Atenção: Para responder a questão, considere o texto abaixo.
Quem fala português não se limita a comer, a gente também gosta de falar sobre comida. Sendo duas coisas diferentes, na
verdade são a mesma. A língua portuguesa tem um valor nutritivo que as outras não têm. Creio que é possível engordar a falar de
comida em português. Vai uma linguicinha? E se amanhã fizéssemos um costelão? Boa sorte a traduzir estas perguntas para inglês,
francês ou alemão.
Eles sabem (vagamente) o que é linguiça e costela. Mas nunca hão de saber o que é uma linguicinha e um costelão. Sem
esses nomes, o sabor é diferente. Já tenho tomado refeições com gente que fala outras línguas e nunca vi nada parecido. Numa
mesa de falantes de português, come-se, recordam-se refeições passadas e projetam-se refeições futuras. Falantes de português,
depois de terem comido uma feijoada, recordam uma moqueca capixaba que comeram em 1987 e planejam o acarajé que vão fazer
para o jantar do dia seguinte. A gente ama através da comida — e é um amor bruto, que é o único amor que vale a pena. Dizemos
coisas que, apesar de carinhosas, estão bastante próximas do universo do crime. Por exemplo: “Você não sai daqui sem provar este
vatapá”. Isso é vocabulário de sequestrador. Contudo, é ternura.
(Adaptado de: PEREIRA, Ricardo A. “Uma série de séries”. 08/09/19. Disponível em: www1.folha.uol.com.br)