João Soares estava com a razão: política só se ganha com
muito dinheiro. A começar com o alistamento, que é trabalhoso
e caro: tem-se que ir atrás de eleitor por eleitor, convencê-los a se
alistarem e ensinar tudo, até a copiar o requerimento. Cabo de
enxada engrossa as mãos — o laço de couro cru, machado e foice
também. Caneta e lápis são ferramentas muito delicadas. A lida
é outra: labuta pesada, de sol a sol, nos campos e nos currais. Ler
o quê? Escrever o quê? Mas agora é preciso: a eleição vem aí, e
o alistamento rende a estima do patrão, a gente vira pessoa.
Mário Palmério. Vila dos Confins. São Paulo: José
Olympio, s/d, p. 62 (com adaptações).