Minha condição humana me fascina. Conheço o limite
de minha existência e ignoro por que estou nesta terra, mas
às vezes o pressinto. Pela experiência cotidiana, concreta e
intuitiva, eu me descubro vivo para alguns homens, porque
o sorriso e a felicidade deles me condicionam inteiramente,
mas ainda para outros que, por acaso, descobri terem
emoções semelhantes às minhas.
E cada dia, milhares de vezes, sinto minha vida — corpo
e alma — integralmente tributária do trabalho dos vivos e
dos mortos. Gostaria de dar tanto quanto recebo e não paro
de receber. Mas depois experimento o sentimento satisfeito
de minha solidão e quase demonstro má consciência ao
exigir ainda alguma coisa de outrem. Vejo os homens se
diferenciarem pelas classes sociais e sei que nada as justifica
a não ser pela violência. Sonho ser acessível e desejável para
todos uma vida simples e natural, de corpo e de espírito.
Aprendo a tolerar aquilo que me faz sofrer. Suporto
então melhor meu sentimento de responsabilidade. Ele já
não me esmaga e deixo de me levar, a mim ou aos outros, a
sério demais. Vejo então o mundo com bom humor.
Foram ideais que suscitaram meus esforços e me
permitiram viver. Chamam-se o bem, a beleza, a verdade. Se
não me identifico com outras sensibilidades semelhantes à
minha e se não me obstino incansavelmente em perseguir
este ideal eternamente inacessível na arte e na ciência, a
vida perde todo o sentido para mim. Ora, a humanidade se
apaixona por finalidades irrisórias que têm por nome a
riqueza, a glória, o luxo. Desde moço já as desprezava.
(Albert Einstein. Como vejo o mundo. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1981. Com adaptações.)