INSTRUÇÃO: Leia o texto I para responder à questão.
TEXTO I
Varrer as redes sociais para debaixo
do tapete não é solução
O Brasil caminha para fechar o ano com mais de
171 milhões de usuários de redes sociais, de acordo
com o portal de estatísticas Statisa. Desse contingente,
fazem parte crianças e jovens que, mesmo sem idade
para oficialmente criarem contas e perfis nas plataformas,
têm algum tipo de contato com o conteúdo que transita
por elas. Diante desse fato, há dois caminhos possíveis:
proibir ou educar. A proibição, embora tentadora, significa
ignorar que pré-adolescentes e adolescentes já estão
expostos ao que as redes sociais têm de melhor e de
pior, sem que necessariamente estejam preparados para
fazer essa distinção. Educar é trabalhoso, mas talvez
seja a solução mais efetiva diante daquilo que parece
um caminho sem volta: a influência de novas tecnologias
digitais na maneira como nos comunicamos, interagimos
com o mundo e vivemos.
A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo
decidiu bloquear o uso de redes sociais e streamings
(como Netflix e Globoplay) nas escolas estaduais,
argumentando que a restrição visa “garantir um
ambiente adequado para o aprendizado e evitar usos
considerados inapropriados e / ou excessivo de redes,
que podem prejudicar a qualidade da conexão e interferir
no andamento das atividades pedagógicas”.
Enxergar tais plataformas apenas como obstáculo é,
de certa forma, se eximir da responsabilidade de guiar
seu uso consciente e crítico. É privar os estudantes do
acesso a conteúdos que podem enriquecer as aulas
e torná-las mais conectadas com a realidade em que
vivem. É dificultar o exercício da autoexpressão, já que
jovens poderiam usar as redes de maneira positiva
para mobilizar e engajar a comunidade escolar na
resolução de problemas de sua região. Isso não significa
uma defesa incondicional das redes. Pelo contrário:
só poderemos participar da construção de um
ecossistema digital melhor se pudermos conhecê-lo,
entendendo a engrenagem por trás das plataformas, seu
modelo de negócios, o modus operandi dos algoritmos,
o papel dos influenciadores e tantos outros fenômenos
que, feliz ou infelizmente, já fazem parte de nossas
vidas. [...] Hoje, currículos são construídos levando em
consideração a relevância da internet em nossas vidas
e a necessidade de “desvendá-la”, de modo a minimizar
os riscos e ampliar as oportunidades de quem está
conectado. [...]
Educar para as redes proporcionará aos estudantes um
olhar mais crítico para consumir as informações que
por elas transitam e responsabilidade para produzir e
compartilhar conteúdos, entendendo o alcance que
sua voz pode ter. A construção de tais competências
é também pilar para que as crianças e jovens de
hoje se tornem adultos mais conscientes do poder da
comunicação, aptos a compreender que as redes sociais
podem ser usadas para propagar fake news e discurso
de ódio, mas também para o exercício da cidadania
e a diversidade de vozes numa sociedade cada vez
mais conectada.
Num país de tamanha desigualdade como o Brasil,
não se pode ignorar que uma parte dos estudantes
sequer conta com internet estável nas escolas.
Ainda assim, ignorar a existência das redes sociais não é
uma boa solução — e pode, inclusive, ampliar a distância
entre os jovens que têm a oportunidade de vivenciá-las
com criticidade e aqueles que simplesmente não têm a
chance de discuti-las em um ambiente mais seguro e
mediado por educadores. Nesse caso, educar é melhor
do que proibir.
MACHADO, Daniela. Disponível em: https://www1.folha.
uol.com.br/educacao/2023/03/varrer-as-redes-sociais-paradebaixo-do-tapete-nao-e-solucao.shtml.
Acesso em: 11 jun. 2023. [Fragmento adaptado]