Polarização
(Luiz Andreassa, comadaptações)
Quando se fala da política contemporânea, é
muito comum ouvirmos falar também de
polarização. Mas o que é polarização política e
por que ela é tão preocupante?
Na política, o significado de polarização está
relacionado a uma divisão da sociedade em
polos, que representam posições diferentes
sobre um determinado tema. Porém, essa
palavra tem sido usada de modo negativo, uma
vez que passou a se referir à disputa entre dois
grupos que se fecham em suas convicções e não
estão dispostos ao diálogo.
Ao longo dosséculos, a humanidade se organizou
de formas complexas e criou sistemas para
organizar o poder. Uma das inovações foi a
democracia. Por meio da democracia, não seria
necessário usar a força para chegar ao poder: a
disputa não aconteceria por meio da violência,
mas pela discussão de ideias e apresentação de
propostas para melhorar a vida de todos. Quem
convencesse mais cidadãos e conseguisse mais
votos chegaria aos postos de comando.
Não é à toa que a democracia vai muito além do
voto. Como apontam Steven Levitsky e Daniel
Ziblatt no best-seller “Como as democracias
morrem”, ela requer respeito a regras comuns,
reconhecimento da legitimidade dos adversários
(ou seja, tratá-los como competidores legítimos
dentro de uma disputa igualitária), tolerância e
diálogo.
O excesso de polarização compromete todos
esses quesitos. Em uma sociedade concentrada
em dois lados radicalizados, adversários são
vistos como inimigos, o diálogo não é incentivado
– é até condenado – e transgredir as regras
parece justificável.
Quem procura se manter fora desses dois
grupos, apresentando outras visões e ideias,
ou mesmo quem defende que ambos os
lados têm suas falhas e virtudes, é tratado
como “isentão”. As alternativas que fogem
às duas apresentadas acabam sendo
invalidadas.
A polarização crescente é promovida por
aqueles que se favorecem dela. Políticos,
partidos e grupos mais extremistas se
alimentam do descontentamento e da
intolerância para ganhar mais apoio a suas
ideias. Afinal, medidas extremas têm maior
chance de aceitação quando se vê o outro
grupo como um inimigo perigoso que é
preciso eliminar, ao invés de um
concorrente no debate.
Além disso, quanto pior o “inimigo” parece,
mais soa justificável quebrar regras. Não à
toa, um estudo mostrou que a polarização
favorece a ascensão de líderes populistas
“iliberais”, ou seja, que têm pouco apreço às
normas democráticas e às limitações de
poder.