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O presidente Michel Temer concedeu entrevista coletiva a jornalistas, em Moscou, na Rússia, e afirmou que a crise política não atrapalha o avanço econômico do Brasil. Ele citou o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) após dois anos de queda. “Tanto não atrapalha que vocês vejam que neste primeiro trimestre houve um aumento de 1% no PIB e os indicativos são todos no sentido de que este aumento vai continuar”, disse o presidente, após um seminário de captação de investimentos russos para o Brasil.
(Fonte: EBC, Agência Brasil, 20/06/2017).
Em jornalismo, entrevista coletiva é aquela em que a fonte fala
O Manual da Folha de S. Paulo define assim o nariz de cera: “Parágrafo introdutório que retarda a entrada no assunto específico do texto. É sinal de prolixidade incompatível com jornalismo”. Leia o texto abaixo, escrito com nariz de cera.
“A astronomia já viveu grandes revoluções em sua história. Das esferas de cristal, que sustentavam os astros em seus postos fixos, à revolução de Nicolau Copérnico (1473 1543) e às elipses de Johannes Kepler (1571- 1630), muitos séculos de observação foram necessários para mudar a imagem do céu. O século 20 não poderia fugir à regra. Uma descoberta anunciada na semana passada pela revista britânica Nature confirma o padrão. Astrônomos do Observatório Austral Europeu (ESO, na sigla em inglês) detectaram o primeiro planeta fora do Sistema Solar”
(Publicado no jornal O Estado de S. Paulo).
É correto afirmar que o texto fere o princípio da
“Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar. Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas. Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em São Paulo. Eu levo minha mulher a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta. Perguntei a ela onde ela gostaria de ir no nosso aniversário de casamento. ‘Em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!’, ela disse. Então, sugeri a cozinha. Nós sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai às compras! Lembrem-se: o casamento é a causa número 1 para o divórcio. Estatisticamente, 100% dos divórcios começam com o casamento.”
O texto acima, de Luis Fernando Veríssimo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, é uma crônica porque
“Os meios de comunicação defendem interesses, cobram providências, criticam instituições. Posicionam-se diante dos leitores e das autoridades. Dada a importância de que se revestem, alguns textos publicados são escritos em linguagem cuidada, em língua de terno e gravata. Erros podem custar a cabeça do autor. Não por acaso, profissionais mais velhos e experientes, conhecedores da política interna da casa, respondem pela editoria de Opinião”
(Dad Squarisi e Arlete Salvador, 2012, p. 76).
As autoras falam, acima, do gênero textual jornalístico denominado
“Apenas 53 candidatos que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano passado obtiveram nota mil na Redação. Em relação a 2014, a queda é de quase 80%. Os resultados individuais dos estudantes foram divulgados nesta quinta-feira (18), pelo Ministério da Educação (MEC).
Em 2014, 250 candidatos conseguiram nota mil. Em 2015, foram 104, e em 2016, 77. Para Maria Inês Fini, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), não se pode comparar os dados. "As populações que fazem o exame são totalmente diferentes"
(Publicado no portal LeiaJá).
Nos dois parágrafos acima, é possível identificar o gênero textual jornalístico denominado
“Língua e gramática não se equivalem e, por isso, o ensino de línguas não pode constituir-se apenas de lições de gramática.”
Com base na afirmação da professora Irandé Antunes, considere as frases abaixo.
I Todo falante, para ser eficaz, precisa saber, em cada situação, que tipo de vocabulário empregar e deve procurar, ainda, reconhecer os diferentes contextos de enunciação.
II A eficácia do discurso requer também que se saiba que relações estabelecer, que integrações operar, de maneira a garantir a unidade, a harmonia ou a coerência.
III Gramática e língua são fundamentais e interdependentes no processo da comunicação. Sem gramática, não há língua.
Está(ão) correto(s)
“E agora, José? A festa acabou? Já não há mais PT? Não, José, de tudo isso fica uma grande lição: não é a direita que inviabiliza a esquerda. Esta tem sido vítima de sua própria incoerência, inclusive quando se elege por um programa de mudanças e adota uma política econômica de ajuste fiscal que trava o desenvolvimento, restringindo investimentos públicos e privados”
(Frei Betto, no jornal Folha de S. Paulo, em julho de 2005).
Acima, Frei Betto retoma um texto clássico da literatura brasileira para discorrer criticamente sobre as esquerdas, o PT e um de seus líderes. O fenômeno textual presente no trecho do artigo referido é a
“Para mim prima é mesmo que irmã, a gente respeita, mas Bela, sei lá!, tinha uns rompantes que até me assustavam. Naquela noite, por exemplo. Eu me embalava distraidíssimo na rede. Desde menino que durmo pouco, a Bela estava careca de saber e quando menos espero quem é que vejo diante de mim? A Bela. A Bela dormia de pijama, minha tia achava camisão indecente, que pijama protege, a menina pode se mexer à vontade, frioleiras de velha. Pois a Bela me aparece apenasmente de blusa de pijama! Não entendi, francamente. E se não estivesse como estava acordado, poderia até imaginar que sonhava: a Bela ali de pijama decepado. Só para provocar como me provocou, que logo fiquei agitadíssimo, me virando e revirando na rede, e a Bela feita uma estátua, nem uma palavra dizia, à espera eu acho de atitude minha, mas cadê coragem?, que conforme disse prima é irmã, e de irmã não se olha coxa, não se olha bunda, irmã pode ficar pelada que a gente nem enxerga peitinho, cabelinho, nada”
(Haroldo Maranhão, 1986, p. 7).
A cena descrita pelo escritor Haroldo Maranhão carrega inferências definidoras de um contexto. Sobre tal elemento da comunicação textual, é correto afirmar:
“(...) é na totalidade da experiência considerada, preenchida e esquecida que cada pessoa é verdadeiramente diferente das outras no mundo. Nenhuma pessoa vê os mesmos eventos do mesmo modo em sua vida”
(Ray Bradbury, 1990, p. 53).
A frase do escritor norte-americano Ray Bradbury expressa um dos sistemas de conhecimento para o processamento textual. Trata-se do
“Nenhum enunciado em geral pode ser atribuído apenas ao locutor: ele é produto da interação dos interlocutores e, num sentido mais amplo, o produto de toda esta situação social complexa, em que ele surgiu”
(Mikhail Bakhtin, apud Todorov, 1981, p. 50).
Sobre a concepção interacional (dialógica) do texto, segundo o teórico russo Mikhail Bakhtin, é correto afirmar:
Reencarnação
1 Em sua última vida (ao menos das que tivemos notícia), Peter Hulme era um simples funcionário
2 de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático:
3 nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não
4 nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma
5 resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também
6 tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17.
7 Parecia uma fantasia, mesmo porque inexistiam registros históricos de uma batalha na região e
8 nas circunstâncias descritas por Hulme. Investigando por conta própria, ele e seu irmão Bob encontraram
9 indícios da existência do castelo e, empolgados, resolveram viajar à Escócia em busca de provas. Contra
10 todas as expectativas, recuperaram resquícios de batalha no local apontado por Hulme – e, mergulhando
11 em documentos antiquíssimos, acharam documentos que comprovam a existência de um capitão Leverett
12 e do próprio John Raphael. Com base nesses indícios, Peter Hulme afirmou até o fim da vida que suas
13 memórias eram genuínas e ele era, de fato, a reencarnação de um soldado escocês. O caso de Hulme não
14 está acima de dúvidas: historiadores apontam inconsistências e contradições nas memórias do suposto
15 reencarnado. Mas o relato ilustra uma situação que ainda intriga a ciência: pessoas que juram recordar
16 experiências de vidas passadas, em detalhes às vezes desconcertantes para os cientistas.
17 A ideia de uma consciência que sobrevive à morte e reencarna em novos corpos é quase tão antiga
18 quanto a fé em divindades e surgiu de forma independente em inúmeras culturas ao redor do planeta. De
19 todos os cantos do globo, encontrou na Ásia o terreno mais fértil. A ideia está tão arraigada nas crenças
20 hinduístas e budistas que, em lugares como Índia e Sri Lanka, a reencarnação é vista como algo quase
21 natural. Não é à toa que surgem de lá muito dos casos considerados mais sólidos pelos pesquisadores do
22 tema – como o de Swarnlata Mishra, que desde os 3 anos recordava com riqueza de detalhes a vida de
23 outra pessoa, chamada Biya e morta quase uma década antes.
24 A naturalidade com que Swarnlata tratava os integrantes de sua “outra” família, ao ponto de
25 mencionar apelidos íntimos de gente que não conhecia pessoalmente, fez com que o caso virasse um
26 clássico e deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje. Mesmo no mundo ocidental, uma boa parcela
27 da população acredita em reencarnações, um interesse que aumentou em alguns países após o surgimento
28 do espiritismo na França do século 19. Na Europa Ocidental, dados de 2006 apontam que 22% pensam
29 que a reencarnação é uma realidade, enquanto nos EUA pesquisas falam em 20 a 25% de crença em vidas
30 passadas. Nas cidades do Ocidente, em especial no Brasil, a doutrina espírita tem grande penetração, e
31 manifestações religiosas recentes, como a cientologia, também levam as vidas passadas como parte de
32 suas crenças.
33 A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo. A maioria dos cientistas trata os relatos de
34 vidas passadas como frivolidades, frutos de autoindução ou fraudes. Além disso, não existe nenhum indício
35 científico de que a “alma” exista ou de que ela possa sobreviver à morte do corpo (ela existiria de que forma
36 entre uma encarnação e outra?). Mas é claro que alguns pesquisadores pensam diferente. Um dos mais
37 destacados foi o psiquiatra Ian Stevenson, que dedicou mais de 40 anos ao estudo de quase 3 mil relatos
38 de crianças ao redor do mundo. De acordo com Stevenson, a maioria das recordações infantis sobre vidas
39 passadas envolve mortes violentas, com relatos iniciando entre 2 a 4 anos e quase sempre desaparecendo
40 antes da adolescência. Ele também estudou sinais de nascença e tumores, dizendo que podiam relevar
41 ferimentos sofridos em vidas anteriores. Em um estudo de 1992, Stevenson cita 49 casos onde foram
42 localizados documentos médicos de pessoas que as crianças diziam ter sido em vidas anteriores. De
43 acordo com o pesquisador, a correspondência entre ferimentos mortais e sinais físicos nos supostos
44 reencarnados seria no mínimo satisfatória em 43 desses casos, 88% do total. No entanto, o próprio
45 Stevenson admitia uma grave lacuna: seus estudos não mostram como seria possível uma consciência
46 sobreviver à morte física e ingressar no corpo de outra pessoa. Seus livros são alvos de muitas críticas,
47 que vão desde análise tendenciosa dos dados até uso de fontes não confiáveis, que já acreditavam em
48 reencarnação antes dos supostos casos na família. Ou seja, não existiria evidência de reencarnação além
49 de depoimentos dos próprios reencarnados ou de indícios que, mesmo intrigantes, podem ser meras
50 coincidências.
51 Mas alguns aspectos de supostas vidas passadas ainda são desconcertantes para a ciência. É o
52 caso, por exemplo, da xenoglossia, uma capacidade súbita que algumas pessoas manifestam de falar, com
53 diferentes graus de fluência, línguas que deveriam desconhecer. Um dos casos mais marcantes é o de Iris
54 Farczády, uma húngara de 16 anos que, no ano de 1933, passou a agir como uma espanhola de 41 anos
55 chamada Lucía, morta anos antes. A suposta reencarnada esqueceu o húngaro natal e passou a falar
56 espanhol fluente, nunca mais recuperando sua personalidade anterior. O caso está registrado no livro
57 Paranormal Experience and Survival of Death (“Experiência paranormal e sobrevivência da morte”, sem
58 tradução para o português), de Carl Becker, professor de ética médica da Universidade de Kyoto. Para a
59 maioria dos cientistas, a história de Iris (ou Lucía) não passa de mais um caso de almanaque, mas há quem
60 acredite que a comprovação científica da xenoglossia seria a prova definitiva de que a reencarnação é uma
61 realidade. É viver (uma ou mais vezes) para crer.
NATUSCH, Igor. Reencarnação. Dossiê Superinteressante - Sobrenatural: o lado oculto da realidade.
Edição 383-A, dez. 2017.
A expressão idiomática coçando a cabeça, que aparece no trecho “deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje” (linha 26), informa que os cientistas
Reencarnação
1 Em sua última vida (ao menos das que tivemos notícia), Peter Hulme era um simples funcionário
2 de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático:
3 nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não
4 nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma
5 resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também
6 tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17.
7 Parecia uma fantasia, mesmo porque inexistiam registros históricos de uma batalha na região e
8 nas circunstâncias descritas por Hulme. Investigando por conta própria, ele e seu irmão Bob encontraram
9 indícios da existência do castelo e, empolgados, resolveram viajar à Escócia em busca de provas. Contra
10 todas as expectativas, recuperaram resquícios de batalha no local apontado por Hulme – e, mergulhando
11 em documentos antiquíssimos, acharam documentos que comprovam a existência de um capitão Leverett
12 e do próprio John Raphael. Com base nesses indícios, Peter Hulme afirmou até o fim da vida que suas
13 memórias eram genuínas e ele era, de fato, a reencarnação de um soldado escocês. O caso de Hulme não
14 está acima de dúvidas: historiadores apontam inconsistências e contradições nas memórias do suposto
15 reencarnado. Mas o relato ilustra uma situação que ainda intriga a ciência: pessoas que juram recordar
16 experiências de vidas passadas, em detalhes às vezes desconcertantes para os cientistas.
17 A ideia de uma consciência que sobrevive à morte e reencarna em novos corpos é quase tão antiga
18 quanto a fé em divindades e surgiu de forma independente em inúmeras culturas ao redor do planeta. De
19 todos os cantos do globo, encontrou na Ásia o terreno mais fértil. A ideia está tão arraigada nas crenças
20 hinduístas e budistas que, em lugares como Índia e Sri Lanka, a reencarnação é vista como algo quase
21 natural. Não é à toa que surgem de lá muito dos casos considerados mais sólidos pelos pesquisadores do
22 tema – como o de Swarnlata Mishra, que desde os 3 anos recordava com riqueza de detalhes a vida de
23 outra pessoa, chamada Biya e morta quase uma década antes.
24 A naturalidade com que Swarnlata tratava os integrantes de sua “outra” família, ao ponto de
25 mencionar apelidos íntimos de gente que não conhecia pessoalmente, fez com que o caso virasse um
26 clássico e deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje. Mesmo no mundo ocidental, uma boa parcela
27 da população acredita em reencarnações, um interesse que aumentou em alguns países após o surgimento
28 do espiritismo na França do século 19. Na Europa Ocidental, dados de 2006 apontam que 22% pensam
29 que a reencarnação é uma realidade, enquanto nos EUA pesquisas falam em 20 a 25% de crença em vidas
30 passadas. Nas cidades do Ocidente, em especial no Brasil, a doutrina espírita tem grande penetração, e
31 manifestações religiosas recentes, como a cientologia, também levam as vidas passadas como parte de
32 suas crenças.
33 A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo. A maioria dos cientistas trata os relatos de
34 vidas passadas como frivolidades, frutos de autoindução ou fraudes. Além disso, não existe nenhum indício
35 científico de que a “alma” exista ou de que ela possa sobreviver à morte do corpo (ela existiria de que forma
36 entre uma encarnação e outra?). Mas é claro que alguns pesquisadores pensam diferente. Um dos mais
37 destacados foi o psiquiatra Ian Stevenson, que dedicou mais de 40 anos ao estudo de quase 3 mil relatos
38 de crianças ao redor do mundo. De acordo com Stevenson, a maioria das recordações infantis sobre vidas
39 passadas envolve mortes violentas, com relatos iniciando entre 2 a 4 anos e quase sempre desaparecendo
40 antes da adolescência. Ele também estudou sinais de nascença e tumores, dizendo que podiam relevar
41 ferimentos sofridos em vidas anteriores. Em um estudo de 1992, Stevenson cita 49 casos onde foram
42 localizados documentos médicos de pessoas que as crianças diziam ter sido em vidas anteriores. De
43 acordo com o pesquisador, a correspondência entre ferimentos mortais e sinais físicos nos supostos
44 reencarnados seria no mínimo satisfatória em 43 desses casos, 88% do total. No entanto, o próprio
45 Stevenson admitia uma grave lacuna: seus estudos não mostram como seria possível uma consciência
46 sobreviver à morte física e ingressar no corpo de outra pessoa. Seus livros são alvos de muitas críticas,
47 que vão desde análise tendenciosa dos dados até uso de fontes não confiáveis, que já acreditavam em
48 reencarnação antes dos supostos casos na família. Ou seja, não existiria evidência de reencarnação além
49 de depoimentos dos próprios reencarnados ou de indícios que, mesmo intrigantes, podem ser meras
50 coincidências.
51 Mas alguns aspectos de supostas vidas passadas ainda são desconcertantes para a ciência. É o
52 caso, por exemplo, da xenoglossia, uma capacidade súbita que algumas pessoas manifestam de falar, com
53 diferentes graus de fluência, línguas que deveriam desconhecer. Um dos casos mais marcantes é o de Iris
54 Farczády, uma húngara de 16 anos que, no ano de 1933, passou a agir como uma espanhola de 41 anos
55 chamada Lucía, morta anos antes. A suposta reencarnada esqueceu o húngaro natal e passou a falar
56 espanhol fluente, nunca mais recuperando sua personalidade anterior. O caso está registrado no livro
57 Paranormal Experience and Survival of Death (“Experiência paranormal e sobrevivência da morte”, sem
58 tradução para o português), de Carl Becker, professor de ética médica da Universidade de Kyoto. Para a
59 maioria dos cientistas, a história de Iris (ou Lucía) não passa de mais um caso de almanaque, mas há quem
60 acredite que a comprovação científica da xenoglossia seria a prova definitiva de que a reencarnação é uma
61 realidade. É viver (uma ou mais vezes) para crer.
NATUSCH, Igor. Reencarnação. Dossiê Superinteressante - Sobrenatural: o lado oculto da realidade.
Edição 383-A, dez. 2017.
Em relação ao aumento de interesse pela reencarnação no mundo ocidental, é correto afirmar que
Reencarnação
1 Em sua última vida (ao menos das que tivemos notícia), Peter Hulme era um simples funcionário
2 de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático:
3 nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não
4 nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma
5 resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também
6 tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17.
7 Parecia uma fantasia, mesmo porque inexistiam registros históricos de uma batalha na região e
8 nas circunstâncias descritas por Hulme. Investigando por conta própria, ele e seu irmão Bob encontraram
9 indícios da existência do castelo e, empolgados, resolveram viajar à Escócia em busca de provas. Contra
10 todas as expectativas, recuperaram resquícios de batalha no local apontado por Hulme – e, mergulhando
11 em documentos antiquíssimos, acharam documentos que comprovam a existência de um capitão Leverett
12 e do próprio John Raphael. Com base nesses indícios, Peter Hulme afirmou até o fim da vida que suas
13 memórias eram genuínas e ele era, de fato, a reencarnação de um soldado escocês. O caso de Hulme não
14 está acima de dúvidas: historiadores apontam inconsistências e contradições nas memórias do suposto
15 reencarnado. Mas o relato ilustra uma situação que ainda intriga a ciência: pessoas que juram recordar
16 experiências de vidas passadas, em detalhes às vezes desconcertantes para os cientistas.
17 A ideia de uma consciência que sobrevive à morte e reencarna em novos corpos é quase tão antiga
18 quanto a fé em divindades e surgiu de forma independente em inúmeras culturas ao redor do planeta. De
19 todos os cantos do globo, encontrou na Ásia o terreno mais fértil. A ideia está tão arraigada nas crenças
20 hinduístas e budistas que, em lugares como Índia e Sri Lanka, a reencarnação é vista como algo quase
21 natural. Não é à toa que surgem de lá muito dos casos considerados mais sólidos pelos pesquisadores do
22 tema – como o de Swarnlata Mishra, que desde os 3 anos recordava com riqueza de detalhes a vida de
23 outra pessoa, chamada Biya e morta quase uma década antes.
24 A naturalidade com que Swarnlata tratava os integrantes de sua “outra” família, ao ponto de
25 mencionar apelidos íntimos de gente que não conhecia pessoalmente, fez com que o caso virasse um
26 clássico e deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje. Mesmo no mundo ocidental, uma boa parcela
27 da população acredita em reencarnações, um interesse que aumentou em alguns países após o surgimento
28 do espiritismo na França do século 19. Na Europa Ocidental, dados de 2006 apontam que 22% pensam
29 que a reencarnação é uma realidade, enquanto nos EUA pesquisas falam em 20 a 25% de crença em vidas
30 passadas. Nas cidades do Ocidente, em especial no Brasil, a doutrina espírita tem grande penetração, e
31 manifestações religiosas recentes, como a cientologia, também levam as vidas passadas como parte de
32 suas crenças.
33 A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo. A maioria dos cientistas trata os relatos de
34 vidas passadas como frivolidades, frutos de autoindução ou fraudes. Além disso, não existe nenhum indício
35 científico de que a “alma” exista ou de que ela possa sobreviver à morte do corpo (ela existiria de que forma
36 entre uma encarnação e outra?). Mas é claro que alguns pesquisadores pensam diferente. Um dos mais
37 destacados foi o psiquiatra Ian Stevenson, que dedicou mais de 40 anos ao estudo de quase 3 mil relatos
38 de crianças ao redor do mundo. De acordo com Stevenson, a maioria das recordações infantis sobre vidas
39 passadas envolve mortes violentas, com relatos iniciando entre 2 a 4 anos e quase sempre desaparecendo
40 antes da adolescência. Ele também estudou sinais de nascença e tumores, dizendo que podiam relevar
41 ferimentos sofridos em vidas anteriores. Em um estudo de 1992, Stevenson cita 49 casos onde foram
42 localizados documentos médicos de pessoas que as crianças diziam ter sido em vidas anteriores. De
43 acordo com o pesquisador, a correspondência entre ferimentos mortais e sinais físicos nos supostos
44 reencarnados seria no mínimo satisfatória em 43 desses casos, 88% do total. No entanto, o próprio
45 Stevenson admitia uma grave lacuna: seus estudos não mostram como seria possível uma consciência
46 sobreviver à morte física e ingressar no corpo de outra pessoa. Seus livros são alvos de muitas críticas,
47 que vão desde análise tendenciosa dos dados até uso de fontes não confiáveis, que já acreditavam em
48 reencarnação antes dos supostos casos na família. Ou seja, não existiria evidência de reencarnação além
49 de depoimentos dos próprios reencarnados ou de indícios que, mesmo intrigantes, podem ser meras
50 coincidências.
51 Mas alguns aspectos de supostas vidas passadas ainda são desconcertantes para a ciência. É o
52 caso, por exemplo, da xenoglossia, uma capacidade súbita que algumas pessoas manifestam de falar, com
53 diferentes graus de fluência, línguas que deveriam desconhecer. Um dos casos mais marcantes é o de Iris
54 Farczády, uma húngara de 16 anos que, no ano de 1933, passou a agir como uma espanhola de 41 anos
55 chamada Lucía, morta anos antes. A suposta reencarnada esqueceu o húngaro natal e passou a falar
56 espanhol fluente, nunca mais recuperando sua personalidade anterior. O caso está registrado no livro
57 Paranormal Experience and Survival of Death (“Experiência paranormal e sobrevivência da morte”, sem
58 tradução para o português), de Carl Becker, professor de ética médica da Universidade de Kyoto. Para a
59 maioria dos cientistas, a história de Iris (ou Lucía) não passa de mais um caso de almanaque, mas há quem
60 acredite que a comprovação científica da xenoglossia seria a prova definitiva de que a reencarnação é uma
61 realidade. É viver (uma ou mais vezes) para crer.
NATUSCH, Igor. Reencarnação. Dossiê Superinteressante - Sobrenatural: o lado oculto da realidade.
Edição 383-A, dez. 2017.
Há quem acredite que, para comprovar cientificamente a existência da reencarnação, a ciência precisaria
Reencarnação
1 Em sua última vida (ao menos das que tivemos notícia), Peter Hulme era um simples funcionário
2 de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático:
3 nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não
4 nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma
5 resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também
6 tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17.
7 Parecia uma fantasia, mesmo porque inexistiam registros históricos de uma batalha na região e
8 nas circunstâncias descritas por Hulme. Investigando por conta própria, ele e seu irmão Bob encontraram
9 indícios da existência do castelo e, empolgados, resolveram viajar à Escócia em busca de provas. Contra
10 todas as expectativas, recuperaram resquícios de batalha no local apontado por Hulme – e, mergulhando
11 em documentos antiquíssimos, acharam documentos que comprovam a existência de um capitão Leverett
12 e do próprio John Raphael. Com base nesses indícios, Peter Hulme afirmou até o fim da vida que suas
13 memórias eram genuínas e ele era, de fato, a reencarnação de um soldado escocês. O caso de Hulme não
14 está acima de dúvidas: historiadores apontam inconsistências e contradições nas memórias do suposto
15 reencarnado. Mas o relato ilustra uma situação que ainda intriga a ciência: pessoas que juram recordar
16 experiências de vidas passadas, em detalhes às vezes desconcertantes para os cientistas.
17 A ideia de uma consciência que sobrevive à morte e reencarna em novos corpos é quase tão antiga
18 quanto a fé em divindades e surgiu de forma independente em inúmeras culturas ao redor do planeta. De
19 todos os cantos do globo, encontrou na Ásia o terreno mais fértil. A ideia está tão arraigada nas crenças
20 hinduístas e budistas que, em lugares como Índia e Sri Lanka, a reencarnação é vista como algo quase
21 natural. Não é à toa que surgem de lá muito dos casos considerados mais sólidos pelos pesquisadores do
22 tema – como o de Swarnlata Mishra, que desde os 3 anos recordava com riqueza de detalhes a vida de
23 outra pessoa, chamada Biya e morta quase uma década antes.
24 A naturalidade com que Swarnlata tratava os integrantes de sua “outra” família, ao ponto de
25 mencionar apelidos íntimos de gente que não conhecia pessoalmente, fez com que o caso virasse um
26 clássico e deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje. Mesmo no mundo ocidental, uma boa parcela
27 da população acredita em reencarnações, um interesse que aumentou em alguns países após o surgimento
28 do espiritismo na França do século 19. Na Europa Ocidental, dados de 2006 apontam que 22% pensam
29 que a reencarnação é uma realidade, enquanto nos EUA pesquisas falam em 20 a 25% de crença em vidas
30 passadas. Nas cidades do Ocidente, em especial no Brasil, a doutrina espírita tem grande penetração, e
31 manifestações religiosas recentes, como a cientologia, também levam as vidas passadas como parte de
32 suas crenças.
33 A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo. A maioria dos cientistas trata os relatos de
34 vidas passadas como frivolidades, frutos de autoindução ou fraudes. Além disso, não existe nenhum indício
35 científico de que a “alma” exista ou de que ela possa sobreviver à morte do corpo (ela existiria de que forma
36 entre uma encarnação e outra?). Mas é claro que alguns pesquisadores pensam diferente. Um dos mais
37 destacados foi o psiquiatra Ian Stevenson, que dedicou mais de 40 anos ao estudo de quase 3 mil relatos
38 de crianças ao redor do mundo. De acordo com Stevenson, a maioria das recordações infantis sobre vidas
39 passadas envolve mortes violentas, com relatos iniciando entre 2 a 4 anos e quase sempre desaparecendo
40 antes da adolescência. Ele também estudou sinais de nascença e tumores, dizendo que podiam relevar
41 ferimentos sofridos em vidas anteriores. Em um estudo de 1992, Stevenson cita 49 casos onde foram
42 localizados documentos médicos de pessoas que as crianças diziam ter sido em vidas anteriores. De
43 acordo com o pesquisador, a correspondência entre ferimentos mortais e sinais físicos nos supostos
44 reencarnados seria no mínimo satisfatória em 43 desses casos, 88% do total. No entanto, o próprio
45 Stevenson admitia uma grave lacuna: seus estudos não mostram como seria possível uma consciência
46 sobreviver à morte física e ingressar no corpo de outra pessoa. Seus livros são alvos de muitas críticas,
47 que vão desde análise tendenciosa dos dados até uso de fontes não confiáveis, que já acreditavam em
48 reencarnação antes dos supostos casos na família. Ou seja, não existiria evidência de reencarnação além
49 de depoimentos dos próprios reencarnados ou de indícios que, mesmo intrigantes, podem ser meras
50 coincidências.
51 Mas alguns aspectos de supostas vidas passadas ainda são desconcertantes para a ciência. É o
52 caso, por exemplo, da xenoglossia, uma capacidade súbita que algumas pessoas manifestam de falar, com
53 diferentes graus de fluência, línguas que deveriam desconhecer. Um dos casos mais marcantes é o de Iris
54 Farczády, uma húngara de 16 anos que, no ano de 1933, passou a agir como uma espanhola de 41 anos
55 chamada Lucía, morta anos antes. A suposta reencarnada esqueceu o húngaro natal e passou a falar
56 espanhol fluente, nunca mais recuperando sua personalidade anterior. O caso está registrado no livro
57 Paranormal Experience and Survival of Death (“Experiência paranormal e sobrevivência da morte”, sem
58 tradução para o português), de Carl Becker, professor de ética médica da Universidade de Kyoto. Para a
59 maioria dos cientistas, a história de Iris (ou Lucía) não passa de mais um caso de almanaque, mas há quem
60 acredite que a comprovação científica da xenoglossia seria a prova definitiva de que a reencarnação é uma
61 realidade. É viver (uma ou mais vezes) para crer.
NATUSCH, Igor. Reencarnação. Dossiê Superinteressante - Sobrenatural: o lado oculto da realidade.
Edição 383-A, dez. 2017.
Peter Hulme afirmava ter sido, em vida passada, um/a
Reencarnação
1 Em sua última vida (ao menos das que tivemos notícia), Peter Hulme era um simples funcionário
2 de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático:
3 nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não
4 nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma
5 resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também
6 tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17.
7 Parecia uma fantasia, mesmo porque inexistiam registros históricos de uma batalha na região e
8 nas circunstâncias descritas por Hulme. Investigando por conta própria, ele e seu irmão Bob encontraram
9 indícios da existência do castelo e, empolgados, resolveram viajar à Escócia em busca de provas. Contra
10 todas as expectativas, recuperaram resquícios de batalha no local apontado por Hulme – e, mergulhando
11 em documentos antiquíssimos, acharam documentos que comprovam a existência de um capitão Leverett
12 e do próprio John Raphael. Com base nesses indícios, Peter Hulme afirmou até o fim da vida que suas
13 memórias eram genuínas e ele era, de fato, a reencarnação de um soldado escocês. O caso de Hulme não
14 está acima de dúvidas: historiadores apontam inconsistências e contradições nas memórias do suposto
15 reencarnado. Mas o relato ilustra uma situação que ainda intriga a ciência: pessoas que juram recordar
16 experiências de vidas passadas, em detalhes às vezes desconcertantes para os cientistas.
17 A ideia de uma consciência que sobrevive à morte e reencarna em novos corpos é quase tão antiga
18 quanto a fé em divindades e surgiu de forma independente em inúmeras culturas ao redor do planeta. De
19 todos os cantos do globo, encontrou na Ásia o terreno mais fértil. A ideia está tão arraigada nas crenças
20 hinduístas e budistas que, em lugares como Índia e Sri Lanka, a reencarnação é vista como algo quase
21 natural. Não é à toa que surgem de lá muito dos casos considerados mais sólidos pelos pesquisadores do
22 tema – como o de Swarnlata Mishra, que desde os 3 anos recordava com riqueza de detalhes a vida de
23 outra pessoa, chamada Biya e morta quase uma década antes.
24 A naturalidade com que Swarnlata tratava os integrantes de sua “outra” família, ao ponto de
25 mencionar apelidos íntimos de gente que não conhecia pessoalmente, fez com que o caso virasse um
26 clássico e deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje. Mesmo no mundo ocidental, uma boa parcela
27 da população acredita em reencarnações, um interesse que aumentou em alguns países após o surgimento
28 do espiritismo na França do século 19. Na Europa Ocidental, dados de 2006 apontam que 22% pensam
29 que a reencarnação é uma realidade, enquanto nos EUA pesquisas falam em 20 a 25% de crença em vidas
30 passadas. Nas cidades do Ocidente, em especial no Brasil, a doutrina espírita tem grande penetração, e
31 manifestações religiosas recentes, como a cientologia, também levam as vidas passadas como parte de
32 suas crenças.
33 A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo. A maioria dos cientistas trata os relatos de
34 vidas passadas como frivolidades, frutos de autoindução ou fraudes. Além disso, não existe nenhum indício
35 científico de que a “alma” exista ou de que ela possa sobreviver à morte do corpo (ela existiria de que forma
36 entre uma encarnação e outra?). Mas é claro que alguns pesquisadores pensam diferente. Um dos mais
37 destacados foi o psiquiatra Ian Stevenson, que dedicou mais de 40 anos ao estudo de quase 3 mil relatos
38 de crianças ao redor do mundo. De acordo com Stevenson, a maioria das recordações infantis sobre vidas
39 passadas envolve mortes violentas, com relatos iniciando entre 2 a 4 anos e quase sempre desaparecendo
40 antes da adolescência. Ele também estudou sinais de nascença e tumores, dizendo que podiam relevar
41 ferimentos sofridos em vidas anteriores. Em um estudo de 1992, Stevenson cita 49 casos onde foram
42 localizados documentos médicos de pessoas que as crianças diziam ter sido em vidas anteriores. De
43 acordo com o pesquisador, a correspondência entre ferimentos mortais e sinais físicos nos supostos
44 reencarnados seria no mínimo satisfatória em 43 desses casos, 88% do total. No entanto, o próprio
45 Stevenson admitia uma grave lacuna: seus estudos não mostram como seria possível uma consciência
46 sobreviver à morte física e ingressar no corpo de outra pessoa. Seus livros são alvos de muitas críticas,
47 que vão desde análise tendenciosa dos dados até uso de fontes não confiáveis, que já acreditavam em
48 reencarnação antes dos supostos casos na família. Ou seja, não existiria evidência de reencarnação além
49 de depoimentos dos próprios reencarnados ou de indícios que, mesmo intrigantes, podem ser meras
50 coincidências.
51 Mas alguns aspectos de supostas vidas passadas ainda são desconcertantes para a ciência. É o
52 caso, por exemplo, da xenoglossia, uma capacidade súbita que algumas pessoas manifestam de falar, com
53 diferentes graus de fluência, línguas que deveriam desconhecer. Um dos casos mais marcantes é o de Iris
54 Farczády, uma húngara de 16 anos que, no ano de 1933, passou a agir como uma espanhola de 41 anos
55 chamada Lucía, morta anos antes. A suposta reencarnada esqueceu o húngaro natal e passou a falar
56 espanhol fluente, nunca mais recuperando sua personalidade anterior. O caso está registrado no livro
57 Paranormal Experience and Survival of Death (“Experiência paranormal e sobrevivência da morte”, sem
58 tradução para o português), de Carl Becker, professor de ética médica da Universidade de Kyoto. Para a
59 maioria dos cientistas, a história de Iris (ou Lucía) não passa de mais um caso de almanaque, mas há quem
60 acredite que a comprovação científica da xenoglossia seria a prova definitiva de que a reencarnação é uma
61 realidade. É viver (uma ou mais vezes) para crer.
NATUSCH, Igor. Reencarnação. Dossiê Superinteressante - Sobrenatural: o lado oculto da realidade.
Edição 383-A, dez. 2017.
No trecho “A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo.” (linha 33), o termo ceticismo significa
Reencarnação
1 Em sua última vida (ao menos das que tivemos notícia), Peter Hulme era um simples funcionário
2 de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático:
3 nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não
4 nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma
5 resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também
6 tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17.
7 Parecia uma fantasia, mesmo porque inexistiam registros históricos de uma batalha na região e
8 nas circunstâncias descritas por Hulme. Investigando por conta própria, ele e seu irmão Bob encontraram
9 indícios da existência do castelo e, empolgados, resolveram viajar à Escócia em busca de provas. Contra
10 todas as expectativas, recuperaram resquícios de batalha no local apontado por Hulme – e, mergulhando
11 em documentos antiquíssimos, acharam documentos que comprovam a existência de um capitão Leverett
12 e do próprio John Raphael. Com base nesses indícios, Peter Hulme afirmou até o fim da vida que suas
13 memórias eram genuínas e ele era, de fato, a reencarnação de um soldado escocês. O caso de Hulme não
14 está acima de dúvidas: historiadores apontam inconsistências e contradições nas memórias do suposto
15 reencarnado. Mas o relato ilustra uma situação que ainda intriga a ciência: pessoas que juram recordar
16 experiências de vidas passadas, em detalhes às vezes desconcertantes para os cientistas.
17 A ideia de uma consciência que sobrevive à morte e reencarna em novos corpos é quase tão antiga
18 quanto a fé em divindades e surgiu de forma independente em inúmeras culturas ao redor do planeta. De
19 todos os cantos do globo, encontrou na Ásia o terreno mais fértil. A ideia está tão arraigada nas crenças
20 hinduístas e budistas que, em lugares como Índia e Sri Lanka, a reencarnação é vista como algo quase
21 natural. Não é à toa que surgem de lá muito dos casos considerados mais sólidos pelos pesquisadores do
22 tema – como o de Swarnlata Mishra, que desde os 3 anos recordava com riqueza de detalhes a vida de
23 outra pessoa, chamada Biya e morta quase uma década antes.
24 A naturalidade com que Swarnlata tratava os integrantes de sua “outra” família, ao ponto de
25 mencionar apelidos íntimos de gente que não conhecia pessoalmente, fez com que o caso virasse um
26 clássico e deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje. Mesmo no mundo ocidental, uma boa parcela
27 da população acredita em reencarnações, um interesse que aumentou em alguns países após o surgimento
28 do espiritismo na França do século 19. Na Europa Ocidental, dados de 2006 apontam que 22% pensam
29 que a reencarnação é uma realidade, enquanto nos EUA pesquisas falam em 20 a 25% de crença em vidas
30 passadas. Nas cidades do Ocidente, em especial no Brasil, a doutrina espírita tem grande penetração, e
31 manifestações religiosas recentes, como a cientologia, também levam as vidas passadas como parte de
32 suas crenças.
33 A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo. A maioria dos cientistas trata os relatos de
34 vidas passadas como frivolidades, frutos de autoindução ou fraudes. Além disso, não existe nenhum indício
35 científico de que a “alma” exista ou de que ela possa sobreviver à morte do corpo (ela existiria de que forma
36 entre uma encarnação e outra?). Mas é claro que alguns pesquisadores pensam diferente. Um dos mais
37 destacados foi o psiquiatra Ian Stevenson, que dedicou mais de 40 anos ao estudo de quase 3 mil relatos
38 de crianças ao redor do mundo. De acordo com Stevenson, a maioria das recordações infantis sobre vidas
39 passadas envolve mortes violentas, com relatos iniciando entre 2 a 4 anos e quase sempre desaparecendo
40 antes da adolescência. Ele também estudou sinais de nascença e tumores, dizendo que podiam relevar
41 ferimentos sofridos em vidas anteriores. Em um estudo de 1992, Stevenson cita 49 casos onde foram
42 localizados documentos médicos de pessoas que as crianças diziam ter sido em vidas anteriores. De
43 acordo com o pesquisador, a correspondência entre ferimentos mortais e sinais físicos nos supostos
44 reencarnados seria no mínimo satisfatória em 43 desses casos, 88% do total. No entanto, o próprio
45 Stevenson admitia uma grave lacuna: seus estudos não mostram como seria possível uma consciência
46 sobreviver à morte física e ingressar no corpo de outra pessoa. Seus livros são alvos de muitas críticas,
47 que vão desde análise tendenciosa dos dados até uso de fontes não confiáveis, que já acreditavam em
48 reencarnação antes dos supostos casos na família. Ou seja, não existiria evidência de reencarnação além
49 de depoimentos dos próprios reencarnados ou de indícios que, mesmo intrigantes, podem ser meras
50 coincidências.
51 Mas alguns aspectos de supostas vidas passadas ainda são desconcertantes para a ciência. É o
52 caso, por exemplo, da xenoglossia, uma capacidade súbita que algumas pessoas manifestam de falar, com
53 diferentes graus de fluência, línguas que deveriam desconhecer. Um dos casos mais marcantes é o de Iris
54 Farczády, uma húngara de 16 anos que, no ano de 1933, passou a agir como uma espanhola de 41 anos
55 chamada Lucía, morta anos antes. A suposta reencarnada esqueceu o húngaro natal e passou a falar
56 espanhol fluente, nunca mais recuperando sua personalidade anterior. O caso está registrado no livro
57 Paranormal Experience and Survival of Death (“Experiência paranormal e sobrevivência da morte”, sem
58 tradução para o português), de Carl Becker, professor de ética médica da Universidade de Kyoto. Para a
59 maioria dos cientistas, a história de Iris (ou Lucía) não passa de mais um caso de almanaque, mas há quem
60 acredite que a comprovação científica da xenoglossia seria a prova definitiva de que a reencarnação é uma
61 realidade. É viver (uma ou mais vezes) para crer.
NATUSCH, Igor. Reencarnação. Dossiê Superinteressante - Sobrenatural: o lado oculto da realidade.
Edição 383-A, dez. 2017.
O trecho “Contra todas as expectativas, ...” (linhas 9 e 10) leva a compreender que
Reencarnação
1 Em sua última vida (ao menos das que tivemos notícia), Peter Hulme era um simples funcionário
2 de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático:
3 nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não
4 nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma
5 resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também
6 tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17.
7 Parecia uma fantasia, mesmo porque inexistiam registros históricos de uma batalha na região e
8 nas circunstâncias descritas por Hulme. Investigando por conta própria, ele e seu irmão Bob encontraram
9 indícios da existência do castelo e, empolgados, resolveram viajar à Escócia em busca de provas. Contra
10 todas as expectativas, recuperaram resquícios de batalha no local apontado por Hulme – e, mergulhando
11 em documentos antiquíssimos, acharam documentos que comprovam a existência de um capitão Leverett
12 e do próprio John Raphael. Com base nesses indícios, Peter Hulme afirmou até o fim da vida que suas
13 memórias eram genuínas e ele era, de fato, a reencarnação de um soldado escocês. O caso de Hulme não
14 está acima de dúvidas: historiadores apontam inconsistências e contradições nas memórias do suposto
15 reencarnado. Mas o relato ilustra uma situação que ainda intriga a ciência: pessoas que juram recordar
16 experiências de vidas passadas, em detalhes às vezes desconcertantes para os cientistas.
17 A ideia de uma consciência que sobrevive à morte e reencarna em novos corpos é quase tão antiga
18 quanto a fé em divindades e surgiu de forma independente em inúmeras culturas ao redor do planeta. De
19 todos os cantos do globo, encontrou na Ásia o terreno mais fértil. A ideia está tão arraigada nas crenças
20 hinduístas e budistas que, em lugares como Índia e Sri Lanka, a reencarnação é vista como algo quase
21 natural. Não é à toa que surgem de lá muito dos casos considerados mais sólidos pelos pesquisadores do
22 tema – como o de Swarnlata Mishra, que desde os 3 anos recordava com riqueza de detalhes a vida de
23 outra pessoa, chamada Biya e morta quase uma década antes.
24 A naturalidade com que Swarnlata tratava os integrantes de sua “outra” família, ao ponto de
25 mencionar apelidos íntimos de gente que não conhecia pessoalmente, fez com que o caso virasse um
26 clássico e deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje. Mesmo no mundo ocidental, uma boa parcela
27 da população acredita em reencarnações, um interesse que aumentou em alguns países após o surgimento
28 do espiritismo na França do século 19. Na Europa Ocidental, dados de 2006 apontam que 22% pensam
29 que a reencarnação é uma realidade, enquanto nos EUA pesquisas falam em 20 a 25% de crença em vidas
30 passadas. Nas cidades do Ocidente, em especial no Brasil, a doutrina espírita tem grande penetração, e
31 manifestações religiosas recentes, como a cientologia, também levam as vidas passadas como parte de
32 suas crenças.
33 A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo. A maioria dos cientistas trata os relatos de
34 vidas passadas como frivolidades, frutos de autoindução ou fraudes. Além disso, não existe nenhum indício
35 científico de que a “alma” exista ou de que ela possa sobreviver à morte do corpo (ela existiria de que forma
36 entre uma encarnação e outra?). Mas é claro que alguns pesquisadores pensam diferente. Um dos mais
37 destacados foi o psiquiatra Ian Stevenson, que dedicou mais de 40 anos ao estudo de quase 3 mil relatos
38 de crianças ao redor do mundo. De acordo com Stevenson, a maioria das recordações infantis sobre vidas
39 passadas envolve mortes violentas, com relatos iniciando entre 2 a 4 anos e quase sempre desaparecendo
40 antes da adolescência. Ele também estudou sinais de nascença e tumores, dizendo que podiam relevar
41 ferimentos sofridos em vidas anteriores. Em um estudo de 1992, Stevenson cita 49 casos onde foram
42 localizados documentos médicos de pessoas que as crianças diziam ter sido em vidas anteriores. De
43 acordo com o pesquisador, a correspondência entre ferimentos mortais e sinais físicos nos supostos
44 reencarnados seria no mínimo satisfatória em 43 desses casos, 88% do total. No entanto, o próprio
45 Stevenson admitia uma grave lacuna: seus estudos não mostram como seria possível uma consciência
46 sobreviver à morte física e ingressar no corpo de outra pessoa. Seus livros são alvos de muitas críticas,
47 que vão desde análise tendenciosa dos dados até uso de fontes não confiáveis, que já acreditavam em
48 reencarnação antes dos supostos casos na família. Ou seja, não existiria evidência de reencarnação além
49 de depoimentos dos próprios reencarnados ou de indícios que, mesmo intrigantes, podem ser meras
50 coincidências.
51 Mas alguns aspectos de supostas vidas passadas ainda são desconcertantes para a ciência. É o
52 caso, por exemplo, da xenoglossia, uma capacidade súbita que algumas pessoas manifestam de falar, com
53 diferentes graus de fluência, línguas que deveriam desconhecer. Um dos casos mais marcantes é o de Iris
54 Farczády, uma húngara de 16 anos que, no ano de 1933, passou a agir como uma espanhola de 41 anos
55 chamada Lucía, morta anos antes. A suposta reencarnada esqueceu o húngaro natal e passou a falar
56 espanhol fluente, nunca mais recuperando sua personalidade anterior. O caso está registrado no livro
57 Paranormal Experience and Survival of Death (“Experiência paranormal e sobrevivência da morte”, sem
58 tradução para o português), de Carl Becker, professor de ética médica da Universidade de Kyoto. Para a
59 maioria dos cientistas, a história de Iris (ou Lucía) não passa de mais um caso de almanaque, mas há quem
60 acredite que a comprovação científica da xenoglossia seria a prova definitiva de que a reencarnação é uma
61 realidade. É viver (uma ou mais vezes) para crer.
NATUSCH, Igor. Reencarnação. Dossiê Superinteressante - Sobrenatural: o lado oculto da realidade.
Edição 383-A, dez. 2017.
A palavra que, no texto, pode ser substituída por enraizado/a (s) sem prejuízo para o significado é
Reencarnação
1 Em sua última vida (ao menos das que tivemos notícia), Peter Hulme era um simples funcionário
2 de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático:
3 nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não
4 nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma
5 resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também
6 tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17.
7 Parecia uma fantasia, mesmo porque inexistiam registros históricos de uma batalha na região e
8 nas circunstâncias descritas por Hulme. Investigando por conta própria, ele e seu irmão Bob encontraram
9 indícios da existência do castelo e, empolgados, resolveram viajar à Escócia em busca de provas. Contra
10 todas as expectativas, recuperaram resquícios de batalha no local apontado por Hulme – e, mergulhando
11 em documentos antiquíssimos, acharam documentos que comprovam a existência de um capitão Leverett
12 e do próprio John Raphael. Com base nesses indícios, Peter Hulme afirmou até o fim da vida que suas
13 memórias eram genuínas e ele era, de fato, a reencarnação de um soldado escocês. O caso de Hulme não
14 está acima de dúvidas: historiadores apontam inconsistências e contradições nas memórias do suposto
15 reencarnado. Mas o relato ilustra uma situação que ainda intriga a ciência: pessoas que juram recordar
16 experiências de vidas passadas, em detalhes às vezes desconcertantes para os cientistas.
17 A ideia de uma consciência que sobrevive à morte e reencarna em novos corpos é quase tão antiga
18 quanto a fé em divindades e surgiu de forma independente em inúmeras culturas ao redor do planeta. De
19 todos os cantos do globo, encontrou na Ásia o terreno mais fértil. A ideia está tão arraigada nas crenças
20 hinduístas e budistas que, em lugares como Índia e Sri Lanka, a reencarnação é vista como algo quase
21 natural. Não é à toa que surgem de lá muito dos casos considerados mais sólidos pelos pesquisadores do
22 tema – como o de Swarnlata Mishra, que desde os 3 anos recordava com riqueza de detalhes a vida de
23 outra pessoa, chamada Biya e morta quase uma década antes.
24 A naturalidade com que Swarnlata tratava os integrantes de sua “outra” família, ao ponto de
25 mencionar apelidos íntimos de gente que não conhecia pessoalmente, fez com que o caso virasse um
26 clássico e deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje. Mesmo no mundo ocidental, uma boa parcela
27 da população acredita em reencarnações, um interesse que aumentou em alguns países após o surgimento
28 do espiritismo na França do século 19. Na Europa Ocidental, dados de 2006 apontam que 22% pensam
29 que a reencarnação é uma realidade, enquanto nos EUA pesquisas falam em 20 a 25% de crença em vidas
30 passadas. Nas cidades do Ocidente, em especial no Brasil, a doutrina espírita tem grande penetração, e
31 manifestações religiosas recentes, como a cientologia, também levam as vidas passadas como parte de
32 suas crenças.
33 A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo. A maioria dos cientistas trata os relatos de
34 vidas passadas como frivolidades, frutos de autoindução ou fraudes. Além disso, não existe nenhum indício
35 científico de que a “alma” exista ou de que ela possa sobreviver à morte do corpo (ela existiria de que forma
36 entre uma encarnação e outra?). Mas é claro que alguns pesquisadores pensam diferente. Um dos mais
37 destacados foi o psiquiatra Ian Stevenson, que dedicou mais de 40 anos ao estudo de quase 3 mil relatos
38 de crianças ao redor do mundo. De acordo com Stevenson, a maioria das recordações infantis sobre vidas
39 passadas envolve mortes violentas, com relatos iniciando entre 2 a 4 anos e quase sempre desaparecendo
40 antes da adolescência. Ele também estudou sinais de nascença e tumores, dizendo que podiam relevar
41 ferimentos sofridos em vidas anteriores. Em um estudo de 1992, Stevenson cita 49 casos onde foram
42 localizados documentos médicos de pessoas que as crianças diziam ter sido em vidas anteriores. De
43 acordo com o pesquisador, a correspondência entre ferimentos mortais e sinais físicos nos supostos
44 reencarnados seria no mínimo satisfatória em 43 desses casos, 88% do total. No entanto, o próprio
45 Stevenson admitia uma grave lacuna: seus estudos não mostram como seria possível uma consciência
46 sobreviver à morte física e ingressar no corpo de outra pessoa. Seus livros são alvos de muitas críticas,
47 que vão desde análise tendenciosa dos dados até uso de fontes não confiáveis, que já acreditavam em
48 reencarnação antes dos supostos casos na família. Ou seja, não existiria evidência de reencarnação além
49 de depoimentos dos próprios reencarnados ou de indícios que, mesmo intrigantes, podem ser meras
50 coincidências.
51 Mas alguns aspectos de supostas vidas passadas ainda são desconcertantes para a ciência. É o
52 caso, por exemplo, da xenoglossia, uma capacidade súbita que algumas pessoas manifestam de falar, com
53 diferentes graus de fluência, línguas que deveriam desconhecer. Um dos casos mais marcantes é o de Iris
54 Farczády, uma húngara de 16 anos que, no ano de 1933, passou a agir como uma espanhola de 41 anos
55 chamada Lucía, morta anos antes. A suposta reencarnada esqueceu o húngaro natal e passou a falar
56 espanhol fluente, nunca mais recuperando sua personalidade anterior. O caso está registrado no livro
57 Paranormal Experience and Survival of Death (“Experiência paranormal e sobrevivência da morte”, sem
58 tradução para o português), de Carl Becker, professor de ética médica da Universidade de Kyoto. Para a
59 maioria dos cientistas, a história de Iris (ou Lucía) não passa de mais um caso de almanaque, mas há quem
60 acredite que a comprovação científica da xenoglossia seria a prova definitiva de que a reencarnação é uma
61 realidade. É viver (uma ou mais vezes) para crer.
NATUSCH, Igor. Reencarnação. Dossiê Superinteressante - Sobrenatural: o lado oculto da realidade.
Edição 383-A, dez. 2017.
De acordo com o texto, a crença em reencarnação
Reencarnação
1 Em sua última vida (ao menos das que tivemos notícia), Peter Hulme era um simples funcionário
2 de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático:
3 nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não
4 nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma
5 resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também
6 tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17.
7 Parecia uma fantasia, mesmo porque inexistiam registros históricos de uma batalha na região e
8 nas circunstâncias descritas por Hulme. Investigando por conta própria, ele e seu irmão Bob encontraram
9 indícios da existência do castelo e, empolgados, resolveram viajar à Escócia em busca de provas. Contra
10 todas as expectativas, recuperaram resquícios de batalha no local apontado por Hulme – e, mergulhando
11 em documentos antiquíssimos, acharam documentos que comprovam a existência de um capitão Leverett
12 e do próprio John Raphael. Com base nesses indícios, Peter Hulme afirmou até o fim da vida que suas
13 memórias eram genuínas e ele era, de fato, a reencarnação de um soldado escocês. O caso de Hulme não
14 está acima de dúvidas: historiadores apontam inconsistências e contradições nas memórias do suposto
15 reencarnado. Mas o relato ilustra uma situação que ainda intriga a ciência: pessoas que juram recordar
16 experiências de vidas passadas, em detalhes às vezes desconcertantes para os cientistas.
17 A ideia de uma consciência que sobrevive à morte e reencarna em novos corpos é quase tão antiga
18 quanto a fé em divindades e surgiu de forma independente em inúmeras culturas ao redor do planeta. De
19 todos os cantos do globo, encontrou na Ásia o terreno mais fértil. A ideia está tão arraigada nas crenças
20 hinduístas e budistas que, em lugares como Índia e Sri Lanka, a reencarnação é vista como algo quase
21 natural. Não é à toa que surgem de lá muito dos casos considerados mais sólidos pelos pesquisadores do
22 tema – como o de Swarnlata Mishra, que desde os 3 anos recordava com riqueza de detalhes a vida de
23 outra pessoa, chamada Biya e morta quase uma década antes.
24 A naturalidade com que Swarnlata tratava os integrantes de sua “outra” família, ao ponto de
25 mencionar apelidos íntimos de gente que não conhecia pessoalmente, fez com que o caso virasse um
26 clássico e deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje. Mesmo no mundo ocidental, uma boa parcela
27 da população acredita em reencarnações, um interesse que aumentou em alguns países após o surgimento
28 do espiritismo na França do século 19. Na Europa Ocidental, dados de 2006 apontam que 22% pensam
29 que a reencarnação é uma realidade, enquanto nos EUA pesquisas falam em 20 a 25% de crença em vidas
30 passadas. Nas cidades do Ocidente, em especial no Brasil, a doutrina espírita tem grande penetração, e
31 manifestações religiosas recentes, como a cientologia, também levam as vidas passadas como parte de
32 suas crenças.
33 A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo. A maioria dos cientistas trata os relatos de
34 vidas passadas como frivolidades, frutos de autoindução ou fraudes. Além disso, não existe nenhum indício
35 científico de que a “alma” exista ou de que ela possa sobreviver à morte do corpo (ela existiria de que forma
36 entre uma encarnação e outra?). Mas é claro que alguns pesquisadores pensam diferente. Um dos mais
37 destacados foi o psiquiatra Ian Stevenson, que dedicou mais de 40 anos ao estudo de quase 3 mil relatos
38 de crianças ao redor do mundo. De acordo com Stevenson, a maioria das recordações infantis sobre vidas
39 passadas envolve mortes violentas, com relatos iniciando entre 2 a 4 anos e quase sempre desaparecendo
40 antes da adolescência. Ele também estudou sinais de nascença e tumores, dizendo que podiam relevar
41 ferimentos sofridos em vidas anteriores. Em um estudo de 1992, Stevenson cita 49 casos onde foram
42 localizados documentos médicos de pessoas que as crianças diziam ter sido em vidas anteriores. De
43 acordo com o pesquisador, a correspondência entre ferimentos mortais e sinais físicos nos supostos
44 reencarnados seria no mínimo satisfatória em 43 desses casos, 88% do total. No entanto, o próprio
45 Stevenson admitia uma grave lacuna: seus estudos não mostram como seria possível uma consciência
46 sobreviver à morte física e ingressar no corpo de outra pessoa. Seus livros são alvos de muitas críticas,
47 que vão desde análise tendenciosa dos dados até uso de fontes não confiáveis, que já acreditavam em
48 reencarnação antes dos supostos casos na família. Ou seja, não existiria evidência de reencarnação além
49 de depoimentos dos próprios reencarnados ou de indícios que, mesmo intrigantes, podem ser meras
50 coincidências.
51 Mas alguns aspectos de supostas vidas passadas ainda são desconcertantes para a ciência. É o
52 caso, por exemplo, da xenoglossia, uma capacidade súbita que algumas pessoas manifestam de falar, com
53 diferentes graus de fluência, línguas que deveriam desconhecer. Um dos casos mais marcantes é o de Iris
54 Farczády, uma húngara de 16 anos que, no ano de 1933, passou a agir como uma espanhola de 41 anos
55 chamada Lucía, morta anos antes. A suposta reencarnada esqueceu o húngaro natal e passou a falar
56 espanhol fluente, nunca mais recuperando sua personalidade anterior. O caso está registrado no livro
57 Paranormal Experience and Survival of Death (“Experiência paranormal e sobrevivência da morte”, sem
58 tradução para o português), de Carl Becker, professor de ética médica da Universidade de Kyoto. Para a
59 maioria dos cientistas, a história de Iris (ou Lucía) não passa de mais um caso de almanaque, mas há quem
60 acredite que a comprovação científica da xenoglossia seria a prova definitiva de que a reencarnação é uma
61 realidade. É viver (uma ou mais vezes) para crer.
NATUSCH, Igor. Reencarnação. Dossiê Superinteressante - Sobrenatural: o lado oculto da realidade.
Edição 383-A, dez. 2017.
Em relação à ciência, infere-se da leitura do texto que
Reencarnação
1 Em sua última vida (ao menos das que tivemos notícia), Peter Hulme era um simples funcionário
2 de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático:
3 nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não
4 nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma
5 resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também
6 tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17.
7 Parecia uma fantasia, mesmo porque inexistiam registros históricos de uma batalha na região e
8 nas circunstâncias descritas por Hulme. Investigando por conta própria, ele e seu irmão Bob encontraram
9 indícios da existência do castelo e, empolgados, resolveram viajar à Escócia em busca de provas. Contra
10 todas as expectativas, recuperaram resquícios de batalha no local apontado por Hulme – e, mergulhando
11 em documentos antiquíssimos, acharam documentos que comprovam a existência de um capitão Leverett
12 e do próprio John Raphael. Com base nesses indícios, Peter Hulme afirmou até o fim da vida que suas
13 memórias eram genuínas e ele era, de fato, a reencarnação de um soldado escocês. O caso de Hulme não
14 está acima de dúvidas: historiadores apontam inconsistências e contradições nas memórias do suposto
15 reencarnado. Mas o relato ilustra uma situação que ainda intriga a ciência: pessoas que juram recordar
16 experiências de vidas passadas, em detalhes às vezes desconcertantes para os cientistas.
17 A ideia de uma consciência que sobrevive à morte e reencarna em novos corpos é quase tão antiga
18 quanto a fé em divindades e surgiu de forma independente em inúmeras culturas ao redor do planeta. De
19 todos os cantos do globo, encontrou na Ásia o terreno mais fértil. A ideia está tão arraigada nas crenças
20 hinduístas e budistas que, em lugares como Índia e Sri Lanka, a reencarnação é vista como algo quase
21 natural. Não é à toa que surgem de lá muito dos casos considerados mais sólidos pelos pesquisadores do
22 tema – como o de Swarnlata Mishra, que desde os 3 anos recordava com riqueza de detalhes a vida de
23 outra pessoa, chamada Biya e morta quase uma década antes.
24 A naturalidade com que Swarnlata tratava os integrantes de sua “outra” família, ao ponto de
25 mencionar apelidos íntimos de gente que não conhecia pessoalmente, fez com que o caso virasse um
26 clássico e deixa pesquisadores coçando a cabeça até hoje. Mesmo no mundo ocidental, uma boa parcela
27 da população acredita em reencarnações, um interesse que aumentou em alguns países após o surgimento
28 do espiritismo na França do século 19. Na Europa Ocidental, dados de 2006 apontam que 22% pensam
29 que a reencarnação é uma realidade, enquanto nos EUA pesquisas falam em 20 a 25% de crença em vidas
30 passadas. Nas cidades do Ocidente, em especial no Brasil, a doutrina espírita tem grande penetração, e
31 manifestações religiosas recentes, como a cientologia, também levam as vidas passadas como parte de
32 suas crenças.
33 A postura da ciência diante disso tudo é de ceticismo. A maioria dos cientistas trata os relatos de
34 vidas passadas como frivolidades, frutos de autoindução ou fraudes. Além disso, não existe nenhum indício
35 científico de que a “alma” exista ou de que ela possa sobreviver à morte do corpo (ela existiria de que forma
36 entre uma encarnação e outra?). Mas é claro que alguns pesquisadores pensam diferente. Um dos mais
37 destacados foi o psiquiatra Ian Stevenson, que dedicou mais de 40 anos ao estudo de quase 3 mil relatos
38 de crianças ao redor do mundo. De acordo com Stevenson, a maioria das recordações infantis sobre vidas
39 passadas envolve mortes violentas, com relatos iniciando entre 2 a 4 anos e quase sempre desaparecendo
40 antes da adolescência. Ele também estudou sinais de nascença e tumores, dizendo que podiam relevar
41 ferimentos sofridos em vidas anteriores. Em um estudo de 1992, Stevenson cita 49 casos onde foram
42 localizados documentos médicos de pessoas que as crianças diziam ter sido em vidas anteriores. De
43 acordo com o pesquisador, a correspondência entre ferimentos mortais e sinais físicos nos supostos
44 reencarnados seria no mínimo satisfatória em 43 desses casos, 88% do total. No entanto, o próprio
45 Stevenson admitia uma grave lacuna: seus estudos não mostram como seria possível uma consciência
46 sobreviver à morte física e ingressar no corpo de outra pessoa. Seus livros são alvos de muitas críticas,
47 que vão desde análise tendenciosa dos dados até uso de fontes não confiáveis, que já acreditavam em
48 reencarnação antes dos supostos casos na família. Ou seja, não existiria evidência de reencarnação além
49 de depoimentos dos próprios reencarnados ou de indícios que, mesmo intrigantes, podem ser meras
50 coincidências.
51 Mas alguns aspectos de supostas vidas passadas ainda são desconcertantes para a ciência. É o
52 caso, por exemplo, da xenoglossia, uma capacidade súbita que algumas pessoas manifestam de falar, com
53 diferentes graus de fluência, línguas que deveriam desconhecer. Um dos casos mais marcantes é o de Iris
54 Farczády, uma húngara de 16 anos que, no ano de 1933, passou a agir como uma espanhola de 41 anos
55 chamada Lucía, morta anos antes. A suposta reencarnada esqueceu o húngaro natal e passou a falar
56 espanhol fluente, nunca mais recuperando sua personalidade anterior. O caso está registrado no livro
57 Paranormal Experience and Survival of Death (“Experiência paranormal e sobrevivência da morte”, sem
58 tradução para o português), de Carl Becker, professor de ética médica da Universidade de Kyoto. Para a
59 maioria dos cientistas, a história de Iris (ou Lucía) não passa de mais um caso de almanaque, mas há quem
60 acredite que a comprovação científica da xenoglossia seria a prova definitiva de que a reencarnação é uma
61 realidade. É viver (uma ou mais vezes) para crer.
NATUSCH, Igor. Reencarnação. Dossiê Superinteressante - Sobrenatural: o lado oculto da realidade.
Edição 383-A, dez. 2017.
O texto de Igor Natusch aborda a “reencarnação” sem, contudo, se comprometer com a sua existência. Verifica-se esse fato em trechos como