Questões de Concurso
Para profissional de nível médio
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A divisão silábica está correta, EXCETO em
Há dígrafo em:
Há hiato em:
A idade da emoção
Walcyr Carrasco
Fui assistir à peça Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter, que estreou há pouco em São Paulo. Conta a história de uma mulher que entrou em coma aos 15 e acordou 29 anos depois. Bem interpretada por Yara de Novaes, inspira-se em um caso real do médico americano Oliver Sacks. Para mim, o texto “bateu” de forma profunda. Não aconteceu o mesmo comigo, e com muita gente que conheço? Estou acima dos 60, o tempo passou tão rapidamente! Não, não estive em coma. Mas um dia a gente “acorda” e descobre que a idade chegou. Mais que isso: que chegou, mas não chegou, porque o coração e os sonhos continuam os mesmos. Até antes da peça, na espera, percebi que estava lá uma outra tribo, já no jeito de vestir. Diferente de mim, de meus amigos, das pessoas que me cercam. A personagem do texto acorda com um rosto mais velho, um corpo, mas sente os desejos, medos, de uma garota de 15. Olha para a irmã e não reconhece: quem é afinal essa mulher velha e gorda?
Todos os homens da minha idade já passaram por isso, ao reencontrar a garota mais sexy, mais ambicionada da escola. Muitas vezes, virou uma senhora gorda, com netos. A gente procura nos olhos, em algum traço, aquela menina. E diz para si mesmo:
– Como foi que ela mudou tanto assim?
Mas eu também mudei, fisicamente. Uma antiga namorada, dos 17 anos, comentou com uma amiga em comum – modéstia à parte – que fui o homem mais belo que ela já conheceu. Eu? Pois é. Fui. Certamente, se ela me reencontrar, pensará o mesmo:
– Onde estão aqueles traços? O topete?
Na área em que trabalho, vejo isso acontecer com frequência, de forma até desesperadora. Quantas atrizes jovens, sexy, explodindo, já conheci? Tinham qualquer homem a seus pés. O tempo passou. Vieram outras atrizes. Elas amadurecem, sem perceber. Continuam com os mesmos sorrisos sedutores, olhares intensos. Surpreendem-se quando disputam um papel com uma garota de 20 anos.
– Mas eu faço! Tenho 35, mas passo por 20.
Não passam. A câmera é inexorável, ainda mais com a alta definição. A pele muda. Algo, nem sei dizer o quê, a vida talvez, transforma um semblante que ainda é belo. Mas sem o mesmo frescor. Iniciam-se os procedimentos estéticos. Botox, plásticas. A juventude não volta. O rosto fica mais agradável, não nego. Sem tantas marcas, sem os sulcos na pele causados até pelas histórias da vida. Alguém oferece o papel de tia. Ou de mãe. A atriz se assusta.
– Mas eu não pareço ser mãe dela!
Só uma sucessiva série de dissabores “acordará”, até cruelmente, a pessoa. O tempo passou. A idade chegou. Funciona do mesmo jeito para mim, para meus amigos, para quem tem 40. A juventude, na peça, é simbolizada pelo coma. Um dia a gente acorda. O tempo simplesmente passou, e é preciso rever expectativas, projetos, sonhos. Mas é? A emoção, sim, continua a mesma! Como lidar com isso? Ainda tenho livros para escrever, novelas, quero viver um grande amor. Meu coração bate por coisas novas. E, como eu, o de tanta gente! A sociedade agrária, onde os pais envelheciam junto aos filhos, se desagregou. Eu tenho amigos que ainda tentam ressuscitar esse projeto, brincam com os netinhos e conformam-se em correr atrás dos filhos, sempre ocupados com seus próprios sonhos!
Um número crescente de pessoas sente como eu. Se é um coma, não quero acordar, porque minhas emoções continuam vivas! Posso adaptar projetos, mas desistir dos sonhos nunca! Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40. Depois, aos 50. Estou pronto para considerar os 60 como a idade de ouro. É assim, juro. Eu olho para minhas amigas, parentes: em um olhar, gesto, percebo a garotinha que ela foi. A adolescente. Está lá, viva! Minhas emoções, tantas vezes, são as de um jovem começando a vida. Sempre quero fazer algo de novo. Voltei a pintar. O coração bate acelerado porque uma nova novela está a caminho, ou conheci alguém. E tem mais uma pergunta importante: eu estou em coma, não reconheço a realidade dos meus 60? Bem, se isso é um estado de sonho, de desprendimento da realidade, sou como a personagem da peça. Não quero acordar. Quero bater a cabeça como um adolescente e até, juro, brincar de esconde-esconde dentro de casa. Quero, enfim, sonhar.
A emoção não tem idade. Conformar-se com uma realidade que não nos faz feliz, isso sim é viver em estado de coma. Mas a emoção pode transformá-la. Nós todos enfrentamos essa espécie de Alasca.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyrcarrasco/noticia/2015/11/idade-daemocao.html .Acesso em: jul. 2016
Permite-se mais de uma concordância para o verbo destacado em:
A idade da emoção
Walcyr Carrasco
Fui assistir à peça Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter, que estreou há pouco em São Paulo. Conta a história de uma mulher que entrou em coma aos 15 e acordou 29 anos depois. Bem interpretada por Yara de Novaes, inspira-se em um caso real do médico americano Oliver Sacks. Para mim, o texto “bateu” de forma profunda. Não aconteceu o mesmo comigo, e com muita gente que conheço? Estou acima dos 60, o tempo passou tão rapidamente! Não, não estive em coma. Mas um dia a gente “acorda” e descobre que a idade chegou. Mais que isso: que chegou, mas não chegou, porque o coração e os sonhos continuam os mesmos. Até antes da peça, na espera, percebi que estava lá uma outra tribo, já no jeito de vestir. Diferente de mim, de meus amigos, das pessoas que me cercam. A personagem do texto acorda com um rosto mais velho, um corpo, mas sente os desejos, medos, de uma garota de 15. Olha para a irmã e não reconhece: quem é afinal essa mulher velha e gorda?
Todos os homens da minha idade já passaram por isso, ao reencontrar a garota mais sexy, mais ambicionada da escola. Muitas vezes, virou uma senhora gorda, com netos. A gente procura nos olhos, em algum traço, aquela menina. E diz para si mesmo:
– Como foi que ela mudou tanto assim?
Mas eu também mudei, fisicamente. Uma antiga namorada, dos 17 anos, comentou com uma amiga em comum – modéstia à parte – que fui o homem mais belo que ela já conheceu. Eu? Pois é. Fui. Certamente, se ela me reencontrar, pensará o mesmo:
– Onde estão aqueles traços? O topete?
Na área em que trabalho, vejo isso acontecer com frequência, de forma até desesperadora. Quantas atrizes jovens, sexy, explodindo, já conheci? Tinham qualquer homem a seus pés. O tempo passou. Vieram outras atrizes. Elas amadurecem, sem perceber. Continuam com os mesmos sorrisos sedutores, olhares intensos. Surpreendem-se quando disputam um papel com uma garota de 20 anos.
– Mas eu faço! Tenho 35, mas passo por 20.
Não passam. A câmera é inexorável, ainda mais com a alta definição. A pele muda. Algo, nem sei dizer o quê, a vida talvez, transforma um semblante que ainda é belo. Mas sem o mesmo frescor. Iniciam-se os procedimentos estéticos. Botox, plásticas. A juventude não volta. O rosto fica mais agradável, não nego. Sem tantas marcas, sem os sulcos na pele causados até pelas histórias da vida. Alguém oferece o papel de tia. Ou de mãe. A atriz se assusta.
– Mas eu não pareço ser mãe dela!
Só uma sucessiva série de dissabores “acordará”, até cruelmente, a pessoa. O tempo passou. A idade chegou. Funciona do mesmo jeito para mim, para meus amigos, para quem tem 40. A juventude, na peça, é simbolizada pelo coma. Um dia a gente acorda. O tempo simplesmente passou, e é preciso rever expectativas, projetos, sonhos. Mas é? A emoção, sim, continua a mesma! Como lidar com isso? Ainda tenho livros para escrever, novelas, quero viver um grande amor. Meu coração bate por coisas novas. E, como eu, o de tanta gente! A sociedade agrária, onde os pais envelheciam junto aos filhos, se desagregou. Eu tenho amigos que ainda tentam ressuscitar esse projeto, brincam com os netinhos e conformam-se em correr atrás dos filhos, sempre ocupados com seus próprios sonhos!
Um número crescente de pessoas sente como eu. Se é um coma, não quero acordar, porque minhas emoções continuam vivas! Posso adaptar projetos, mas desistir dos sonhos nunca! Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40. Depois, aos 50. Estou pronto para considerar os 60 como a idade de ouro. É assim, juro. Eu olho para minhas amigas, parentes: em um olhar, gesto, percebo a garotinha que ela foi. A adolescente. Está lá, viva! Minhas emoções, tantas vezes, são as de um jovem começando a vida. Sempre quero fazer algo de novo. Voltei a pintar. O coração bate acelerado porque uma nova novela está a caminho, ou conheci alguém. E tem mais uma pergunta importante: eu estou em coma, não reconheço a realidade dos meus 60? Bem, se isso é um estado de sonho, de desprendimento da realidade, sou como a personagem da peça. Não quero acordar. Quero bater a cabeça como um adolescente e até, juro, brincar de esconde-esconde dentro de casa. Quero, enfim, sonhar.
A emoção não tem idade. Conformar-se com uma realidade que não nos faz feliz, isso sim é viver em estado de coma. Mas a emoção pode transformá-la. Nós todos enfrentamos essa espécie de Alasca.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyrcarrasco/noticia/2015/11/idade-daemocao.html .Acesso em: jul. 2016
A ideia expressa pelos termos destacados está corretamente identificada entre parênteses, EXCETO em:
A idade da emoção
Walcyr Carrasco
Fui assistir à peça Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter, que estreou há pouco em São Paulo. Conta a história de uma mulher que entrou em coma aos 15 e acordou 29 anos depois. Bem interpretada por Yara de Novaes, inspira-se em um caso real do médico americano Oliver Sacks. Para mim, o texto “bateu” de forma profunda. Não aconteceu o mesmo comigo, e com muita gente que conheço? Estou acima dos 60, o tempo passou tão rapidamente! Não, não estive em coma. Mas um dia a gente “acorda” e descobre que a idade chegou. Mais que isso: que chegou, mas não chegou, porque o coração e os sonhos continuam os mesmos. Até antes da peça, na espera, percebi que estava lá uma outra tribo, já no jeito de vestir. Diferente de mim, de meus amigos, das pessoas que me cercam. A personagem do texto acorda com um rosto mais velho, um corpo, mas sente os desejos, medos, de uma garota de 15. Olha para a irmã e não reconhece: quem é afinal essa mulher velha e gorda?
Todos os homens da minha idade já passaram por isso, ao reencontrar a garota mais sexy, mais ambicionada da escola. Muitas vezes, virou uma senhora gorda, com netos. A gente procura nos olhos, em algum traço, aquela menina. E diz para si mesmo:
– Como foi que ela mudou tanto assim?
Mas eu também mudei, fisicamente. Uma antiga namorada, dos 17 anos, comentou com uma amiga em comum – modéstia à parte – que fui o homem mais belo que ela já conheceu. Eu? Pois é. Fui. Certamente, se ela me reencontrar, pensará o mesmo:
– Onde estão aqueles traços? O topete?
Na área em que trabalho, vejo isso acontecer com frequência, de forma até desesperadora. Quantas atrizes jovens, sexy, explodindo, já conheci? Tinham qualquer homem a seus pés. O tempo passou. Vieram outras atrizes. Elas amadurecem, sem perceber. Continuam com os mesmos sorrisos sedutores, olhares intensos. Surpreendem-se quando disputam um papel com uma garota de 20 anos.
– Mas eu faço! Tenho 35, mas passo por 20.
Não passam. A câmera é inexorável, ainda mais com a alta definição. A pele muda. Algo, nem sei dizer o quê, a vida talvez, transforma um semblante que ainda é belo. Mas sem o mesmo frescor. Iniciam-se os procedimentos estéticos. Botox, plásticas. A juventude não volta. O rosto fica mais agradável, não nego. Sem tantas marcas, sem os sulcos na pele causados até pelas histórias da vida. Alguém oferece o papel de tia. Ou de mãe. A atriz se assusta.
– Mas eu não pareço ser mãe dela!
Só uma sucessiva série de dissabores “acordará”, até cruelmente, a pessoa. O tempo passou. A idade chegou. Funciona do mesmo jeito para mim, para meus amigos, para quem tem 40. A juventude, na peça, é simbolizada pelo coma. Um dia a gente acorda. O tempo simplesmente passou, e é preciso rever expectativas, projetos, sonhos. Mas é? A emoção, sim, continua a mesma! Como lidar com isso? Ainda tenho livros para escrever, novelas, quero viver um grande amor. Meu coração bate por coisas novas. E, como eu, o de tanta gente! A sociedade agrária, onde os pais envelheciam junto aos filhos, se desagregou. Eu tenho amigos que ainda tentam ressuscitar esse projeto, brincam com os netinhos e conformam-se em correr atrás dos filhos, sempre ocupados com seus próprios sonhos!
Um número crescente de pessoas sente como eu. Se é um coma, não quero acordar, porque minhas emoções continuam vivas! Posso adaptar projetos, mas desistir dos sonhos nunca! Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40. Depois, aos 50. Estou pronto para considerar os 60 como a idade de ouro. É assim, juro. Eu olho para minhas amigas, parentes: em um olhar, gesto, percebo a garotinha que ela foi. A adolescente. Está lá, viva! Minhas emoções, tantas vezes, são as de um jovem começando a vida. Sempre quero fazer algo de novo. Voltei a pintar. O coração bate acelerado porque uma nova novela está a caminho, ou conheci alguém. E tem mais uma pergunta importante: eu estou em coma, não reconheço a realidade dos meus 60? Bem, se isso é um estado de sonho, de desprendimento da realidade, sou como a personagem da peça. Não quero acordar. Quero bater a cabeça como um adolescente e até, juro, brincar de esconde-esconde dentro de casa. Quero, enfim, sonhar.
A emoção não tem idade. Conformar-se com uma realidade que não nos faz feliz, isso sim é viver em estado de coma. Mas a emoção pode transformá-la. Nós todos enfrentamos essa espécie de Alasca.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyrcarrasco/noticia/2015/11/idade-daemocao.html .Acesso em: jul. 2016
Em: “Tinham qualquer homem a seus pés.”, qualquer é um pronome
A idade da emoção
Walcyr Carrasco
Fui assistir à peça Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter, que estreou há pouco em São Paulo. Conta a história de uma mulher que entrou em coma aos 15 e acordou 29 anos depois. Bem interpretada por Yara de Novaes, inspira-se em um caso real do médico americano Oliver Sacks. Para mim, o texto “bateu” de forma profunda. Não aconteceu o mesmo comigo, e com muita gente que conheço? Estou acima dos 60, o tempo passou tão rapidamente! Não, não estive em coma. Mas um dia a gente “acorda” e descobre que a idade chegou. Mais que isso: que chegou, mas não chegou, porque o coração e os sonhos continuam os mesmos. Até antes da peça, na espera, percebi que estava lá uma outra tribo, já no jeito de vestir. Diferente de mim, de meus amigos, das pessoas que me cercam. A personagem do texto acorda com um rosto mais velho, um corpo, mas sente os desejos, medos, de uma garota de 15. Olha para a irmã e não reconhece: quem é afinal essa mulher velha e gorda?
Todos os homens da minha idade já passaram por isso, ao reencontrar a garota mais sexy, mais ambicionada da escola. Muitas vezes, virou uma senhora gorda, com netos. A gente procura nos olhos, em algum traço, aquela menina. E diz para si mesmo:
– Como foi que ela mudou tanto assim?
Mas eu também mudei, fisicamente. Uma antiga namorada, dos 17 anos, comentou com uma amiga em comum – modéstia à parte – que fui o homem mais belo que ela já conheceu. Eu? Pois é. Fui. Certamente, se ela me reencontrar, pensará o mesmo:
– Onde estão aqueles traços? O topete?
Na área em que trabalho, vejo isso acontecer com frequência, de forma até desesperadora. Quantas atrizes jovens, sexy, explodindo, já conheci? Tinham qualquer homem a seus pés. O tempo passou. Vieram outras atrizes. Elas amadurecem, sem perceber. Continuam com os mesmos sorrisos sedutores, olhares intensos. Surpreendem-se quando disputam um papel com uma garota de 20 anos.
– Mas eu faço! Tenho 35, mas passo por 20.
Não passam. A câmera é inexorável, ainda mais com a alta definição. A pele muda. Algo, nem sei dizer o quê, a vida talvez, transforma um semblante que ainda é belo. Mas sem o mesmo frescor. Iniciam-se os procedimentos estéticos. Botox, plásticas. A juventude não volta. O rosto fica mais agradável, não nego. Sem tantas marcas, sem os sulcos na pele causados até pelas histórias da vida. Alguém oferece o papel de tia. Ou de mãe. A atriz se assusta.
– Mas eu não pareço ser mãe dela!
Só uma sucessiva série de dissabores “acordará”, até cruelmente, a pessoa. O tempo passou. A idade chegou. Funciona do mesmo jeito para mim, para meus amigos, para quem tem 40. A juventude, na peça, é simbolizada pelo coma. Um dia a gente acorda. O tempo simplesmente passou, e é preciso rever expectativas, projetos, sonhos. Mas é? A emoção, sim, continua a mesma! Como lidar com isso? Ainda tenho livros para escrever, novelas, quero viver um grande amor. Meu coração bate por coisas novas. E, como eu, o de tanta gente! A sociedade agrária, onde os pais envelheciam junto aos filhos, se desagregou. Eu tenho amigos que ainda tentam ressuscitar esse projeto, brincam com os netinhos e conformam-se em correr atrás dos filhos, sempre ocupados com seus próprios sonhos!
Um número crescente de pessoas sente como eu. Se é um coma, não quero acordar, porque minhas emoções continuam vivas! Posso adaptar projetos, mas desistir dos sonhos nunca! Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40. Depois, aos 50. Estou pronto para considerar os 60 como a idade de ouro. É assim, juro. Eu olho para minhas amigas, parentes: em um olhar, gesto, percebo a garotinha que ela foi. A adolescente. Está lá, viva! Minhas emoções, tantas vezes, são as de um jovem começando a vida. Sempre quero fazer algo de novo. Voltei a pintar. O coração bate acelerado porque uma nova novela está a caminho, ou conheci alguém. E tem mais uma pergunta importante: eu estou em coma, não reconheço a realidade dos meus 60? Bem, se isso é um estado de sonho, de desprendimento da realidade, sou como a personagem da peça. Não quero acordar. Quero bater a cabeça como um adolescente e até, juro, brincar de esconde-esconde dentro de casa. Quero, enfim, sonhar.
A emoção não tem idade. Conformar-se com uma realidade que não nos faz feliz, isso sim é viver em estado de coma. Mas a emoção pode transformá-la. Nós todos enfrentamos essa espécie de Alasca.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyrcarrasco/noticia/2015/11/idade-daemocao.html .Acesso em: jul. 2016
Em: “Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40.”, dizia está flexionado no
A idade da emoção
Walcyr Carrasco
Fui assistir à peça Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter, que estreou há pouco em São Paulo. Conta a história de uma mulher que entrou em coma aos 15 e acordou 29 anos depois. Bem interpretada por Yara de Novaes, inspira-se em um caso real do médico americano Oliver Sacks. Para mim, o texto “bateu” de forma profunda. Não aconteceu o mesmo comigo, e com muita gente que conheço? Estou acima dos 60, o tempo passou tão rapidamente! Não, não estive em coma. Mas um dia a gente “acorda” e descobre que a idade chegou. Mais que isso: que chegou, mas não chegou, porque o coração e os sonhos continuam os mesmos. Até antes da peça, na espera, percebi que estava lá uma outra tribo, já no jeito de vestir. Diferente de mim, de meus amigos, das pessoas que me cercam. A personagem do texto acorda com um rosto mais velho, um corpo, mas sente os desejos, medos, de uma garota de 15. Olha para a irmã e não reconhece: quem é afinal essa mulher velha e gorda?
Todos os homens da minha idade já passaram por isso, ao reencontrar a garota mais sexy, mais ambicionada da escola. Muitas vezes, virou uma senhora gorda, com netos. A gente procura nos olhos, em algum traço, aquela menina. E diz para si mesmo:
– Como foi que ela mudou tanto assim?
Mas eu também mudei, fisicamente. Uma antiga namorada, dos 17 anos, comentou com uma amiga em comum – modéstia à parte – que fui o homem mais belo que ela já conheceu. Eu? Pois é. Fui. Certamente, se ela me reencontrar, pensará o mesmo:
– Onde estão aqueles traços? O topete?
Na área em que trabalho, vejo isso acontecer com frequência, de forma até desesperadora. Quantas atrizes jovens, sexy, explodindo, já conheci? Tinham qualquer homem a seus pés. O tempo passou. Vieram outras atrizes. Elas amadurecem, sem perceber. Continuam com os mesmos sorrisos sedutores, olhares intensos. Surpreendem-se quando disputam um papel com uma garota de 20 anos.
– Mas eu faço! Tenho 35, mas passo por 20.
Não passam. A câmera é inexorável, ainda mais com a alta definição. A pele muda. Algo, nem sei dizer o quê, a vida talvez, transforma um semblante que ainda é belo. Mas sem o mesmo frescor. Iniciam-se os procedimentos estéticos. Botox, plásticas. A juventude não volta. O rosto fica mais agradável, não nego. Sem tantas marcas, sem os sulcos na pele causados até pelas histórias da vida. Alguém oferece o papel de tia. Ou de mãe. A atriz se assusta.
– Mas eu não pareço ser mãe dela!
Só uma sucessiva série de dissabores “acordará”, até cruelmente, a pessoa. O tempo passou. A idade chegou. Funciona do mesmo jeito para mim, para meus amigos, para quem tem 40. A juventude, na peça, é simbolizada pelo coma. Um dia a gente acorda. O tempo simplesmente passou, e é preciso rever expectativas, projetos, sonhos. Mas é? A emoção, sim, continua a mesma! Como lidar com isso? Ainda tenho livros para escrever, novelas, quero viver um grande amor. Meu coração bate por coisas novas. E, como eu, o de tanta gente! A sociedade agrária, onde os pais envelheciam junto aos filhos, se desagregou. Eu tenho amigos que ainda tentam ressuscitar esse projeto, brincam com os netinhos e conformam-se em correr atrás dos filhos, sempre ocupados com seus próprios sonhos!
Um número crescente de pessoas sente como eu. Se é um coma, não quero acordar, porque minhas emoções continuam vivas! Posso adaptar projetos, mas desistir dos sonhos nunca! Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40. Depois, aos 50. Estou pronto para considerar os 60 como a idade de ouro. É assim, juro. Eu olho para minhas amigas, parentes: em um olhar, gesto, percebo a garotinha que ela foi. A adolescente. Está lá, viva! Minhas emoções, tantas vezes, são as de um jovem começando a vida. Sempre quero fazer algo de novo. Voltei a pintar. O coração bate acelerado porque uma nova novela está a caminho, ou conheci alguém. E tem mais uma pergunta importante: eu estou em coma, não reconheço a realidade dos meus 60? Bem, se isso é um estado de sonho, de desprendimento da realidade, sou como a personagem da peça. Não quero acordar. Quero bater a cabeça como um adolescente e até, juro, brincar de esconde-esconde dentro de casa. Quero, enfim, sonhar.
A emoção não tem idade. Conformar-se com uma realidade que não nos faz feliz, isso sim é viver em estado de coma. Mas a emoção pode transformá-la. Nós todos enfrentamos essa espécie de Alasca.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyrcarrasco/noticia/2015/11/idade-daemocao.html .Acesso em: jul. 2016
As palavras destacadas estão corretamente interpretadas entre parênteses, EXCETO em:
A idade da emoção
Walcyr Carrasco
Fui assistir à peça Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter, que estreou há pouco em São Paulo. Conta a história de uma mulher que entrou em coma aos 15 e acordou 29 anos depois. Bem interpretada por Yara de Novaes, inspira-se em um caso real do médico americano Oliver Sacks. Para mim, o texto “bateu” de forma profunda. Não aconteceu o mesmo comigo, e com muita gente que conheço? Estou acima dos 60, o tempo passou tão rapidamente! Não, não estive em coma. Mas um dia a gente “acorda” e descobre que a idade chegou. Mais que isso: que chegou, mas não chegou, porque o coração e os sonhos continuam os mesmos. Até antes da peça, na espera, percebi que estava lá uma outra tribo, já no jeito de vestir. Diferente de mim, de meus amigos, das pessoas que me cercam. A personagem do texto acorda com um rosto mais velho, um corpo, mas sente os desejos, medos, de uma garota de 15. Olha para a irmã e não reconhece: quem é afinal essa mulher velha e gorda?
Todos os homens da minha idade já passaram por isso, ao reencontrar a garota mais sexy, mais ambicionada da escola. Muitas vezes, virou uma senhora gorda, com netos. A gente procura nos olhos, em algum traço, aquela menina. E diz para si mesmo:
– Como foi que ela mudou tanto assim?
Mas eu também mudei, fisicamente. Uma antiga namorada, dos 17 anos, comentou com uma amiga em comum – modéstia à parte – que fui o homem mais belo que ela já conheceu. Eu? Pois é. Fui. Certamente, se ela me reencontrar, pensará o mesmo:
– Onde estão aqueles traços? O topete?
Na área em que trabalho, vejo isso acontecer com frequência, de forma até desesperadora. Quantas atrizes jovens, sexy, explodindo, já conheci? Tinham qualquer homem a seus pés. O tempo passou. Vieram outras atrizes. Elas amadurecem, sem perceber. Continuam com os mesmos sorrisos sedutores, olhares intensos. Surpreendem-se quando disputam um papel com uma garota de 20 anos.
– Mas eu faço! Tenho 35, mas passo por 20.
Não passam. A câmera é inexorável, ainda mais com a alta definição. A pele muda. Algo, nem sei dizer o quê, a vida talvez, transforma um semblante que ainda é belo. Mas sem o mesmo frescor. Iniciam-se os procedimentos estéticos. Botox, plásticas. A juventude não volta. O rosto fica mais agradável, não nego. Sem tantas marcas, sem os sulcos na pele causados até pelas histórias da vida. Alguém oferece o papel de tia. Ou de mãe. A atriz se assusta.
– Mas eu não pareço ser mãe dela!
Só uma sucessiva série de dissabores “acordará”, até cruelmente, a pessoa. O tempo passou. A idade chegou. Funciona do mesmo jeito para mim, para meus amigos, para quem tem 40. A juventude, na peça, é simbolizada pelo coma. Um dia a gente acorda. O tempo simplesmente passou, e é preciso rever expectativas, projetos, sonhos. Mas é? A emoção, sim, continua a mesma! Como lidar com isso? Ainda tenho livros para escrever, novelas, quero viver um grande amor. Meu coração bate por coisas novas. E, como eu, o de tanta gente! A sociedade agrária, onde os pais envelheciam junto aos filhos, se desagregou. Eu tenho amigos que ainda tentam ressuscitar esse projeto, brincam com os netinhos e conformam-se em correr atrás dos filhos, sempre ocupados com seus próprios sonhos!
Um número crescente de pessoas sente como eu. Se é um coma, não quero acordar, porque minhas emoções continuam vivas! Posso adaptar projetos, mas desistir dos sonhos nunca! Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40. Depois, aos 50. Estou pronto para considerar os 60 como a idade de ouro. É assim, juro. Eu olho para minhas amigas, parentes: em um olhar, gesto, percebo a garotinha que ela foi. A adolescente. Está lá, viva! Minhas emoções, tantas vezes, são as de um jovem começando a vida. Sempre quero fazer algo de novo. Voltei a pintar. O coração bate acelerado porque uma nova novela está a caminho, ou conheci alguém. E tem mais uma pergunta importante: eu estou em coma, não reconheço a realidade dos meus 60? Bem, se isso é um estado de sonho, de desprendimento da realidade, sou como a personagem da peça. Não quero acordar. Quero bater a cabeça como um adolescente e até, juro, brincar de esconde-esconde dentro de casa. Quero, enfim, sonhar.
A emoção não tem idade. Conformar-se com uma realidade que não nos faz feliz, isso sim é viver em estado de coma. Mas a emoção pode transformá-la. Nós todos enfrentamos essa espécie de Alasca.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyrcarrasco/noticia/2015/11/idade-daemocao.html .Acesso em: jul. 2016
Todos os sentimentos abaixo estão presentes no texto, EXCETO:
A idade da emoção
Walcyr Carrasco
Fui assistir à peça Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter, que estreou há pouco em São Paulo. Conta a história de uma mulher que entrou em coma aos 15 e acordou 29 anos depois. Bem interpretada por Yara de Novaes, inspira-se em um caso real do médico americano Oliver Sacks. Para mim, o texto “bateu” de forma profunda. Não aconteceu o mesmo comigo, e com muita gente que conheço? Estou acima dos 60, o tempo passou tão rapidamente! Não, não estive em coma. Mas um dia a gente “acorda” e descobre que a idade chegou. Mais que isso: que chegou, mas não chegou, porque o coração e os sonhos continuam os mesmos. Até antes da peça, na espera, percebi que estava lá uma outra tribo, já no jeito de vestir. Diferente de mim, de meus amigos, das pessoas que me cercam. A personagem do texto acorda com um rosto mais velho, um corpo, mas sente os desejos, medos, de uma garota de 15. Olha para a irmã e não reconhece: quem é afinal essa mulher velha e gorda?
Todos os homens da minha idade já passaram por isso, ao reencontrar a garota mais sexy, mais ambicionada da escola. Muitas vezes, virou uma senhora gorda, com netos. A gente procura nos olhos, em algum traço, aquela menina. E diz para si mesmo:
– Como foi que ela mudou tanto assim?
Mas eu também mudei, fisicamente. Uma antiga namorada, dos 17 anos, comentou com uma amiga em comum – modéstia à parte – que fui o homem mais belo que ela já conheceu. Eu? Pois é. Fui. Certamente, se ela me reencontrar, pensará o mesmo:
– Onde estão aqueles traços? O topete?
Na área em que trabalho, vejo isso acontecer com frequência, de forma até desesperadora. Quantas atrizes jovens, sexy, explodindo, já conheci? Tinham qualquer homem a seus pés. O tempo passou. Vieram outras atrizes. Elas amadurecem, sem perceber. Continuam com os mesmos sorrisos sedutores, olhares intensos. Surpreendem-se quando disputam um papel com uma garota de 20 anos.
– Mas eu faço! Tenho 35, mas passo por 20.
Não passam. A câmera é inexorável, ainda mais com a alta definição. A pele muda. Algo, nem sei dizer o quê, a vida talvez, transforma um semblante que ainda é belo. Mas sem o mesmo frescor. Iniciam-se os procedimentos estéticos. Botox, plásticas. A juventude não volta. O rosto fica mais agradável, não nego. Sem tantas marcas, sem os sulcos na pele causados até pelas histórias da vida. Alguém oferece o papel de tia. Ou de mãe. A atriz se assusta.
– Mas eu não pareço ser mãe dela!
Só uma sucessiva série de dissabores “acordará”, até cruelmente, a pessoa. O tempo passou. A idade chegou. Funciona do mesmo jeito para mim, para meus amigos, para quem tem 40. A juventude, na peça, é simbolizada pelo coma. Um dia a gente acorda. O tempo simplesmente passou, e é preciso rever expectativas, projetos, sonhos. Mas é? A emoção, sim, continua a mesma! Como lidar com isso? Ainda tenho livros para escrever, novelas, quero viver um grande amor. Meu coração bate por coisas novas. E, como eu, o de tanta gente! A sociedade agrária, onde os pais envelheciam junto aos filhos, se desagregou. Eu tenho amigos que ainda tentam ressuscitar esse projeto, brincam com os netinhos e conformam-se em correr atrás dos filhos, sempre ocupados com seus próprios sonhos!
Um número crescente de pessoas sente como eu. Se é um coma, não quero acordar, porque minhas emoções continuam vivas! Posso adaptar projetos, mas desistir dos sonhos nunca! Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40. Depois, aos 50. Estou pronto para considerar os 60 como a idade de ouro. É assim, juro. Eu olho para minhas amigas, parentes: em um olhar, gesto, percebo a garotinha que ela foi. A adolescente. Está lá, viva! Minhas emoções, tantas vezes, são as de um jovem começando a vida. Sempre quero fazer algo de novo. Voltei a pintar. O coração bate acelerado porque uma nova novela está a caminho, ou conheci alguém. E tem mais uma pergunta importante: eu estou em coma, não reconheço a realidade dos meus 60? Bem, se isso é um estado de sonho, de desprendimento da realidade, sou como a personagem da peça. Não quero acordar. Quero bater a cabeça como um adolescente e até, juro, brincar de esconde-esconde dentro de casa. Quero, enfim, sonhar.
A emoção não tem idade. Conformar-se com uma realidade que não nos faz feliz, isso sim é viver em estado de coma. Mas a emoção pode transformá-la. Nós todos enfrentamos essa espécie de Alasca.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyrcarrasco/noticia/2015/11/idade-daemocao.html .Acesso em: jul. 2016
Há linguagem oral em:
A idade da emoção
Walcyr Carrasco
Fui assistir à peça Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter, que estreou há pouco em São Paulo. Conta a história de uma mulher que entrou em coma aos 15 e acordou 29 anos depois. Bem interpretada por Yara de Novaes, inspira-se em um caso real do médico americano Oliver Sacks. Para mim, o texto “bateu” de forma profunda. Não aconteceu o mesmo comigo, e com muita gente que conheço? Estou acima dos 60, o tempo passou tão rapidamente! Não, não estive em coma. Mas um dia a gente “acorda” e descobre que a idade chegou. Mais que isso: que chegou, mas não chegou, porque o coração e os sonhos continuam os mesmos. Até antes da peça, na espera, percebi que estava lá uma outra tribo, já no jeito de vestir. Diferente de mim, de meus amigos, das pessoas que me cercam. A personagem do texto acorda com um rosto mais velho, um corpo, mas sente os desejos, medos, de uma garota de 15. Olha para a irmã e não reconhece: quem é afinal essa mulher velha e gorda?
Todos os homens da minha idade já passaram por isso, ao reencontrar a garota mais sexy, mais ambicionada da escola. Muitas vezes, virou uma senhora gorda, com netos. A gente procura nos olhos, em algum traço, aquela menina. E diz para si mesmo:
– Como foi que ela mudou tanto assim?
Mas eu também mudei, fisicamente. Uma antiga namorada, dos 17 anos, comentou com uma amiga em comum – modéstia à parte – que fui o homem mais belo que ela já conheceu. Eu? Pois é. Fui. Certamente, se ela me reencontrar, pensará o mesmo:
– Onde estão aqueles traços? O topete?
Na área em que trabalho, vejo isso acontecer com frequência, de forma até desesperadora. Quantas atrizes jovens, sexy, explodindo, já conheci? Tinham qualquer homem a seus pés. O tempo passou. Vieram outras atrizes. Elas amadurecem, sem perceber. Continuam com os mesmos sorrisos sedutores, olhares intensos. Surpreendem-se quando disputam um papel com uma garota de 20 anos.
– Mas eu faço! Tenho 35, mas passo por 20.
Não passam. A câmera é inexorável, ainda mais com a alta definição. A pele muda. Algo, nem sei dizer o quê, a vida talvez, transforma um semblante que ainda é belo. Mas sem o mesmo frescor. Iniciam-se os procedimentos estéticos. Botox, plásticas. A juventude não volta. O rosto fica mais agradável, não nego. Sem tantas marcas, sem os sulcos na pele causados até pelas histórias da vida. Alguém oferece o papel de tia. Ou de mãe. A atriz se assusta.
– Mas eu não pareço ser mãe dela!
Só uma sucessiva série de dissabores “acordará”, até cruelmente, a pessoa. O tempo passou. A idade chegou. Funciona do mesmo jeito para mim, para meus amigos, para quem tem 40. A juventude, na peça, é simbolizada pelo coma. Um dia a gente acorda. O tempo simplesmente passou, e é preciso rever expectativas, projetos, sonhos. Mas é? A emoção, sim, continua a mesma! Como lidar com isso? Ainda tenho livros para escrever, novelas, quero viver um grande amor. Meu coração bate por coisas novas. E, como eu, o de tanta gente! A sociedade agrária, onde os pais envelheciam junto aos filhos, se desagregou. Eu tenho amigos que ainda tentam ressuscitar esse projeto, brincam com os netinhos e conformam-se em correr atrás dos filhos, sempre ocupados com seus próprios sonhos!
Um número crescente de pessoas sente como eu. Se é um coma, não quero acordar, porque minhas emoções continuam vivas! Posso adaptar projetos, mas desistir dos sonhos nunca! Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40. Depois, aos 50. Estou pronto para considerar os 60 como a idade de ouro. É assim, juro. Eu olho para minhas amigas, parentes: em um olhar, gesto, percebo a garotinha que ela foi. A adolescente. Está lá, viva! Minhas emoções, tantas vezes, são as de um jovem começando a vida. Sempre quero fazer algo de novo. Voltei a pintar. O coração bate acelerado porque uma nova novela está a caminho, ou conheci alguém. E tem mais uma pergunta importante: eu estou em coma, não reconheço a realidade dos meus 60? Bem, se isso é um estado de sonho, de desprendimento da realidade, sou como a personagem da peça. Não quero acordar. Quero bater a cabeça como um adolescente e até, juro, brincar de esconde-esconde dentro de casa. Quero, enfim, sonhar.
A emoção não tem idade. Conformar-se com uma realidade que não nos faz feliz, isso sim é viver em estado de coma. Mas a emoção pode transformá-la. Nós todos enfrentamos essa espécie de Alasca.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyrcarrasco/noticia/2015/11/idade-daemocao.html .Acesso em: jul. 2016
Com base numa leitura global do texto, é possível fazer as seguintes afirmações, EXCETO:
A idade da emoção
Walcyr Carrasco
Fui assistir à peça Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter, que estreou há pouco em São Paulo. Conta a história de uma mulher que entrou em coma aos 15 e acordou 29 anos depois. Bem interpretada por Yara de Novaes, inspira-se em um caso real do médico americano Oliver Sacks. Para mim, o texto “bateu” de forma profunda. Não aconteceu o mesmo comigo, e com muita gente que conheço? Estou acima dos 60, o tempo passou tão rapidamente! Não, não estive em coma. Mas um dia a gente “acorda” e descobre que a idade chegou. Mais que isso: que chegou, mas não chegou, porque o coração e os sonhos continuam os mesmos. Até antes da peça, na espera, percebi que estava lá uma outra tribo, já no jeito de vestir. Diferente de mim, de meus amigos, das pessoas que me cercam. A personagem do texto acorda com um rosto mais velho, um corpo, mas sente os desejos, medos, de uma garota de 15. Olha para a irmã e não reconhece: quem é afinal essa mulher velha e gorda?
Todos os homens da minha idade já passaram por isso, ao reencontrar a garota mais sexy, mais ambicionada da escola. Muitas vezes, virou uma senhora gorda, com netos. A gente procura nos olhos, em algum traço, aquela menina. E diz para si mesmo:
– Como foi que ela mudou tanto assim?
Mas eu também mudei, fisicamente. Uma antiga namorada, dos 17 anos, comentou com uma amiga em comum – modéstia à parte – que fui o homem mais belo que ela já conheceu. Eu? Pois é. Fui. Certamente, se ela me reencontrar, pensará o mesmo:
– Onde estão aqueles traços? O topete?
Na área em que trabalho, vejo isso acontecer com frequência, de forma até desesperadora. Quantas atrizes jovens, sexy, explodindo, já conheci? Tinham qualquer homem a seus pés. O tempo passou. Vieram outras atrizes. Elas amadurecem, sem perceber. Continuam com os mesmos sorrisos sedutores, olhares intensos. Surpreendem-se quando disputam um papel com uma garota de 20 anos.
– Mas eu faço! Tenho 35, mas passo por 20.
Não passam. A câmera é inexorável, ainda mais com a alta definição. A pele muda. Algo, nem sei dizer o quê, a vida talvez, transforma um semblante que ainda é belo. Mas sem o mesmo frescor. Iniciam-se os procedimentos estéticos. Botox, plásticas. A juventude não volta. O rosto fica mais agradável, não nego. Sem tantas marcas, sem os sulcos na pele causados até pelas histórias da vida. Alguém oferece o papel de tia. Ou de mãe. A atriz se assusta.
– Mas eu não pareço ser mãe dela!
Só uma sucessiva série de dissabores “acordará”, até cruelmente, a pessoa. O tempo passou. A idade chegou. Funciona do mesmo jeito para mim, para meus amigos, para quem tem 40. A juventude, na peça, é simbolizada pelo coma. Um dia a gente acorda. O tempo simplesmente passou, e é preciso rever expectativas, projetos, sonhos. Mas é? A emoção, sim, continua a mesma! Como lidar com isso? Ainda tenho livros para escrever, novelas, quero viver um grande amor. Meu coração bate por coisas novas. E, como eu, o de tanta gente! A sociedade agrária, onde os pais envelheciam junto aos filhos, se desagregou. Eu tenho amigos que ainda tentam ressuscitar esse projeto, brincam com os netinhos e conformam-se em correr atrás dos filhos, sempre ocupados com seus próprios sonhos!
Um número crescente de pessoas sente como eu. Se é um coma, não quero acordar, porque minhas emoções continuam vivas! Posso adaptar projetos, mas desistir dos sonhos nunca! Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40. Depois, aos 50. Estou pronto para considerar os 60 como a idade de ouro. É assim, juro. Eu olho para minhas amigas, parentes: em um olhar, gesto, percebo a garotinha que ela foi. A adolescente. Está lá, viva! Minhas emoções, tantas vezes, são as de um jovem começando a vida. Sempre quero fazer algo de novo. Voltei a pintar. O coração bate acelerado porque uma nova novela está a caminho, ou conheci alguém. E tem mais uma pergunta importante: eu estou em coma, não reconheço a realidade dos meus 60? Bem, se isso é um estado de sonho, de desprendimento da realidade, sou como a personagem da peça. Não quero acordar. Quero bater a cabeça como um adolescente e até, juro, brincar de esconde-esconde dentro de casa. Quero, enfim, sonhar.
A emoção não tem idade. Conformar-se com uma realidade que não nos faz feliz, isso sim é viver em estado de coma. Mas a emoção pode transformá-la. Nós todos enfrentamos essa espécie de Alasca.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyrcarrasco/noticia/2015/11/idade-daemocao.html .Acesso em: jul. 2016
Ao afirmar que “um dia, a gente acorda”, o narrador do texto quis dizer, EXCETO que
A idade da emoção
Walcyr Carrasco
Fui assistir à peça Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter, que estreou há pouco em São Paulo. Conta a história de uma mulher que entrou em coma aos 15 e acordou 29 anos depois. Bem interpretada por Yara de Novaes, inspira-se em um caso real do médico americano Oliver Sacks. Para mim, o texto “bateu” de forma profunda. Não aconteceu o mesmo comigo, e com muita gente que conheço? Estou acima dos 60, o tempo passou tão rapidamente! Não, não estive em coma. Mas um dia a gente “acorda” e descobre que a idade chegou. Mais que isso: que chegou, mas não chegou, porque o coração e os sonhos continuam os mesmos. Até antes da peça, na espera, percebi que estava lá uma outra tribo, já no jeito de vestir. Diferente de mim, de meus amigos, das pessoas que me cercam. A personagem do texto acorda com um rosto mais velho, um corpo, mas sente os desejos, medos, de uma garota de 15. Olha para a irmã e não reconhece: quem é afinal essa mulher velha e gorda?
Todos os homens da minha idade já passaram por isso, ao reencontrar a garota mais sexy, mais ambicionada da escola. Muitas vezes, virou uma senhora gorda, com netos. A gente procura nos olhos, em algum traço, aquela menina. E diz para si mesmo:
– Como foi que ela mudou tanto assim?
Mas eu também mudei, fisicamente. Uma antiga namorada, dos 17 anos, comentou com uma amiga em comum – modéstia à parte – que fui o homem mais belo que ela já conheceu. Eu? Pois é. Fui. Certamente, se ela me reencontrar, pensará o mesmo:
– Onde estão aqueles traços? O topete?
Na área em que trabalho, vejo isso acontecer com frequência, de forma até desesperadora. Quantas atrizes jovens, sexy, explodindo, já conheci? Tinham qualquer homem a seus pés. O tempo passou. Vieram outras atrizes. Elas amadurecem, sem perceber. Continuam com os mesmos sorrisos sedutores, olhares intensos. Surpreendem-se quando disputam um papel com uma garota de 20 anos.
– Mas eu faço! Tenho 35, mas passo por 20.
Não passam. A câmera é inexorável, ainda mais com a alta definição. A pele muda. Algo, nem sei dizer o quê, a vida talvez, transforma um semblante que ainda é belo. Mas sem o mesmo frescor. Iniciam-se os procedimentos estéticos. Botox, plásticas. A juventude não volta. O rosto fica mais agradável, não nego. Sem tantas marcas, sem os sulcos na pele causados até pelas histórias da vida. Alguém oferece o papel de tia. Ou de mãe. A atriz se assusta.
– Mas eu não pareço ser mãe dela!
Só uma sucessiva série de dissabores “acordará”, até cruelmente, a pessoa. O tempo passou. A idade chegou. Funciona do mesmo jeito para mim, para meus amigos, para quem tem 40. A juventude, na peça, é simbolizada pelo coma. Um dia a gente acorda. O tempo simplesmente passou, e é preciso rever expectativas, projetos, sonhos. Mas é? A emoção, sim, continua a mesma! Como lidar com isso? Ainda tenho livros para escrever, novelas, quero viver um grande amor. Meu coração bate por coisas novas. E, como eu, o de tanta gente! A sociedade agrária, onde os pais envelheciam junto aos filhos, se desagregou. Eu tenho amigos que ainda tentam ressuscitar esse projeto, brincam com os netinhos e conformam-se em correr atrás dos filhos, sempre ocupados com seus próprios sonhos!
Um número crescente de pessoas sente como eu. Se é um coma, não quero acordar, porque minhas emoções continuam vivas! Posso adaptar projetos, mas desistir dos sonhos nunca! Um antigo ditado dizia que a vida começava aos 40. Depois, aos 50. Estou pronto para considerar os 60 como a idade de ouro. É assim, juro. Eu olho para minhas amigas, parentes: em um olhar, gesto, percebo a garotinha que ela foi. A adolescente. Está lá, viva! Minhas emoções, tantas vezes, são as de um jovem começando a vida. Sempre quero fazer algo de novo. Voltei a pintar. O coração bate acelerado porque uma nova novela está a caminho, ou conheci alguém. E tem mais uma pergunta importante: eu estou em coma, não reconheço a realidade dos meus 60? Bem, se isso é um estado de sonho, de desprendimento da realidade, sou como a personagem da peça. Não quero acordar. Quero bater a cabeça como um adolescente e até, juro, brincar de esconde-esconde dentro de casa. Quero, enfim, sonhar.
A emoção não tem idade. Conformar-se com uma realidade que não nos faz feliz, isso sim é viver em estado de coma. Mas a emoção pode transformá-la. Nós todos enfrentamos essa espécie de Alasca.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyrcarrasco/noticia/2015/11/idade-daemocao.html .Acesso em: jul. 2016
O assunto principal do texto é:
(Disponível em: https://doutormultas.com.br. Em: março de 2024.)
As linguagens verbais, não verbais e mistas tratam-se de formas de comunicação. A linguagem verbal é entendida quando se utiliza de textos escritos ou orais para comunicar. Já a linguagem não verbal é caracterizada por meio de imagens, gestos e outros processos de comunicações não orais ou escritos. Por fim, a linguagem mista se refere à da junção das duas anteriores, ou seja, do uso conjunto entre linguagem verbal e não verbal. Dito isso, o tipo de linguagem evidenciado na imagem trata-se de linguagem
1. Etnomatemática.
2. História da matemática.
3. Jogos no ensino de matemática.
( ) O lúdico, ao ser levado para a sala de aula, desperta a atenção dos alunos, que ao se utilizar jogos no contexto escolar, permite ao aluno construir seu próprio conhecimento, pois, como afirma Grando (2000, p. 16), “o jogo de regras possibilita à criança a construção de relações quantitativas ou lógicas, que se caracterizam pela aprendizagem em raciocinar e demonstrar, questionar o como e o porquê dos erros e acertos”.
( ) É uma tendência que possibilita a compreensão da originalidade de ideias que deram formas à cultura, podendo observar, também, os aspectos humanos do seu desenvolvimento como, por exemplo, os homens que criaram essas ideias e estudar as circunstâncias em que elas se desenvolveram. Torna-se um instrumento valioso para o ensino-aprendizagem da matemática, que visa à construção histórica do conhecimento matemático, contribuindo para um melhor entendimento da evolução do conceito, dando ênfase às dificuldades epistemológicas inerentes ao conceito que está sendo desenvolvido.
( ) Surgiu na década de 1970; visa valorizar a matemática de diferentes grupos socioculturais, propondo uma maior valorização dos conceitos matemáticos informais construídos pelos educandos por meio de suas experiências, fora do contexto escolar. Compreende-se como o ato de entender e valorizar a existência da matemática vivenciada por artesãos, comerciantes, ambulantes, dentre outros, em sua própria leitura de mundo por meio dessa ciência.
A sequência está correta em
( ) Usar livros é essencial para estimular a leitura. Permitir que as crianças escolham os livros que desejam ler e reservar um lugar tranquilo destinado à leitura é fundamental para incentivar o letramento. É importante deixá-los ao alcance das crianças, sendo possível manuseá-los e explorá-los sempre que quiserem.
( ) A leitura é uma das atividades mais importantes para o incentivo do letramento infantil. Portanto, ler para as crianças todos os dias, torna-se uma maneira cansativa de estimular o interesse pela leitura e o vocabulário. Além disso, a leitura compartilhada pode tirar a independência e autonomia da criança.
( ) Além da leitura, a escrita é uma habilidade essencial do letramento. Estimular a criança escrever desde cedo, mesmo que seja apenas rabiscos ou letras soltas, se torna um método conjunto, auxilia o entendimento e desenvolvimento das habilidades motoras e cognitivas, assim como o pensamento crítico e a interpretação de texto.
A sequência está correta em
“A fase _______________ tem como foco principal fazer com que as crianças relacionem o som das sílabas com a formação e a escrita das palavras, elas conseguem compreender que para escrever se usarão de letras, podendo ocorrer delas escreverem o próprio nome, por exemplo, com traços e símbolos no lugar das letras, mas faz parte do processo. Já na fase _______________, a criança passa a assimilar que as sílabas possuem mais de uma letra; no entanto, pode ocorrer a escrita de uma só letra para representar a sílaba inteira, como, por exemplo, fazer uso da letra ‘K’, para descrever a sílaba ‘CA’ em uma palavra, por conter semelhança no som emitido. ”
Assinale a alternativa que completa correta e sequencialmente a afirmativa anterior.