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Da urgência da práxis neuropsicopedagógica no futuro da educação
A aprendizagem humana, doravante somente aprendizagem, está intimamente relacionada a toda a experiência humana, cuja compreensibilidade é quase impossível sem a aprendizagem. Em se tratando do ensino sistemático, como o que ocorre nas agências de ensino sistematizado, como são as escolas, por exemplo, a questão de como se compreende a aprendizagem é sempre unilateral, adultocêntrica e monológica – todas características totalmente às avessas do que hoje se compreende o que seja e como se dá a aprendizagem, características que são produto do século XX.
Não há como qualquer professor, em qualquer grau de ensino, produzir sentido no que diz (falando e/ou escrevendo), no que gesticula, no que aparenta, sem compreender hoje que conhecimento não é transmissão. O é a informação – constructo em estado primário que poderá se tornar conhecimento, e isso é um discernimento fundamental para todo aquele que ensina sistemática ou assistematicamente. Além disso, que não constitui apenas uma leve nuança semântica entre termos, são necessárias ambiências (neurológicas, emocionais, sócio-históricas, discursivas) que mediem e possibilitem momentos para que o Outro então se aproprie à sua maneira, revele tal apropriação como a significou, optando por uma linguagem das linguagens disponíveis em nossa sociedade (constituída semioticamente por multilinguagens) e publicize (fale, escreva, desenhe, gesticule, pinte, expresse-se em Libras etc.) o que pensa, de tal sorte que o professor analise sobre como o Outro se apropriou, revelou e agora publiciza o que internalizou. Nesta sociedade que também é do Conhecimento, somos e valemos o que está dito sobre nós, por quem é/foi dito e quando o foi dito.
A questão é que os professores, agora focalizando somente a instituição Escola, não estão preparados para os que se revelam por outras linguagens e até mesmo pelo silêncio, porque esperam que todos os alunos compreendam da mesma forma, no mesmo momento, revelando sua compreensão da mesma maneira também. Um tipo de formação em série. Em plena segunda década de um século que avança na área dos estudos sobre o cérebro e que publica, porque isso é da ciência fazê-lo, é inadmissível ainda usar a memória dos alunos exclusivamente como depósito, já que outros suportes podem fazê-lo.
A inserção da Neuropsicopedagogia, acreditamos, pode dar conta disso, porque, ao constituir-se uma área de fronteira, pode contribuir com os avanços da Neurociência e das Ciências da Cognição em prol da Educação, com o objetivo de argumentar quão importantes são ao professor essas áreas, as quais dão ao cérebro, à inteligência, à memória e à compreensão humanos seus devidos lugares, no complexo sistema cognitivo humano.
Graças aos estudos de Neuroeducação, por exemplo, o professor está mais consciente de que como agem os alunos é resultante de como pensam, como organizam seus pensamentos, como reagem diante de intempéries, como aprendem. Estar nas redes sociais, ou estar desenhando algo, ou ainda estar passando bilhetinho para o colega ou para a mina de quem está a fim, na sala de aula, são sinais, são indícios para o professor de que algo não está funcionando bem durante uma aula. Da mesma forma, compreender que a linguagem diferenciada que usou numa aula e que “deu certo”, refletir sobre um suporte tecnológico que mediatizou o início de um seminário e que impulsionou a compreensão dos alunos, ou ainda, ressignificar uma atividade que há anos fazia de outra forma e fê-lo de outra e que deu resultado imediato são também índices de que é possível que eles aprendam de forma efetiva. Essas compreensões docentes decerto vieram não só de uma habilidade desenvolvida pelo professor mas também dos avanços das neurociências no campo da Educação.
Como área de estudo das neurociências, a Neuropsicopedagogia busca analisar os processos cognitivos das pessoas para compreender suas potencialidades, de forma a construir indicadores formais para prevenção e/ou para o tratamento clínico ou institucional dos envolvidos. Os saberes oriundos das neurociências de modo geral, entre eles os da Neuropsicopedagogia, são sistemática, particular e culturalmente saberes necessários a uma autonomia cognitiva, ao desenvolvimento de pessoas por pessoas. Os estudos da cognição do homem verticalizaram-se a tal ponto que hoje não se concebe mais que só pertençam a essa área tudo o que for ligado ao racional e ao mental. Muito mais vista como fenômeno essencialmente social, elaborado intersubjetivamente no plano discursivo (Marcuschi, 2007), a Cognição é um sistema criativo, pois inventa e reinventa suas aprendizagens. Se as interações humanas são moduladas pelas nossas mentes, é, em se tratando do tema Educação, de responsabilidade do professor criar situações de aprendência do Outro, uma vez que uma aula também é uma forma de interação; é uma cena interativa que necessita estar imbuída de significação. Uma maneira de fazê-lo é usar nas aulas metáforas, que muito mais do que figuras de linguagem, são mecanismos superiores de compreensão mental, porque aproximam a cognição do aluno ao seu constituinte cultural imediato, facilitando a sociointeração que precisa haver em uma sala de aula sempre. Logo, conhecer os alunos antes de entrar em sala ou assim que entrar é uma forma de mapear suas cognições, além de propositar assuntos para aulas vindouras, de forma que as metáforas contribuam com/para a aprendência do Outro. Por isso, para desenvolver as pessoas de forma que a linguagem docente atinja seu objetivo mister, o professor precisa se eivar desses e de outros conhecimentos oriundos da área da linguagem também, de forma a aprender a elaborar atividades que desenvolvam funções cerebrais de forma mais sistemática. Não que a vida das pessoas sem a escola não possa ser desenvolvida em funções que se acreditou que só a escola desenvolveria, posto que hoje sabemos que há muitas pessoas que não estuda(ra)m na escola ou pouco estudaram e ainda assim fazem as conexões necessárias por conta de sua curiosidade ou por sua necessidade de sobrevivência. O próprio cérebro se ocupa de criar plasticamente as condições. A escola só adianta, de forma sistemática, tais conexões.
O que professor precisa é dar oportunidade para o aluno se relacionar efetiva e afetivamente com a disciplina, com os assuntos tratados. Como? Partindo dos saberes do aluno, pois é isso o mais importante que o aluno precisa aprender e demonstrar aprendizagem. Ele precisa aprender o que ele já sabe, muito embora nem sempre saiba que sabe.
Não há modelos indiscutíveis que levam/levem o aluno à aprendizagem suprema! Há caminhos a percorrer, avaliando e reavaliando como está se dando o processo de aprendizagem do Outro. A aprendizagem precisa eivar-se do caráter ipsativo da avaliação; isto é, analisar como estava (antes da aula) e como ficou (depois da aula) uma informação, um conhecimento orientado pelo professor. É necessário também um trabalho quase personalizado. Mas como, se o século XIX nos deixou o caráter de salas de aulas em massa para dar conta logo de muitos? Se o professor for um profissional do desenvolvimento humano, isto é, responsável de fato por gerir, gerar e compartilhar conhecimento, saberá orientar-se, sim, diante de (des)aprendizagens discentes. E quando se diz trabalho personalizado não exatamente se quer dizer um para um. Podem ser dois para dois e assim em diante. Cada cérebro tem a sua própria maneira de internalizar, significar e ressignificar, como também tem seu próprio tempo e velocidade para isso; afinal, não existe ninguém que não aprenda.
É urgente desmistificar a ideia de que alguém não aprende porque não quer. De que a aprendizagem não ocorre para alguns. O que não ocorre é professor se preocupando com o aluno que não aprende, que não aprendeu. As possibilidades de construção do conhecimento são inúmeras, mas a escola brasileira, na subjetividade do professor brasileiro, acredita que o problema está sempre no aluno (Pedagogia da Culpa). Qual das possibilidades ou quais delas é a melhor para um aluno aprender? Só perguntando para ele, que depois de ter sido exposto a algumas dessas possibilidades, provavelmente saberá como é que ele aprende. O papel do neuropsicopedagogo é, com o aluno, encontrar uma e/ou outras possibilidades personais de aprendizagem, divulgar isso para os pais e/ou responsáveis bem como para o próprio aluno e ainda revelar para o professor, com quem está com dificuldades de aprendizagem, a maneira como esse aluno aprende, ou as maneiras como este apreende, entende e compreende. Ou ambos podem fazer isso.
O professor precisa adaptar seu processo de ensino ao de aprendizagem do aluno, principalmente quando a maioria dos alunos de uma turma não entendeu sua aula. Aliás, mesmo que somente um não tenha entendido. O processo de ensino deve sempre dialogar, interagir com o de aprendizagem e não o contrário, como por muito tempo foi/é visto. O cérebro humano sob condições de ensino e de aprendizagem precisa sentir-se seguro, ter claro do que se trata o assunto, de forma que as redes cognitivas, que são muitas e algumas ainda sequer mapeadas, possam ativarem-se.
(...).
LISBÔA, Wandré de. Da urgência da práxis
neuropsicopedagógica no futuro da educação – um olhar
multifacetado sobre a (des)aprendizagem: INEPE/RS, 2014.
Da urgência da práxis neuropsicopedagógica no futuro da educação
A aprendizagem humana, doravante somente aprendizagem, está intimamente relacionada a toda a experiência humana, cuja compreensibilidade é quase impossível sem a aprendizagem. Em se tratando do ensino sistemático, como o que ocorre nas agências de ensino sistematizado, como são as escolas, por exemplo, a questão de como se compreende a aprendizagem é sempre unilateral, adultocêntrica e monológica – todas características totalmente às avessas do que hoje se compreende o que seja e como se dá a aprendizagem, características que são produto do século XX.
Não há como qualquer professor, em qualquer grau de ensino, produzir sentido no que diz (falando e/ou escrevendo), no que gesticula, no que aparenta, sem compreender hoje que conhecimento não é transmissão. O é a informação – constructo em estado primário que poderá se tornar conhecimento, e isso é um discernimento fundamental para todo aquele que ensina sistemática ou assistematicamente. Além disso, que não constitui apenas uma leve nuança semântica entre termos, são necessárias ambiências (neurológicas, emocionais, sócio-históricas, discursivas) que mediem e possibilitem momentos para que o Outro então se aproprie à sua maneira, revele tal apropriação como a significou, optando por uma linguagem das linguagens disponíveis em nossa sociedade (constituída semioticamente por multilinguagens) e publicize (fale, escreva, desenhe, gesticule, pinte, expresse-se em Libras etc.) o que pensa, de tal sorte que o professor analise sobre como o Outro se apropriou, revelou e agora publiciza o que internalizou. Nesta sociedade que também é do Conhecimento, somos e valemos o que está dito sobre nós, por quem é/foi dito e quando o foi dito.
A questão é que os professores, agora focalizando somente a instituição Escola, não estão preparados para os que se revelam por outras linguagens e até mesmo pelo silêncio, porque esperam que todos os alunos compreendam da mesma forma, no mesmo momento, revelando sua compreensão da mesma maneira também. Um tipo de formação em série. Em plena segunda década de um século que avança na área dos estudos sobre o cérebro e que publica, porque isso é da ciência fazê-lo, é inadmissível ainda usar a memória dos alunos exclusivamente como depósito, já que outros suportes podem fazê-lo.
A inserção da Neuropsicopedagogia, acreditamos, pode dar conta disso, porque, ao constituir-se uma área de fronteira, pode contribuir com os avanços da Neurociência e das Ciências da Cognição em prol da Educação, com o objetivo de argumentar quão importantes são ao professor essas áreas, as quais dão ao cérebro, à inteligência, à memória e à compreensão humanos seus devidos lugares, no complexo sistema cognitivo humano.
Graças aos estudos de Neuroeducação, por exemplo, o professor está mais consciente de que como agem os alunos é resultante de como pensam, como organizam seus pensamentos, como reagem diante de intempéries, como aprendem. Estar nas redes sociais, ou estar desenhando algo, ou ainda estar passando bilhetinho para o colega ou para a mina de quem está a fim, na sala de aula, são sinais, são indícios para o professor de que algo não está funcionando bem durante uma aula. Da mesma forma, compreender que a linguagem diferenciada que usou numa aula e que “deu certo”, refletir sobre um suporte tecnológico que mediatizou o início de um seminário e que impulsionou a compreensão dos alunos, ou ainda, ressignificar uma atividade que há anos fazia de outra forma e fê-lo de outra e que deu resultado imediato são também índices de que é possível que eles aprendam de forma efetiva. Essas compreensões docentes decerto vieram não só de uma habilidade desenvolvida pelo professor mas também dos avanços das neurociências no campo da Educação.
Como área de estudo das neurociências, a Neuropsicopedagogia busca analisar os processos cognitivos das pessoas para compreender suas potencialidades, de forma a construir indicadores formais para prevenção e/ou para o tratamento clínico ou institucional dos envolvidos. Os saberes oriundos das neurociências de modo geral, entre eles os da Neuropsicopedagogia, são sistemática, particular e culturalmente saberes necessários a uma autonomia cognitiva, ao desenvolvimento de pessoas por pessoas. Os estudos da cognição do homem verticalizaram-se a tal ponto que hoje não se concebe mais que só pertençam a essa área tudo o que for ligado ao racional e ao mental. Muito mais vista como fenômeno essencialmente social, elaborado intersubjetivamente no plano discursivo (Marcuschi, 2007), a Cognição é um sistema criativo, pois inventa e reinventa suas aprendizagens. Se as interações humanas são moduladas pelas nossas mentes, é, em se tratando do tema Educação, de responsabilidade do professor criar situações de aprendência do Outro, uma vez que uma aula também é uma forma de interação; é uma cena interativa que necessita estar imbuída de significação. Uma maneira de fazê-lo é usar nas aulas metáforas, que muito mais do que figuras de linguagem, são mecanismos superiores de compreensão mental, porque aproximam a cognição do aluno ao seu constituinte cultural imediato, facilitando a sociointeração que precisa haver em uma sala de aula sempre. Logo, conhecer os alunos antes de entrar em sala ou assim que entrar é uma forma de mapear suas cognições, além de propositar assuntos para aulas vindouras, de forma que as metáforas contribuam com/para a aprendência do Outro. Por isso, para desenvolver as pessoas de forma que a linguagem docente atinja seu objetivo mister, o professor precisa se eivar desses e de outros conhecimentos oriundos da área da linguagem também, de forma a aprender a elaborar atividades que desenvolvam funções cerebrais de forma mais sistemática. Não que a vida das pessoas sem a escola não possa ser desenvolvida em funções que se acreditou que só a escola desenvolveria, posto que hoje sabemos que há muitas pessoas que não estuda(ra)m na escola ou pouco estudaram e ainda assim fazem as conexões necessárias por conta de sua curiosidade ou por sua necessidade de sobrevivência. O próprio cérebro se ocupa de criar plasticamente as condições. A escola só adianta, de forma sistemática, tais conexões.
O que professor precisa é dar oportunidade para o aluno se relacionar efetiva e afetivamente com a disciplina, com os assuntos tratados. Como? Partindo dos saberes do aluno, pois é isso o mais importante que o aluno precisa aprender e demonstrar aprendizagem. Ele precisa aprender o que ele já sabe, muito embora nem sempre saiba que sabe.
Não há modelos indiscutíveis que levam/levem o aluno à aprendizagem suprema! Há caminhos a percorrer, avaliando e reavaliando como está se dando o processo de aprendizagem do Outro. A aprendizagem precisa eivar-se do caráter ipsativo da avaliação; isto é, analisar como estava (antes da aula) e como ficou (depois da aula) uma informação, um conhecimento orientado pelo professor. É necessário também um trabalho quase personalizado. Mas como, se o século XIX nos deixou o caráter de salas de aulas em massa para dar conta logo de muitos? Se o professor for um profissional do desenvolvimento humano, isto é, responsável de fato por gerir, gerar e compartilhar conhecimento, saberá orientar-se, sim, diante de (des)aprendizagens discentes. E quando se diz trabalho personalizado não exatamente se quer dizer um para um. Podem ser dois para dois e assim em diante. Cada cérebro tem a sua própria maneira de internalizar, significar e ressignificar, como também tem seu próprio tempo e velocidade para isso; afinal, não existe ninguém que não aprenda.
É urgente desmistificar a ideia de que alguém não aprende porque não quer. De que a aprendizagem não ocorre para alguns. O que não ocorre é professor se preocupando com o aluno que não aprende, que não aprendeu. As possibilidades de construção do conhecimento são inúmeras, mas a escola brasileira, na subjetividade do professor brasileiro, acredita que o problema está sempre no aluno (Pedagogia da Culpa). Qual das possibilidades ou quais delas é a melhor para um aluno aprender? Só perguntando para ele, que depois de ter sido exposto a algumas dessas possibilidades, provavelmente saberá como é que ele aprende. O papel do neuropsicopedagogo é, com o aluno, encontrar uma e/ou outras possibilidades personais de aprendizagem, divulgar isso para os pais e/ou responsáveis bem como para o próprio aluno e ainda revelar para o professor, com quem está com dificuldades de aprendizagem, a maneira como esse aluno aprende, ou as maneiras como este apreende, entende e compreende. Ou ambos podem fazer isso.
O professor precisa adaptar seu processo de ensino ao de aprendizagem do aluno, principalmente quando a maioria dos alunos de uma turma não entendeu sua aula. Aliás, mesmo que somente um não tenha entendido. O processo de ensino deve sempre dialogar, interagir com o de aprendizagem e não o contrário, como por muito tempo foi/é visto. O cérebro humano sob condições de ensino e de aprendizagem precisa sentir-se seguro, ter claro do que se trata o assunto, de forma que as redes cognitivas, que são muitas e algumas ainda sequer mapeadas, possam ativarem-se.
(...).
LISBÔA, Wandré de. Da urgência da práxis
neuropsicopedagógica no futuro da educação – um olhar
multifacetado sobre a (des)aprendizagem: INEPE/RS, 2014.
Da urgência da práxis neuropsicopedagógica no futuro da educação
A aprendizagem humana, doravante somente aprendizagem, está intimamente relacionada a toda a experiência humana, cuja compreensibilidade é quase impossível sem a aprendizagem. Em se tratando do ensino sistemático, como o que ocorre nas agências de ensino sistematizado, como são as escolas, por exemplo, a questão de como se compreende a aprendizagem é sempre unilateral, adultocêntrica e monológica – todas características totalmente às avessas do que hoje se compreende o que seja e como se dá a aprendizagem, características que são produto do século XX.
Não há como qualquer professor, em qualquer grau de ensino, produzir sentido no que diz (falando e/ou escrevendo), no que gesticula, no que aparenta, sem compreender hoje que conhecimento não é transmissão. O é a informação – constructo em estado primário que poderá se tornar conhecimento, e isso é um discernimento fundamental para todo aquele que ensina sistemática ou assistematicamente. Além disso, que não constitui apenas uma leve nuança semântica entre termos, são necessárias ambiências (neurológicas, emocionais, sócio-históricas, discursivas) que mediem e possibilitem momentos para que o Outro então se aproprie à sua maneira, revele tal apropriação como a significou, optando por uma linguagem das linguagens disponíveis em nossa sociedade (constituída semioticamente por multilinguagens) e publicize (fale, escreva, desenhe, gesticule, pinte, expresse-se em Libras etc.) o que pensa, de tal sorte que o professor analise sobre como o Outro se apropriou, revelou e agora publiciza o que internalizou. Nesta sociedade que também é do Conhecimento, somos e valemos o que está dito sobre nós, por quem é/foi dito e quando o foi dito.
A questão é que os professores, agora focalizando somente a instituição Escola, não estão preparados para os que se revelam por outras linguagens e até mesmo pelo silêncio, porque esperam que todos os alunos compreendam da mesma forma, no mesmo momento, revelando sua compreensão da mesma maneira também. Um tipo de formação em série. Em plena segunda década de um século que avança na área dos estudos sobre o cérebro e que publica, porque isso é da ciência fazê-lo, é inadmissível ainda usar a memória dos alunos exclusivamente como depósito, já que outros suportes podem fazê-lo.
A inserção da Neuropsicopedagogia, acreditamos, pode dar conta disso, porque, ao constituir-se uma área de fronteira, pode contribuir com os avanços da Neurociência e das Ciências da Cognição em prol da Educação, com o objetivo de argumentar quão importantes são ao professor essas áreas, as quais dão ao cérebro, à inteligência, à memória e à compreensão humanos seus devidos lugares, no complexo sistema cognitivo humano.
Graças aos estudos de Neuroeducação, por exemplo, o professor está mais consciente de que como agem os alunos é resultante de como pensam, como organizam seus pensamentos, como reagem diante de intempéries, como aprendem. Estar nas redes sociais, ou estar desenhando algo, ou ainda estar passando bilhetinho para o colega ou para a mina de quem está a fim, na sala de aula, são sinais, são indícios para o professor de que algo não está funcionando bem durante uma aula. Da mesma forma, compreender que a linguagem diferenciada que usou numa aula e que “deu certo”, refletir sobre um suporte tecnológico que mediatizou o início de um seminário e que impulsionou a compreensão dos alunos, ou ainda, ressignificar uma atividade que há anos fazia de outra forma e fê-lo de outra e que deu resultado imediato são também índices de que é possível que eles aprendam de forma efetiva. Essas compreensões docentes decerto vieram não só de uma habilidade desenvolvida pelo professor mas também dos avanços das neurociências no campo da Educação.
Como área de estudo das neurociências, a Neuropsicopedagogia busca analisar os processos cognitivos das pessoas para compreender suas potencialidades, de forma a construir indicadores formais para prevenção e/ou para o tratamento clínico ou institucional dos envolvidos. Os saberes oriundos das neurociências de modo geral, entre eles os da Neuropsicopedagogia, são sistemática, particular e culturalmente saberes necessários a uma autonomia cognitiva, ao desenvolvimento de pessoas por pessoas. Os estudos da cognição do homem verticalizaram-se a tal ponto que hoje não se concebe mais que só pertençam a essa área tudo o que for ligado ao racional e ao mental. Muito mais vista como fenômeno essencialmente social, elaborado intersubjetivamente no plano discursivo (Marcuschi, 2007), a Cognição é um sistema criativo, pois inventa e reinventa suas aprendizagens. Se as interações humanas são moduladas pelas nossas mentes, é, em se tratando do tema Educação, de responsabilidade do professor criar situações de aprendência do Outro, uma vez que uma aula também é uma forma de interação; é uma cena interativa que necessita estar imbuída de significação. Uma maneira de fazê-lo é usar nas aulas metáforas, que muito mais do que figuras de linguagem, são mecanismos superiores de compreensão mental, porque aproximam a cognição do aluno ao seu constituinte cultural imediato, facilitando a sociointeração que precisa haver em uma sala de aula sempre. Logo, conhecer os alunos antes de entrar em sala ou assim que entrar é uma forma de mapear suas cognições, além de propositar assuntos para aulas vindouras, de forma que as metáforas contribuam com/para a aprendência do Outro. Por isso, para desenvolver as pessoas de forma que a linguagem docente atinja seu objetivo mister, o professor precisa se eivar desses e de outros conhecimentos oriundos da área da linguagem também, de forma a aprender a elaborar atividades que desenvolvam funções cerebrais de forma mais sistemática. Não que a vida das pessoas sem a escola não possa ser desenvolvida em funções que se acreditou que só a escola desenvolveria, posto que hoje sabemos que há muitas pessoas que não estuda(ra)m na escola ou pouco estudaram e ainda assim fazem as conexões necessárias por conta de sua curiosidade ou por sua necessidade de sobrevivência. O próprio cérebro se ocupa de criar plasticamente as condições. A escola só adianta, de forma sistemática, tais conexões.
O que professor precisa é dar oportunidade para o aluno se relacionar efetiva e afetivamente com a disciplina, com os assuntos tratados. Como? Partindo dos saberes do aluno, pois é isso o mais importante que o aluno precisa aprender e demonstrar aprendizagem. Ele precisa aprender o que ele já sabe, muito embora nem sempre saiba que sabe.
Não há modelos indiscutíveis que levam/levem o aluno à aprendizagem suprema! Há caminhos a percorrer, avaliando e reavaliando como está se dando o processo de aprendizagem do Outro. A aprendizagem precisa eivar-se do caráter ipsativo da avaliação; isto é, analisar como estava (antes da aula) e como ficou (depois da aula) uma informação, um conhecimento orientado pelo professor. É necessário também um trabalho quase personalizado. Mas como, se o século XIX nos deixou o caráter de salas de aulas em massa para dar conta logo de muitos? Se o professor for um profissional do desenvolvimento humano, isto é, responsável de fato por gerir, gerar e compartilhar conhecimento, saberá orientar-se, sim, diante de (des)aprendizagens discentes. E quando se diz trabalho personalizado não exatamente se quer dizer um para um. Podem ser dois para dois e assim em diante. Cada cérebro tem a sua própria maneira de internalizar, significar e ressignificar, como também tem seu próprio tempo e velocidade para isso; afinal, não existe ninguém que não aprenda.
É urgente desmistificar a ideia de que alguém não aprende porque não quer. De que a aprendizagem não ocorre para alguns. O que não ocorre é professor se preocupando com o aluno que não aprende, que não aprendeu. As possibilidades de construção do conhecimento são inúmeras, mas a escola brasileira, na subjetividade do professor brasileiro, acredita que o problema está sempre no aluno (Pedagogia da Culpa). Qual das possibilidades ou quais delas é a melhor para um aluno aprender? Só perguntando para ele, que depois de ter sido exposto a algumas dessas possibilidades, provavelmente saberá como é que ele aprende. O papel do neuropsicopedagogo é, com o aluno, encontrar uma e/ou outras possibilidades personais de aprendizagem, divulgar isso para os pais e/ou responsáveis bem como para o próprio aluno e ainda revelar para o professor, com quem está com dificuldades de aprendizagem, a maneira como esse aluno aprende, ou as maneiras como este apreende, entende e compreende. Ou ambos podem fazer isso.
O professor precisa adaptar seu processo de ensino ao de aprendizagem do aluno, principalmente quando a maioria dos alunos de uma turma não entendeu sua aula. Aliás, mesmo que somente um não tenha entendido. O processo de ensino deve sempre dialogar, interagir com o de aprendizagem e não o contrário, como por muito tempo foi/é visto. O cérebro humano sob condições de ensino e de aprendizagem precisa sentir-se seguro, ter claro do que se trata o assunto, de forma que as redes cognitivas, que são muitas e algumas ainda sequer mapeadas, possam ativarem-se.
(...).
LISBÔA, Wandré de. Da urgência da práxis
neuropsicopedagógica no futuro da educação – um olhar
multifacetado sobre a (des)aprendizagem: INEPE/RS, 2014.
Da urgência da práxis neuropsicopedagógica no futuro da educação
A aprendizagem humana, doravante somente aprendizagem, está intimamente relacionada a toda a experiência humana, cuja compreensibilidade é quase impossível sem a aprendizagem. Em se tratando do ensino sistemático, como o que ocorre nas agências de ensino sistematizado, como são as escolas, por exemplo, a questão de como se compreende a aprendizagem é sempre unilateral, adultocêntrica e monológica – todas características totalmente às avessas do que hoje se compreende o que seja e como se dá a aprendizagem, características que são produto do século XX.
Não há como qualquer professor, em qualquer grau de ensino, produzir sentido no que diz (falando e/ou escrevendo), no que gesticula, no que aparenta, sem compreender hoje que conhecimento não é transmissão. O é a informação – constructo em estado primário que poderá se tornar conhecimento, e isso é um discernimento fundamental para todo aquele que ensina sistemática ou assistematicamente. Além disso, que não constitui apenas uma leve nuança semântica entre termos, são necessárias ambiências (neurológicas, emocionais, sócio-históricas, discursivas) que mediem e possibilitem momentos para que o Outro então se aproprie à sua maneira, revele tal apropriação como a significou, optando por uma linguagem das linguagens disponíveis em nossa sociedade (constituída semioticamente por multilinguagens) e publicize (fale, escreva, desenhe, gesticule, pinte, expresse-se em Libras etc.) o que pensa, de tal sorte que o professor analise sobre como o Outro se apropriou, revelou e agora publiciza o que internalizou. Nesta sociedade que também é do Conhecimento, somos e valemos o que está dito sobre nós, por quem é/foi dito e quando o foi dito.
A questão é que os professores, agora focalizando somente a instituição Escola, não estão preparados para os que se revelam por outras linguagens e até mesmo pelo silêncio, porque esperam que todos os alunos compreendam da mesma forma, no mesmo momento, revelando sua compreensão da mesma maneira também. Um tipo de formação em série. Em plena segunda década de um século que avança na área dos estudos sobre o cérebro e que publica, porque isso é da ciência fazê-lo, é inadmissível ainda usar a memória dos alunos exclusivamente como depósito, já que outros suportes podem fazê-lo.
A inserção da Neuropsicopedagogia, acreditamos, pode dar conta disso, porque, ao constituir-se uma área de fronteira, pode contribuir com os avanços da Neurociência e das Ciências da Cognição em prol da Educação, com o objetivo de argumentar quão importantes são ao professor essas áreas, as quais dão ao cérebro, à inteligência, à memória e à compreensão humanos seus devidos lugares, no complexo sistema cognitivo humano.
Graças aos estudos de Neuroeducação, por exemplo, o professor está mais consciente de que como agem os alunos é resultante de como pensam, como organizam seus pensamentos, como reagem diante de intempéries, como aprendem. Estar nas redes sociais, ou estar desenhando algo, ou ainda estar passando bilhetinho para o colega ou para a mina de quem está a fim, na sala de aula, são sinais, são indícios para o professor de que algo não está funcionando bem durante uma aula. Da mesma forma, compreender que a linguagem diferenciada que usou numa aula e que “deu certo”, refletir sobre um suporte tecnológico que mediatizou o início de um seminário e que impulsionou a compreensão dos alunos, ou ainda, ressignificar uma atividade que há anos fazia de outra forma e fê-lo de outra e que deu resultado imediato são também índices de que é possível que eles aprendam de forma efetiva. Essas compreensões docentes decerto vieram não só de uma habilidade desenvolvida pelo professor mas também dos avanços das neurociências no campo da Educação.
Como área de estudo das neurociências, a Neuropsicopedagogia busca analisar os processos cognitivos das pessoas para compreender suas potencialidades, de forma a construir indicadores formais para prevenção e/ou para o tratamento clínico ou institucional dos envolvidos. Os saberes oriundos das neurociências de modo geral, entre eles os da Neuropsicopedagogia, são sistemática, particular e culturalmente saberes necessários a uma autonomia cognitiva, ao desenvolvimento de pessoas por pessoas. Os estudos da cognição do homem verticalizaram-se a tal ponto que hoje não se concebe mais que só pertençam a essa área tudo o que for ligado ao racional e ao mental. Muito mais vista como fenômeno essencialmente social, elaborado intersubjetivamente no plano discursivo (Marcuschi, 2007), a Cognição é um sistema criativo, pois inventa e reinventa suas aprendizagens. Se as interações humanas são moduladas pelas nossas mentes, é, em se tratando do tema Educação, de responsabilidade do professor criar situações de aprendência do Outro, uma vez que uma aula também é uma forma de interação; é uma cena interativa que necessita estar imbuída de significação. Uma maneira de fazê-lo é usar nas aulas metáforas, que muito mais do que figuras de linguagem, são mecanismos superiores de compreensão mental, porque aproximam a cognição do aluno ao seu constituinte cultural imediato, facilitando a sociointeração que precisa haver em uma sala de aula sempre. Logo, conhecer os alunos antes de entrar em sala ou assim que entrar é uma forma de mapear suas cognições, além de propositar assuntos para aulas vindouras, de forma que as metáforas contribuam com/para a aprendência do Outro. Por isso, para desenvolver as pessoas de forma que a linguagem docente atinja seu objetivo mister, o professor precisa se eivar desses e de outros conhecimentos oriundos da área da linguagem também, de forma a aprender a elaborar atividades que desenvolvam funções cerebrais de forma mais sistemática. Não que a vida das pessoas sem a escola não possa ser desenvolvida em funções que se acreditou que só a escola desenvolveria, posto que hoje sabemos que há muitas pessoas que não estuda(ra)m na escola ou pouco estudaram e ainda assim fazem as conexões necessárias por conta de sua curiosidade ou por sua necessidade de sobrevivência. O próprio cérebro se ocupa de criar plasticamente as condições. A escola só adianta, de forma sistemática, tais conexões.
O que professor precisa é dar oportunidade para o aluno se relacionar efetiva e afetivamente com a disciplina, com os assuntos tratados. Como? Partindo dos saberes do aluno, pois é isso o mais importante que o aluno precisa aprender e demonstrar aprendizagem. Ele precisa aprender o que ele já sabe, muito embora nem sempre saiba que sabe.
Não há modelos indiscutíveis que levam/levem o aluno à aprendizagem suprema! Há caminhos a percorrer, avaliando e reavaliando como está se dando o processo de aprendizagem do Outro. A aprendizagem precisa eivar-se do caráter ipsativo da avaliação; isto é, analisar como estava (antes da aula) e como ficou (depois da aula) uma informação, um conhecimento orientado pelo professor. É necessário também um trabalho quase personalizado. Mas como, se o século XIX nos deixou o caráter de salas de aulas em massa para dar conta logo de muitos? Se o professor for um profissional do desenvolvimento humano, isto é, responsável de fato por gerir, gerar e compartilhar conhecimento, saberá orientar-se, sim, diante de (des)aprendizagens discentes. E quando se diz trabalho personalizado não exatamente se quer dizer um para um. Podem ser dois para dois e assim em diante. Cada cérebro tem a sua própria maneira de internalizar, significar e ressignificar, como também tem seu próprio tempo e velocidade para isso; afinal, não existe ninguém que não aprenda.
É urgente desmistificar a ideia de que alguém não aprende porque não quer. De que a aprendizagem não ocorre para alguns. O que não ocorre é professor se preocupando com o aluno que não aprende, que não aprendeu. As possibilidades de construção do conhecimento são inúmeras, mas a escola brasileira, na subjetividade do professor brasileiro, acredita que o problema está sempre no aluno (Pedagogia da Culpa). Qual das possibilidades ou quais delas é a melhor para um aluno aprender? Só perguntando para ele, que depois de ter sido exposto a algumas dessas possibilidades, provavelmente saberá como é que ele aprende. O papel do neuropsicopedagogo é, com o aluno, encontrar uma e/ou outras possibilidades personais de aprendizagem, divulgar isso para os pais e/ou responsáveis bem como para o próprio aluno e ainda revelar para o professor, com quem está com dificuldades de aprendizagem, a maneira como esse aluno aprende, ou as maneiras como este apreende, entende e compreende. Ou ambos podem fazer isso.
O professor precisa adaptar seu processo de ensino ao de aprendizagem do aluno, principalmente quando a maioria dos alunos de uma turma não entendeu sua aula. Aliás, mesmo que somente um não tenha entendido. O processo de ensino deve sempre dialogar, interagir com o de aprendizagem e não o contrário, como por muito tempo foi/é visto. O cérebro humano sob condições de ensino e de aprendizagem precisa sentir-se seguro, ter claro do que se trata o assunto, de forma que as redes cognitivas, que são muitas e algumas ainda sequer mapeadas, possam ativarem-se.
(...).
LISBÔA, Wandré de. Da urgência da práxis
neuropsicopedagógica no futuro da educação – um olhar
multifacetado sobre a (des)aprendizagem: INEPE/RS, 2014.
Da urgência da práxis neuropsicopedagógica no futuro da educação
A aprendizagem humana, doravante somente aprendizagem, está intimamente relacionada a toda a experiência humana, cuja compreensibilidade é quase impossível sem a aprendizagem. Em se tratando do ensino sistemático, como o que ocorre nas agências de ensino sistematizado, como são as escolas, por exemplo, a questão de como se compreende a aprendizagem é sempre unilateral, adultocêntrica e monológica – todas características totalmente às avessas do que hoje se compreende o que seja e como se dá a aprendizagem, características que são produto do século XX.
Não há como qualquer professor, em qualquer grau de ensino, produzir sentido no que diz (falando e/ou escrevendo), no que gesticula, no que aparenta, sem compreender hoje que conhecimento não é transmissão. O é a informação – constructo em estado primário que poderá se tornar conhecimento, e isso é um discernimento fundamental para todo aquele que ensina sistemática ou assistematicamente. Além disso, que não constitui apenas uma leve nuança semântica entre termos, são necessárias ambiências (neurológicas, emocionais, sócio-históricas, discursivas) que mediem e possibilitem momentos para que o Outro então se aproprie à sua maneira, revele tal apropriação como a significou, optando por uma linguagem das linguagens disponíveis em nossa sociedade (constituída semioticamente por multilinguagens) e publicize (fale, escreva, desenhe, gesticule, pinte, expresse-se em Libras etc.) o que pensa, de tal sorte que o professor analise sobre como o Outro se apropriou, revelou e agora publiciza o que internalizou. Nesta sociedade que também é do Conhecimento, somos e valemos o que está dito sobre nós, por quem é/foi dito e quando o foi dito.
A questão é que os professores, agora focalizando somente a instituição Escola, não estão preparados para os que se revelam por outras linguagens e até mesmo pelo silêncio, porque esperam que todos os alunos compreendam da mesma forma, no mesmo momento, revelando sua compreensão da mesma maneira também. Um tipo de formação em série. Em plena segunda década de um século que avança na área dos estudos sobre o cérebro e que publica, porque isso é da ciência fazê-lo, é inadmissível ainda usar a memória dos alunos exclusivamente como depósito, já que outros suportes podem fazê-lo.
A inserção da Neuropsicopedagogia, acreditamos, pode dar conta disso, porque, ao constituir-se uma área de fronteira, pode contribuir com os avanços da Neurociência e das Ciências da Cognição em prol da Educação, com o objetivo de argumentar quão importantes são ao professor essas áreas, as quais dão ao cérebro, à inteligência, à memória e à compreensão humanos seus devidos lugares, no complexo sistema cognitivo humano.
Graças aos estudos de Neuroeducação, por exemplo, o professor está mais consciente de que como agem os alunos é resultante de como pensam, como organizam seus pensamentos, como reagem diante de intempéries, como aprendem. Estar nas redes sociais, ou estar desenhando algo, ou ainda estar passando bilhetinho para o colega ou para a mina de quem está a fim, na sala de aula, são sinais, são indícios para o professor de que algo não está funcionando bem durante uma aula. Da mesma forma, compreender que a linguagem diferenciada que usou numa aula e que “deu certo”, refletir sobre um suporte tecnológico que mediatizou o início de um seminário e que impulsionou a compreensão dos alunos, ou ainda, ressignificar uma atividade que há anos fazia de outra forma e fê-lo de outra e que deu resultado imediato são também índices de que é possível que eles aprendam de forma efetiva. Essas compreensões docentes decerto vieram não só de uma habilidade desenvolvida pelo professor mas também dos avanços das neurociências no campo da Educação.
Como área de estudo das neurociências, a Neuropsicopedagogia busca analisar os processos cognitivos das pessoas para compreender suas potencialidades, de forma a construir indicadores formais para prevenção e/ou para o tratamento clínico ou institucional dos envolvidos. Os saberes oriundos das neurociências de modo geral, entre eles os da Neuropsicopedagogia, são sistemática, particular e culturalmente saberes necessários a uma autonomia cognitiva, ao desenvolvimento de pessoas por pessoas. Os estudos da cognição do homem verticalizaram-se a tal ponto que hoje não se concebe mais que só pertençam a essa área tudo o que for ligado ao racional e ao mental. Muito mais vista como fenômeno essencialmente social, elaborado intersubjetivamente no plano discursivo (Marcuschi, 2007), a Cognição é um sistema criativo, pois inventa e reinventa suas aprendizagens. Se as interações humanas são moduladas pelas nossas mentes, é, em se tratando do tema Educação, de responsabilidade do professor criar situações de aprendência do Outro, uma vez que uma aula também é uma forma de interação; é uma cena interativa que necessita estar imbuída de significação. Uma maneira de fazê-lo é usar nas aulas metáforas, que muito mais do que figuras de linguagem, são mecanismos superiores de compreensão mental, porque aproximam a cognição do aluno ao seu constituinte cultural imediato, facilitando a sociointeração que precisa haver em uma sala de aula sempre. Logo, conhecer os alunos antes de entrar em sala ou assim que entrar é uma forma de mapear suas cognições, além de propositar assuntos para aulas vindouras, de forma que as metáforas contribuam com/para a aprendência do Outro. Por isso, para desenvolver as pessoas de forma que a linguagem docente atinja seu objetivo mister, o professor precisa se eivar desses e de outros conhecimentos oriundos da área da linguagem também, de forma a aprender a elaborar atividades que desenvolvam funções cerebrais de forma mais sistemática. Não que a vida das pessoas sem a escola não possa ser desenvolvida em funções que se acreditou que só a escola desenvolveria, posto que hoje sabemos que há muitas pessoas que não estuda(ra)m na escola ou pouco estudaram e ainda assim fazem as conexões necessárias por conta de sua curiosidade ou por sua necessidade de sobrevivência. O próprio cérebro se ocupa de criar plasticamente as condições. A escola só adianta, de forma sistemática, tais conexões.
O que professor precisa é dar oportunidade para o aluno se relacionar efetiva e afetivamente com a disciplina, com os assuntos tratados. Como? Partindo dos saberes do aluno, pois é isso o mais importante que o aluno precisa aprender e demonstrar aprendizagem. Ele precisa aprender o que ele já sabe, muito embora nem sempre saiba que sabe.
Não há modelos indiscutíveis que levam/levem o aluno à aprendizagem suprema! Há caminhos a percorrer, avaliando e reavaliando como está se dando o processo de aprendizagem do Outro. A aprendizagem precisa eivar-se do caráter ipsativo da avaliação; isto é, analisar como estava (antes da aula) e como ficou (depois da aula) uma informação, um conhecimento orientado pelo professor. É necessário também um trabalho quase personalizado. Mas como, se o século XIX nos deixou o caráter de salas de aulas em massa para dar conta logo de muitos? Se o professor for um profissional do desenvolvimento humano, isto é, responsável de fato por gerir, gerar e compartilhar conhecimento, saberá orientar-se, sim, diante de (des)aprendizagens discentes. E quando se diz trabalho personalizado não exatamente se quer dizer um para um. Podem ser dois para dois e assim em diante. Cada cérebro tem a sua própria maneira de internalizar, significar e ressignificar, como também tem seu próprio tempo e velocidade para isso; afinal, não existe ninguém que não aprenda.
É urgente desmistificar a ideia de que alguém não aprende porque não quer. De que a aprendizagem não ocorre para alguns. O que não ocorre é professor se preocupando com o aluno que não aprende, que não aprendeu. As possibilidades de construção do conhecimento são inúmeras, mas a escola brasileira, na subjetividade do professor brasileiro, acredita que o problema está sempre no aluno (Pedagogia da Culpa). Qual das possibilidades ou quais delas é a melhor para um aluno aprender? Só perguntando para ele, que depois de ter sido exposto a algumas dessas possibilidades, provavelmente saberá como é que ele aprende. O papel do neuropsicopedagogo é, com o aluno, encontrar uma e/ou outras possibilidades personais de aprendizagem, divulgar isso para os pais e/ou responsáveis bem como para o próprio aluno e ainda revelar para o professor, com quem está com dificuldades de aprendizagem, a maneira como esse aluno aprende, ou as maneiras como este apreende, entende e compreende. Ou ambos podem fazer isso.
O professor precisa adaptar seu processo de ensino ao de aprendizagem do aluno, principalmente quando a maioria dos alunos de uma turma não entendeu sua aula. Aliás, mesmo que somente um não tenha entendido. O processo de ensino deve sempre dialogar, interagir com o de aprendizagem e não o contrário, como por muito tempo foi/é visto. O cérebro humano sob condições de ensino e de aprendizagem precisa sentir-se seguro, ter claro do que se trata o assunto, de forma que as redes cognitivas, que são muitas e algumas ainda sequer mapeadas, possam ativarem-se.
(...).
LISBÔA, Wandré de. Da urgência da práxis
neuropsicopedagógica no futuro da educação – um olhar
multifacetado sobre a (des)aprendizagem: INEPE/RS, 2014.
Da urgência da práxis neuropsicopedagógica no futuro da educação
A aprendizagem humana, doravante somente aprendizagem, está intimamente relacionada a toda a experiência humana, cuja compreensibilidade é quase impossível sem a aprendizagem. Em se tratando do ensino sistemático, como o que ocorre nas agências de ensino sistematizado, como são as escolas, por exemplo, a questão de como se compreende a aprendizagem é sempre unilateral, adultocêntrica e monológica – todas características totalmente às avessas do que hoje se compreende o que seja e como se dá a aprendizagem, características que são produto do século XX.
Não há como qualquer professor, em qualquer grau de ensino, produzir sentido no que diz (falando e/ou escrevendo), no que gesticula, no que aparenta, sem compreender hoje que conhecimento não é transmissão. O é a informação – constructo em estado primário que poderá se tornar conhecimento, e isso é um discernimento fundamental para todo aquele que ensina sistemática ou assistematicamente. Além disso, que não constitui apenas uma leve nuança semântica entre termos, são necessárias ambiências (neurológicas, emocionais, sócio-históricas, discursivas) que mediem e possibilitem momentos para que o Outro então se aproprie à sua maneira, revele tal apropriação como a significou, optando por uma linguagem das linguagens disponíveis em nossa sociedade (constituída semioticamente por multilinguagens) e publicize (fale, escreva, desenhe, gesticule, pinte, expresse-se em Libras etc.) o que pensa, de tal sorte que o professor analise sobre como o Outro se apropriou, revelou e agora publiciza o que internalizou. Nesta sociedade que também é do Conhecimento, somos e valemos o que está dito sobre nós, por quem é/foi dito e quando o foi dito.
A questão é que os professores, agora focalizando somente a instituição Escola, não estão preparados para os que se revelam por outras linguagens e até mesmo pelo silêncio, porque esperam que todos os alunos compreendam da mesma forma, no mesmo momento, revelando sua compreensão da mesma maneira também. Um tipo de formação em série. Em plena segunda década de um século que avança na área dos estudos sobre o cérebro e que publica, porque isso é da ciência fazê-lo, é inadmissível ainda usar a memória dos alunos exclusivamente como depósito, já que outros suportes podem fazê-lo.
A inserção da Neuropsicopedagogia, acreditamos, pode dar conta disso, porque, ao constituir-se uma área de fronteira, pode contribuir com os avanços da Neurociência e das Ciências da Cognição em prol da Educação, com o objetivo de argumentar quão importantes são ao professor essas áreas, as quais dão ao cérebro, à inteligência, à memória e à compreensão humanos seus devidos lugares, no complexo sistema cognitivo humano.
Graças aos estudos de Neuroeducação, por exemplo, o professor está mais consciente de que como agem os alunos é resultante de como pensam, como organizam seus pensamentos, como reagem diante de intempéries, como aprendem. Estar nas redes sociais, ou estar desenhando algo, ou ainda estar passando bilhetinho para o colega ou para a mina de quem está a fim, na sala de aula, são sinais, são indícios para o professor de que algo não está funcionando bem durante uma aula. Da mesma forma, compreender que a linguagem diferenciada que usou numa aula e que “deu certo”, refletir sobre um suporte tecnológico que mediatizou o início de um seminário e que impulsionou a compreensão dos alunos, ou ainda, ressignificar uma atividade que há anos fazia de outra forma e fê-lo de outra e que deu resultado imediato são também índices de que é possível que eles aprendam de forma efetiva. Essas compreensões docentes decerto vieram não só de uma habilidade desenvolvida pelo professor mas também dos avanços das neurociências no campo da Educação.
Como área de estudo das neurociências, a Neuropsicopedagogia busca analisar os processos cognitivos das pessoas para compreender suas potencialidades, de forma a construir indicadores formais para prevenção e/ou para o tratamento clínico ou institucional dos envolvidos. Os saberes oriundos das neurociências de modo geral, entre eles os da Neuropsicopedagogia, são sistemática, particular e culturalmente saberes necessários a uma autonomia cognitiva, ao desenvolvimento de pessoas por pessoas. Os estudos da cognição do homem verticalizaram-se a tal ponto que hoje não se concebe mais que só pertençam a essa área tudo o que for ligado ao racional e ao mental. Muito mais vista como fenômeno essencialmente social, elaborado intersubjetivamente no plano discursivo (Marcuschi, 2007), a Cognição é um sistema criativo, pois inventa e reinventa suas aprendizagens. Se as interações humanas são moduladas pelas nossas mentes, é, em se tratando do tema Educação, de responsabilidade do professor criar situações de aprendência do Outro, uma vez que uma aula também é uma forma de interação; é uma cena interativa que necessita estar imbuída de significação. Uma maneira de fazê-lo é usar nas aulas metáforas, que muito mais do que figuras de linguagem, são mecanismos superiores de compreensão mental, porque aproximam a cognição do aluno ao seu constituinte cultural imediato, facilitando a sociointeração que precisa haver em uma sala de aula sempre. Logo, conhecer os alunos antes de entrar em sala ou assim que entrar é uma forma de mapear suas cognições, além de propositar assuntos para aulas vindouras, de forma que as metáforas contribuam com/para a aprendência do Outro. Por isso, para desenvolver as pessoas de forma que a linguagem docente atinja seu objetivo mister, o professor precisa se eivar desses e de outros conhecimentos oriundos da área da linguagem também, de forma a aprender a elaborar atividades que desenvolvam funções cerebrais de forma mais sistemática. Não que a vida das pessoas sem a escola não possa ser desenvolvida em funções que se acreditou que só a escola desenvolveria, posto que hoje sabemos que há muitas pessoas que não estuda(ra)m na escola ou pouco estudaram e ainda assim fazem as conexões necessárias por conta de sua curiosidade ou por sua necessidade de sobrevivência. O próprio cérebro se ocupa de criar plasticamente as condições. A escola só adianta, de forma sistemática, tais conexões.
O que professor precisa é dar oportunidade para o aluno se relacionar efetiva e afetivamente com a disciplina, com os assuntos tratados. Como? Partindo dos saberes do aluno, pois é isso o mais importante que o aluno precisa aprender e demonstrar aprendizagem. Ele precisa aprender o que ele já sabe, muito embora nem sempre saiba que sabe.
Não há modelos indiscutíveis que levam/levem o aluno à aprendizagem suprema! Há caminhos a percorrer, avaliando e reavaliando como está se dando o processo de aprendizagem do Outro. A aprendizagem precisa eivar-se do caráter ipsativo da avaliação; isto é, analisar como estava (antes da aula) e como ficou (depois da aula) uma informação, um conhecimento orientado pelo professor. É necessário também um trabalho quase personalizado. Mas como, se o século XIX nos deixou o caráter de salas de aulas em massa para dar conta logo de muitos? Se o professor for um profissional do desenvolvimento humano, isto é, responsável de fato por gerir, gerar e compartilhar conhecimento, saberá orientar-se, sim, diante de (des)aprendizagens discentes. E quando se diz trabalho personalizado não exatamente se quer dizer um para um. Podem ser dois para dois e assim em diante. Cada cérebro tem a sua própria maneira de internalizar, significar e ressignificar, como também tem seu próprio tempo e velocidade para isso; afinal, não existe ninguém que não aprenda.
É urgente desmistificar a ideia de que alguém não aprende porque não quer. De que a aprendizagem não ocorre para alguns. O que não ocorre é professor se preocupando com o aluno que não aprende, que não aprendeu. As possibilidades de construção do conhecimento são inúmeras, mas a escola brasileira, na subjetividade do professor brasileiro, acredita que o problema está sempre no aluno (Pedagogia da Culpa). Qual das possibilidades ou quais delas é a melhor para um aluno aprender? Só perguntando para ele, que depois de ter sido exposto a algumas dessas possibilidades, provavelmente saberá como é que ele aprende. O papel do neuropsicopedagogo é, com o aluno, encontrar uma e/ou outras possibilidades personais de aprendizagem, divulgar isso para os pais e/ou responsáveis bem como para o próprio aluno e ainda revelar para o professor, com quem está com dificuldades de aprendizagem, a maneira como esse aluno aprende, ou as maneiras como este apreende, entende e compreende. Ou ambos podem fazer isso.
O professor precisa adaptar seu processo de ensino ao de aprendizagem do aluno, principalmente quando a maioria dos alunos de uma turma não entendeu sua aula. Aliás, mesmo que somente um não tenha entendido. O processo de ensino deve sempre dialogar, interagir com o de aprendizagem e não o contrário, como por muito tempo foi/é visto. O cérebro humano sob condições de ensino e de aprendizagem precisa sentir-se seguro, ter claro do que se trata o assunto, de forma que as redes cognitivas, que são muitas e algumas ainda sequer mapeadas, possam ativarem-se.
(...).
LISBÔA, Wandré de. Da urgência da práxis
neuropsicopedagógica no futuro da educação – um olhar
multifacetado sobre a (des)aprendizagem: INEPE/RS, 2014.
Da urgência da práxis neuropsicopedagógica no futuro da educação
A aprendizagem humana, doravante somente aprendizagem, está intimamente relacionada a toda a experiência humana, cuja compreensibilidade é quase impossível sem a aprendizagem. Em se tratando do ensino sistemático, como o que ocorre nas agências de ensino sistematizado, como são as escolas, por exemplo, a questão de como se compreende a aprendizagem é sempre unilateral, adultocêntrica e monológica – todas características totalmente às avessas do que hoje se compreende o que seja e como se dá a aprendizagem, características que são produto do século XX.
Não há como qualquer professor, em qualquer grau de ensino, produzir sentido no que diz (falando e/ou escrevendo), no que gesticula, no que aparenta, sem compreender hoje que conhecimento não é transmissão. O é a informação – constructo em estado primário que poderá se tornar conhecimento, e isso é um discernimento fundamental para todo aquele que ensina sistemática ou assistematicamente. Além disso, que não constitui apenas uma leve nuança semântica entre termos, são necessárias ambiências (neurológicas, emocionais, sócio-históricas, discursivas) que mediem e possibilitem momentos para que o Outro então se aproprie à sua maneira, revele tal apropriação como a significou, optando por uma linguagem das linguagens disponíveis em nossa sociedade (constituída semioticamente por multilinguagens) e publicize (fale, escreva, desenhe, gesticule, pinte, expresse-se em Libras etc.) o que pensa, de tal sorte que o professor analise sobre como o Outro se apropriou, revelou e agora publiciza o que internalizou. Nesta sociedade que também é do Conhecimento, somos e valemos o que está dito sobre nós, por quem é/foi dito e quando o foi dito.
A questão é que os professores, agora focalizando somente a instituição Escola, não estão preparados para os que se revelam por outras linguagens e até mesmo pelo silêncio, porque esperam que todos os alunos compreendam da mesma forma, no mesmo momento, revelando sua compreensão da mesma maneira também. Um tipo de formação em série. Em plena segunda década de um século que avança na área dos estudos sobre o cérebro e que publica, porque isso é da ciência fazê-lo, é inadmissível ainda usar a memória dos alunos exclusivamente como depósito, já que outros suportes podem fazê-lo.
A inserção da Neuropsicopedagogia, acreditamos, pode dar conta disso, porque, ao constituir-se uma área de fronteira, pode contribuir com os avanços da Neurociência e das Ciências da Cognição em prol da Educação, com o objetivo de argumentar quão importantes são ao professor essas áreas, as quais dão ao cérebro, à inteligência, à memória e à compreensão humanos seus devidos lugares, no complexo sistema cognitivo humano.
Graças aos estudos de Neuroeducação, por exemplo, o professor está mais consciente de que como agem os alunos é resultante de como pensam, como organizam seus pensamentos, como reagem diante de intempéries, como aprendem. Estar nas redes sociais, ou estar desenhando algo, ou ainda estar passando bilhetinho para o colega ou para a mina de quem está a fim, na sala de aula, são sinais, são indícios para o professor de que algo não está funcionando bem durante uma aula. Da mesma forma, compreender que a linguagem diferenciada que usou numa aula e que “deu certo”, refletir sobre um suporte tecnológico que mediatizou o início de um seminário e que impulsionou a compreensão dos alunos, ou ainda, ressignificar uma atividade que há anos fazia de outra forma e fê-lo de outra e que deu resultado imediato são também índices de que é possível que eles aprendam de forma efetiva. Essas compreensões docentes decerto vieram não só de uma habilidade desenvolvida pelo professor mas também dos avanços das neurociências no campo da Educação.
Como área de estudo das neurociências, a Neuropsicopedagogia busca analisar os processos cognitivos das pessoas para compreender suas potencialidades, de forma a construir indicadores formais para prevenção e/ou para o tratamento clínico ou institucional dos envolvidos. Os saberes oriundos das neurociências de modo geral, entre eles os da Neuropsicopedagogia, são sistemática, particular e culturalmente saberes necessários a uma autonomia cognitiva, ao desenvolvimento de pessoas por pessoas. Os estudos da cognição do homem verticalizaram-se a tal ponto que hoje não se concebe mais que só pertençam a essa área tudo o que for ligado ao racional e ao mental. Muito mais vista como fenômeno essencialmente social, elaborado intersubjetivamente no plano discursivo (Marcuschi, 2007), a Cognição é um sistema criativo, pois inventa e reinventa suas aprendizagens. Se as interações humanas são moduladas pelas nossas mentes, é, em se tratando do tema Educação, de responsabilidade do professor criar situações de aprendência do Outro, uma vez que uma aula também é uma forma de interação; é uma cena interativa que necessita estar imbuída de significação. Uma maneira de fazê-lo é usar nas aulas metáforas, que muito mais do que figuras de linguagem, são mecanismos superiores de compreensão mental, porque aproximam a cognição do aluno ao seu constituinte cultural imediato, facilitando a sociointeração que precisa haver em uma sala de aula sempre. Logo, conhecer os alunos antes de entrar em sala ou assim que entrar é uma forma de mapear suas cognições, além de propositar assuntos para aulas vindouras, de forma que as metáforas contribuam com/para a aprendência do Outro. Por isso, para desenvolver as pessoas de forma que a linguagem docente atinja seu objetivo mister, o professor precisa se eivar desses e de outros conhecimentos oriundos da área da linguagem também, de forma a aprender a elaborar atividades que desenvolvam funções cerebrais de forma mais sistemática. Não que a vida das pessoas sem a escola não possa ser desenvolvida em funções que se acreditou que só a escola desenvolveria, posto que hoje sabemos que há muitas pessoas que não estuda(ra)m na escola ou pouco estudaram e ainda assim fazem as conexões necessárias por conta de sua curiosidade ou por sua necessidade de sobrevivência. O próprio cérebro se ocupa de criar plasticamente as condições. A escola só adianta, de forma sistemática, tais conexões.
O que professor precisa é dar oportunidade para o aluno se relacionar efetiva e afetivamente com a disciplina, com os assuntos tratados. Como? Partindo dos saberes do aluno, pois é isso o mais importante que o aluno precisa aprender e demonstrar aprendizagem. Ele precisa aprender o que ele já sabe, muito embora nem sempre saiba que sabe.
Não há modelos indiscutíveis que levam/levem o aluno à aprendizagem suprema! Há caminhos a percorrer, avaliando e reavaliando como está se dando o processo de aprendizagem do Outro. A aprendizagem precisa eivar-se do caráter ipsativo da avaliação; isto é, analisar como estava (antes da aula) e como ficou (depois da aula) uma informação, um conhecimento orientado pelo professor. É necessário também um trabalho quase personalizado. Mas como, se o século XIX nos deixou o caráter de salas de aulas em massa para dar conta logo de muitos? Se o professor for um profissional do desenvolvimento humano, isto é, responsável de fato por gerir, gerar e compartilhar conhecimento, saberá orientar-se, sim, diante de (des)aprendizagens discentes. E quando se diz trabalho personalizado não exatamente se quer dizer um para um. Podem ser dois para dois e assim em diante. Cada cérebro tem a sua própria maneira de internalizar, significar e ressignificar, como também tem seu próprio tempo e velocidade para isso; afinal, não existe ninguém que não aprenda.
É urgente desmistificar a ideia de que alguém não aprende porque não quer. De que a aprendizagem não ocorre para alguns. O que não ocorre é professor se preocupando com o aluno que não aprende, que não aprendeu. As possibilidades de construção do conhecimento são inúmeras, mas a escola brasileira, na subjetividade do professor brasileiro, acredita que o problema está sempre no aluno (Pedagogia da Culpa). Qual das possibilidades ou quais delas é a melhor para um aluno aprender? Só perguntando para ele, que depois de ter sido exposto a algumas dessas possibilidades, provavelmente saberá como é que ele aprende. O papel do neuropsicopedagogo é, com o aluno, encontrar uma e/ou outras possibilidades personais de aprendizagem, divulgar isso para os pais e/ou responsáveis bem como para o próprio aluno e ainda revelar para o professor, com quem está com dificuldades de aprendizagem, a maneira como esse aluno aprende, ou as maneiras como este apreende, entende e compreende. Ou ambos podem fazer isso.
O professor precisa adaptar seu processo de ensino ao de aprendizagem do aluno, principalmente quando a maioria dos alunos de uma turma não entendeu sua aula. Aliás, mesmo que somente um não tenha entendido. O processo de ensino deve sempre dialogar, interagir com o de aprendizagem e não o contrário, como por muito tempo foi/é visto. O cérebro humano sob condições de ensino e de aprendizagem precisa sentir-se seguro, ter claro do que se trata o assunto, de forma que as redes cognitivas, que são muitas e algumas ainda sequer mapeadas, possam ativarem-se.
(...).
LISBÔA, Wandré de. Da urgência da práxis
neuropsicopedagógica no futuro da educação – um olhar
multifacetado sobre a (des)aprendizagem: INEPE/RS, 2014.
Da urgência da práxis neuropsicopedagógica no futuro da educação
A aprendizagem humana, doravante somente aprendizagem, está intimamente relacionada a toda a experiência humana, cuja compreensibilidade é quase impossível sem a aprendizagem. Em se tratando do ensino sistemático, como o que ocorre nas agências de ensino sistematizado, como são as escolas, por exemplo, a questão de como se compreende a aprendizagem é sempre unilateral, adultocêntrica e monológica – todas características totalmente às avessas do que hoje se compreende o que seja e como se dá a aprendizagem, características que são produto do século XX.
Não há como qualquer professor, em qualquer grau de ensino, produzir sentido no que diz (falando e/ou escrevendo), no que gesticula, no que aparenta, sem compreender hoje que conhecimento não é transmissão. O é a informação – constructo em estado primário que poderá se tornar conhecimento, e isso é um discernimento fundamental para todo aquele que ensina sistemática ou assistematicamente. Além disso, que não constitui apenas uma leve nuança semântica entre termos, são necessárias ambiências (neurológicas, emocionais, sócio-históricas, discursivas) que mediem e possibilitem momentos para que o Outro então se aproprie à sua maneira, revele tal apropriação como a significou, optando por uma linguagem das linguagens disponíveis em nossa sociedade (constituída semioticamente por multilinguagens) e publicize (fale, escreva, desenhe, gesticule, pinte, expresse-se em Libras etc.) o que pensa, de tal sorte que o professor analise sobre como o Outro se apropriou, revelou e agora publiciza o que internalizou. Nesta sociedade que também é do Conhecimento, somos e valemos o que está dito sobre nós, por quem é/foi dito e quando o foi dito.
A questão é que os professores, agora focalizando somente a instituição Escola, não estão preparados para os que se revelam por outras linguagens e até mesmo pelo silêncio, porque esperam que todos os alunos compreendam da mesma forma, no mesmo momento, revelando sua compreensão da mesma maneira também. Um tipo de formação em série. Em plena segunda década de um século que avança na área dos estudos sobre o cérebro e que publica, porque isso é da ciência fazê-lo, é inadmissível ainda usar a memória dos alunos exclusivamente como depósito, já que outros suportes podem fazê-lo.
A inserção da Neuropsicopedagogia, acreditamos, pode dar conta disso, porque, ao constituir-se uma área de fronteira, pode contribuir com os avanços da Neurociência e das Ciências da Cognição em prol da Educação, com o objetivo de argumentar quão importantes são ao professor essas áreas, as quais dão ao cérebro, à inteligência, à memória e à compreensão humanos seus devidos lugares, no complexo sistema cognitivo humano.
Graças aos estudos de Neuroeducação, por exemplo, o professor está mais consciente de que como agem os alunos é resultante de como pensam, como organizam seus pensamentos, como reagem diante de intempéries, como aprendem. Estar nas redes sociais, ou estar desenhando algo, ou ainda estar passando bilhetinho para o colega ou para a mina de quem está a fim, na sala de aula, são sinais, são indícios para o professor de que algo não está funcionando bem durante uma aula. Da mesma forma, compreender que a linguagem diferenciada que usou numa aula e que “deu certo”, refletir sobre um suporte tecnológico que mediatizou o início de um seminário e que impulsionou a compreensão dos alunos, ou ainda, ressignificar uma atividade que há anos fazia de outra forma e fê-lo de outra e que deu resultado imediato são também índices de que é possível que eles aprendam de forma efetiva. Essas compreensões docentes decerto vieram não só de uma habilidade desenvolvida pelo professor mas também dos avanços das neurociências no campo da Educação.
Como área de estudo das neurociências, a Neuropsicopedagogia busca analisar os processos cognitivos das pessoas para compreender suas potencialidades, de forma a construir indicadores formais para prevenção e/ou para o tratamento clínico ou institucional dos envolvidos. Os saberes oriundos das neurociências de modo geral, entre eles os da Neuropsicopedagogia, são sistemática, particular e culturalmente saberes necessários a uma autonomia cognitiva, ao desenvolvimento de pessoas por pessoas. Os estudos da cognição do homem verticalizaram-se a tal ponto que hoje não se concebe mais que só pertençam a essa área tudo o que for ligado ao racional e ao mental. Muito mais vista como fenômeno essencialmente social, elaborado intersubjetivamente no plano discursivo (Marcuschi, 2007), a Cognição é um sistema criativo, pois inventa e reinventa suas aprendizagens. Se as interações humanas são moduladas pelas nossas mentes, é, em se tratando do tema Educação, de responsabilidade do professor criar situações de aprendência do Outro, uma vez que uma aula também é uma forma de interação; é uma cena interativa que necessita estar imbuída de significação. Uma maneira de fazê-lo é usar nas aulas metáforas, que muito mais do que figuras de linguagem, são mecanismos superiores de compreensão mental, porque aproximam a cognição do aluno ao seu constituinte cultural imediato, facilitando a sociointeração que precisa haver em uma sala de aula sempre. Logo, conhecer os alunos antes de entrar em sala ou assim que entrar é uma forma de mapear suas cognições, além de propositar assuntos para aulas vindouras, de forma que as metáforas contribuam com/para a aprendência do Outro. Por isso, para desenvolver as pessoas de forma que a linguagem docente atinja seu objetivo mister, o professor precisa se eivar desses e de outros conhecimentos oriundos da área da linguagem também, de forma a aprender a elaborar atividades que desenvolvam funções cerebrais de forma mais sistemática. Não que a vida das pessoas sem a escola não possa ser desenvolvida em funções que se acreditou que só a escola desenvolveria, posto que hoje sabemos que há muitas pessoas que não estuda(ra)m na escola ou pouco estudaram e ainda assim fazem as conexões necessárias por conta de sua curiosidade ou por sua necessidade de sobrevivência. O próprio cérebro se ocupa de criar plasticamente as condições. A escola só adianta, de forma sistemática, tais conexões.
O que professor precisa é dar oportunidade para o aluno se relacionar efetiva e afetivamente com a disciplina, com os assuntos tratados. Como? Partindo dos saberes do aluno, pois é isso o mais importante que o aluno precisa aprender e demonstrar aprendizagem. Ele precisa aprender o que ele já sabe, muito embora nem sempre saiba que sabe.
Não há modelos indiscutíveis que levam/levem o aluno à aprendizagem suprema! Há caminhos a percorrer, avaliando e reavaliando como está se dando o processo de aprendizagem do Outro. A aprendizagem precisa eivar-se do caráter ipsativo da avaliação; isto é, analisar como estava (antes da aula) e como ficou (depois da aula) uma informação, um conhecimento orientado pelo professor. É necessário também um trabalho quase personalizado. Mas como, se o século XIX nos deixou o caráter de salas de aulas em massa para dar conta logo de muitos? Se o professor for um profissional do desenvolvimento humano, isto é, responsável de fato por gerir, gerar e compartilhar conhecimento, saberá orientar-se, sim, diante de (des)aprendizagens discentes. E quando se diz trabalho personalizado não exatamente se quer dizer um para um. Podem ser dois para dois e assim em diante. Cada cérebro tem a sua própria maneira de internalizar, significar e ressignificar, como também tem seu próprio tempo e velocidade para isso; afinal, não existe ninguém que não aprenda.
É urgente desmistificar a ideia de que alguém não aprende porque não quer. De que a aprendizagem não ocorre para alguns. O que não ocorre é professor se preocupando com o aluno que não aprende, que não aprendeu. As possibilidades de construção do conhecimento são inúmeras, mas a escola brasileira, na subjetividade do professor brasileiro, acredita que o problema está sempre no aluno (Pedagogia da Culpa). Qual das possibilidades ou quais delas é a melhor para um aluno aprender? Só perguntando para ele, que depois de ter sido exposto a algumas dessas possibilidades, provavelmente saberá como é que ele aprende. O papel do neuropsicopedagogo é, com o aluno, encontrar uma e/ou outras possibilidades personais de aprendizagem, divulgar isso para os pais e/ou responsáveis bem como para o próprio aluno e ainda revelar para o professor, com quem está com dificuldades de aprendizagem, a maneira como esse aluno aprende, ou as maneiras como este apreende, entende e compreende. Ou ambos podem fazer isso.
O professor precisa adaptar seu processo de ensino ao de aprendizagem do aluno, principalmente quando a maioria dos alunos de uma turma não entendeu sua aula. Aliás, mesmo que somente um não tenha entendido. O processo de ensino deve sempre dialogar, interagir com o de aprendizagem e não o contrário, como por muito tempo foi/é visto. O cérebro humano sob condições de ensino e de aprendizagem precisa sentir-se seguro, ter claro do que se trata o assunto, de forma que as redes cognitivas, que são muitas e algumas ainda sequer mapeadas, possam ativarem-se.
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LISBÔA, Wandré de. Da urgência da práxis
neuropsicopedagógica no futuro da educação – um olhar
multifacetado sobre a (des)aprendizagem: INEPE/RS, 2014.
No início do texto, ainda no primeiro período, o autor fala sobre compreensibilidade.
Compreensibilidade de (do) quê?