Considere atentamente o texto a seguir para responder à questão.
Votar
Numa democracia, o ato de votar representa o ato de ‘fazer o governo’. Pelo voto não se serve a um
amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia.
Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão
governar por determinado prazo de tempo.
Escolhem-se pelo voto aqueles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas e quão profundamente
nos interessa essa manufatura de leis! Escolhemos igualmente pelo voto aqueles que nos vão cobrar impostos
e, pior ainda, aqueles que irão estipular a quantidade desses impostos. Vejam como é grave a escolha desses
‘cobradores’. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gota de sangue do corpo,
nos arrancar o último vintém do bolso.
Escolhem-se nas eleições aqueles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência
de todo o organismo burocrático. E, circunstância mais grave e digna de todo o interesse: dá-se aos
representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de todas as forças armadas: o exército, a
marinha, a aviação, as polícias.
Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem
em nosso lugar, como se nós próprios fossem. Entregamos a esses homens tanques, metralhadoras, canhões,
granadas, aviões, submarinos, navios de guerra — e a flor da nossa mocidade, a eles presa por um juramento
de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra
o seu amo e criador.
Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e
quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que
se estivessem escolhendo uma noiva.
(“Votar”, por Rachel de Queiroz, com adaptações)