Há 18 meses, todas as escolas do País fecharam as portas, o ensino remoto e mediado pela tecnologia foi o único
caminho possível para que o aprendizado não fosse paralisado. O uso das ferramentas tecnológicas, que ainda engatinhava no sistema educacional brasileiro, foi disseminado.
Mas do jeito que deu.
Você e outros especialistas são categóricos ao afirmar
que, por mais sedutora e avançada que pareça, nenhuma
s olução tecnológica é capaz de substituir a mediação humana na educação. Acreditou-se que isso seria possível?
Havia a ilusão, principalmente no mundo das empre sas de
tecnologia, de que, quando o aluno pudesse estudar no seu
tempo e no lugar que escolhesse, isso o liberaria das amarras
da educação tradicional, iria personalizar a educação. Isso foi
um grande fracasso, porque o que determina a quali dade da
educação é a pedagogia, não a tecnologia.
Pesquisas mostram que, para as crianças, a mediação
humana é muito importante. Nessa fase, não se aprendem
somente conteúdos, mas também práticas de aprendizagem.
Ainda se está aprendendo a aprender, ou seja, como monitorar o próprio aprendizado, quais fontes de conhecimento
são mais adequadas para diferentes situações. Quando você
é adulto e faz um mestrado a distância, tais habilidades já
estão estabelecidas, por isso um modelo de aprendizagem
autônomo funciona. O que vemos nas pesquisas é que, para
alunos com melhor desempenho, a questão entre usar ou não
o ensino digital representa pouca diferença. Já para os estudantes com mais dificuldade, a transição do modo presencial
para o remoto ou híbrido é mais difícil; eles precisam mais da
mediação humana. Não podemos tratar todos os alunos da
mesma forma. Se a gente está pensando em soluções híbridas, precisa desenhar mecanismos de compensação, como
tutoriais e diagnósticos mais rápidos.
O professor deve estar no centro do processo que mescla interação e aprendizado mediado pela tecnologia. Ele é o
maestro que combina diferentes mídias e formas de aprendizagem. Por isso, me preocupo bastante com sistemas que
pensam em fórmulas únicas de ensino híbrido.
Quais ações práticas as redes de ensino devem adotar
para manter professores em sintonia com o universo digital?
É preciso criar uma integração com universidade, terceiro
setor, governo… Tudo para gerar pesquisa e programas para
formação de professores e gestores. Há 15 anos, dar formação
em tecnologia educacional era fácil. Você ensinava o professor
a usar duas tecnologias e pronto. Hoje a exigência é um treinamento muito avançado. As teorias educacionais continuam
com seu papel essencial, podendo agora se v aler do universo
digital para complementar o que já sabemos s obre aprendizagem humana e expandir nossas possibilidades. Por isso, volto
a frisar: o professor, que deve ser o arquiteto das experiências
de aprendizagem, tem de conhecer as ferramentas tecnológicas para aplicar um sólido desenho pedagógico.
(O Estado de S.Paulo, 24 set. 2021. Adaptado)