Para responder a questão, leia um
trecho da entrevista com Haroldo Rocha, secretário estadual
de Educação do Espírito Santo.
Apesar dos bons resultados, o Estado avançou menos nos
anos finais do ensino fundamental. Quais as barreiras?
De fato, isso é um fenômeno nacional. Do 1º
ao 5º
ano,
há uma melhoria mais acelerada, e do 6º
ao 9º, com menos
potência.
Há dois fenômenos. Um é interno: do 6º
ao 9º
ano muita
coisa muda para a criança. Está passando para a adolescência e deixa de ter uma professora para ter dez. E a escola
não tem uma metodologia bem articulada para que todos os
conhecimentos ali passados façam sentido.
Há também uma questão externa. Adultos e crianças
hoje são muito afetados por tecnologia, redes sociais, trocas
de informação. O mundo está muito dispersivo, e a aprendizagem exige foco e concentração.
É um desafio adicional para a escola. Além do desenvolvimento acadêmico e cognitivo – ler, escrever, fazer contas,
interpretar história –, a escola terá que se preocupar com o
desenvolvimento de competências socioemocionais: metodologia para que as crianças aprendam a administrar suas emoções, trabalhar em equipe, ter foco, persistência, resiliência.
O governo capixaba coordenou pesquisa para descobrir por
que jovens de 14 a 29 anos deixaram a escola. Que política
esse diagnóstico inspirou?
Esses jovens foram alunos de nossas escolas públicas
e as abandonaram porque precisavam trabalhar, engravidaram, não gostavam de estudar ou achavam a escola chata.
O que mais temos discutido é como envolver o jovem
com a escola. Recentemente introduzimos o líder de turma,
escolhido pelos colegas para discutir soluções pela ótica dos
alunos.
Por que projetos-piloto nem sempre dão os mesmos resultados na sala de aula?
Falta de treinamento é um motivo. O professor é absolutamente estratégico. É fundamental capacitar de um ponto
de vista bem operacional como ele trabalha com o aluno.
O mundo mudou muito, as exigências são outras.
O trabalho do professor hoje é totalmente diferente, e as
instituições formadoras ainda trabalham de forma tradicional.
Fazemos pesquisa e estamos gastando muita energia para
definir a formação do professor do século 21.
Não nos cabe achar que hoje está pior ou melhor que no
passado, mas nos programarmos para atender a criança no
mundo de hoje, diverso, em que tudo é muito rápido, em que
nada se sustenta, com profissões que nem existem mais e
outras que a gente nem imagina.
Como motivar se falamos de coisas de antigamente?
É um desafio diferente. Os professores precisam ser capazes
de ler o mundo desses alunos.
(Ana Estela de Sousa Pinto e Érica Fraga.
Folha de S.Paulo, 09.12.2017. Adaptado)