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O reconhecimento da educação legislativa, enquanto tradução e materialização da função educativa do parlamento, tem levado, no âmbito dessas casas, a um processo de crescente valorização e consolidação das “escolas do legislativo” como os espaços próprios para o efetivo exercício dessa missão pedagógica.
Fonte: MARQUES JUNIOR, A. M. Educação legislativa: as escolas do Legislativo e a função educativa do parlamento. Elegis, Brasília, n. 3, p. 73-86, 2º semestre 2009. Disponível em: https://e-legis.camara.leg.br/cefor/index.php/elegis/article/view/23/19. Acesso em: 27 nov. 2022.
Em relação ao reconhecimento crescente do papel educativo do parlamento, a par das demais funções tradicionalmente consideradas, analise as afirmativas abaixo:
I. A educação legislativa seria, assim, uma ação consciente e organizada do parlamento, no sentido de capacitar e qualificar a atuação dos agentes envolvidos no processo de representação e participação democrática, sob a perspectiva das questões inerentes às funções e à atuação dos três Poderes.
II. No aspecto subjetivo, o foco da educação legislativa estaria voltado para a sensibilização, conscientização, motivação e mobilização, restrita dos agentes públicos, apenas para um adequado conhecimento e reconhecimento do Poder Legislativo.
III. É fundamental que as ações e programas desenvolvidos no âmbito da educação para a democracia sejam orientados por uma prática pedagógica que privilegie e dê sustentação à formação de uma consciência crítica e emancipadora dos indivíduos.
IV. No aspecto objetivo, portanto, a educação legislativa estaria relacionada à instrumentalização dos atores públicos e sociais para o exercício, de forma direta ou indireta, das funções e atribuições do parlamento, especialmente no âmbito da elaboração legislativa, da fiscalização, do acompanhamento das políticas públicas e da representação político-parlamentar.
É CORRETO apenas o que se afirma em
“Educação para a democracia poderia ser entendida, partindo-se de conceito formulado por Cosson (2008), como o conjunto de ações e programas desenvolvidos pelos poderes e órgãos públicos no sentido da apropriação, tanto por parte de seus próprios agentes quanto da sociedade, de práticas, conhecimentos e valores para a manutenção e aprimoramento da democracia”.
Fonte: MARQUES JUNIOR, A. M. Educação legislativa: as escolas do Legislativo e a função educativa do parlamento. Elegis, Brasília, n. 3, p. 73-86, 2º semestre 2009. Disponível
em: https://e-legis.camara.leg.br/cefor/index.php/elegis/article/view/23/19. Acesso em: 27
nov. 2022.
Fonte: Disponível em: http://rbeducacaobasica.com.br/queremoseducacao-para-a-democracia/. Acesso em: 27 nov. 2022
Compreendendo a concepção de educação para a democracia, é um pressuposto que sustenta tal conceituação:
Melo e Coelho (2019) afirmam que seu texto que “O propósito para o estabelecimento de escolas do Legislativo no país – que, na atualidade, totalizam mais de 200 organizações, incluindo as escolas dos Tribunais de Contas –, é treinar, capacitar e formar servidores públicos do Parlamento e cidadãos (neste caso, a educação política e para a democracia)”.
Fonte: MELO, W. M. C. de; COELHO, F. S. Gênese das escolas do Legislativo no Brasil: apontamentos históricos sobre a criação da EL-ALMG. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 70, n. esp., p. 192-217, dez. 2019. Disponível em: https://revista.enap.gov.br/index.php/RSP/article/view/4042/2318. Acesso em: 02 dez. 2022.
Tendo como referência o texto acima, em relação a função educativa do Parlamento, é CORRETO afirmar:
Na apresentação do livro “Escolas do Legislativo, escolas de democracia”, escrita pelo professor. Carlos Roberto Jamil Cury, há a seguinte afirmativa: “[...] escolas dos legislativos, como órgãos educacionais não escolares do próprio Legislativo, podem se tornar escolas de democracia se aceitarem que seus alunos possam vir a ser educadores dos educadores. A chegada da prática democrática no cotidiano da vida social com seus corolários da transparência, da ética e da cidadania será a prova prática de que o Brasil pode, mais do que destruir autoritarismos, construir a vida democrática.”
Fonte: CURY, Carlos R. J. Da Escola do Legislativo como Escola de Democracia. In: COSSON, R. Escolas do Legislativo, escolas de democracia. Brasília: Câmaras dos Deputados, Edições Câmara, 2008, p. 10. Disponível em: https://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/2662. Acesso em: 28 nov. 2022.
Segundo levantamento de Rildo Cosson, considerando que uma instituição se define a partir de seus objetivos, assinale a alternativa em que todos os itens relacionados perpassam os objetivos do sistema de escolas do legislativo,
No texto “As escolas do Legislativo no Estado democrático de direito: escolas de cidadania” (BERNARDES JUNIOR, 2018), o autor afirma que a participação cidadã no processo político-decisório é um traço característico de um Estado Democrático de Direito. E que, para o funcionamento de uma democracia, é imprescindível a representação política, tornando-se fundamental que as instâncias de representação estejam abertas para a participação popular. Neste contexto, destaca-se a importância da atuação da escola do Legislativo, na sua função educativa, que deve abordar duas grandes vertentes: a educação legislativa e a formação cidadã.
Fonte: BERNARDES JUNIOR, J. A. As escolas do Legislativo no Estado democrático de direito: escolas de cidadania. Cadernos da Escola do Legislativo, Belo Horizonte, v. 20, n. 34, jul./dez. 2018, p. 7. Disponível em: https://dspace.almg.gov.br/bitstream/11037/34535/1/Capitulo4.pdf Acesso em: 02 dez. 2022.
Considerando essa função educativa da Escola do Legislativo, avalie as afirmações a seguir:
I. Educação cidadã envolve planejamento, abordagem multidisciplinar da matéria objeto de legislação, estudo de impacto legislativo, avaliação legislativa, técnica legislativa.
II. Por educação legislativa entende-se aquele conjunto de práticas e saberes que têm uma especificidade própria e que estão afeitas às atividades típicas do Parlamento, como legislar e fiscalizar.
III. A educação cidadã pressupõe o conhecimento e a prática dos valores democráticos, bem como a crença na política como a via institucional para a solução pacífica dos inevitáveis conflitos sociais.
IV. Na educação legislativa, consideram-se temas como a igualdade, a liberdade, a diversidade, o pluralismo, a solidariedade, o diálogo, a ética, a consciência de direitos e obrigações.
É CORRETO apenas o que se afirma em:
O movimento inclusivo reconhece o direito subjetivo de cada sujeito/estudante. Dessa forma, para a consolidação de ambiências educativas mais democráticas e acolhedoras, é pertinente compreender a orientação político-filosófica da inclusão, visto que a mesma é contrária à escola tradicional/integracionista, que prevê um público estudantil padronizado.
Fonte: ANDRADE, P. F. de; DAMASCENO, A. R. Novas construções sociais de aprendizagens: inclusão em educação para que? Educação em Foco, Juiz de Fora, v. 25, n. 3, p. 211-230, set./ dez. 2020. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/edufoco/article/view/32909/22079. Acesso em: 02 dez. 2022. (adaptado).
Considerando a posição acima, avalie as asserções a seguir:
I. Discorrer sobre a importância da inclusão em educação é caminhar rumo à democratização do ensino, e, quiçá, da sociedade.
II. Nas raízes da sociedade inclusiva, há a previsão de um padronizar da forma de ser e pensar dos indivíduos.
III. Pensar em ações inclusivas é idealizar os indivíduos focalizado em regras, e não no processo de autonomia, independência e participação social.
IV. Tanto na escola como na sociedade, faz se necessário pensar em direitos que vão ao encontro da diversidade e inclusão
São verdadeiras apenas as asserções:
“Inclusão é um processo que reitera princípios democráticos de participação social plena. Neste sentido, a inclusão não se resume a uma ou algumas áreas da vida humana, como, por exemplo, saúde, lazer ou educação. Ela é uma luta, um movimento que tem por essência estar presente em todas as áreas da vida humana, inclusive a educacional. Inclusão refere-se, portanto, a todos os esforços no sentido de garantia da participação máxima de qualquer cidadão em qualquer arena da sociedade em que viva, à qual ele tem direito, e sobre a qual ele tem deveres” (SANTOS, 2003, p. 4) (grifos do autor).
Fonte: ANDRADE, P. F. de; DAMASCENO, A. R. Novas construções sociais de aprendizagens: inclusão em educação para que? Educação em Foco, Juiz de Fora, v. 25, n. 3, p. 211-230, set./ dez. 2020. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/edufoco/article/view/32909/22079. Acesso em: 02 dez. 2022.
Com base neste texto, assinale a afirmativa CORRETA em relação ao papel da educação, quando se trata da inclusão.
A Constituição da República de 1988, em seu Art. 5º, afirma:
"A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho".
Com base no fragmento acima. é possível afirmar que
I. o compromisso com a formação do cidadão e com o desenvolvimento de valores e capacidades para atuar na sociedade é garantido constitucionalmente.
II. a atribuição da lei para garantia da escola é de competência do Estado, mas é de competência da sociedade, além de compromisso da família, garantir o desenvolvimento dos cidadãos.
III. a educação como um direito faz com que toda a sociedade seja alertada do seu papel político e social no desenvolvimento das pessoas e do país.
Está CORRETO apenas o que se afirma em
Preencha corretamente as lacunas do texto a seguir, considerando a discussão sobre gestão escolar.
“A ______________, numa concepção ________________, efetiva-se por meio da _________________ dos sujeitos sociais envolvidos com a comunidade escolar, na elaboração e construção de seus projetos, como também nos processos de decisão, de escolhas coletivas e nas vivências e aprendizagens de cidadania.”
Fonte: Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=585-gestao-da-educacao-escolar&Itemid=30192
Acesso em: 8 out. 2022
Os termos que preenchem corretamente as lacunas da afirmação são:
Transformações no uso de Tecnologias Educacionais
Em um mundo de automação, transformação de negócios e obsolescência contínua de habilidades, as organizações já perceberam que fornecer uma experiência de aprendizagem digital atraente é fundamental para o sucesso do negócio.
De fato, as pessoas e as empresas tentam aplicar a tecnologia à aprendizagem corporativa há décadas. Das fitas cassetes de vídeo original para os CDROMs e do e-learning para o YouTube, passamos por uma rápida mudança na capacitação e na formação em tecnologia. A "aprendizagem digital" de hoje não significa simplesmente produzir vídeos fáceis de ver no seu telefone; significa "levar a aprendizagem onde os funcionários estão". Em outras palavras, essa nova era não é apenas uma mudança nas ferramentas; é uma mudança em direção ao design centrado nas pessoas. Assim como usamos aplicativos como o Uber para facilitar nossa mobilidade, o propósito é que a aprendizagem seja igualmente fácil, simples e agradável, e, ainda, considerando a jornada de trabalho dos colaboradores, que se integre ao fluxo de atividades profissionais.
Desde os primórdios, a educação corporativa se beneficia das mídias e tecnologias para cumprir seu papel na disseminação do conhecimento e da informação - primeiro com a mídia impressa, depois com fitas de vídeo e então com todo o rol de soluções eletrônicas.
Fonte: FILATRO, A; CAVALCANTI, C. C.; JUNIOR, D. P. A; NOGUEIRA, O. DI 4.0: inovações na educação corporativa. São Paulo: Saraiva Uni, 2019, p. 88
Sobre a ação da tecnologia na atualidade, é possível inferir que a tecnologia, especialmente, tem como função
Analise as asserções sobre o uso de tecnologia nas escolas e a relação proposta entre elas.
I - O letramento político é um processo e não uma habilidade que se adquire, como aprender a andar de bicicleta, ou um conhecimento facilmente mensurável, como a tabuada de cinco. Em outras palavras, trata-se de uma ação que se estende no tempo, implicando graus e níveis diferentes de competência e aprendizagem contínua e aberta a transformações. Não há, portanto, um ponto fixo a partir do qual se diga que uma pessoa é ou não politicamente letrada.
PORQUE
II - É um aprendizado permanente que se efetiva tanto em termos de crescimento e empoderamento individual quanto de participação social, ainda que se possam estabelecer estágios a serem alcançados por um indivíduo, grupos ou comunidades enquanto requisito básico ou ideal a ser atingido.
Sobre as asserções, é CORRETO afirmar que
A gestão por competências é uma metodologia da área de recursos humanos que tem por objetivo identificar e gerir colaboradores de acordo os perfis profissionais desejados, proporcionando, assim, maior retorno para a organização. Através dessa estratégia, é possível conduzir cada colaborador conforme o seu perfil profissional e demandas específicas de desenvolvimento da empresa. Essas competências são conhecidas como CHA (conhecimentos, habilidades e atitudes) e são responsáveis por capacitar a pessoa para ocupar determinado cargo ou exercer certa função em uma empresa.
Veja a seguir o conceito de cada uma dessas competências:
• Conhecimento: É o conhecimento teórico que o profissional tem sobre a sua área de atuação. Essa base pode ser aprendida por meio de treinamentos, leituras, escolas, cursos, faculdades e até mesmo das experiências de vida que a pessoa teve.
• Habilidade: A habilidade consiste em saber como colocar em prática todo o conhecimento teórico que possui.
• Atitude: A atitude está relacionada à vontade do profissional em aplicar o seu conhecimento e habilidade para concretizar tarefas e atingir os objetivos.
Quando um funcionário possui todas essas competências, traz uma vantagem competitiva significativa para a organização em que atua.
Os principais benefícios da gestão por competência são:
• Melhora nos processos de tomada de decisão;
• Maior engajamento e participação dos colaboradores;
• Maior eficácia nos processos de recrutamento e seleção;
• Melhora na comunicação interna; • Missão, visão e valores alinhados.
Fonte: Disponível em: https://toteduca.com.br/gestao-por-competencia-e-educacao-corporativa/?gclid=Cj0KCQiAg_KbBhDLARIsANx7wAyb1LUcH79CtFLrWhRbd9a9nxKkdLemzSC3LLpOvmWEgeP-XmuqphoaAq64EALw_wcB Acesso em: 22 nov. 2022. (adaptado)
Avalie as afirmações sobre os benefícios para os profissionais e para a instituição que investe na capacitação dos colaboradores.
I. Aumenta o desenvolvimento e o aprimoramento de habilidades e competências, aumentando a motivação, o engajamento e a produtividade dos colaboradores.
II. Amplia o desenvolvimento de perfil de liderança, melhora o clima organizacional, mas promove um aumento na taxa de rotatividade de funcionários, uma vez que a promoção não é para todos.
III. Torna a empresa mais atrativa para os profissionais, porém, promove lentidão e ineficiência na tomada de decisão.
Está CORRETO o que se afirma em:
A gestão por competências é uma metodologia da área de recursos humanos que tem por objetivo identificar e gerir colaboradores de acordo os perfis profissionais desejados, proporcionando, assim, maior retorno para a organização. Através dessa estratégia, é possível conduzir cada colaborador conforme o seu perfil profissional e demandas específicas de desenvolvimento da empresa. Essas competências são conhecidas como CHA (conhecimentos, habilidades e atitudes) e são responsáveis por capacitar a pessoa para ocupar determinado cargo ou exercer certa função em uma empresa.
Veja a seguir o conceito de cada uma dessas competências:
• Conhecimento: É o conhecimento teórico que o profissional tem sobre a sua área de atuação. Essa base pode ser aprendida por meio de treinamentos, leituras, escolas, cursos, faculdades e até mesmo das experiências de vida que a pessoa teve.
• Habilidade: A habilidade consiste em saber como colocar em prática todo o conhecimento teórico que possui.
• Atitude: A atitude está relacionada à vontade do profissional em aplicar o seu conhecimento e habilidade para concretizar tarefas e atingir os objetivos.
Quando um funcionário possui todas essas competências, traz uma vantagem competitiva significativa para a organização em que atua.
Os principais benefícios da gestão por competência são:
• Melhora nos processos de tomada de decisão;
• Maior engajamento e participação dos colaboradores;
• Maior eficácia nos processos de recrutamento e seleção;
• Melhora na comunicação interna; • Missão, visão e valores alinhados.
Fonte: Disponível em: https://toteduca.com.br/gestao-por-competencia-e-educacao-corporativa/?gclid=Cj0KCQiAg_KbBhDLARIsANx7wAyb1LUcH79CtFLrWhRbd9a9nxKkdLemzSC3LLpOvmWEgeP-XmuqphoaAq64EALw_wcB Acesso em: 22 nov. 2022. (adaptado)
Milly Lacombe
Minhas duas primeiras memórias de infância envolvem meu pai.
Na primeira delas, estou em seus ombros, no meio de uma multidão que cantava, pulava e festejava. Enrolados em uma bandeira do Brasil que minha mãe havia feito na máquina de costura, que ficava no mesmo quarto da TV em branco e preto. Eu tinha três anos, ele tinha 43. A seleção tinha acabado de ser tricampeã mundial de futebol e meu pai e eu celebrávamos no meio de outras centenas de pessoas na rua General Glicério, em Laranjeiras, no Rio.
Na segunda memória, estou subindo com ele a rampa do Maracanã. Eu tinha um pouco mais que três anos, mas não muito mais. Lembro-me da mão dele segurando a minha, lembro-me de olhar para cima e vê-lo ali sorrindo para mim. Lembro-me das pessoas passando em volta, apressadas e felizes. Lembro-me das camisas e bandeiras misturadas: vermelho e preto em alguns; verde, branco e grená em outros. Ele e eu fazíamos parte desse segundo grupo de pessoas. Na minha outra mão, uma almofadinha com as cores do Fluminense, feita por minha mãe na máquina de costura que ficava no mesmo quarto da TV branco e preta. A almofadinha era uma solução à dureza do concreto da arquibancada.
Subindo a rampa, lembro-me de ver, lá bem longe e já no topo, uma abertura para o céu. Era para lá que caminhávamos, meu pai e eu, de mãos dadas. O que haveria ali além do céu? Depois de uma subida, bastante longa para um pequeno corpo que ainda não tinha feito cinco anos, lembro-me de conhecer o que, anos depois, entenderia ser o êxtase que vem com a experiência do sagrado. Ao final da rampa, uma abertura para um campo verde, de marcas brancas e milhares de pessoas cantando ao redor.
Capturada pela imensidão do momento, outra vez olhei para cima e vi meu pai. Ele sorria e não se movia, como quem sabe que seria importante me deixar ali um pouco, apenas sentindo a grandeza do momento, apenas absorvendo uma experiência inaugural de amor e paixão. Depois de um tempo, ele me pegou no colo e subimos os degraus da arquibancada, sendo abençoados por um tanto de pó de arroz a cada passo. Não me lembro de mais nada.
Não me lembro do placar, não me lembro do que aconteceu em campo, não me lembro do que comemos, nem dos sorvetes que não pedi. Lembro-me apenas das sensações e das emoções daquele dia. Mas, mais que qualquer coisa, lembro-me da mão de meu pai na minha. Se fechar os olhos, posso sentir a temperatura e a textura de sua mão na minha. Se fechar os olhos, sinto outra vez a exata pressão que a mão dele fazia na minha, todas as vezes que andávamos assim pelas ruas, e sinto a segurança que aquelas mãos me davam.
Meu pai não está mais aqui, mas a sensação de sua mão na minha está. Pouca coisa, aliás, se manteve presente além dessa sensação. Talvez apenas a emoção de subir uma rampa cujo final é um campo de futebol onde dois times se enfrentarão. O caminho do sagrado, do final de um período escuro, frio e penoso que se abre para uma imensidão de luzes, sonhos e possibilidades.
Anos depois, eu conduziria meu sobrinho pela mesma rampa, mas agora interpretando o papel feito por meu pai.
O que é a vida se não esse contínuo trocar de lugares e essa perpétua caminhada que pode nos levar a encontros grandiosos? Não muita coisa, eu acho. Um passo atrás do outro, uma batalha atrás da outra. Conquistas, fracassos. Vitórias, derrotas. Dias bons, dias ruins. Partidas, chegadas. E lá vamos nós outra vez.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nosso-estranhoamor/2022/11/[...].shtml (Adaptado) Acesso em: 30 dez. 2022.
Milly Lacombe
Minhas duas primeiras memórias de infância envolvem meu pai.
Na primeira delas, estou em seus ombros, no meio de uma multidão que cantava, pulava e festejava. Enrolados em uma bandeira do Brasil que minha mãe havia feito na máquina de costura, que ficava no mesmo quarto da TV em branco e preto. Eu tinha três anos, ele tinha 43. A seleção tinha acabado de ser tricampeã mundial de futebol e meu pai e eu celebrávamos no meio de outras centenas de pessoas na rua General Glicério, em Laranjeiras, no Rio.
Na segunda memória, estou subindo com ele a rampa do Maracanã. Eu tinha um pouco mais que três anos, mas não muito mais. Lembro-me da mão dele segurando a minha, lembro-me de olhar para cima e vê-lo ali sorrindo para mim. Lembro-me das pessoas passando em volta, apressadas e felizes. Lembro-me das camisas e bandeiras misturadas: vermelho e preto em alguns; verde, branco e grená em outros. Ele e eu fazíamos parte desse segundo grupo de pessoas. Na minha outra mão, uma almofadinha com as cores do Fluminense, feita por minha mãe na máquina de costura que ficava no mesmo quarto da TV branco e preta. A almofadinha era uma solução à dureza do concreto da arquibancada.
Subindo a rampa, lembro-me de ver, lá bem longe e já no topo, uma abertura para o céu. Era para lá que caminhávamos, meu pai e eu, de mãos dadas. O que haveria ali além do céu? Depois de uma subida, bastante longa para um pequeno corpo que ainda não tinha feito cinco anos, lembro-me de conhecer o que, anos depois, entenderia ser o êxtase que vem com a experiência do sagrado. Ao final da rampa, uma abertura para um campo verde, de marcas brancas e milhares de pessoas cantando ao redor.
Capturada pela imensidão do momento, outra vez olhei para cima e vi meu pai. Ele sorria e não se movia, como quem sabe que seria importante me deixar ali um pouco, apenas sentindo a grandeza do momento, apenas absorvendo uma experiência inaugural de amor e paixão. Depois de um tempo, ele me pegou no colo e subimos os degraus da arquibancada, sendo abençoados por um tanto de pó de arroz a cada passo. Não me lembro de mais nada.
Não me lembro do placar, não me lembro do que aconteceu em campo, não me lembro do que comemos, nem dos sorvetes que não pedi. Lembro-me apenas das sensações e das emoções daquele dia. Mas, mais que qualquer coisa, lembro-me da mão de meu pai na minha. Se fechar os olhos, posso sentir a temperatura e a textura de sua mão na minha. Se fechar os olhos, sinto outra vez a exata pressão que a mão dele fazia na minha, todas as vezes que andávamos assim pelas ruas, e sinto a segurança que aquelas mãos me davam.
Meu pai não está mais aqui, mas a sensação de sua mão na minha está. Pouca coisa, aliás, se manteve presente além dessa sensação. Talvez apenas a emoção de subir uma rampa cujo final é um campo de futebol onde dois times se enfrentarão. O caminho do sagrado, do final de um período escuro, frio e penoso que se abre para uma imensidão de luzes, sonhos e possibilidades.
Anos depois, eu conduziria meu sobrinho pela mesma rampa, mas agora interpretando o papel feito por meu pai.
O que é a vida se não esse contínuo trocar de lugares e essa perpétua caminhada que pode nos levar a encontros grandiosos? Não muita coisa, eu acho. Um passo atrás do outro, uma batalha atrás da outra. Conquistas, fracassos. Vitórias, derrotas. Dias bons, dias ruins. Partidas, chegadas. E lá vamos nós outra vez.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nosso-estranhoamor/2022/11/[...].shtml (Adaptado) Acesso em: 30 dez. 2022.
Está CORRETA a seguinte sequência de respostas:
Está CORRETO o que se afirma em: