Questões de Vestibular de Literatura - Escolas Literárias
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O visitante (1968)
ANA (tecendo ou próximo do tear, como se estivesse acabado de tecer alguma coisa): muitas vezes tenho saudade das tuas pequenas roupas. Eram tão macias! (sorrindo) Tinha uma touca que, por engano meu, quase te cobria os olhos.
MARIA (seca): É bem do que eu preciso ainda hoje: antolhos.
ANA (meiga): E uma camisola tão comprida... branca. Nos punhos e no decote, coloquei umas fitas. E te arrastavas, choravas se, de repente, na noite, não me vias.
MARIA: Agora vejo-te sempre. Cada noite. Cada dia. (pausa)
ANA: Eras mansa. Me amavas. Ainda me amas agora?
MARIA: Ah, que pergunta! As coisas se transformam. Nós também.
ANA: A casa ainda é a mesma. E a mesa e...
MARIA (interrompendo): A casa, a mesa... todas essas coisas vivem mais do que nós. Ficam aí paradas. E assim mesmo envelhecem. Tu pensas que são as mesmas coisas e não são. (...)
Fonte: HILST, Hilda. Volume I. São Paulo: Nankin Editorial, 2000, p. 101.
Considerando a leitura do trecho de O visitante, assinale a alternativa CORRETA quanto ao gênero literário.
Cantoria Meti o peito em Goiás e canto como ninguém. Canto as pedras, canto as águas, as lavadeiras, também.
Cantei um velho quintal com murada de pedra. Cantei um portão alto com escada caída.
Cantei a casinha velha de velha pobrezinha. Cantei colcha furada estendida no lajedo; muito sentida, pedi remendos pra ela. (...)
Fonte: CORALINA, Cora. Meu livro de Cordel. São Paulo: Global, 2013, p. 9.
A partir da leitura do excerto de Cantoria, é INCORRETO afirmar que
Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte. (...)
COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 9.
Observando a passagem do romance, é CORRETO afirmar que
Mundo Pequeno
Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas. Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito. Eu pensava que fosse um sujeito escaleno. – Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse. Ele fez um limpamento em meus receios. O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas... E se riu. Você não é de bugre? – ele continuou. Que sim, eu respondi. Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas – Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros. Há que apenas saber errar bem o seu idioma. Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de agramática.
Fonte: BARROS, Manoel de. O livro das Ignorãças. In: Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010, p. 319-320.
O excerto do poema traz o descobrimento, inquietação e questionamento do menino Manoel pela “doença das frases”.
É CORRETO afirmar que esta doença pode ser lida como um desvio: