Questões de Concurso Sobre colocação pronominal em português

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Q2175127 Português
A falsa vida no Instagram

Expor-se em fotos na rede é um paliativo para a mediocridade.

Walcyr Carrasco - 14 fev 2020

Estou no aeroporto. Uma mulher pede uma selfie. Faço a pose. Sorrio. Essa cena acontece principalmente quando estou com uma novela de sucesso. Eu me pergunto: para que servem os milhões de selfies clicadas diariamente? Bem, para postar. A foto dá a impressão de intimidade. Mas nem nos conhecemos. A maioria avassaladora das pessoas que postam selfies com famosos não conhece ninguém. São imagens arrancadas, às vezes em situações horríveis. Certa vez, em Belo Horizonte, meu voo estava sendo chamado. Eu entrando no banheiro às pressas. Uma senhora me parou para fazer selfie, tentei me safar, ela insistindo… Enfim… Imaginem a situação. Tive de sorrir e me deixar fotografar! O pior é que não sei com quem estou dando um clique. Se for parar num tribunal e disser que não conheço a pessoa, haverá uma selfie! Esse mundo digital cria uma falsa impressão de intimidade!
Abro o Instagram e o que vejo? Muita gente com famosos, mais famosos que eu, óbvio. A vida de um Neymar deve ser um martírio! Também há os turistas deslumbrados. Sinto “vergonha alheia” ao ver tantos amigos postando fotos de viagem como se fossem a última bolacha do pacote. Vamos combinar. Quem precisa de mais um retrato de alguém no Coliseu? Ou na Torre Eiffel? Recentemente eu estava com um amigo, seu filho e primo adolescentes no templo budista Zu Lai, em Cotia, São Paulo. É um lindo santuário, com escadarias, pátios, esculturas. Todos tirando selfies e fazendo poses. De repente, percebi: ninguém estava olhando o templo! Só clicando. Postar era mais importante que a experiência em si.
Outra tendência são as mulheres seminuas e os rapazes de músculos à mostra. No passado, as revistas masculinas pagavam fortunas às mulheres para que ficassem nuas. Hoje é de graça, e as modelos são donas de casa, executivas… Só não há nus absolutos porque o próprio Instagram proíbe. Um amigo desempregado, já maduro, mas com músculos bem desenhados, postava uma foto de praia atrás da outra. Foi fazer uma entrevista. O possível chefe reclamou dos posts. Disse serem ruins para um candidato a cargo de direção. Apavorado, ele parou de postar. Duas semanas. Já está postando tudo de novo. Atenção: quem oferece uma vaga sempre verifica o candidato nas redes sociais. É um risco para o currículo. Fico imaginando a vida dos rapazes que postam fotos de si próprios em academias ou na praia, como pavões. Na real, contam os centavos, levam fora da namorada… Há quem poste batatinhas gordurosas orgulhosamente, como se fossem alta gastronomia. E ah… por que tanta gente faz questão de postar seus cachorrinhos? Felicidade igual au-au?
O Instagram é uma narrativa. As pessoas criam uma ficção da própria vida. Histórias de intimidade com famosos, de viagens, de alta moda, de gastronomia. Sentem-se mais interessantes, desejáveis. Os posts são um paliativo para a mediocridade de seu dia a dia. Postar virou um vício. Em que realmente acreditam? Em seu trabalho, relações? Ou na personagem criada no Instagram? Tornar a vida uma ficção só pode dar errado.

Publicado em VEJA de 19 de fevereiro de 2020. 
No quarto parágrafo lê-se:
“Sentem-se mais interessantes, desejáveis.”
Considerando a colocação pronominal nessa frase, assinale a alternativa que apresenta uma variação em desacordo com a norma culta. 
Alternativas
Q2174490 Português
A frase em que a colocação do pronome destacado NÃO obedece aos ditames da norma-padrão é:  
Alternativas
Q2174231 Português
Dentre as sentenças relacionadas a seguir, uma apresenta a colocação proclítica do pronome entre os colchetes no lugar onde deveria ocorrer ênclise, segundo a norma padrão para a escrita em língua portuguesa. Identifique essa sentença.
Alternativas
Q2172313 Português
        Com a vida profissional fazendo com que cada vez mais pessoas adiem a decisão de engravidar, congelar ou não os óvulos tornou-se um dos dilemas para muitas mulheres a partir dos 30 anos. O assunto é complexo e não se resume a apenas uma ajuda da ciência para lidar com uma característica biológica. O primeiro limitador é o alto custo entre R$ 15 mil a R$ 20 mil a cada retirada de óvulos – e, com frequência são necessárias várias para saber o número necessário. Mas, de uns tempos para cá, há empresas multinacionais que arcam com essa despesa. A inciativa começou no Vale do Silício, na Califórnia, em gigantes da tecnologia como Apple e Facebook para que as funcionárias adiassem a maternidade para não interromper a fase mais produtiva da vida.
        Esse tipo de decisão é cada vez mais determinado pelo fator profissional, avalia o especialista em reprodução humana Carlos Alberto Petta. “Com esse recurso, as mulheres em cargo de chefia têm uma possibilidade de ascender na carreira muito maior do que anos atrás, já que a vida profissional exige dedicação, tempo e esforço”, diz ele.
      A tendência, como já se verifica nas gerações mais recentes, é postergar a gravidez. “Aos 30 anos, a carreira está decolando e vai exigir mais oito ou dez anos de dedicação à empresa, o que significa menor tempo para encontrar pessoas. Por outro lado, as relações pessoais são cada vez mais difíceis. Aí temos as mulheres que não possuem parceiros nem planos, mas imaginam que um dia vão querer engravidar. Junte essas duas vertentes e temos o cenário atual”, continua Petta. Tudo isso pode gerar angústia, principalmente porque existe uma condição biológica da mulher, em que a produção de óvulos começa a declinar a partir dos 30 anos. “A gente não consegue barrar o processo de envelhecimento, mas consegue congelar, o que é uma forma da ciência corrigir uma injustiça biológica”, diz Petta.
      O processo de retirada dos óvulos dura entre 10 e 12 dias e começa com injeções de hormônios na barriga para estimular o amadurecimento dos óvulos. A medicação é cara e está incluída no preço. A aspiração é com ultrassom vaginal com punção, que dura de 5 a 10 minutos, e é feita com sedação. A questão social em função da idade, a baixa autoestima por não ter um parceiro e o medo de não poder ter filhos quando surgir a oportunidade levam as mulheres a congelar os óvulos para ter uma “garantia” que permita postergar a maternidade, segundo especialistas. A pandemia foi um divisor de águas nesse mercado. Foi aí que artistas e celebridades passaram a falar do tema. Seja para contar os resultados, incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo ou para desaconselharem o uso precoce da técnica, ao menos nos moldes atuais.
     Um tratamento caro e restrito como esse, invariavelmente, junta dois aspectos: a evolução da ciência e o lado comercial. Há clínicas que, em vez da família feliz, estampam mulheres jovens e bonitas nos cartazes publicitários com dizeres do tipo: “Trintou, congelou”. Outras, no fim da consulta, oferecem como lembrancinha uma vela com a frase: “Não desista da sua família”. “É um autêntico assédio. Já fui assediada de todas as formas. Hoje, uma mulher com mais de trinta anos, de determinada classe social, necessariamente, é abordada pelos ginecologistas e estimulada a congelar”, conta Raphaella Avena, de 41 anos, publicitária que não pretende congelar.
     “Não recrimino quem faz, não sou contra, mas acho que essa pressão acaba desmotivando a mulher a ser mãe naturalmente depois dos 40, tentando convencê-la de que isso é impossível. Não é verdade, e eu conheço várias mulheres que engravidaram depois desta idade”, conclui Raphaella.

(Jornal O Valor, 03.03.2023. Adaptado).
Assinale a alternativa cujos termos entre parêntesis substituam as palavras destacadas, em conformidade com a norma-padrão da Língua Portuguesa. 
Alternativas
Q2172098 Português

Malpassado


     Quanto mais sutil a opressão, mais cruel. Por isso, dentre as mil formas de “subjugar” os outros, tenho uma implicância especial com o bom gosto. Apontar o que há de brega, cafona, fora de moda ou exagerado nas pessoas é uma vaidade disfarçada de virtude.

     Dentre as mil formas de se oprimir pelo gosto, uma das que me dão mais raiva é o ponto da carne. Repare com que orgulho o cidadão declara ao garçom, num restaurante, “malpassado”. Fala alto, para que os outros ouçam, como se a pergunta fosse “Onde você se formou?” e a resposta, “Harvard”.

    Já o pobre diabo que quer seu bife bem passado é quase um proscrito. Eu sou churrasqueiro. Vejo uma amiga ou amigo se aproximar da grelha e pelo jeito que se arrasta, com o rabo entre as pernas, quase ganindo, sei o que vai pedir. Ela(e) chega bem perto. Inclina o corpo. Com cautela sussurra no meu ouvido como quem pede algo ilícito: “Será que rola sair uma um pouquinho mais bem passada?”.

    Venho de uma família dogmática. Minha avó tem uma pousada e no cardápio está escrito, em letras maiores do que as dos pratos: “Não servimos bife bem passado”. “No meu restaurante eu não sirvo comida ruim!”, ela diz. Eu respeito sua posição. Contudo, rompendo com os valores familiares, ajo diferente. Não ao ponto de preferir carne bem passada, mas pelo menos ao de grelhá-la mais pra quem quiser. Acredito que o churrasqueiro é um funcionário público e está a serviço dos comensais, não o contrário.

    “Ah, Antonio, mas e o ketchup na pizza?”. (Não sei por que pus entre aspas, sou eu perguntando pra mim mesmo). “E o cream cheese no sushi?”. “E o macarrão no bufê do rodízio?”. Aceitemo-los — assim como vós aceitais essa mesóclise. São todos filhos da Revolução Francesa, frutos da democracia. O preço da liberdade não é só a eterna vigilância. Entram também na conta o Crocs, a estampa de oncinha e o bife esturricado.

(Antônio Prata. Adaptado).

“Aceitemo-los” — assim como vós aceitais essa mesóclise.


A mesóclise se caracteriza pela colocação do pronome oblíquo no meio de um verbo. A partir disso e de acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa, quanto à colocação pronominal, assinale a alternativa que apresenta uma afirmação correta sobre a frase acima.

Alternativas
Respostas
551: D
552: B
553: A
554: C
555: B