Questões de Concurso
Sobre pontuação em português
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De acordo com a norma padrão, assinale a alternativa correta em relação ao período “No século XIX, foi uma das primeiras áreas em que se plantou café no Brasil.”.
Atente para as frases abaixo sobre a pontuação do texto. I. No segmento ...genealógica do sonho, e dá a tudo isso o título... (3o parágrafo), a vírgula pode ser corretamente suprimida, uma vez que é seguida da conjunção aditiva "e". II. No segmento ...nossa intemperança. Então, incapazes de trazê-lo... (2o parágrafo), o ponto final pode ser corretamente substituído por ponto e vírgula, feita a alteração entre maiúscula e minúscula. III. No segmento ...seduz mais o pintor do que o fundo natural... (3o parágrafo), o acréscimo de uma vírgula imediatamente após "pintor" acarretaria a separação equivocada do verbo e seu complemento. Está correto o que se afirma APENAS em
Uma crescente minoria adere a um contramovimento comportamental que prega o monotasking como a solução para uma vida mais linear
Capacidade de foco e contemplação é uma característica pouco presente nesta geração, que cresceu em um contexto multitasking e tem como comportamento vigente a ausência de linearidade. Isso é um reflexo da internet: navegar entre abas abertas as dezenas, é tão natural quanto monitorar o cotidiano através de fotos check-ins e updates.
É um constante esforço coletivo em marcar presença e sentir-se presente. O abuso dessas ferramentas de registro gera dependência e promove o desfoque. mesmo que não intencionalmente.
Todos sabemos disso. Mas todos seguimos fazendo isso.
Porém essas interrupções têm sido evitadas por uma crescente minoria convencida de que criatividade e atenção são irmas siamesas. Hoje observa-se um contramovimento comportamental que prega o monotasking como a solução para uma vida com mais memórias, saúde e dedicação. O presente passa a ser revalorizado pelo agora, e não pelo registro que deixou. Nessa lógica, filmar sua música favorita durante um show faz tão pouco sentido quanto fotografar sua comida.
O não registro, a contemplação, o detox digitale o monotasking entram em cena para propor uma revalorização do momento.
Mas como conseguir focar vivendo em um mundo onde janelas têm abas? Singelas soluções têm surgido.Tabless thursday é uma proposta da revista The Atlantic que sugere a quinta-feira como o dia em que você só poderá abrir uma aba do seu navegador.
Na internet serviços do tipo "leia depois" têm se popularizado. Eles contribuem com o monotasking ao permitir que se deixe para mais tarde aquilo que tira a atenção do agora.
(...)
Quando só a urgência é capaz de captar a atenção é hora de rever se o FOMO (sigla para Fear Of Missing Out, que é o medo de estar por fora, de não aproveitar o que você poderia estar aproveitando o que gera ansiedade) ainda é capaz de assustar. Estamos em todos os lugares parcialmente e em nenhum lugar totalmente. Em um tempo de realidades infinitas e possíveis, a onipresença cede espaço para o foco. As melhores coisas acontecem apenas uma vez.
BIZ, Eduardo. Inacessibilidade como expressão de luxo. Ponto Eletronico. Disponivel em: http://zip.netb6980>. Acesso em: 15 fev. 2016 (Adaptação).
Releia o trecho a seguir.
“Quando só a urgência é capaz de captar a atenção, é hora de rever se o FOMO (sigla para Fear Of Missing Out, que é o medo de estar por fora, de não aproveitar o que você poderia estar aproveitando, o que gera ansiedade) ainda é capaz de assustar.”
Os parênteses apresentados nesse trecho podem, de acordo com as funções de cada sinal de pontuação, ser substituídos por:
Signo: etimologia
Pelo menos hipoteticamente, a palavra signo do latim signum, vem do étimo grego secnom, raiz do verbo “cortar”, “extrair uma parte de” (naquele idioma), e que deu em português, por exemplo, secção, seccionar, sectário, seita e, possivelmente, século (em espanhol siglo) e sigla. Do derivado latino são numerosas, e expressivas, as palavras que se compuseram em nossa língua: sinal, sina, senha, sineta, insígnia, insigne, desígnio, desenho, aceno, significar etc.
A raiz primitiva parece indicar que um signo seria algo que se referisse a uma coisa maior do qual foi extraído: uma folha em relação a uma árvore, um dente em relação a um bicho etc. Nessa acepção, signo apresentaria um estreito vínculo com duas das mais usuais dentro das chamadas figuras de retórica: a metonímia (pela qual se designa um objeto por uma palavra designativa de outro: “Dez velas singravam a baía”) e a sinédoque (pela qual se emprega a parte pelo todo, o todo pela parte: “Vi passarem por mim dois olhos maravilhosos”). Claro que as figuras de retórica são aplicáveis também às linguagens não verbais: na publicidade, na dança, na decoração, no cinema, na televisão etc.
Mas o que me parecem tentadoras são as relações que podem se estabelecer entre desenho, desígnio (tão patentes na palavra inglesa design) e significado, pois essas relações parecem confluir para o entendimento do signo como “projeto significante”, como “projeto que visa a um fim significante”. (…)
De qualquer forma, convém reter a ideia de signo enquanto alguma coisa que substitui outra. Assim procede Charles Morris, um dos estudiosos da linguagem ao nível do comportamento, baseado nas experiências de Pavlov sobre os reflexos condicionados. Assim como o toque de uma sineta, paulatinamente, vai provocando, num cachorro, uma sequência de reações semelhantes à que antes lhe provocara a visão do alimento (ao qual o toque fora condicionado), assim um signo pode ser definido como toda coisa que substitui outra, de modo a desencadear (em relação a um terceiro) um complexo análogo de reações. Ou ainda, para adotar a definição do fundador da Semiótica, Charles Sanders Pierce (1839 – 1914): signo, ou “representante”, é toda coisa que substitui outra, representando-a para alguém, sob certos aspectos e em certa medida.
Décio Pignatari. Informação, Linguagem e Comunicação. São Paulo, Cultrix, 1993
Considere a frase extraída do texto.
Mas o que me parecem tentadoras são as relações que podem se estabelecer entre desenho, desígnio (tão patentes na palavra inglesa design) e significado, pois essas relações parecem confluir para o entendimento do signo como “projeto significante”, como “projeto que visa a um fim significante”.
Sob o aspecto sintático e morfológico, é correto afirmar:
1. As palavras sublinhadas são pronomes relativos.
2. Se omitirmos o “a” depois do verbo visar, a frase mantém sua correção gramatical.
3. A vírgula antes de “pois” é obrigatória, usada para separar oração coordenada sindética.
4. A palavra “significante”, nas duas vezes em que aparece, é um adjetivo e tem a função de adjunto adnominal no contexto em que está inserida.
5. A expressão “a um fim significante” é um objeto indireto.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.
No ensino, como em outras coisas, a liberdade deve ser uma questão de grau. Há liberdades que não podem ser toleradas. Uma vez conheci uma senhora que afirmava que não se deve proibir alguma coisa a uma criança, pois deve desenvolver sua natureza de dentro para fora. “E se a sua natureza a levar a engolir alfinetes?” indaguei, lamento dizer que a resposta foi puro vitupério. No entanto, toda criança abandonada a si mesma, mais cedo ou mais tarde engolirá alfinetes, tomará veneno, cairá de uma janela alta ou doutra forma chegará a mau fim. Um pouquinho mais velhos, os meninos, podendo, não se lavam, comem demais, fumam até enjoar, apanham resfriados por molhar os pés, e assim por diante – além do fato de se divertirem importunando anciãos, que nem sempre possuem a capacidade de resposta de Eliseu. Quem advoga a liberdade da educação não quer dizer que as crianças devam fazer, o dia todo, o que lhes der na veneta. Deve existir um elemento de disciplina e autoridade; a questão é até que ponto, e como deve ser exercido.
Russel, Bertrand. Ensaios céticos in: Platão e Fiorin: Para entender o texto. Vocabulário: Vitupério: insulto, ofensa. Eliseu: profeta bíblico Assinale a alternativa correta.
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: – Psiu... Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro... que fundo!
Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda.
Carlos Drummond de Andrade
O uso do travessão em “– Psiu... Não acorde o menino.” tem como função:
I. As duas vírgulas separam uma oração subordinativa adjetiva restritiva. II. O verbo correm é intransitivo. III. O trecho tendem a ter é uma locução verbal.
Quais estão corretas?
I. As vírgulas da linha 18 possuem a mesma função: separar aposto. II. O travessão da linha 13 é empregado de forma inadequada, devendo ser suprimido, pois há uma vírgula após o vocábulo tempo (l. 13). III. Os travessões da linha 01 poderiam ser substituídos por vírgulas.
Quais estão INCORRETAS?

Por Rodrigo Franklin Sousa A leitura, do ponto de vista do professor, deve ser concebida como espaço de formação e constituição da identidade do sujeito. Isso quer dizer que trabalhar com o texto de língua portuguesa, e trabalhar com o reconhecimento de gêneros discursivos, é trabalhar com a linguagem em seu sentido mais amplo e pleno. Primordial é a noção de que a linguagem em uso não pode nem deve ser considerada como simples “acidente” ou apreensão localizada de um sistema abstrato, mas como lugar de interação social e construção de relações, de valores e de significados. Enfim, como lugar de construção de identidade e crescimento humanos. Uma das formas pela qual o texto promove essa construção e esse crescimento é por meio das interações que fomenta. Engajar-se com um texto, qualquer que seja ele, é interagir de uma forma ou de outra com outros sujeitos, em contextos sociais e históricos reais. Essas interações podem ser abordadas e visualizadas por múltiplos ângulos. Um deles é o da interlocução entre um sujeito e um outro. Trata-se de visualizar mais do que simplesmente a “intenção do autor” como um elemento passivo a ser “encontrado” pelas marcas deixadas no texto; trata-se de ficar face a face com um outro, com um ente que o leitor imagina, com o qual tenta engajar-se e ao qual tenta responder. A relação de alteridade é o eixo fundamental da linguagem. O diálogo com o texto é um diálogo com o outro. Ainda que, no caso do texto escrito, esse outro seja uma reconstrução do leitor, essa própria reconstrução já é um exercício. Um exercício, aliás, que desenvolverá habilidades indispensáveis, já que buscar entender o outro é não apenas uma forma de forjarmos nossa própria identidade como também algo que traz consequências concretas e reais para nossas vidas. No formidável livro A Conquista da América, Tzvetan Todorov explora o que ele chama de o discurso da diferença. Em seu estudo, Todorov demonstra como muito das tragédias que marcaram os anos iniciais do descobrimento, e cujas marcas se fazem sentir até hoje, foi fruto de leituras erradas que tanto espanhóis quanto os ameríndios fizeram uns dos outros. Assim, consideramos que desenvolver habilidades de entendimento do outro é fundamental para a formação de atores sociais responsáveis. Em alguns casos, como no estudado por Todorov, pode ser o caminho para que se evitem tragédias de proporções inimagináveis. Entendida como um exercício de contato com o outro, a leitura pode ser vista como uma atividade que afeta nossos relacionamentos imediatos, o nosso país, ou o planeta. A leitura de mensagens pessoais ou de um memorando no trabalho requer a detecção de subtextos, ironias, sinalizações de conflitos. A boa leitura de matérias jornalísticas ou de programas e propostas de governo requer que detectemos tendências ideológicas, parcialidade nas informações e boa ou má vontade na apresentação dos fatos. Habilidades de leitura também podem ser aplicadas aos mais diversos tipos de texto. Mesmo com suas especificidades, todos envolvem tipos semelhantes de questionamentos, de pressuposições de sentimentos e de raciocínios. Desenvolver boas habilidades de leitura é algo que impacta nossa vida em todas as suas dimensões. Aprender a ler bem (e, consequentemente, ensinar a ler bem) vai muito além de cumprir um currículo acadêmico, ou de reproduzir um discurso vazio que não terá qualquer impacto real. Aprender e ensinar a ler são atividades éticas no sentido mais profundo do termo. Ao trazer o termo “ética” para a reflexão sobre o ensino de língua portuguesa e para o trabalho com textos e gêneros discursivos, não quero de maneira nenhuma remeter a um discurso vazio, ou a uma série de regras que dizem respeito a como ser “bonzinhos”. Pensar sobre ética é refletir sobre como viver melhor. A reflexão ética busca soluções sobre como podemos ter uma vida com mais qualidade, uma vida mais plena e com realização humana real. Não podemos esquecer que todas as questões éticas, embora digam respeito a nossa responsabilidade pessoal como indivíduos, afetam nós mesmos e os nossos relacionamentos. As questões éticas sempre são interpessoais. Sempre envolvem um indivíduo e um outro. Sempre envolvem um indivíduo e a sociedade que o cerca. Sendo assim, por definição, elas também sempre envolvem a interação desses indivíduos entre si e com a sociedade que os cerca. O que eu penso, falo e escrevo afeta a vida dos outros. O que os outros pensam, falam e escrevem necessariamente afeta também a minha vida. Trabalhar a leitura é capacitar para a interação com o outro, para a vivência na sociedade. É ensinar a viver. SOUSA, Rodrigo Franklin. Língua Portuguesa: alteridade e Ética. Revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Escala, Ed. 52, mar./abr./2015, p. 33-35. [Excerto adaptado] No que concerne ao uso das aspas no texto, considere as seguintes afirmações. I - No terceiro parágrafo, as aspas foram usadas para demarcar uma crítica a um possível discurso sobre o trabalho com o texto. II - No nono parágrafo, as aspas foram usadas, respectivamente, para marcar um destaque a um termo e para fazer referência, criticamente, a uma concepção com a qual o autor não concorda. III - No terceiro parágrafo, as aspas foram usadas, respectivamente, para demarcar uma voz alheia citada literalmente e para dar ênfase a um termo. IV - No nono parágrafo, as aspas foram usadas, nas duas ocorrências, para dar destaque a termos e conseguir a adesão do leitor. Das afirmações, estão corretas
Sobre a passagem do texto – Como diz o adágio popular vivemos na “casa da mãe Joana” – analise os itens abaixo:
I. O conectivo “como” é conjunção subordinativa conformativa e poderia ser substituído por “consoante”.
II. Há um erro de pontuação, pois deveria haver uma vírgula separando a primeira oração da segunda.
III. O sujeito da primeira oração está anteposto ao verbo, o que é permitido pela norma culta.
Assinale a alternativa correta:
A língua que falamos
Esse negócio de língua estrangeira em país colonizado é fogo. A começar que a nossa língua oficial, o português, nós a recebemos do colonizador luso, o que foi uma bênção. Imagina se, como na África, nós tivéssemos idiomas nativos fixados em profundidade, ou, então, se fosse realidade a falada “língua geral” dos índios, que alguns tentaram, mas jamais conseguiram impor como língua oficial do brasileiro. Mesmo porque as tribos indígenas que povoaram e ainda remanescem pelos sertões, cada uma fala seu dialeto; o pataxó, por exemplo, não tem nada a ver com o falar dos amazônicos; pelo menos é o que nos informam os especialistas.
Mas, deixando de lado os índios que nós, pelo menos, pretendemos ser, falemos de nós, os brasileiros, com o nosso português adaptado a estas latitudes e língua oficial dos nossos vários milhões de nativos. Pois aqui no Brasil, se você for a fundo no assunto, toma um susto. Pegue um jornal, por exemplo: é todo recheado de inglês, como um peru de farofa. Nas páginas dedicadas ao show business, que não se pode traduzir literalmente por “arte teatral”, tem significação mais extensa, inclui as apresentações em várias espécies de salas, ou até na rua, tudo é show. E o leitor do noticiário, se não for descolado no papo, a todo instante tropeça e se engasga com rap, punk, funk, soap-book, etc., etc. Cantor de forró do Ceará, do Recife ou da Bahia só se apresenta com seu song book, onde as melodias podem ser originalmente nativas, mas têm como palavras-chave esse inglês bastardo que eles inventaram e não se sabe se nem os próprios americanos conhecem.
No esporte é a mesma coisa, ou pior. Já que os nossos esportes foram importados (até a palavra que os representa – sport – é inglesa). O meu querido ministro Pelé tenta descaracterizar um pouco o neologismo, chamando-o de “desporto”. Mas não pega.
Verdade que o jornalismo esportivo procura aclimatar o dialeto, traduzindo como pede os nomes importados – goal keeper já é goleiro, back é beque, e há traduções já tão assimiladas que ninguém diz mais senão “centroavante”, “meio de campo”, etc. Engraçado nós sermos um país tão apaixonado por esporte, especialmente o futebol (mais foot-ball), e nunca fomos capazes de inventar nenhuma modalidade de peleja esportiva. Os índios têm lá os jogos deles, mas devem ser chatos ou difíceis, já que a gente não os conhece nem de nome. Ficamos nas adaptações tipo “futevôlei” que, pelo menos, é engraçado.
Raquel de Queiroz – excerto
Assinale a alternativa em que a justificativa para o uso da vírgula está correta.
Texto
Fuga
(Fernando Sabino)
Mal o pai colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadeira pela sala, fazendo um barulho infernal.
- Para com esse barulho, meu filho – falou, sem se voltar.
Com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.
- Pois então para de empurrar a cadeira.
- Eu vou embora – foi a resposta.
Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar do chão as suas coisinhas, enrolandoas num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de plástico com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da despensa? - a mãe mais tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.
A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente, o pai olhou ao redor e não viu o menino. Deu com a porta da rua aberta, correu até o portão:
- Viu um menino saindo desta casa? – gritou para o operário que descansava diante da obra do outro lado da rua, sentado no meio-fio.
- Saiu agora mesmo com a trouxinha – informou ele.
Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo do muro. A trouxa, arrastada no chão, ia deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o botão, o pedaço de biscoito e – saíra de casa prevenido – uma moeda de 1 cruzeiro. Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em direção à Avenida, como disposto a atirar-se diante do ônibus que surgia a distância.
- Meu filho, cuidado!
O ônibus deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como a um animalzinho:
- Que susto você me passou, meu filho – e apertava-o contra o peito, comovido.
- Deixa eu descer, papai. Você está me machucando.
Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:
- Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai.
- Me larga. Eu quero ir embora.
Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala – tendo antes o cuidado de fechar a porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.
- Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.
- Fico, mas vou empurrar esta cadeira.
E o barulho recomeçou.
Assinale a opção que apresenta uma forma reescrita do trecho abaixo na qual, alterando-se a pontuação, ocorra também alteração de sentido.
“Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de
lhe dar umas palmadas:” (15º§)
Texto
Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos. Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim… do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar quem sabe… nos e‐mails trocados.
Podemos nos telefonar, conversar algumas bobagens… aí os dias vão passar, meses… anos… até este contato tornar‐se cada vez mais raro.
Vamos nos perder no tempo… um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: “Quem são aquelas pessoas?”
Diremos… que eram nossos amigos. E… isso vai doer tanto!
Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida! A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente…
Quando o nosso grupo estiver incompleto… nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrimas nos abraçaremos.
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado.
E nos perderemos no tempo… Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades seja a causa de grandes tempestades…
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
(Disponível em:<http://astexis.wordpress.com/2008/04/20/sobre‐as‐amizades‐texto‐completo‐de‐fernando‐pessoa/>
Esquecível, Selma se perde na biografia de Luther King
Inácio Araujo
A primeira reação foi de surpresa: Selma foi indicado ao Oscar de melhor filme e, praticamente, a nada mais (a outra indicação: melhor canção). Vendo-o, isso se explica: é muito mais ao assunto que o prêmio dá importância do que propriamente ao filme de Ava DuVernay.
Com efeito, sempre é importante, de certa maneira, um filme que trate da segregação e do racismo. No entanto, Selma é pouco mais que um telefilme sobre um momento decisivo da luta dos negros dos EUA pela igualdade.
No centro dela, Martin Luther King e sua estratégia pacifista. Do lado contrário, o resistente racismo do Alabama, com sua Ku Klux Klan, seus xerifes ferozes e seu governador George Wallace.
Fechando o triângulo político do drama, temos em Washington o presidente Lyndon Johnson, pressionado por todos os lados, e o FBI de Edgar Hoover (também racista).
Se no início vemos Luther King recebendo o Nobel da Paz em 1964, pouco depois descobrimos que, no sul dos EUA, esse papo de prêmio não cola: a promessa é de chumbo grosso.
O “chumbo grosso” inclui ameaças, escutas telefônicas e intrigas sobre a vida pessoal de King, que reage percebendo que quanto mais intolerantes forem os brancos, melhor será para a sua causa.
Por isso, Selma é uma cidade estratégica para King: ali dá as cartas um xerife tipo cão raivoso. Ele planeja a decisiva marcha de Selma à capital Montgomery, que determina enfim o envio ao congresso, por Lyndon Johnson, da lei que abre nacionalmente o direito de voto à população negra.
DuVernay conduz esse drama frouxamente. Ora parece investir na épica implícita na luta dos negros nos anos 1960, ora parece recuar e, acompanhando os fatos, fixa-se na violência policial sulista. Ora focaliza o melodrama familiar, ora destaca a política.
É possível que cada um desses aspectos faça sentido. No entanto, essa espécie de indecisão sobre que aspecto colocar em evidência tira do filme toda a perspectiva que não meramente sentimental.
Por isso, podemos todos concordar com a causa referida em Selma e, no mesmo movimento, esquecer o filme meia hora depois.
FOLHA DE S. PAULO. São Paulo, 6 fev. 2015, p. E3. (Ilustrada).