Questões de Concurso Para redator

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Q1983890 Português

Tentação

        Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.

        Na rua vazia as pedras vibravam de calor – a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo‐nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê‐la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava‐a com um amor conjugal já habituado, apertando‐a contra os joelhos.

        Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um bassetruivo.

        Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.

A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.

        Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Elaolhava‐o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu‐a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá‐lo.

        Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.

        Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe‐se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe‐se também que sem falar eles se pediam. Pediam‐se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.

        No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos – lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.

        Mas ambos eram comprometidos.

        Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada. 

        A dona esperava impaciente sob o guarda‐sol. O basset ruivo afinal despregou‐se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou‐o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê‐lo dobrar a outra esquina.

        Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina: contos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Adaptado.)

Refere-se a uma citação do texto que evidencia um antagonismo: 
Alternativas
Q1983889 Português

Tentação

        Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.

        Na rua vazia as pedras vibravam de calor – a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo‐nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê‐la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava‐a com um amor conjugal já habituado, apertando‐a contra os joelhos.

        Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um bassetruivo.

        Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.

A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.

        Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Elaolhava‐o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu‐a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá‐lo.

        Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.

        Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe‐se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe‐se também que sem falar eles se pediam. Pediam‐se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.

        No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos – lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.

        Mas ambos eram comprometidos.

        Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada. 

        A dona esperava impaciente sob o guarda‐sol. O basset ruivo afinal despregou‐se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou‐o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê‐lo dobrar a outra esquina.

        Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina: contos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Adaptado.)

Os protagonistas do texto se olham, em certo momento, em um silêncio profundamente intenso e tudo à volta deles se acaba, se encerra. Das afirmativas literais, especifica tal ação:
Alternativas
Q1983888 Português

Tentação

        Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.

        Na rua vazia as pedras vibravam de calor – a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo‐nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê‐la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava‐a com um amor conjugal já habituado, apertando‐a contra os joelhos.

        Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um bassetruivo.

        Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.

A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.

        Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Elaolhava‐o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu‐a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá‐lo.

        Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.

        Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe‐se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe‐se também que sem falar eles se pediam. Pediam‐se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.

        No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos – lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.

        Mas ambos eram comprometidos.

        Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada. 

        A dona esperava impaciente sob o guarda‐sol. O basset ruivo afinal despregou‐se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou‐o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê‐lo dobrar a outra esquina.

        Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina: contos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Adaptado.)

O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia principal que o texto será desenvolvido. Dessa forma, é possível inferir que o tema central do texto de Clarice Lispector é:
Alternativas
Q1983867 Legislação dos Municípios do Estado do Pará
“Qualidade adquirida pelo servidor público, após três anos de efetivo exercício da função, encontrando-se no cargo público em virtude de ter sido aprovado em concurso.” O trecho transcrito se refere à:
Alternativas
Q1983866 Legislação dos Municípios do Estado do Pará
Determinado concurso público fixou seu prazo de validade em dois anos, havendo dez vagas para provimento na função de professor. Certo candidato foi aprovado, porém fora do número de vagas inicialmente divulgadas no edital, tendo obtido a 11ª colocação. Sabe-se que todos os aprovados dentro do número de vagas foram nomeados e o prazo de validade do certame só se esgotará em três meses. O candidato aprovado na 11ª posição tem, em relação à sua nomeação: 
Alternativas
Respostas
286: C
287: C
288: A
289: C
290: D