Questões de Concurso Para câmara municipal de caratinga - mg

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Q2687104 Português
O texto a seguir contextualiza a questão. Leia-o atentamente.

Avançar na leitura e na cidadania

    Se é verdade que “nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos” (Aristóteles), a maioria dos alunos brasileiros está deixando de absorver conhecimento por meio da leitura.
    No Brasil, 66% dos estudantes de 15 e 16 anos não leem textos com mais de dez páginas, segundo levantamento do Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).
    O baixo índice está ligado a diversos fatores pedagógicos e socioeconômicos, que não propiciam ambiente nem tempo hábil para se dedicar aos livros. Falta ainda estímulo por parte das famílias e das escolas, o que é reforçado pelo sucateamento das bibliotecas em instituições públicas de ensino.
    Enquanto a máxima aristotélica que abre este texto se concentra no conhecimento individual, uma frase de Monteiro Lobato coloca a leitura no contexto da coletividade: “Uma nação se faz com homens e livros”. Nesse sentido, o Brasil tem muito a avançar. O mesmo levantamento do Iede aponta que, no Chile, o normal é os alunos lerem mais de cem páginas por ano, em média.
    Tais ideias do filósofo grego e do escritor brasileiro merecem ser reacendidas para enfrentarmos o desafio de estimular o hábito da leitura mais densa em um mundo conectado. As faixas etárias usadas como base para a pesquisa do Iede correspondem à dos nativos digitais, que praticamente nasceram com um dispositivo que tem acesso à internet nas mãos.
    O estímulo à leitura só pode ser feito por meio de políticas consistentes de acesso nas escolas e comunidades, incentivo a bibliotecas e promoção de eventos literários. A própria internet pode ser usada como ferramenta para despertar o interesse pelos livros.
    Ler é ampliar o vocabulário, a fluência verbal e a cultura geral, aproximando o indivíduo das possibilidades do mundo acadêmico e do mercado de trabalho.
    Mas o mais nobre benefício está na promoção da cidadania, a partir do momento em que o leitor conhece seus direitos. Tudo aquilo que estruturas rígidas de poder querem manter sob as sombras, em códigos que poucos podem decifrar.

(Disponível em: https://www.otempo.com.br. Acesso em: 04/03/2024.)
“Enquanto a máxima aristotélica que abre este texto se concentra no conhecimento individual, uma frase de Monteiro Lobato coloca a leitura no contexto da coletividade: ‘Uma nação se faz com homens e livros’.” (4º§). Considerando o trecho anterior, no fragmento, a palavra “enquanto” tem valor semântico (de):  
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Q2630834 Noções de Informática

A imagem a seguir ilustra os comandos na guia de opções Página inicial, no grupo Parágrafo de um arquivo do Microsoft Word 2019 (Configuração Padrão – Idioma Português Brasil):


Imagem associada para resolução da questão


O Microsoft Word oferece uma série de teclas de atalho para otimizar o uso de suas funções. Com base na imagem, qual combinação de teclas foi utilizada para ativar o recurso de centralizar o texto?

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Q2630833 Comunicação Social

Os meios de comunicação de massa, ao longo da história, fortaleceram-se, trazendo uma nova perspectiva de visão de mundo e de participação social para o público. Nesse contexto, tem grande relevância o que dizem os líderes de opinião, que atuam na formação das mais diversas opiniões públicas. Lippmann (2008) propõe que, quando estamos tentando entender a opinião pública, devemos presumir que o que cada um faz está baseado não em conhecimento direto e determinado, mas em imagens feitas por ele mesmo ou transmitidas e ele. Sobre a opinião pública e imagem, é INCORRETO afirmar que:

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Q2630832 Comunicação Social

A opinião pública se refere à expressão, gerada por meio de um debate, de um grupo significativo da sociedade com relação a um tema de interesse coletivo. Sobre o tema, assinale a afirmativa correta.

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Q2630831 Comunicação Social

Redes sociais não são um fenômeno novo, surgido com e na internet. Elas sempre existiram e sempre atuaram nas subjetividades das pessoas, interferindo nos modos como elas percebem a realidade e interagem com ela. Sobre o jornalismo nas redes sociais, assinale a afirmativa INCORRETA.

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Q2630830 Comunicação Social

As fake news atingem, diariamente, milhões de pessoas, tumultuando a cultura democrática e desacreditando o jornalismo. Sobre o fenômeno das fake news e apuração de notícias, assinale a afirmativa INCORRETA.

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Q2630829 Administração Geral

Dos anos 60 até 80, o ambiente externo era considerado o principal determinante das estratégias a serem selecionadas pela empresa. O modelo de organização industrial (I/O) explica a influência dominante do ambiente externo sobre as ações estratégicas das empresas. O modelo especifica que o setor no qual uma empresa decide atuar exerce maior influência no seu desempenho do que as decisões tomadas internamente por seus gestores. Considera-se que esse desempenho seja determinado basicamente por uma gama de características do setor, inclusive as economias de escala, barreiras à entrada no mercado, diversificação, diferenciação do produto e grau de concentração de empresas nesse setor. Considerando o exposto, analise as afirmativas a seguir.


I. O ambiente externo impõe pressões e limitações que determinam as estratégias capazes de gerar retornos superiores à média.

II. Quase todas as empresas, que atuam em um determinado setor ou segmento deste, controlem recursos semelhantes e estrategicamente pertinentes e adotem estratégias semelhantes em vista desses recursos.

III. Os recursos empregados na implementação de estratégias são altamente móveis de empresa para empresa; em vista da mobilidade de recursos, as eventuais diferenças em recursos que possam se desenvolver entre empresas não terão vida longa.

IV. Os indivíduos que detêm o poder decisório organizacional sejam racionais e tenham o compromisso de atuar nos melhores interesses da empresa, como demonstra o seu comportamento de maximização de lucros.


Está correto o que se afirma em

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Q2630828 Administração Geral

Todas as organizações competem por recursos; dinheiro; mercados; clientes ou pessoas; imagem; prestígio; e, por vantagens competitivas para sobressair-se diante dos concorrentes. Elas atuam como agentes ativos em um dinâmico contexto de incertezas devido às rápidas mudanças que ocorrem nas sociedades; nos mercados; nas tecnologias; no mundo dos negócios; e, no meio ambiente. A beleza de um sistema, uma vez construído, é fácil de reconhecer. Mas sua elaboração nunca é uma tarefa simples ou divertida. As decisões nessa tarefa são quase sempre repletas de dúvidas ou incertezas pela frente, para tanto deve seguir alguns passos, EXCETO:

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Q2630827 Direito Administrativo

Autarquia é a forma de descentralização administrativa, através da personificação de um serviço retirado da administração centralizada e, por essa razão, à autarquia somente deverá ser outorgado serviço público típico e não atividades industriais ou econômicas, ainda que de interesse coletivo. São características das autarquias, EXCETO:

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Q2630826 Administração Geral

O conceito de estratégia nasceu da guerra, em que a realização de objetivos significa superar um concorrente, que fica impedido de realizar os seus. É um processo sistemático de análises e decisões que compreende, EXCETO:

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Q2630824 Direito Administrativo

Considerando as disposições da Lei nº 12.527/2011; a Constituição Federal de 1988; e, os entendimentos das Cortes Superiores, analise as afirmativas a seguir.


I. A Lei de Acesso à Informação prevê expressamente a possibilidade de acesso somente aos resultados de processos de inspeções, auditorias, prestações e tomada de contas realizadas pelos órgãos de controle externo.

II. As verbas indenizatórias para exercício da atividade parlamentar não têm natureza pública; desse modo, há razões de segurança que justifiquem especificamente seu caráter sigiloso.

III. A Constituição Federal de 1988 consagrou expressamente o princípio da publicidade como um dos vetores imprescindíveis à Administração Pública, conferindo-lhe absoluta prioridade na gestão administrativa e garantindo pleno acesso às informações a toda a sociedade.

IV. É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos nomes dos seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias.


Está INCORRETO o que se afirma apenas em

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Q2630821 Direito Constitucional

Considerando o entendimento dos Tribunais Superiores sobre os Princípios Fundamentais, bem como a Constituição Federal de 1988, analise as afirmativas a seguir.


I. O STF, apoiando-se em valiosa hermenêutica construtiva e invocando princípios essenciais, reconhece a plena legitimidade ético-jurídica da união homoafetiva como entidade familiar, atribuindo-lhe, em consequência, verdadeiro estatuto de cidadania, em ordem a permitir que se extraiam, em favor de parceiros homossexuais, relevantes consequências no plano do direito, notadamente no campo previdenciário, e, também, na esfera das relações sociais e familiares.

II. O direito de defesa constitui pedra angular do sistema de proteção dos direitos individuais e materializa uma das expressões do princípio da dignidade da pessoa humana.

III. O direito ao nome insere-se no conceito de dignidade da pessoa humana, princípio alçado a fundamento da República Federativa do Brasil.


Está correto o que se afirma em

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Q2630820 Noções de Informática

No Microsoft Word 2019, diferentes modos de exibição estão disponíveis para auxiliar na criação e edição de documentos. São considerados exemplos de modos de exibição:

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Q2630818 Noções de Informática

Na área de tecnologia da informação, a comunicação de dados desempenha um papel fundamental na transferência de informações entre dispositivos e redes. Sobre comunicação de dados, analise as afirmativas a seguir.


I. O protocolo FTP é utilizado para navegar na web e exibir conteúdo multimídia, como vídeos e imagens.

II. O TCP/IP é um protocolo de comunicação exclusivo para conectar redes locais e não é aplicável à Internet.

III. O termo “banda larga” refere-se a uma conexão de alta velocidade que pode transmitir uma grande quantidade de dados simultaneamente.

IV. Um modem é um dispositivo que permite a comunicação entre computadores, convertendo sinais digitais em sinais analógicos e vice-versa.


Está correto o que se afirma apenas em

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Q2630817 Noções de Informática

No painel de controle do Windows 10, em “Atualização e Segurança”, há uma opção chamada “Recuperação”. Uma das funcionalidades que pode ser encontrada nessa opção é:

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Q2630810 Matemática

As agentes administrativas Silvana, Tânia e Úrsula trabalham em uma mesma repartição pública e, ao todo, elas arquivaram 357 processos. Considere que cada processo foi arquivado gastando um mesmo tempo e por uma única servidora. Sabe-se que Silvana gastou 440 minutos para arquivar os seus processos e Tânia, que arquivou 116 processos, gastou 60 minutos a menos para arquivar os seus processos que Úrsula. Qual o tempo total gasto por Tânia no arquivamento dos seus processos?

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Q2630809 Matemática

No banheiro da suíte de Rogéria, há uma peça feita de mármore com uma base retangular que possui 60 centímetros de largura e 120 centímetros de comprimento. Para o seu banheiro social, ela precisará da mesma peça feita de mármore, porém com uma área da base 36% menor. Considere que a nova peça será obtida reduzindo, em uma mesma proporção, as dimensões da peça maior. Desse modo, qual o perímetro da base da peça que será utilizada no banheiro social de Rogéria?

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Q2630803 Português

A mulher sozinha


Era magra, feia, encardida, sempre com o mesmo vestido preto e rasgado. Usava um paletó de lã xadrez, meias grossas e chinelos de feltro, velhíssimos. Ela própria parecia velhíssima, vista assim ao passar, embora de perto mostrasse, sob a sujeira e as rugas, um rosto que era apenas maduro, gasto pela miséria e talvez pelo delírio.

Acostumei-me a vê-la sentada, de manhã e de tarde, naquele canto, sobre o cimento cheio de poeira do átrio. Os que entravam apressados na igreja praticamente a ignoravam, e só reparavam nela depois da missa, quando saíam devagar. Tiravam então da bolsa ou do bolso uma nota, algumas moedas e, com um gesto rápido, de vaga repugnância, deixavam cair a esmola na cestinha de vime que a mulher colocara à sua frente. Ela resmungava uma espécie de bênção, em voz surda e monótona, e eles se afastavam sem olhá-la, com a alma levemente intranquila.

Passando diante da igreja duas vezes por dia, uma certa cumplicidade criou-se entre nós duas: a princípio nos cumprimentávamos com a cabeça, sorríamos uma para a outra; depois, quando eu tinha tempo e ela não estava agradecendo as esmolas, conversávamos. Contou-me de maneira sucinta que vivia no outro extremo da cidade, sob as colunas de um átrio em San Isidro: fazia uma longa caminhada, cedinho, até a estação, para tomar o trem, e outra até o lugar onde nos encontrávamos. Não me explicou por que escolhera um bairro tão distante para mendigar, em vez de fazê-lo no próprio pátio onde dormia, e nada lhe perguntei a respeito, receando ferir-lhe a intimidade ou introduzir-me em seu segredo. Nunca me confessou como se chamava.

Há uns dois meses encontrei-a radiante, com um pequeno vulto escuro entre os braços. Pensei de início que carregava um bebê, envolto num cobertor manchado, mas percebi, ao aproximar-me, que se tratava de um cachorrinho. Ou melhor, de uma cachorrinha recém-nascida, Maria Isabel, que a mulher ninava e acarinhava com deslumbramento. Disse-me que a recolhera na véspera de uma lata de lixo e a batizara logo. Da sacola de palha que sempre trazia consigo retirou uma garrafa d'água e uma colherinha e, com infinita delicadeza, foi entornando algumas gotas na goela da bichinha, que gania baixo, ainda de olhos fechados.

Levei-lhe uma mamadeira de boneca e outra sacola acolchoada, que serviria de berço para o animal. O jornaleiro da banca em frente trouxe leite e pedacinhos de pão; as senhoras da vizinhança deram-lhe uma colcha de criança e retalhos de flanela.

Maria Isabel começou a crescer, a criar pelos e forma, a pular, cheia de graça. A mulher não desgrudava os olhos dela e, remoçada pela alegria e atenção que a cachorrinha ofertava e exigia, deu até para cantar uma toada confusa e antiga. Era bom vê-las juntas, íntimas, companheiras, mãe e filha. Chegavam sobras de comida, brinquedos velhos de borracha; até um osso de couro apareceu por ali. O canto do átrio ficou menos cinzento, mais bonito. As pessoas se detinham, antes de entrar na igreja, para brincar com o animalzinho preto ou para jogar-lhe um punhadinho de carne moída, um resto do bife do almoço. O sentimento de repulsa que a sua dona provocara foi substituído por outro, feito de emoção, prazer e aconchego. A cestinha de vime estava sempre com dinheiro, e a mulher, suja e despenteada como sempre, adquirira um jeito novo, diferente, mais humano. Ao seu lado, Maria Isabel pulava e perseguia o próprio rabo.

As duas não apareceram na última semana. Estranhei e fui atrás do jornaleiro, que também se mostrou surpreendido: desde que se instalara ali, há mais de três anos, a mulher nunca deixara de vir, nunca se atrasara, nem sequer quando chovia. E parece que fora assim desde o primeiro dia, embora ninguém soubesse dizer com exatidão quando é que ela começara a se sentar naquele canto do pátio. Senti apreensão e uma estranha nostalgia: o átrio estava maior, mais escuro e impessoal.

Até que ontem o jornaleiro, compungido, contou-me uma das histórias mais tristes que já ouvi. Maria Isabel se transformara numa vira-lata peluda, encantadora, de focinho redondo e olhos de açúcar. Tão linda, que um malvado achou de roubá-la. Foi na estação, quando a mulher soltou-a no chão, para ir comprar o sanduíche de pão francês que costumavam dividir. Um segundo, e o bichinho sumiu, sem latir. Alguém viu um rapaz de tênis sair correndo com o animal nos braços. A mulher passou a noite atrás da cadela, de um lado para o outro da estação, chorando, gemendo, chamando-a por nomes doces e implorantes. Depois sentou-se num banco e ali ficou imóvel, em silêncio, até o dia clarear. Quando o primeiro trem vinha entrando, ela, de um bote, atirou-se debaixo da locomotiva. A velocidade era pequena e o maquinista conseguiu frear. A mulher arranhou-se um pouco, feriu ligeiramente a testa, e ficou mais desgrenhada, com o rosto imundo de lágrimas e fuligem. Não tinha nenhum documento e negou-se terminantemente a comentar o sucedido ou a defender-se diante dos que a acusavam de irresponsável e perigosa. A polícia levou-a no camburão para a delegacia.

Segundo a última notícia, ainda não confirmada, a mulher está num hospício do subúrbio.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche, Global, 2012, pp. 82-84. Publicada no livro O valor da vida, 1982.)

Considere o trecho “Da sacola de palha que sempre trazia consigo retirou uma garrafa d'água e uma colherinha [...]” (4º§). É correto afirmar que o termo sublinhado se configura como uma flexão de grau diminutivo sintético do:

Alternativas
Q2630802 Português

A mulher sozinha


Era magra, feia, encardida, sempre com o mesmo vestido preto e rasgado. Usava um paletó de lã xadrez, meias grossas e chinelos de feltro, velhíssimos. Ela própria parecia velhíssima, vista assim ao passar, embora de perto mostrasse, sob a sujeira e as rugas, um rosto que era apenas maduro, gasto pela miséria e talvez pelo delírio.

Acostumei-me a vê-la sentada, de manhã e de tarde, naquele canto, sobre o cimento cheio de poeira do átrio. Os que entravam apressados na igreja praticamente a ignoravam, e só reparavam nela depois da missa, quando saíam devagar. Tiravam então da bolsa ou do bolso uma nota, algumas moedas e, com um gesto rápido, de vaga repugnância, deixavam cair a esmola na cestinha de vime que a mulher colocara à sua frente. Ela resmungava uma espécie de bênção, em voz surda e monótona, e eles se afastavam sem olhá-la, com a alma levemente intranquila.

Passando diante da igreja duas vezes por dia, uma certa cumplicidade criou-se entre nós duas: a princípio nos cumprimentávamos com a cabeça, sorríamos uma para a outra; depois, quando eu tinha tempo e ela não estava agradecendo as esmolas, conversávamos. Contou-me de maneira sucinta que vivia no outro extremo da cidade, sob as colunas de um átrio em San Isidro: fazia uma longa caminhada, cedinho, até a estação, para tomar o trem, e outra até o lugar onde nos encontrávamos. Não me explicou por que escolhera um bairro tão distante para mendigar, em vez de fazê-lo no próprio pátio onde dormia, e nada lhe perguntei a respeito, receando ferir-lhe a intimidade ou introduzir-me em seu segredo. Nunca me confessou como se chamava.

Há uns dois meses encontrei-a radiante, com um pequeno vulto escuro entre os braços. Pensei de início que carregava um bebê, envolto num cobertor manchado, mas percebi, ao aproximar-me, que se tratava de um cachorrinho. Ou melhor, de uma cachorrinha recém-nascida, Maria Isabel, que a mulher ninava e acarinhava com deslumbramento. Disse-me que a recolhera na véspera de uma lata de lixo e a batizara logo. Da sacola de palha que sempre trazia consigo retirou uma garrafa d'água e uma colherinha e, com infinita delicadeza, foi entornando algumas gotas na goela da bichinha, que gania baixo, ainda de olhos fechados.

Levei-lhe uma mamadeira de boneca e outra sacola acolchoada, que serviria de berço para o animal. O jornaleiro da banca em frente trouxe leite e pedacinhos de pão; as senhoras da vizinhança deram-lhe uma colcha de criança e retalhos de flanela.

Maria Isabel começou a crescer, a criar pelos e forma, a pular, cheia de graça. A mulher não desgrudava os olhos dela e, remoçada pela alegria e atenção que a cachorrinha ofertava e exigia, deu até para cantar uma toada confusa e antiga. Era bom vê-las juntas, íntimas, companheiras, mãe e filha. Chegavam sobras de comida, brinquedos velhos de borracha; até um osso de couro apareceu por ali. O canto do átrio ficou menos cinzento, mais bonito. As pessoas se detinham, antes de entrar na igreja, para brincar com o animalzinho preto ou para jogar-lhe um punhadinho de carne moída, um resto do bife do almoço. O sentimento de repulsa que a sua dona provocara foi substituído por outro, feito de emoção, prazer e aconchego. A cestinha de vime estava sempre com dinheiro, e a mulher, suja e despenteada como sempre, adquirira um jeito novo, diferente, mais humano. Ao seu lado, Maria Isabel pulava e perseguia o próprio rabo.

As duas não apareceram na última semana. Estranhei e fui atrás do jornaleiro, que também se mostrou surpreendido: desde que se instalara ali, há mais de três anos, a mulher nunca deixara de vir, nunca se atrasara, nem sequer quando chovia. E parece que fora assim desde o primeiro dia, embora ninguém soubesse dizer com exatidão quando é que ela começara a se sentar naquele canto do pátio. Senti apreensão e uma estranha nostalgia: o átrio estava maior, mais escuro e impessoal.

Até que ontem o jornaleiro, compungido, contou-me uma das histórias mais tristes que já ouvi. Maria Isabel se transformara numa vira-lata peluda, encantadora, de focinho redondo e olhos de açúcar. Tão linda, que um malvado achou de roubá-la. Foi na estação, quando a mulher soltou-a no chão, para ir comprar o sanduíche de pão francês que costumavam dividir. Um segundo, e o bichinho sumiu, sem latir. Alguém viu um rapaz de tênis sair correndo com o animal nos braços. A mulher passou a noite atrás da cadela, de um lado para o outro da estação, chorando, gemendo, chamando-a por nomes doces e implorantes. Depois sentou-se num banco e ali ficou imóvel, em silêncio, até o dia clarear. Quando o primeiro trem vinha entrando, ela, de um bote, atirou-se debaixo da locomotiva. A velocidade era pequena e o maquinista conseguiu frear. A mulher arranhou-se um pouco, feriu ligeiramente a testa, e ficou mais desgrenhada, com o rosto imundo de lágrimas e fuligem. Não tinha nenhum documento e negou-se terminantemente a comentar o sucedido ou a defender-se diante dos que a acusavam de irresponsável e perigosa. A polícia levou-a no camburão para a delegacia.

Segundo a última notícia, ainda não confirmada, a mulher está num hospício do subúrbio.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche, Global, 2012, pp. 82-84. Publicada no livro O valor da vida, 1982.)

Considere os termos sublinhados nas reproduções de passagens do texto a seguir. A alternativa que apresenta sublinhado um termo formado por justaposição se dá em:

Alternativas
Q2630797 Português

A mulher sozinha


Era magra, feia, encardida, sempre com o mesmo vestido preto e rasgado. Usava um paletó de lã xadrez, meias grossas e chinelos de feltro, velhíssimos. Ela própria parecia velhíssima, vista assim ao passar, embora de perto mostrasse, sob a sujeira e as rugas, um rosto que era apenas maduro, gasto pela miséria e talvez pelo delírio.

Acostumei-me a vê-la sentada, de manhã e de tarde, naquele canto, sobre o cimento cheio de poeira do átrio. Os que entravam apressados na igreja praticamente a ignoravam, e só reparavam nela depois da missa, quando saíam devagar. Tiravam então da bolsa ou do bolso uma nota, algumas moedas e, com um gesto rápido, de vaga repugnância, deixavam cair a esmola na cestinha de vime que a mulher colocara à sua frente. Ela resmungava uma espécie de bênção, em voz surda e monótona, e eles se afastavam sem olhá-la, com a alma levemente intranquila.

Passando diante da igreja duas vezes por dia, uma certa cumplicidade criou-se entre nós duas: a princípio nos cumprimentávamos com a cabeça, sorríamos uma para a outra; depois, quando eu tinha tempo e ela não estava agradecendo as esmolas, conversávamos. Contou-me de maneira sucinta que vivia no outro extremo da cidade, sob as colunas de um átrio em San Isidro: fazia uma longa caminhada, cedinho, até a estação, para tomar o trem, e outra até o lugar onde nos encontrávamos. Não me explicou por que escolhera um bairro tão distante para mendigar, em vez de fazê-lo no próprio pátio onde dormia, e nada lhe perguntei a respeito, receando ferir-lhe a intimidade ou introduzir-me em seu segredo. Nunca me confessou como se chamava.

Há uns dois meses encontrei-a radiante, com um pequeno vulto escuro entre os braços. Pensei de início que carregava um bebê, envolto num cobertor manchado, mas percebi, ao aproximar-me, que se tratava de um cachorrinho. Ou melhor, de uma cachorrinha recém-nascida, Maria Isabel, que a mulher ninava e acarinhava com deslumbramento. Disse-me que a recolhera na véspera de uma lata de lixo e a batizara logo. Da sacola de palha que sempre trazia consigo retirou uma garrafa d'água e uma colherinha e, com infinita delicadeza, foi entornando algumas gotas na goela da bichinha, que gania baixo, ainda de olhos fechados.

Levei-lhe uma mamadeira de boneca e outra sacola acolchoada, que serviria de berço para o animal. O jornaleiro da banca em frente trouxe leite e pedacinhos de pão; as senhoras da vizinhança deram-lhe uma colcha de criança e retalhos de flanela.

Maria Isabel começou a crescer, a criar pelos e forma, a pular, cheia de graça. A mulher não desgrudava os olhos dela e, remoçada pela alegria e atenção que a cachorrinha ofertava e exigia, deu até para cantar uma toada confusa e antiga. Era bom vê-las juntas, íntimas, companheiras, mãe e filha. Chegavam sobras de comida, brinquedos velhos de borracha; até um osso de couro apareceu por ali. O canto do átrio ficou menos cinzento, mais bonito. As pessoas se detinham, antes de entrar na igreja, para brincar com o animalzinho preto ou para jogar-lhe um punhadinho de carne moída, um resto do bife do almoço. O sentimento de repulsa que a sua dona provocara foi substituído por outro, feito de emoção, prazer e aconchego. A cestinha de vime estava sempre com dinheiro, e a mulher, suja e despenteada como sempre, adquirira um jeito novo, diferente, mais humano. Ao seu lado, Maria Isabel pulava e perseguia o próprio rabo.

As duas não apareceram na última semana. Estranhei e fui atrás do jornaleiro, que também se mostrou surpreendido: desde que se instalara ali, há mais de três anos, a mulher nunca deixara de vir, nunca se atrasara, nem sequer quando chovia. E parece que fora assim desde o primeiro dia, embora ninguém soubesse dizer com exatidão quando é que ela começara a se sentar naquele canto do pátio. Senti apreensão e uma estranha nostalgia: o átrio estava maior, mais escuro e impessoal.

Até que ontem o jornaleiro, compungido, contou-me uma das histórias mais tristes que já ouvi. Maria Isabel se transformara numa vira-lata peluda, encantadora, de focinho redondo e olhos de açúcar. Tão linda, que um malvado achou de roubá-la. Foi na estação, quando a mulher soltou-a no chão, para ir comprar o sanduíche de pão francês que costumavam dividir. Um segundo, e o bichinho sumiu, sem latir. Alguém viu um rapaz de tênis sair correndo com o animal nos braços. A mulher passou a noite atrás da cadela, de um lado para o outro da estação, chorando, gemendo, chamando-a por nomes doces e implorantes. Depois sentou-se num banco e ali ficou imóvel, em silêncio, até o dia clarear. Quando o primeiro trem vinha entrando, ela, de um bote, atirou-se debaixo da locomotiva. A velocidade era pequena e o maquinista conseguiu frear. A mulher arranhou-se um pouco, feriu ligeiramente a testa, e ficou mais desgrenhada, com o rosto imundo de lágrimas e fuligem. Não tinha nenhum documento e negou-se terminantemente a comentar o sucedido ou a defender-se diante dos que a acusavam de irresponsável e perigosa. A polícia levou-a no camburão para a delegacia.

Segundo a última notícia, ainda não confirmada, a mulher está num hospício do subúrbio.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche, Global, 2012, pp. 82-84. Publicada no livro O valor da vida, 1982.)

Abaixo, dispõem-se reproduções de trechos do texto em que estão sublinhados vocábulos flexionados em grau. A alternativa que demonstra sublinhado um exemplo de termo flexionado em sua forma superlativa se dá em:

Alternativas
Respostas
221: C
222: C
223: C
224: C
225: C
226: B
227: A
228: C
229: C
230: C
231: B
232: A
233: D
234: B
235: C
236: C
237: C
238: B
239: D
240: D