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Para funec - mg
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TEXTO II
A árvore e a árvore
Por vezes, caminhando pelas ruas da cidade, tenho a impressão de que as árvores conversam entre si. O diálogo das árvores nem sempre é ouvido pelos ouvidos, por causa do bulício das ruas, do rumor dos veículos e da zoeira das pessoas. E de madrugada, quando os últimos bêbados se recolhem trôpegos fugindo da aurora, e a brisa matinal leva o sono do rosto das operárias que marcham em direção às fábricas; é nesse momento fluido e tênue que pode ser captado o sussurro das árvores, em meio aos pipilos dos pardais alvoroçados.
E lá estavam as duas árvores a conversar:
— Bom dia, dona Magnólia!
— Bom dia, dona Cássia!
— Dormiu bem?
— Mais ou menos. Esta noite o bem-te-vi, meu inquilino, cismou de acordar e ficou discutindo com a bem- te-vi, no meu galho lá em cima.
— Não diga! Discutindo o quê?
— O papo de sempre, ora essa. Estavam reclamando do custo de vida.
— Ué, mas passarinho também tem esse problema? Pensei que essa preocupação fosse apenas manha dos empregados da Prefeitura que vêm cortar nossa copa todos os anos.
— Qual nada! Passarinho voa azucrinado. A própria bem-te-vi se lastima de que o galho onde eles moram quase não tem folhas; de noite ela molha a cabecinha no sereno. Ficou resfriada, a pobrezinha.
— Então por que eles não se mudam?
— Mudar para onde?
— Ali adiante há um ipê-amarelo com vagas para passarinhos.
— Pois sim. A senhora não viu a placa no tronco? Só há um galhinho vago, muito do mixuruco, e mesmo assim só se aceitam casais de passarinhos sem filhotes.
— Sem filhotes?
— Sem filhotes.
— Mas isso é um absurdo!
— Concordo, mas vai- se fazer o quê? Se até casas de tijolo são alugadas apenas para casais sem filhos. Fazem isso com as pessoas, vão ter consideração para com passarinho?
— Escute, e ali na quaresmeira do outro quarteirão?
— Ah, lá o aluguel é caríssimo. Só mora sabiá-de-papo-amarelo e periquito verde.
— Cruz-credo! — Falou bem. Está tudo pela hora da morte pros passarinhos.
— Mas ouvi dizer que alguns têm boa mordomia...
— Ah, os canários-da-terra... Grande vantagem! Têm alpiste importado, ovo cozido, verdurinha fresca todos os dias, mas, em compensação, vivem presos na gaiola.
— Perderam a liberdade.
— Desaprenderam até de voar!
— Não é à toa que o bairro está cheio de chupim.
— Claro, dona Magnólia. Chupim sempre se ajeita. Quem manda tico- tico ser bobo?
— Reparou que ninguém acaba com chupim? Eles estão em tucum, paineira, sibipiruna.
— Tem chupim até no pau-ferro.
— Se adaptam a qualquer lugar. Bichinho aproveitador está ali. Sabe quando vão acabar com os chupins aqui na zona? .
— Quando, dona Magnólia?
— Dia de São Nunca. E enquanto isso, os bem-te- vis que se danem.
— Ainda mais agora, com o aumento dos impostos.
— Vai ser um horror.
— Horror mesmo.
— Não sei como eles não se revoltam.
— Revoltam nada. Bem-te-vi só sabe dizer: "Bem te vi! Bem te vi!". Viu, e daí? Que adianta ver? As árvores também vêem cada uma, mas não adianta reclamar.
— Houve o caso daquela andorinha, está esquecendo?
— A tolinha. Só porque morava em beiral, achava que podia modificar a situação. Uma andorinha só não muda coisa alguma. Bastou chegar aqui o tucano, deitou falação, disse que fazia e aprontava, tudo se amoitou.
— Aquele tucano foi demais. Verde-amarelo, e bom de bico!
— É, dona Magnólia, mas qualquer dia a árvore cai, não cai?
— Sei lá. Ainda bem que a Prefeitura vai mandar plantar mais cem mil árvores na cidade. Só assim para resolver o problema da moradia dos passarinhos.
— Tomara mesmo. Avise o bem-te-vi para ele aguentar a barra mais um pouco. Quem sabe, um dia, a bem-te-vi possa botar os ovinhos em paz.
— Deus a ouça, dona Cássia.
— Amém, dona Magnólia...
(DIAFÉRIA.Lourenço.Em A morte sem colete. 4a ed. São Paulo:
Moderna, 1983.)
Ao realizar uma leitura polissêmica do texto, pode-se compreender que:
TEXTO II
A árvore e a árvore
Por vezes, caminhando pelas ruas da cidade, tenho a impressão de que as árvores conversam entre si. O diálogo das árvores nem sempre é ouvido pelos ouvidos, por causa do bulício das ruas, do rumor dos veículos e da zoeira das pessoas. E de madrugada, quando os últimos bêbados se recolhem trôpegos fugindo da aurora, e a brisa matinal leva o sono do rosto das operárias que marcham em direção às fábricas; é nesse momento fluido e tênue que pode ser captado o sussurro das árvores, em meio aos pipilos dos pardais alvoroçados.
E lá estavam as duas árvores a conversar:
— Bom dia, dona Magnólia!
— Bom dia, dona Cássia!
— Dormiu bem?
— Mais ou menos. Esta noite o bem-te-vi, meu inquilino, cismou de acordar e ficou discutindo com a bem- te-vi, no meu galho lá em cima.
— Não diga! Discutindo o quê?
— O papo de sempre, ora essa. Estavam reclamando do custo de vida.
— Ué, mas passarinho também tem esse problema? Pensei que essa preocupação fosse apenas manha dos empregados da Prefeitura que vêm cortar nossa copa todos os anos.
— Qual nada! Passarinho voa azucrinado. A própria bem-te-vi se lastima de que o galho onde eles moram quase não tem folhas; de noite ela molha a cabecinha no sereno. Ficou resfriada, a pobrezinha.
— Então por que eles não se mudam?
— Mudar para onde?
— Ali adiante há um ipê-amarelo com vagas para passarinhos.
— Pois sim. A senhora não viu a placa no tronco? Só há um galhinho vago, muito do mixuruco, e mesmo assim só se aceitam casais de passarinhos sem filhotes.
— Sem filhotes?
— Sem filhotes.
— Mas isso é um absurdo!
— Concordo, mas vai- se fazer o quê? Se até casas de tijolo são alugadas apenas para casais sem filhos. Fazem isso com as pessoas, vão ter consideração para com passarinho?
— Escute, e ali na quaresmeira do outro quarteirão?
— Ah, lá o aluguel é caríssimo. Só mora sabiá-de-papo-amarelo e periquito verde.
— Cruz-credo! — Falou bem. Está tudo pela hora da morte pros passarinhos.
— Mas ouvi dizer que alguns têm boa mordomia...
— Ah, os canários-da-terra... Grande vantagem! Têm alpiste importado, ovo cozido, verdurinha fresca todos os dias, mas, em compensação, vivem presos na gaiola.
— Perderam a liberdade.
— Desaprenderam até de voar!
— Não é à toa que o bairro está cheio de chupim.
— Claro, dona Magnólia. Chupim sempre se ajeita. Quem manda tico- tico ser bobo?
— Reparou que ninguém acaba com chupim? Eles estão em tucum, paineira, sibipiruna.
— Tem chupim até no pau-ferro.
— Se adaptam a qualquer lugar. Bichinho aproveitador está ali. Sabe quando vão acabar com os chupins aqui na zona? .
— Quando, dona Magnólia?
— Dia de São Nunca. E enquanto isso, os bem-te- vis que se danem.
— Ainda mais agora, com o aumento dos impostos.
— Vai ser um horror.
— Horror mesmo.
— Não sei como eles não se revoltam.
— Revoltam nada. Bem-te-vi só sabe dizer: "Bem te vi! Bem te vi!". Viu, e daí? Que adianta ver? As árvores também vêem cada uma, mas não adianta reclamar.
— Houve o caso daquela andorinha, está esquecendo?
— A tolinha. Só porque morava em beiral, achava que podia modificar a situação. Uma andorinha só não muda coisa alguma. Bastou chegar aqui o tucano, deitou falação, disse que fazia e aprontava, tudo se amoitou.
— Aquele tucano foi demais. Verde-amarelo, e bom de bico!
— É, dona Magnólia, mas qualquer dia a árvore cai, não cai?
— Sei lá. Ainda bem que a Prefeitura vai mandar plantar mais cem mil árvores na cidade. Só assim para resolver o problema da moradia dos passarinhos.
— Tomara mesmo. Avise o bem-te-vi para ele aguentar a barra mais um pouco. Quem sabe, um dia, a bem-te-vi possa botar os ovinhos em paz.
— Deus a ouça, dona Cássia.
— Amém, dona Magnólia...
(DIAFÉRIA.Lourenço.Em A morte sem colete. 4a ed. São Paulo:
Moderna, 1983.)
Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a:
TEXTO II
A árvore e a árvore
Por vezes, caminhando pelas ruas da cidade, tenho a impressão de que as árvores conversam entre si. O diálogo das árvores nem sempre é ouvido pelos ouvidos, por causa do bulício das ruas, do rumor dos veículos e da zoeira das pessoas. E de madrugada, quando os últimos bêbados se recolhem trôpegos fugindo da aurora, e a brisa matinal leva o sono do rosto das operárias que marcham em direção às fábricas; é nesse momento fluido e tênue que pode ser captado o sussurro das árvores, em meio aos pipilos dos pardais alvoroçados.
E lá estavam as duas árvores a conversar:
— Bom dia, dona Magnólia!
— Bom dia, dona Cássia!
— Dormiu bem?
— Mais ou menos. Esta noite o bem-te-vi, meu inquilino, cismou de acordar e ficou discutindo com a bem- te-vi, no meu galho lá em cima.
— Não diga! Discutindo o quê?
— O papo de sempre, ora essa. Estavam reclamando do custo de vida.
— Ué, mas passarinho também tem esse problema? Pensei que essa preocupação fosse apenas manha dos empregados da Prefeitura que vêm cortar nossa copa todos os anos.
— Qual nada! Passarinho voa azucrinado. A própria bem-te-vi se lastima de que o galho onde eles moram quase não tem folhas; de noite ela molha a cabecinha no sereno. Ficou resfriada, a pobrezinha.
— Então por que eles não se mudam?
— Mudar para onde?
— Ali adiante há um ipê-amarelo com vagas para passarinhos.
— Pois sim. A senhora não viu a placa no tronco? Só há um galhinho vago, muito do mixuruco, e mesmo assim só se aceitam casais de passarinhos sem filhotes.
— Sem filhotes?
— Sem filhotes.
— Mas isso é um absurdo!
— Concordo, mas vai- se fazer o quê? Se até casas de tijolo são alugadas apenas para casais sem filhos. Fazem isso com as pessoas, vão ter consideração para com passarinho?
— Escute, e ali na quaresmeira do outro quarteirão?
— Ah, lá o aluguel é caríssimo. Só mora sabiá-de-papo-amarelo e periquito verde.
— Cruz-credo! — Falou bem. Está tudo pela hora da morte pros passarinhos.
— Mas ouvi dizer que alguns têm boa mordomia...
— Ah, os canários-da-terra... Grande vantagem! Têm alpiste importado, ovo cozido, verdurinha fresca todos os dias, mas, em compensação, vivem presos na gaiola.
— Perderam a liberdade.
— Desaprenderam até de voar!
— Não é à toa que o bairro está cheio de chupim.
— Claro, dona Magnólia. Chupim sempre se ajeita. Quem manda tico- tico ser bobo?
— Reparou que ninguém acaba com chupim? Eles estão em tucum, paineira, sibipiruna.
— Tem chupim até no pau-ferro.
— Se adaptam a qualquer lugar. Bichinho aproveitador está ali. Sabe quando vão acabar com os chupins aqui na zona? .
— Quando, dona Magnólia?
— Dia de São Nunca. E enquanto isso, os bem-te- vis que se danem.
— Ainda mais agora, com o aumento dos impostos.
— Vai ser um horror.
— Horror mesmo.
— Não sei como eles não se revoltam.
— Revoltam nada. Bem-te-vi só sabe dizer: "Bem te vi! Bem te vi!". Viu, e daí? Que adianta ver? As árvores também vêem cada uma, mas não adianta reclamar.
— Houve o caso daquela andorinha, está esquecendo?
— A tolinha. Só porque morava em beiral, achava que podia modificar a situação. Uma andorinha só não muda coisa alguma. Bastou chegar aqui o tucano, deitou falação, disse que fazia e aprontava, tudo se amoitou.
— Aquele tucano foi demais. Verde-amarelo, e bom de bico!
— É, dona Magnólia, mas qualquer dia a árvore cai, não cai?
— Sei lá. Ainda bem que a Prefeitura vai mandar plantar mais cem mil árvores na cidade. Só assim para resolver o problema da moradia dos passarinhos.
— Tomara mesmo. Avise o bem-te-vi para ele aguentar a barra mais um pouco. Quem sabe, um dia, a bem-te-vi possa botar os ovinhos em paz.
— Deus a ouça, dona Cássia.
— Amém, dona Magnólia...
(DIAFÉRIA.Lourenço.Em A morte sem colete. 4a ed. São Paulo:
Moderna, 1983.)
No texto, A árvore e a árvore, de Lourenço Diaféria (cronista que relatava o cotidiano da Terra da garoa), o autor se vale dos respectivos elementos:
TEXTO II
A árvore e a árvore
Por vezes, caminhando pelas ruas da cidade, tenho a impressão de que as árvores conversam entre si. O diálogo das árvores nem sempre é ouvido pelos ouvidos, por causa do bulício das ruas, do rumor dos veículos e da zoeira das pessoas. E de madrugada, quando os últimos bêbados se recolhem trôpegos fugindo da aurora, e a brisa matinal leva o sono do rosto das operárias que marcham em direção às fábricas; é nesse momento fluido e tênue que pode ser captado o sussurro das árvores, em meio aos pipilos dos pardais alvoroçados.
E lá estavam as duas árvores a conversar:
— Bom dia, dona Magnólia!
— Bom dia, dona Cássia!
— Dormiu bem?
— Mais ou menos. Esta noite o bem-te-vi, meu inquilino, cismou de acordar e ficou discutindo com a bem- te-vi, no meu galho lá em cima.
— Não diga! Discutindo o quê?
— O papo de sempre, ora essa. Estavam reclamando do custo de vida.
— Ué, mas passarinho também tem esse problema? Pensei que essa preocupação fosse apenas manha dos empregados da Prefeitura que vêm cortar nossa copa todos os anos.
— Qual nada! Passarinho voa azucrinado. A própria bem-te-vi se lastima de que o galho onde eles moram quase não tem folhas; de noite ela molha a cabecinha no sereno. Ficou resfriada, a pobrezinha.
— Então por que eles não se mudam?
— Mudar para onde?
— Ali adiante há um ipê-amarelo com vagas para passarinhos.
— Pois sim. A senhora não viu a placa no tronco? Só há um galhinho vago, muito do mixuruco, e mesmo assim só se aceitam casais de passarinhos sem filhotes.
— Sem filhotes?
— Sem filhotes.
— Mas isso é um absurdo!
— Concordo, mas vai- se fazer o quê? Se até casas de tijolo são alugadas apenas para casais sem filhos. Fazem isso com as pessoas, vão ter consideração para com passarinho?
— Escute, e ali na quaresmeira do outro quarteirão?
— Ah, lá o aluguel é caríssimo. Só mora sabiá-de-papo-amarelo e periquito verde.
— Cruz-credo! — Falou bem. Está tudo pela hora da morte pros passarinhos.
— Mas ouvi dizer que alguns têm boa mordomia...
— Ah, os canários-da-terra... Grande vantagem! Têm alpiste importado, ovo cozido, verdurinha fresca todos os dias, mas, em compensação, vivem presos na gaiola.
— Perderam a liberdade.
— Desaprenderam até de voar!
— Não é à toa que o bairro está cheio de chupim.
— Claro, dona Magnólia. Chupim sempre se ajeita. Quem manda tico- tico ser bobo?
— Reparou que ninguém acaba com chupim? Eles estão em tucum, paineira, sibipiruna.
— Tem chupim até no pau-ferro.
— Se adaptam a qualquer lugar. Bichinho aproveitador está ali. Sabe quando vão acabar com os chupins aqui na zona? .
— Quando, dona Magnólia?
— Dia de São Nunca. E enquanto isso, os bem-te- vis que se danem.
— Ainda mais agora, com o aumento dos impostos.
— Vai ser um horror.
— Horror mesmo.
— Não sei como eles não se revoltam.
— Revoltam nada. Bem-te-vi só sabe dizer: "Bem te vi! Bem te vi!". Viu, e daí? Que adianta ver? As árvores também vêem cada uma, mas não adianta reclamar.
— Houve o caso daquela andorinha, está esquecendo?
— A tolinha. Só porque morava em beiral, achava que podia modificar a situação. Uma andorinha só não muda coisa alguma. Bastou chegar aqui o tucano, deitou falação, disse que fazia e aprontava, tudo se amoitou.
— Aquele tucano foi demais. Verde-amarelo, e bom de bico!
— É, dona Magnólia, mas qualquer dia a árvore cai, não cai?
— Sei lá. Ainda bem que a Prefeitura vai mandar plantar mais cem mil árvores na cidade. Só assim para resolver o problema da moradia dos passarinhos.
— Tomara mesmo. Avise o bem-te-vi para ele aguentar a barra mais um pouco. Quem sabe, um dia, a bem-te-vi possa botar os ovinhos em paz.
— Deus a ouça, dona Cássia.
— Amém, dona Magnólia...
(DIAFÉRIA.Lourenço.Em A morte sem colete. 4a ed. São Paulo:
Moderna, 1983.)
Marque a alternativa que apresenta a análise INCORRETA das orações destacadas.
TEXTO II
A árvore e a árvore
Por vezes, caminhando pelas ruas da cidade, tenho a impressão de que as árvores conversam entre si. O diálogo das árvores nem sempre é ouvido pelos ouvidos, por causa do bulício das ruas, do rumor dos veículos e da zoeira das pessoas. E de madrugada, quando os últimos bêbados se recolhem trôpegos fugindo da aurora, e a brisa matinal leva o sono do rosto das operárias que marcham em direção às fábricas; é nesse momento fluido e tênue que pode ser captado o sussurro das árvores, em meio aos pipilos dos pardais alvoroçados.
E lá estavam as duas árvores a conversar:
— Bom dia, dona Magnólia!
— Bom dia, dona Cássia!
— Dormiu bem?
— Mais ou menos. Esta noite o bem-te-vi, meu inquilino, cismou de acordar e ficou discutindo com a bem- te-vi, no meu galho lá em cima.
— Não diga! Discutindo o quê?
— O papo de sempre, ora essa. Estavam reclamando do custo de vida.
— Ué, mas passarinho também tem esse problema? Pensei que essa preocupação fosse apenas manha dos empregados da Prefeitura que vêm cortar nossa copa todos os anos.
— Qual nada! Passarinho voa azucrinado. A própria bem-te-vi se lastima de que o galho onde eles moram quase não tem folhas; de noite ela molha a cabecinha no sereno. Ficou resfriada, a pobrezinha.
— Então por que eles não se mudam?
— Mudar para onde?
— Ali adiante há um ipê-amarelo com vagas para passarinhos.
— Pois sim. A senhora não viu a placa no tronco? Só há um galhinho vago, muito do mixuruco, e mesmo assim só se aceitam casais de passarinhos sem filhotes.
— Sem filhotes?
— Sem filhotes.
— Mas isso é um absurdo!
— Concordo, mas vai- se fazer o quê? Se até casas de tijolo são alugadas apenas para casais sem filhos. Fazem isso com as pessoas, vão ter consideração para com passarinho?
— Escute, e ali na quaresmeira do outro quarteirão?
— Ah, lá o aluguel é caríssimo. Só mora sabiá-de-papo-amarelo e periquito verde.
— Cruz-credo! — Falou bem. Está tudo pela hora da morte pros passarinhos.
— Mas ouvi dizer que alguns têm boa mordomia...
— Ah, os canários-da-terra... Grande vantagem! Têm alpiste importado, ovo cozido, verdurinha fresca todos os dias, mas, em compensação, vivem presos na gaiola.
— Perderam a liberdade.
— Desaprenderam até de voar!
— Não é à toa que o bairro está cheio de chupim.
— Claro, dona Magnólia. Chupim sempre se ajeita. Quem manda tico- tico ser bobo?
— Reparou que ninguém acaba com chupim? Eles estão em tucum, paineira, sibipiruna.
— Tem chupim até no pau-ferro.
— Se adaptam a qualquer lugar. Bichinho aproveitador está ali. Sabe quando vão acabar com os chupins aqui na zona? .
— Quando, dona Magnólia?
— Dia de São Nunca. E enquanto isso, os bem-te- vis que se danem.
— Ainda mais agora, com o aumento dos impostos.
— Vai ser um horror.
— Horror mesmo.
— Não sei como eles não se revoltam.
— Revoltam nada. Bem-te-vi só sabe dizer: "Bem te vi! Bem te vi!". Viu, e daí? Que adianta ver? As árvores também vêem cada uma, mas não adianta reclamar.
— Houve o caso daquela andorinha, está esquecendo?
— A tolinha. Só porque morava em beiral, achava que podia modificar a situação. Uma andorinha só não muda coisa alguma. Bastou chegar aqui o tucano, deitou falação, disse que fazia e aprontava, tudo se amoitou.
— Aquele tucano foi demais. Verde-amarelo, e bom de bico!
— É, dona Magnólia, mas qualquer dia a árvore cai, não cai?
— Sei lá. Ainda bem que a Prefeitura vai mandar plantar mais cem mil árvores na cidade. Só assim para resolver o problema da moradia dos passarinhos.
— Tomara mesmo. Avise o bem-te-vi para ele aguentar a barra mais um pouco. Quem sabe, um dia, a bem-te-vi possa botar os ovinhos em paz.
— Deus a ouça, dona Cássia.
— Amém, dona Magnólia...
(DIAFÉRIA.Lourenço.Em A morte sem colete. 4a ed. São Paulo:
Moderna, 1983.)
De acordo com o TEXTO II, é INCORRETO inferir que: