes, a massa ingênua. Na bibliografia sobre o tema, já se constatou, há anos, que três variáveis são importantes — o quão protetora é a pessoa que pede por censura, o quão vulnerável ela julga ser a pessoa ou grupo que quer proteger e a magnitude do mal que ela julga ver no objeto que deseja censurar.
A estimativa do nível do mal depende de muitos fatores, inclusive do grau de conhecimento da obra julgada. Grandes leitores raramente têm medo de livros. Quem joga games eletrônicos não vê os danos que os não jogadores imaginam. Os extremamente protetores tendem a querer censurar tudo — celulares, games, televisão, YouTube, livros —, enquanto os que acham que todo mundo sabe se virar no mundo não querem censurar nada. Quem considera os outros muito ingênuos, estúpidos ou influenciáveis fica aflito com o que eles leem ou veem. Quem acha que todo mundo é mais ou menos como ele acredita que todos são suficientemente sagazes para driblar manipulações.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram patéticas e absurdas as alegações de que o livro de Ziraldo incentivaria a violência, que é um fato, consideram altamente sofisticado acreditar que smartphones e plataformas digitais vão tornar seus filhos estúpidos, que games os tornarão violentos, que a televisão... Ah, desculpem, as crianças não veem mais televisão. Deve ser, por isso, que estamos melhores.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas. Acesso em: 07 nov. 2024. [Adaptado]
O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em relação às orações subordinadas nele presentes,
A questão se refere ao texto abaixo.
Protejam as crianças da literatura
Wilson Gomes
"Eu sou a favor da suspensão, porque não é certo o ensinamento desse livro", afirmou uma jovem mãe mineira, ao ser indagada sobre o que achava de o "Menino Marrom", de Ziraldo, ter tido o seu uso didático temporariamente suspenso em Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. Essa convicção se repete na voz de um jovem pai, que acrescenta que é preciso estar alerta aos livros escolares, sim, e já tinha até planejado ir à Secretaria de Educação "com relação a alguns livros" de leitura obrigatória. Notem o plural.
Fatos dessa natureza têm recebido enorme cobertura da mídia e inundado o debate público nacional a partir dos ambientes digitais. Não é claro para mim se foi a cobertura que aumentou ou se realmente houve um incremento nas ações de pais e autoridades para restringir o acesso de crianças e jovens a determinados livros. De todo modo, é notável como esses episódios continuam a se repetir.
Há quem salte para grandes conclusões, atribuindo ao avanço da extrema direita uma onda de moralismo inquisitorial e uma temporada de caça a livros e a outras bruxarias artísticas e literárias no país. E há quem diga claramente que a paixão por censurar se restringe a obras antirracistas ou com temáticas relacionadas à cultura africana no Brasil. As evidências, contudo, não autorizam saltos tão grandes.
Primeiro, se é verdade que a ultradireita acredita que o mal pode residir em livros e representações artísticas, identitários de esquerda compartilham o mesmo temor e idêntica vontade de proibir, cancelar e punir. A única diferença real entre as duas posições reside na definição do que exatamente constitui o mal. Para identitários, livros ofendem minorias, oferecem "gatilhos" que acionam sofrimentos em certas pessoas, induzem ao racismo, à misoginia, à homofobia e à transfobia e colonizam o pensamento. Para os ultraconservadores, a literatura ensina ideias religiosas falsas, induz à homossexualidade, faz doutrinação ideológica, promove a ideologia de gênero e o comunismo, além de expor crianças à violência e ao sexo.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
A rapidez com que se passa do julgamento moral de alguém que se sente ofendido — e o "sentir-se ofendido" é considerado motivo suficiente para a decisão de que um livro não presta — até o pedido de censura e punição ao autor é a mesma nos dois grupos. O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em segundo lugar, ao examinar as razões enunciadas por quem considera que a obra faz mal, notamos que a censura é invariavelmente vista como um ato de amor e zelo, pois o censor está sempre protegendo alguém vulnerável — crianças, jovens, membros de minorias, pessoas ignorantes, a massa ingênua. Na bibliografia sobre o tema, já se constatou, há anos, que três variáveis são importantes — o quão protetora é a pessoa que pede por censura, o quão vulnerável ela julga ser a pessoa ou grupo que quer proteger e a magnitude do mal que ela julga ver no objeto que deseja censurar.
A estimativa do nível do mal depende de muitos fatores, inclusive do grau de conhecimento da obra julgada. Grandes leitores raramente têm medo de livros. Quem joga games eletrônicos não vê os danos que os não jogadores imaginam. Os extremamente protetores tendem a querer censurar tudo — celulares, games, televisão, YouTube, livros —, enquanto os que acham que todo mundo sabe se virar no mundo não querem censurar nada. Quem considera os outros muito ingênuos, estúpidos ou influenciáveis fica aflito com o que eles leem ou veem. Quem acha que todo mundo é mais ou menos como ele acredita que todos são suficientemente sagazes para driblar manipulações.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram patéticas e absurdas as alegações de que o livro de Ziraldo incentivaria a violência, que é um fato, consideram altamente sofisticado acreditar que smartphones e plataformas digitais vão tornar seus filhos estúpidos, que games os tornarão violentos, que a televisão... Ah, desculpem, as crianças não veem mais televisão. Deve ser, por isso, que estamos melhores.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas. Acesso em: 07 nov. 2024. [Adaptado]
A questão se refere ao texto abaixo.
Protejam as crianças da literatura
Wilson Gomes
"Eu sou a favor da suspensão, porque não é certo o ensinamento desse livro", afirmou uma jovem mãe mineira, ao ser indagada sobre o que achava de o "Menino Marrom", de Ziraldo, ter tido o seu uso didático temporariamente suspenso em Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. Essa convicção se repete na voz de um jovem pai, que acrescenta que é preciso estar alerta aos livros escolares, sim, e já tinha até planejado ir à Secretaria de Educação "com relação a alguns livros" de leitura obrigatória. Notem o plural.
Fatos dessa natureza têm recebido enorme cobertura da mídia e inundado o debate público nacional a partir dos ambientes digitais. Não é claro para mim se foi a cobertura que aumentou ou se realmente houve um incremento nas ações de pais e autoridades para restringir o acesso de crianças e jovens a determinados livros. De todo modo, é notável como esses episódios continuam a se repetir.
Há quem salte para grandes conclusões, atribuindo ao avanço da extrema direita uma onda de moralismo inquisitorial e uma temporada de caça a livros e a outras bruxarias artísticas e literárias no país. E há quem diga claramente que a paixão por censurar se restringe a obras antirracistas ou com temáticas relacionadas à cultura africana no Brasil. As evidências, contudo, não autorizam saltos tão grandes.
Primeiro, se é verdade que a ultradireita acredita que o mal pode residir em livros e representações artísticas, identitários de esquerda compartilham o mesmo temor e idêntica vontade de proibir, cancelar e punir. A única diferença real entre as duas posições reside na definição do que exatamente constitui o mal. Para identitários, livros ofendem minorias, oferecem "gatilhos" que acionam sofrimentos em certas pessoas, induzem ao racismo, à misoginia, à homofobia e à transfobia e colonizam o pensamento. Para os ultraconservadores, a literatura ensina ideias religiosas falsas, induz à homossexualidade, faz doutrinação ideológica, promove a ideologia de gênero e o comunismo, além de expor crianças à violência e ao sexo.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
A rapidez com que se passa do julgamento moral de alguém que se sente ofendido — e o "sentir-se ofendido" é considerado motivo suficiente para a decisão de que um livro não presta — até o pedido de censura e punição ao autor é a mesma nos dois grupos. O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em segundo lugar, ao examinar as razões enunciadas por quem considera que a obra faz mal, notamos que a censura é invariavelmente vista como um ato de amor e zelo, pois o censor está sempre protegendo alguém vulnerável — crianças, jovens, membros de minorias, pessoas ignorantes, a massa ingênua. Na bibliografia sobre o tema, já se constatou, há anos, que três variáveis são importantes — o quão protetora é a pessoa que pede por censura, o quão vulnerável ela julga ser a pessoa ou grupo que quer proteger e a magnitude do mal que ela julga ver no objeto que deseja censurar.
A estimativa do nível do mal depende de muitos fatores, inclusive do grau de conhecimento da obra julgada. Grandes leitores raramente têm medo de livros. Quem joga games eletrônicos não vê os danos que os não jogadores imaginam. Os extremamente protetores tendem a querer censurar tudo — celulares, games, televisão, YouTube, livros —, enquanto os que acham que todo mundo sabe se virar no mundo não querem censurar nada. Quem considera os outros muito ingênuos, estúpidos ou influenciáveis fica aflito com o que eles leem ou veem. Quem acha que todo mundo é mais ou menos como ele acredita que todos são suficientemente sagazes para driblar manipulações.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram patéticas e absurdas as alegações de que o livro de Ziraldo incentivaria a violência, que é um fato, consideram altamente sofisticado acreditar que smartphones e plataformas digitais vão tornar seus filhos estúpidos, que games os tornarão violentos, que a televisão... Ah, desculpem, as crianças não veem mais televisão. Deve ser, por isso, que estamos melhores.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas. Acesso em: 07 nov. 2024. [Adaptado]
Considere o parágrafo abaixo para responder à questão.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
A palavra “até”
A questão se refere ao texto abaixo.
Protejam as crianças da literatura
Wilson Gomes
"Eu sou a favor da suspensão, porque não é certo o ensinamento desse livro", afirmou uma jovem mãe mineira, ao ser indagada sobre o que achava de o "Menino Marrom", de Ziraldo, ter tido o seu uso didático temporariamente suspenso em Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. Essa convicção se repete na voz de um jovem pai, que acrescenta que é preciso estar alerta aos livros escolares, sim, e já tinha até planejado ir à Secretaria de Educação "com relação a alguns livros" de leitura obrigatória. Notem o plural.
Fatos dessa natureza têm recebido enorme cobertura da mídia e inundado o debate público nacional a partir dos ambientes digitais. Não é claro para mim se foi a cobertura que aumentou ou se realmente houve um incremento nas ações de pais e autoridades para restringir o acesso de crianças e jovens a determinados livros. De todo modo, é notável como esses episódios continuam a se repetir.
Há quem salte para grandes conclusões, atribuindo ao avanço da extrema direita uma onda de moralismo inquisitorial e uma temporada de caça a livros e a outras bruxarias artísticas e literárias no país. E há quem diga claramente que a paixão por censurar se restringe a obras antirracistas ou com temáticas relacionadas à cultura africana no Brasil. As evidências, contudo, não autorizam saltos tão grandes.
Primeiro, se é verdade que a ultradireita acredita que o mal pode residir em livros e representações artísticas, identitários de esquerda compartilham o mesmo temor e idêntica vontade de proibir, cancelar e punir. A única diferença real entre as duas posições reside na definição do que exatamente constitui o mal. Para identitários, livros ofendem minorias, oferecem "gatilhos" que acionam sofrimentos em certas pessoas, induzem ao racismo, à misoginia, à homofobia e à transfobia e colonizam o pensamento. Para os ultraconservadores, a literatura ensina ideias religiosas falsas, induz à homossexualidade, faz doutrinação ideológica, promove a ideologia de gênero e o comunismo, além de expor crianças à violência e ao sexo.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
A rapidez com que se passa do julgamento moral de alguém que se sente ofendido — e o "sentir-se ofendido" é considerado motivo suficiente para a decisão de que um livro não presta — até o pedido de censura e punição ao autor é a mesma nos dois grupos. O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em segundo lugar, ao examinar as razões enunciadas por quem considera que a obra faz mal, notamos que a censura é invariavelmente vista como um ato de amor e zelo, pois o censor está sempre protegendo alguém vulnerável — crianças, jovens, membros de minorias, pessoas ignorantes, a massa ingênua. Na bibliografia sobre o tema, já se constatou, há anos, que três variáveis são importantes — o quão protetora é a pessoa que pede por censura, o quão vulnerável ela julga ser a pessoa ou grupo que quer proteger e a magnitude do mal que ela julga ver no objeto que deseja censurar.
A estimativa do nível do mal depende de muitos fatores, inclusive do grau de conhecimento da obra julgada. Grandes leitores raramente têm medo de livros. Quem joga games eletrônicos não vê os danos que os não jogadores imaginam. Os extremamente protetores tendem a querer censurar tudo — celulares, games, televisão, YouTube, livros —, enquanto os que acham que todo mundo sabe se virar no mundo não querem censurar nada. Quem considera os outros muito ingênuos, estúpidos ou influenciáveis fica aflito com o que eles leem ou veem. Quem acha que todo mundo é mais ou menos como ele acredita que todos são suficientemente sagazes para driblar manipulações.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram patéticas e absurdas as alegações de que o livro de Ziraldo incentivaria a violência, que é um fato, consideram altamente sofisticado acreditar que smartphones e plataformas digitais vão tornar seus filhos estúpidos, que games os tornarão violentos, que a televisão... Ah, desculpem, as crianças não veem mais televisão. Deve ser, por isso, que estamos melhores.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas. Acesso em: 07 nov. 2024. [Adaptado]
Considere o parágrafo abaixo para responder à questão.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
O verbo “haver” encontra-se no singular, porque
A questão se refere ao texto abaixo.
Protejam as crianças da literatura
Wilson Gomes
"Eu sou a favor da suspensão, porque não é certo o ensinamento desse livro", afirmou uma jovem mãe mineira, ao ser indagada sobre o que achava de o "Menino Marrom", de Ziraldo, ter tido o seu uso didático temporariamente suspenso em Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. Essa convicção se repete na voz de um jovem pai, que acrescenta que é preciso estar alerta aos livros escolares, sim, e já tinha até planejado ir à Secretaria de Educação "com relação a alguns livros" de leitura obrigatória. Notem o plural.
Fatos dessa natureza têm recebido enorme cobertura da mídia e inundado o debate público nacional a partir dos ambientes digitais. Não é claro para mim se foi a cobertura que aumentou ou se realmente houve um incremento nas ações de pais e autoridades para restringir o acesso de crianças e jovens a determinados livros. De todo modo, é notável como esses episódios continuam a se repetir.
Há quem salte para grandes conclusões, atribuindo ao avanço da extrema direita uma onda de moralismo inquisitorial e uma temporada de caça a livros e a outras bruxarias artísticas e literárias no país. E há quem diga claramente que a paixão por censurar se restringe a obras antirracistas ou com temáticas relacionadas à cultura africana no Brasil. As evidências, contudo, não autorizam saltos tão grandes.
Primeiro, se é verdade que a ultradireita acredita que o mal pode residir em livros e representações artísticas, identitários de esquerda compartilham o mesmo temor e idêntica vontade de proibir, cancelar e punir. A única diferença real entre as duas posições reside na definição do que exatamente constitui o mal. Para identitários, livros ofendem minorias, oferecem "gatilhos" que acionam sofrimentos em certas pessoas, induzem ao racismo, à misoginia, à homofobia e à transfobia e colonizam o pensamento. Para os ultraconservadores, a literatura ensina ideias religiosas falsas, induz à homossexualidade, faz doutrinação ideológica, promove a ideologia de gênero e o comunismo, além de expor crianças à violência e ao sexo.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
A rapidez com que se passa do julgamento moral de alguém que se sente ofendido — e o "sentir-se ofendido" é considerado motivo suficiente para a decisão de que um livro não presta — até o pedido de censura e punição ao autor é a mesma nos dois grupos. O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em segundo lugar, ao examinar as razões enunciadas por quem considera que a obra faz mal, notamos que a censura é invariavelmente vista como um ato de amor e zelo, pois o censor está sempre protegendo alguém vulnerável — crianças, jovens, membros de minorias, pessoas ignorantes, a massa ingênua. Na bibliografia sobre o tema, já se constatou, há anos, que três variáveis são importantes — o quão protetora é a pessoa que pede por censura, o quão vulnerável ela julga ser a pessoa ou grupo que quer proteger e a magnitude do mal que ela julga ver no objeto que deseja censurar.
A estimativa do nível do mal depende de muitos fatores, inclusive do grau de conhecimento da obra julgada. Grandes leitores raramente têm medo de livros. Quem joga games eletrônicos não vê os danos que os não jogadores imaginam. Os extremamente protetores tendem a querer censurar tudo — celulares, games, televisão, YouTube, livros —, enquanto os que acham que todo mundo sabe se virar no mundo não querem censurar nada. Quem considera os outros muito ingênuos, estúpidos ou influenciáveis fica aflito com o que eles leem ou veem. Quem acha que todo mundo é mais ou menos como ele acredita que todos são suficientemente sagazes para driblar manipulações.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram patéticas e absurdas as alegações de que o livro de Ziraldo incentivaria a violência, que é um fato, consideram altamente sofisticado acreditar que smartphones e plataformas digitais vão tornar seus filhos estúpidos, que games os tornarão violentos, que a televisão... Ah, desculpem, as crianças não veem mais televisão. Deve ser, por isso, que estamos melhores.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas. Acesso em: 07 nov. 2024. [Adaptado]
A rapidez com que se passa do julgamento moral de alguém que se sente ofendido — e o "sentir-se ofendido" é considerado motivo suficiente para a decisão de que um livro não presta — até o pedido de censura e punição ao autor é a mesma nos dois grupos. O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
No excerto, o uso das aspas serve para demarcar
A questão se refere ao texto abaixo.
Protejam as crianças da literatura
Wilson Gomes
"Eu sou a favor da suspensão, porque não é certo o ensinamento desse livro", afirmou uma jovem mãe mineira, ao ser indagada sobre o que achava de o "Menino Marrom", de Ziraldo, ter tido o seu uso didático temporariamente suspenso em Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. Essa convicção se repete na voz de um jovem pai, que acrescenta que é preciso estar alerta aos livros escolares, sim, e já tinha até planejado ir à Secretaria de Educação "com relação a alguns livros" de leitura obrigatória. Notem o plural.
Fatos dessa natureza têm recebido enorme cobertura da mídia e inundado o debate público nacional a partir dos ambientes digitais. Não é claro para mim se foi a cobertura que aumentou ou se realmente houve um incremento nas ações de pais e autoridades para restringir o acesso de crianças e jovens a determinados livros. De todo modo, é notável como esses episódios continuam a se repetir.
Há quem salte para grandes conclusões, atribuindo ao avanço da extrema direita uma onda de moralismo inquisitorial e uma temporada de caça a livros e a outras bruxarias artísticas e literárias no país. E há quem diga claramente que a paixão por censurar se restringe a obras antirracistas ou com temáticas relacionadas à cultura africana no Brasil. As evidências, contudo, não autorizam saltos tão grandes.
Primeiro, se é verdade que a ultradireita acredita que o mal pode residir em livros e representações artísticas, identitários de esquerda compartilham o mesmo temor e idêntica vontade de proibir, cancelar e punir. A única diferença real entre as duas posições reside na definição do que exatamente constitui o mal. Para identitários, livros ofendem minorias, oferecem "gatilhos" que acionam sofrimentos em certas pessoas, induzem ao racismo, à misoginia, à homofobia e à transfobia e colonizam o pensamento. Para os ultraconservadores, a literatura ensina ideias religiosas falsas, induz à homossexualidade, faz doutrinação ideológica, promove a ideologia de gênero e o comunismo, além de expor crianças à violência e ao sexo.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
A rapidez com que se passa do julgamento moral de alguém que se sente ofendido — e o "sentir-se ofendido" é considerado motivo suficiente para a decisão de que um livro não presta — até o pedido de censura e punição ao autor é a mesma nos dois grupos. O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em segundo lugar, ao examinar as razões enunciadas por quem considera que a obra faz mal, notamos que a censura é invariavelmente vista como um ato de amor e zelo, pois o censor está sempre protegendo alguém vulnerável — crianças, jovens, membros de minorias, pessoas ignorantes, a massa ingênua. Na bibliografia sobre o tema, já se constatou, há anos, que três variáveis são importantes — o quão protetora é a pessoa que pede por censura, o quão vulnerável ela julga ser a pessoa ou grupo que quer proteger e a magnitude do mal que ela julga ver no objeto que deseja censurar.
A estimativa do nível do mal depende de muitos fatores, inclusive do grau de conhecimento da obra julgada. Grandes leitores raramente têm medo de livros. Quem joga games eletrônicos não vê os danos que os não jogadores imaginam. Os extremamente protetores tendem a querer censurar tudo — celulares, games, televisão, YouTube, livros —, enquanto os que acham que todo mundo sabe se virar no mundo não querem censurar nada. Quem considera os outros muito ingênuos, estúpidos ou influenciáveis fica aflito com o que eles leem ou veem. Quem acha que todo mundo é mais ou menos como ele acredita que todos são suficientemente sagazes para driblar manipulações.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram patéticas e absurdas as alegações de que o livro de Ziraldo incentivaria a violência, que é um fato, consideram altamente sofisticado acreditar que smartphones e plataformas digitais vão tornar seus filhos estúpidos, que games os tornarão violentos, que a televisão... Ah, desculpem, as crianças não veem mais televisão. Deve ser, por isso, que estamos melhores.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas. Acesso em: 07 nov. 2024. [Adaptado]
Quem joga games eletrônicos não vê os danos que os não jogadores imaginam. Os extremamente protetores tendem a querer censurar tudo — celulares, games, televisão, YouTube, livros —, enquanto os que acham que todo mundo sabe se virar no mundo não querem censurar nada.
De acordo com o padrão escrito da língua portuguesa, o uso da vírgula, após o travessão,
A questão se refere ao texto abaixo.
Protejam as crianças da literatura
Wilson Gomes
"Eu sou a favor da suspensão, porque não é certo o ensinamento desse livro", afirmou uma jovem mãe mineira, ao ser indagada sobre o que achava de o "Menino Marrom", de Ziraldo, ter tido o seu uso didático temporariamente suspenso em Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. Essa convicção se repete na voz de um jovem pai, que acrescenta que é preciso estar alerta aos livros escolares, sim, e já tinha até planejado ir à Secretaria de Educação "com relação a alguns livros" de leitura obrigatória. Notem o plural.
Fatos dessa natureza têm recebido enorme cobertura da mídia e inundado o debate público nacional a partir dos ambientes digitais. Não é claro para mim se foi a cobertura que aumentou ou se realmente houve um incremento nas ações de pais e autoridades para restringir o acesso de crianças e jovens a determinados livros. De todo modo, é notável como esses episódios continuam a se repetir.
Há quem salte para grandes conclusões, atribuindo ao avanço da extrema direita uma onda de moralismo inquisitorial e uma temporada de caça a livros e a outras bruxarias artísticas e literárias no país. E há quem diga claramente que a paixão por censurar se restringe a obras antirracistas ou com temáticas relacionadas à cultura africana no Brasil. As evidências, contudo, não autorizam saltos tão grandes.
Primeiro, se é verdade que a ultradireita acredita que o mal pode residir em livros e representações artísticas, identitários de esquerda compartilham o mesmo temor e idêntica vontade de proibir, cancelar e punir. A única diferença real entre as duas posições reside na definição do que exatamente constitui o mal. Para identitários, livros ofendem minorias, oferecem "gatilhos" que acionam sofrimentos em certas pessoas, induzem ao racismo, à misoginia, à homofobia e à transfobia e colonizam o pensamento. Para os ultraconservadores, a literatura ensina ideias religiosas falsas, induz à homossexualidade, faz doutrinação ideológica, promove a ideologia de gênero e o comunismo, além de expor crianças à violência e ao sexo.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
A rapidez com que se passa do julgamento moral de alguém que se sente ofendido — e o "sentir-se ofendido" é considerado motivo suficiente para a decisão de que um livro não presta — até o pedido de censura e punição ao autor é a mesma nos dois grupos. O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em segundo lugar, ao examinar as razões enunciadas por quem considera que a obra faz mal, notamos que a censura é invariavelmente vista como um ato de amor e zelo, pois o censor está sempre protegendo alguém vulnerável — crianças, jovens, membros de minorias, pessoas ignorantes, a massa ingênua. Na bibliografia sobre o tema, já se constatou, há anos, que três variáveis são importantes — o quão protetora é a pessoa que pede por censura, o quão vulnerável ela julga ser a pessoa ou grupo que quer proteger e a magnitude do mal que ela julga ver no objeto que deseja censurar.
A estimativa do nível do mal depende de muitos fatores, inclusive do grau de conhecimento da obra julgada. Grandes leitores raramente têm medo de livros. Quem joga games eletrônicos não vê os danos que os não jogadores imaginam. Os extremamente protetores tendem a querer censurar tudo — celulares, games, televisão, YouTube, livros —, enquanto os que acham que todo mundo sabe se virar no mundo não querem censurar nada. Quem considera os outros muito ingênuos, estúpidos ou influenciáveis fica aflito com o que eles leem ou veem. Quem acha que todo mundo é mais ou menos como ele acredita que todos são suficientemente sagazes para driblar manipulações.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram patéticas e absurdas as alegações de que o livro de Ziraldo incentivaria a violência, que é um fato, consideram altamente sofisticado acreditar que smartphones e plataformas digitais vão tornar seus filhos estúpidos, que games os tornarão violentos, que a televisão... Ah, desculpem, as crianças não veem mais televisão. Deve ser, por isso, que estamos melhores.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas. Acesso em: 07 nov. 2024. [Adaptado]
A questão se refere ao texto abaixo.
Protejam as crianças da literatura
Wilson Gomes
"Eu sou a favor da suspensão, porque não é certo o ensinamento desse livro", afirmou uma jovem mãe mineira, ao ser indagada sobre o que achava de o "Menino Marrom", de Ziraldo, ter tido o seu uso didático temporariamente suspenso em Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. Essa convicção se repete na voz de um jovem pai, que acrescenta que é preciso estar alerta aos livros escolares, sim, e já tinha até planejado ir à Secretaria de Educação "com relação a alguns livros" de leitura obrigatória. Notem o plural.
Fatos dessa natureza têm recebido enorme cobertura da mídia e inundado o debate público nacional a partir dos ambientes digitais. Não é claro para mim se foi a cobertura que aumentou ou se realmente houve um incremento nas ações de pais e autoridades para restringir o acesso de crianças e jovens a determinados livros. De todo modo, é notável como esses episódios continuam a se repetir.
Há quem salte para grandes conclusões, atribuindo ao avanço da extrema direita uma onda de moralismo inquisitorial e uma temporada de caça a livros e a outras bruxarias artísticas e literárias no país. E há quem diga claramente que a paixão por censurar se restringe a obras antirracistas ou com temáticas relacionadas à cultura africana no Brasil. As evidências, contudo, não autorizam saltos tão grandes.
Primeiro, se é verdade que a ultradireita acredita que o mal pode residir em livros e representações artísticas, identitários de esquerda compartilham o mesmo temor e idêntica vontade de proibir, cancelar e punir. A única diferença real entre as duas posições reside na definição do que exatamente constitui o mal. Para identitários, livros ofendem minorias, oferecem "gatilhos" que acionam sofrimentos em certas pessoas, induzem ao racismo, à misoginia, à homofobia e à transfobia e colonizam o pensamento. Para os ultraconservadores, a literatura ensina ideias religiosas falsas, induz à homossexualidade, faz doutrinação ideológica, promove a ideologia de gênero e o comunismo, além de expor crianças à violência e ao sexo.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
A rapidez com que se passa do julgamento moral de alguém que se sente ofendido — e o "sentir-se ofendido" é considerado motivo suficiente para a decisão de que um livro não presta — até o pedido de censura e punição ao autor é a mesma nos dois grupos. O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em segundo lugar, ao examinar as razões enunciadas por quem considera que a obra faz mal, notamos que a censura é invariavelmente vista como um ato de amor e zelo, pois o censor está sempre protegendo alguém vulnerável — crianças, jovens, membros de minorias, pessoas ignorantes, a massa ingênua. Na bibliografia sobre o tema, já se constatou, há anos, que três variáveis são importantes — o quão protetora é a pessoa que pede por censura, o quão vulnerável ela julga ser a pessoa ou grupo que quer proteger e a magnitude do mal que ela julga ver no objeto que deseja censurar.
A estimativa do nível do mal depende de muitos fatores, inclusive do grau de conhecimento da obra julgada. Grandes leitores raramente têm medo de livros. Quem joga games eletrônicos não vê os danos que os não jogadores imaginam. Os extremamente protetores tendem a querer censurar tudo — celulares, games, televisão, YouTube, livros —, enquanto os que acham que todo mundo sabe se virar no mundo não querem censurar nada. Quem considera os outros muito ingênuos, estúpidos ou influenciáveis fica aflito com o que eles leem ou veem. Quem acha que todo mundo é mais ou menos como ele acredita que todos são suficientemente sagazes para driblar manipulações.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram patéticas e absurdas as alegações de que o livro de Ziraldo incentivaria a violência, que é um fato, consideram altamente sofisticado acreditar que smartphones e plataformas digitais vão tornar seus filhos estúpidos, que games os tornarão violentos, que a televisão... Ah, desculpem, as crianças não veem mais televisão. Deve ser, por isso, que estamos melhores.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas. Acesso em: 07 nov. 2024. [Adaptado]