Questões de Vestibular UNESP 2011 para Vestibular
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singular estado:
Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente
possuem o Poder, perdem o Poder, reconquistam o Poder,
trocam o Poder... O Poder não sai duns certos grupos,
como uma pela* que quatro crianças, aos quatro cantos de
uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.
Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder,
esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os
outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da
Fazenda, a ruína do País!
Os outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua
própria opinião e os seus jornais — os verdadeiros liberais, os
salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses
do País.
Mas, coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem
tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da
Fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E
os que não estão no Poder movem-se, conspiram, cansam-se,
para deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros
liberais, e os interesses do País!
Até que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os
verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação
herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em tanto
que os que caíram do Poder se resignam, cheios de fel e de tédio
— a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.
Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de
doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha
sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do País...
Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado
a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas votações
mais hostis...
Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de
dirigir as coisas públicas — pela Imprensa, pela palavra dos
oradores, pelas incriminações da opinião, pela afirmativa
constitucional do poder moderador...
E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que
continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele vai,
feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num chouto**
tão triunfante!
(*) Pela: bola.
(**) Chouto: trote miúdo.
(Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].)
I. Os que estão no poder não querem sair e os que não estão querem entrar.
II. Quando um partido ético está no poder, tudo fica melhor.
III. Os governantes são bons e éticos, mas vivem a trocar acusações infundadas.
IV. Os políticos que estão fora do poder julgam-se os melhores eticamente para governar.
As frases que representam a opinião do cronista estão contidas apenas em:
singular estado:
Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente
possuem o Poder, perdem o Poder, reconquistam o Poder,
trocam o Poder... O Poder não sai duns certos grupos,
como uma pela* que quatro crianças, aos quatro cantos de
uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.
Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder,
esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os
outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da
Fazenda, a ruína do País!
Os outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua
própria opinião e os seus jornais — os verdadeiros liberais, os
salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses
do País.
Mas, coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem
tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da
Fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E
os que não estão no Poder movem-se, conspiram, cansam-se,
para deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros
liberais, e os interesses do País!
Até que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os
verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação
herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em tanto
que os que caíram do Poder se resignam, cheios de fel e de tédio
— a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.
Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de
doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha
sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do País...
Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado
a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas votações
mais hostis...
Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de
dirigir as coisas públicas — pela Imprensa, pela palavra dos
oradores, pelas incriminações da opinião, pela afirmativa
constitucional do poder moderador...
E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que
continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele vai,
feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num chouto**
tão triunfante!
(*) Pela: bola.
(**) Chouto: trote miúdo.
(Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].)
Nesta passagem do sexto parágrafo, o cronista se utiliza figuradamente da palavra fel para significar
singular estado:
Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente
possuem o Poder, perdem o Poder, reconquistam o Poder,
trocam o Poder... O Poder não sai duns certos grupos,
como uma pela* que quatro crianças, aos quatro cantos de
uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.
Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder,
esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os
outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da
Fazenda, a ruína do País!
Os outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua
própria opinião e os seus jornais — os verdadeiros liberais, os
salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses
do País.
Mas, coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem
tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da
Fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E
os que não estão no Poder movem-se, conspiram, cansam-se,
para deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros
liberais, e os interesses do País!
Até que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os
verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação
herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em tanto
que os que caíram do Poder se resignam, cheios de fel e de tédio
— a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.
Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de
doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha
sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do País...
Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado
a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas votações
mais hostis...
Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de
dirigir as coisas públicas — pela Imprensa, pela palavra dos
oradores, pelas incriminações da opinião, pela afirmativa
constitucional do poder moderador...
E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que
continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele vai,
feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num chouto**
tão triunfante!
(*) Pela: bola.
(**) Chouto: trote miúdo.
(Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].)
singular estado:
Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente
possuem o Poder, perdem o Poder, reconquistam o Poder,
trocam o Poder... O Poder não sai duns certos grupos,
como uma pela* que quatro crianças, aos quatro cantos de
uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.
Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder,
esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os
outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da
Fazenda, a ruína do País!
Os outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua
própria opinião e os seus jornais — os verdadeiros liberais, os
salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses
do País.
Mas, coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem
tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da
Fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E
os que não estão no Poder movem-se, conspiram, cansam-se,
para deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros
liberais, e os interesses do País!
Até que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os
verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação
herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em tanto
que os que caíram do Poder se resignam, cheios de fel e de tédio
— a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.
Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de
doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha
sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do País...
Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado
a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas votações
mais hostis...
Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de
dirigir as coisas públicas — pela Imprensa, pela palavra dos
oradores, pelas incriminações da opinião, pela afirmativa
constitucional do poder moderador...
E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que
continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele vai,
feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num chouto**
tão triunfante!
(*) Pela: bola.
(**) Chouto: trote miúdo.
(Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].)
Com esta frase, o cronista afirma que
singular estado:
Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente
possuem o Poder, perdem o Poder, reconquistam o Poder,
trocam o Poder... O Poder não sai duns certos grupos,
como uma pela* que quatro crianças, aos quatro cantos de
uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.
Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder,
esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os
outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da
Fazenda, a ruína do País!
Os outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua
própria opinião e os seus jornais — os verdadeiros liberais, os
salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses
do País.
Mas, coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem
tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da
Fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E
os que não estão no Poder movem-se, conspiram, cansam-se,
para deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros
liberais, e os interesses do País!
Até que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os
verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação
herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em tanto
que os que caíram do Poder se resignam, cheios de fel e de tédio
— a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.
Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de
doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha
sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do País...
Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado
a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas votações
mais hostis...
Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de
dirigir as coisas públicas — pela Imprensa, pela palavra dos
oradores, pelas incriminações da opinião, pela afirmativa
constitucional do poder moderador...
E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que
continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele vai,
feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num chouto**
tão triunfante!
(*) Pela: bola.
(**) Chouto: trote miúdo.
(Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].)
O fim do marketing
A empresa vende ao consumidor
— com a web não é mais assim
Com a internet se tornando onipresente, os Quatro Ps do
marketing — produto, praça, preço e promoção — não funcionam
mais. O paradigma era simples e unidirecional: as
empresas vendem aos consumidores. Nós criamos produtos;
fixamos preços; definimos os locais onde vendê-los; e fazemos
anúncios. Nós controlamos a mensagem. A internet transforma
todas essas atividades.
(...)
Os produtos agora são customizados em massa, envolvem
serviços e são marcados pelo conhecimento e os gostos dos
consumidores. Por meio de comunidades online, os consumidores
hoje participam do desenvolvimento do produto. Produtos
estão se tornando experiências. Estão mortas as velhas
concepções industriais na definição e marketing de produtos.
(...)
Graças às vendas online e à nova dinâmica do mercado,
os preços fixados pelo fornecedor estão sendo cada vez mais
desafiados. Hoje questionamos até o conceito de “preço”, à
medida que os consumidores ganham acesso a ferramentas
que lhes permitem determinar quanto querem pagar. Os consumidores
vão oferecer vários preços por um produto, dependendo
de condições específicas. Compradores e vendedores
trocam mais informações e o preço se torna fluido. Os mercados,
e não as empresas, decidem sobre os preços de produtos
e serviços.
(...)
A empresa moderna compete em dois mundos: um físico
(a praça, ou marketplace) e um mundo digital de informação
(o espaço mercadológico, ou marketspace). As empresas não
devem preocupar-se com a criação de um web site vistoso,
mas sim de uma grande comunidade online e com o capital
de relacionamento. Corações, e não olhos, são o que conta.
Dentro de uma década, a maioria dos produtos será vendida
no espaço mercadológico. Uma nova fronteira de comércio é a
marketface — a interface entre o marketplace e o marketspace.
(...)
Publicidade, promoção, relações públicas etc. exploram
“mensagens” unidirecionais, de um-para-muitos e de tamanho
único, dirigidas a consumidores sem rosto e sem poder.
As comunidades online perturbam drasticamente esse modelo.
Os consumidores com frequência têm acesso a informações
sobre os produtos, e o poder passa para o lado deles. São eles
que controlam as regras do mercado, não você. Eles escolhem
o meio e a mensagem. Em vez de receber mensagens enviadas
por profissionais de relações públicas, eles criam a “opinião
pública” online.
Os marqueteiros estão perdendo o controle, e isso é muito bom.
(Don Tapscott. O fim do marketing. INFO, São Paulo,Editora Abril, janeiro 2011, p. 22.)
O fim do marketing
A empresa vende ao consumidor
— com a web não é mais assim
Com a internet se tornando onipresente, os Quatro Ps do
marketing — produto, praça, preço e promoção — não funcionam
mais. O paradigma era simples e unidirecional: as
empresas vendem aos consumidores. Nós criamos produtos;
fixamos preços; definimos os locais onde vendê-los; e fazemos
anúncios. Nós controlamos a mensagem. A internet transforma
todas essas atividades.
(...)
Os produtos agora são customizados em massa, envolvem
serviços e são marcados pelo conhecimento e os gostos dos
consumidores. Por meio de comunidades online, os consumidores
hoje participam do desenvolvimento do produto. Produtos
estão se tornando experiências. Estão mortas as velhas
concepções industriais na definição e marketing de produtos.
(...)
Graças às vendas online e à nova dinâmica do mercado,
os preços fixados pelo fornecedor estão sendo cada vez mais
desafiados. Hoje questionamos até o conceito de “preço”, à
medida que os consumidores ganham acesso a ferramentas
que lhes permitem determinar quanto querem pagar. Os consumidores
vão oferecer vários preços por um produto, dependendo
de condições específicas. Compradores e vendedores
trocam mais informações e o preço se torna fluido. Os mercados,
e não as empresas, decidem sobre os preços de produtos
e serviços.
(...)
A empresa moderna compete em dois mundos: um físico
(a praça, ou marketplace) e um mundo digital de informação
(o espaço mercadológico, ou marketspace). As empresas não
devem preocupar-se com a criação de um web site vistoso,
mas sim de uma grande comunidade online e com o capital
de relacionamento. Corações, e não olhos, são o que conta.
Dentro de uma década, a maioria dos produtos será vendida
no espaço mercadológico. Uma nova fronteira de comércio é a
marketface — a interface entre o marketplace e o marketspace.
(...)
Publicidade, promoção, relações públicas etc. exploram
“mensagens” unidirecionais, de um-para-muitos e de tamanho
único, dirigidas a consumidores sem rosto e sem poder.
As comunidades online perturbam drasticamente esse modelo.
Os consumidores com frequência têm acesso a informações
sobre os produtos, e o poder passa para o lado deles. São eles
que controlam as regras do mercado, não você. Eles escolhem
o meio e a mensagem. Em vez de receber mensagens enviadas
por profissionais de relações públicas, eles criam a “opinião
pública” online.
Os marqueteiros estão perdendo o controle, e isso é muito bom.
(Don Tapscott. O fim do marketing. INFO, São Paulo,Editora Abril, janeiro 2011, p. 22.)
Nesta passagem do quinto parágrafo, ao empregar a expressão consumidores sem rosto e sem poder, o autor sugere que:
O fim do marketing
A empresa vende ao consumidor
— com a web não é mais assim
Com a internet se tornando onipresente, os Quatro Ps do
marketing — produto, praça, preço e promoção — não funcionam
mais. O paradigma era simples e unidirecional: as
empresas vendem aos consumidores. Nós criamos produtos;
fixamos preços; definimos os locais onde vendê-los; e fazemos
anúncios. Nós controlamos a mensagem. A internet transforma
todas essas atividades.
(...)
Os produtos agora são customizados em massa, envolvem
serviços e são marcados pelo conhecimento e os gostos dos
consumidores. Por meio de comunidades online, os consumidores
hoje participam do desenvolvimento do produto. Produtos
estão se tornando experiências. Estão mortas as velhas
concepções industriais na definição e marketing de produtos.
(...)
Graças às vendas online e à nova dinâmica do mercado,
os preços fixados pelo fornecedor estão sendo cada vez mais
desafiados. Hoje questionamos até o conceito de “preço”, à
medida que os consumidores ganham acesso a ferramentas
que lhes permitem determinar quanto querem pagar. Os consumidores
vão oferecer vários preços por um produto, dependendo
de condições específicas. Compradores e vendedores
trocam mais informações e o preço se torna fluido. Os mercados,
e não as empresas, decidem sobre os preços de produtos
e serviços.
(...)
A empresa moderna compete em dois mundos: um físico
(a praça, ou marketplace) e um mundo digital de informação
(o espaço mercadológico, ou marketspace). As empresas não
devem preocupar-se com a criação de um web site vistoso,
mas sim de uma grande comunidade online e com o capital
de relacionamento. Corações, e não olhos, são o que conta.
Dentro de uma década, a maioria dos produtos será vendida
no espaço mercadológico. Uma nova fronteira de comércio é a
marketface — a interface entre o marketplace e o marketspace.
(...)
Publicidade, promoção, relações públicas etc. exploram
“mensagens” unidirecionais, de um-para-muitos e de tamanho
único, dirigidas a consumidores sem rosto e sem poder.
As comunidades online perturbam drasticamente esse modelo.
Os consumidores com frequência têm acesso a informações
sobre os produtos, e o poder passa para o lado deles. São eles
que controlam as regras do mercado, não você. Eles escolhem
o meio e a mensagem. Em vez de receber mensagens enviadas
por profissionais de relações públicas, eles criam a “opinião
pública” online.
Os marqueteiros estão perdendo o controle, e isso é muito bom.
(Don Tapscott. O fim do marketing. INFO, São Paulo,Editora Abril, janeiro 2011, p. 22.)
Nesta passagem do penúltimo parágrafo do texto, o autor repete por três vezes o pronome eles, para referir-se enfaticamente aos
O fim do marketing
A empresa vende ao consumidor
— com a web não é mais assim
Com a internet se tornando onipresente, os Quatro Ps do
marketing — produto, praça, preço e promoção — não funcionam
mais. O paradigma era simples e unidirecional: as
empresas vendem aos consumidores. Nós criamos produtos;
fixamos preços; definimos os locais onde vendê-los; e fazemos
anúncios. Nós controlamos a mensagem. A internet transforma
todas essas atividades.
(...)
Os produtos agora são customizados em massa, envolvem
serviços e são marcados pelo conhecimento e os gostos dos
consumidores. Por meio de comunidades online, os consumidores
hoje participam do desenvolvimento do produto. Produtos
estão se tornando experiências. Estão mortas as velhas
concepções industriais na definição e marketing de produtos.
(...)
Graças às vendas online e à nova dinâmica do mercado,
os preços fixados pelo fornecedor estão sendo cada vez mais
desafiados. Hoje questionamos até o conceito de “preço”, à
medida que os consumidores ganham acesso a ferramentas
que lhes permitem determinar quanto querem pagar. Os consumidores
vão oferecer vários preços por um produto, dependendo
de condições específicas. Compradores e vendedores
trocam mais informações e o preço se torna fluido. Os mercados,
e não as empresas, decidem sobre os preços de produtos
e serviços.
(...)
A empresa moderna compete em dois mundos: um físico
(a praça, ou marketplace) e um mundo digital de informação
(o espaço mercadológico, ou marketspace). As empresas não
devem preocupar-se com a criação de um web site vistoso,
mas sim de uma grande comunidade online e com o capital
de relacionamento. Corações, e não olhos, são o que conta.
Dentro de uma década, a maioria dos produtos será vendida
no espaço mercadológico. Uma nova fronteira de comércio é a
marketface — a interface entre o marketplace e o marketspace.
(...)
Publicidade, promoção, relações públicas etc. exploram
“mensagens” unidirecionais, de um-para-muitos e de tamanho
único, dirigidas a consumidores sem rosto e sem poder.
As comunidades online perturbam drasticamente esse modelo.
Os consumidores com frequência têm acesso a informações
sobre os produtos, e o poder passa para o lado deles. São eles
que controlam as regras do mercado, não você. Eles escolhem
o meio e a mensagem. Em vez de receber mensagens enviadas
por profissionais de relações públicas, eles criam a “opinião
pública” online.
Os marqueteiros estão perdendo o controle, e isso é muito bom.
(Don Tapscott. O fim do marketing. INFO, São Paulo,Editora Abril, janeiro 2011, p. 22.)
Nas orações que compõem os dois períodos transcritos, os termos destacados exercem a função de
O fim do marketing
A empresa vende ao consumidor
— com a web não é mais assim
Com a internet se tornando onipresente, os Quatro Ps do
marketing — produto, praça, preço e promoção — não funcionam
mais. O paradigma era simples e unidirecional: as
empresas vendem aos consumidores. Nós criamos produtos;
fixamos preços; definimos os locais onde vendê-los; e fazemos
anúncios. Nós controlamos a mensagem. A internet transforma
todas essas atividades.
(...)
Os produtos agora são customizados em massa, envolvem
serviços e são marcados pelo conhecimento e os gostos dos
consumidores. Por meio de comunidades online, os consumidores
hoje participam do desenvolvimento do produto. Produtos
estão se tornando experiências. Estão mortas as velhas
concepções industriais na definição e marketing de produtos.
(...)
Graças às vendas online e à nova dinâmica do mercado,
os preços fixados pelo fornecedor estão sendo cada vez mais
desafiados. Hoje questionamos até o conceito de “preço”, à
medida que os consumidores ganham acesso a ferramentas
que lhes permitem determinar quanto querem pagar. Os consumidores
vão oferecer vários preços por um produto, dependendo
de condições específicas. Compradores e vendedores
trocam mais informações e o preço se torna fluido. Os mercados,
e não as empresas, decidem sobre os preços de produtos
e serviços.
(...)
A empresa moderna compete em dois mundos: um físico
(a praça, ou marketplace) e um mundo digital de informação
(o espaço mercadológico, ou marketspace). As empresas não
devem preocupar-se com a criação de um web site vistoso,
mas sim de uma grande comunidade online e com o capital
de relacionamento. Corações, e não olhos, são o que conta.
Dentro de uma década, a maioria dos produtos será vendida
no espaço mercadológico. Uma nova fronteira de comércio é a
marketface — a interface entre o marketplace e o marketspace.
(...)
Publicidade, promoção, relações públicas etc. exploram
“mensagens” unidirecionais, de um-para-muitos e de tamanho
único, dirigidas a consumidores sem rosto e sem poder.
As comunidades online perturbam drasticamente esse modelo.
Os consumidores com frequência têm acesso a informações
sobre os produtos, e o poder passa para o lado deles. São eles
que controlam as regras do mercado, não você. Eles escolhem
o meio e a mensagem. Em vez de receber mensagens enviadas
por profissionais de relações públicas, eles criam a “opinião
pública” online.
Os marqueteiros estão perdendo o controle, e isso é muito bom.
(Don Tapscott. O fim do marketing. INFO, São Paulo,Editora Abril, janeiro 2011, p. 22.)
O termo marqueteiro, presente nesta frase, foi formado em português por influência do inglês e tem como uma de suas acepções usuais:
Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes,
poeta e cidadão
A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.
Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.
De repente não tinha pai.
No escuro de minha casa em Los Angeles procurei recompor
[tua lembrança
Depois de tanta ausência. Fragmentos da infância
Boiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menino
Correndo ao teu encontro. Na ilha noturna
Tinham-se apenas acendido os lampiões a gás, e a clarineta
De Augusto geralmente procrastinava a tarde.
Era belo esperar-te, cidadão. O bondinho
Rangia nos trilhos a muitas praias de distância...
Dizíamos: “Ê-vem meu pai!”. Quando a curva
Se acendia de luzes semoventes*, ah, corríamos
Corríamos ao teu encontro. A grande coisa era chegar antes
Mas ser marraio** em teus braços, sentir por último
Os doces espinhos da tua barba.
Trazias de então uma expressão indizível de fidelidade e
[paciência
Teu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçura
De quem se deixou ser. Teus ombros possantes
Se curvavam como ao peso da enorme poesia
Que não realizaste. O barbante cortava teus dedos
Pesados de mil embrulhos: carne, pão, utensílios
Para o cotidiano (e frequentemente o binóculo
Que vivias comprando e com que te deixavas horas inteiras
Mirando o mar). Dize-me, meu pai
Que viste tantos anos através do teu óculo de alcance
Que nunca revelaste a ninguém?
Vencias o percurso entre a amendoeira e a casa como o atleta
[exausto no último lance da maratona.
Te grimpávamos. Eras penca de filho. Jamais
Uma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa
humilde
A um gesto do mar. A noite se fechava
Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa.
Muitas vezes te vi desejar. Desejavas. Deixavas-te olhando
[o mar
Com mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feios
Buscavam ilhas, outras ilhas... — as imaculadas, inacessíveis
Ilhas do Tesouro. Querias. Querias um dia aportar
E trazer — depositar aos pés da amada as joias fulgurantes
Do teu amor. Sim, foste descobridor, e entre eles
Dos mais provectos***. Muitas vezes te vi, comandante
Comandar, batido de ventos, perdido na fosforência
De vastos e noturnos oceanos
Sem jamais.
Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste
A suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar
Em silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor
Em silêncio. Foste um no lado esquerdo. Mas
Teu amor inventou. Financiaste uma lancha
Movida a água: foi reta para o fundo. Partiste um dia
Para um brasil além, garimpeiro sem medo e sem mácula.
Doze luas voltaste. Tua primogênita — diz-se —
Não te reconheceu. Trazias grandes barbas e pequenas
[águas-marinhas.
(Vinicius de Moraes. Antologia poética. 11 ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1974, p. 180-181.)
(*) Semovente: “Que ou o que anda ou se move por si próprio.”
(**) Marraio: “No gude e noutros jogos, palavra que dá, a quem
primeiro a grita, o direito de ser o último a jogar.”
(***) Provecto: “Que conhece muito um assunto ou uma ciência,
experiente, versado, mestre.”
(Dicionário Eletrônico Houaiss)
I. A notícia da morte do pai chegou por telefone.
II. O falecimento foi informado pela primogênita.
III. A morte do pai provocou reminiscências da infância.
IV. Apesar de não ter sido um bom pai, o filho perdoa e sente
saudades.
As frases que correspondem ao que é efetivamente expresso no poema estão contidas apenas em
Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes,
poeta e cidadão
A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.
Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.
De repente não tinha pai.
No escuro de minha casa em Los Angeles procurei recompor
[tua lembrança
Depois de tanta ausência. Fragmentos da infância
Boiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menino
Correndo ao teu encontro. Na ilha noturna
Tinham-se apenas acendido os lampiões a gás, e a clarineta
De Augusto geralmente procrastinava a tarde.
Era belo esperar-te, cidadão. O bondinho
Rangia nos trilhos a muitas praias de distância...
Dizíamos: “Ê-vem meu pai!”. Quando a curva
Se acendia de luzes semoventes*, ah, corríamos
Corríamos ao teu encontro. A grande coisa era chegar antes
Mas ser marraio** em teus braços, sentir por último
Os doces espinhos da tua barba.
Trazias de então uma expressão indizível de fidelidade e
[paciência
Teu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçura
De quem se deixou ser. Teus ombros possantes
Se curvavam como ao peso da enorme poesia
Que não realizaste. O barbante cortava teus dedos
Pesados de mil embrulhos: carne, pão, utensílios
Para o cotidiano (e frequentemente o binóculo
Que vivias comprando e com que te deixavas horas inteiras
Mirando o mar). Dize-me, meu pai
Que viste tantos anos através do teu óculo de alcance
Que nunca revelaste a ninguém?
Vencias o percurso entre a amendoeira e a casa como o atleta
[exausto no último lance da maratona.
Te grimpávamos. Eras penca de filho. Jamais
Uma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa
humilde
A um gesto do mar. A noite se fechava
Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa.
Muitas vezes te vi desejar. Desejavas. Deixavas-te olhando
[o mar
Com mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feios
Buscavam ilhas, outras ilhas... — as imaculadas, inacessíveis
Ilhas do Tesouro. Querias. Querias um dia aportar
E trazer — depositar aos pés da amada as joias fulgurantes
Do teu amor. Sim, foste descobridor, e entre eles
Dos mais provectos***. Muitas vezes te vi, comandante
Comandar, batido de ventos, perdido na fosforência
De vastos e noturnos oceanos
Sem jamais.
Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste
A suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar
Em silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor
Em silêncio. Foste um no lado esquerdo. Mas
Teu amor inventou. Financiaste uma lancha
Movida a água: foi reta para o fundo. Partiste um dia
Para um brasil além, garimpeiro sem medo e sem mácula.
Doze luas voltaste. Tua primogênita — diz-se —
Não te reconheceu. Trazias grandes barbas e pequenas
[águas-marinhas.
(Vinicius de Moraes. Antologia poética. 11 ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1974, p. 180-181.)
(*) Semovente: “Que ou o que anda ou se move por si próprio.”
(**) Marraio: “No gude e noutros jogos, palavra que dá, a quem
primeiro a grita, o direito de ser o último a jogar.”
(***) Provecto: “Que conhece muito um assunto ou uma ciência,
experiente, versado, mestre.”
(Dicionário Eletrônico Houaiss)
O emprego da expressão mil embrulhos no verso mencionado caracteriza-se como figura de linguagem denominada hipérbole, porque
Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes,
poeta e cidadão
A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.
Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.
De repente não tinha pai.
No escuro de minha casa em Los Angeles procurei recompor
[tua lembrança
Depois de tanta ausência. Fragmentos da infância
Boiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menino
Correndo ao teu encontro. Na ilha noturna
Tinham-se apenas acendido os lampiões a gás, e a clarineta
De Augusto geralmente procrastinava a tarde.
Era belo esperar-te, cidadão. O bondinho
Rangia nos trilhos a muitas praias de distância...
Dizíamos: “Ê-vem meu pai!”. Quando a curva
Se acendia de luzes semoventes*, ah, corríamos
Corríamos ao teu encontro. A grande coisa era chegar antes
Mas ser marraio** em teus braços, sentir por último
Os doces espinhos da tua barba.
Trazias de então uma expressão indizível de fidelidade e
[paciência
Teu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçura
De quem se deixou ser. Teus ombros possantes
Se curvavam como ao peso da enorme poesia
Que não realizaste. O barbante cortava teus dedos
Pesados de mil embrulhos: carne, pão, utensílios
Para o cotidiano (e frequentemente o binóculo
Que vivias comprando e com que te deixavas horas inteiras
Mirando o mar). Dize-me, meu pai
Que viste tantos anos através do teu óculo de alcance
Que nunca revelaste a ninguém?
Vencias o percurso entre a amendoeira e a casa como o atleta
[exausto no último lance da maratona.
Te grimpávamos. Eras penca de filho. Jamais
Uma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa
humilde
A um gesto do mar. A noite se fechava
Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa.
Muitas vezes te vi desejar. Desejavas. Deixavas-te olhando
[o mar
Com mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feios
Buscavam ilhas, outras ilhas... — as imaculadas, inacessíveis
Ilhas do Tesouro. Querias. Querias um dia aportar
E trazer — depositar aos pés da amada as joias fulgurantes
Do teu amor. Sim, foste descobridor, e entre eles
Dos mais provectos***. Muitas vezes te vi, comandante
Comandar, batido de ventos, perdido na fosforência
De vastos e noturnos oceanos
Sem jamais.
Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste
A suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar
Em silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor
Em silêncio. Foste um no lado esquerdo. Mas
Teu amor inventou. Financiaste uma lancha
Movida a água: foi reta para o fundo. Partiste um dia
Para um brasil além, garimpeiro sem medo e sem mácula.
Doze luas voltaste. Tua primogênita — diz-se —
Não te reconheceu. Trazias grandes barbas e pequenas
[águas-marinhas.
(Vinicius de Moraes. Antologia poética. 11 ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1974, p. 180-181.)
(*) Semovente: “Que ou o que anda ou se move por si próprio.”
(**) Marraio: “No gude e noutros jogos, palavra que dá, a quem
primeiro a grita, o direito de ser o último a jogar.”
(***) Provecto: “Que conhece muito um assunto ou uma ciência,
experiente, versado, mestre.”
(Dicionário Eletrônico Houaiss)
Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes,
poeta e cidadão
A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.
Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.
De repente não tinha pai.
No escuro de minha casa em Los Angeles procurei recompor
[tua lembrança
Depois de tanta ausência. Fragmentos da infância
Boiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menino
Correndo ao teu encontro. Na ilha noturna
Tinham-se apenas acendido os lampiões a gás, e a clarineta
De Augusto geralmente procrastinava a tarde.
Era belo esperar-te, cidadão. O bondinho
Rangia nos trilhos a muitas praias de distância...
Dizíamos: “Ê-vem meu pai!”. Quando a curva
Se acendia de luzes semoventes*, ah, corríamos
Corríamos ao teu encontro. A grande coisa era chegar antes
Mas ser marraio** em teus braços, sentir por último
Os doces espinhos da tua barba.
Trazias de então uma expressão indizível de fidelidade e
[paciência
Teu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçura
De quem se deixou ser. Teus ombros possantes
Se curvavam como ao peso da enorme poesia
Que não realizaste. O barbante cortava teus dedos
Pesados de mil embrulhos: carne, pão, utensílios
Para o cotidiano (e frequentemente o binóculo
Que vivias comprando e com que te deixavas horas inteiras
Mirando o mar). Dize-me, meu pai
Que viste tantos anos através do teu óculo de alcance
Que nunca revelaste a ninguém?
Vencias o percurso entre a amendoeira e a casa como o atleta
[exausto no último lance da maratona.
Te grimpávamos. Eras penca de filho. Jamais
Uma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa
humilde
A um gesto do mar. A noite se fechava
Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa.
Muitas vezes te vi desejar. Desejavas. Deixavas-te olhando
[o mar
Com mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feios
Buscavam ilhas, outras ilhas... — as imaculadas, inacessíveis
Ilhas do Tesouro. Querias. Querias um dia aportar
E trazer — depositar aos pés da amada as joias fulgurantes
Do teu amor. Sim, foste descobridor, e entre eles
Dos mais provectos***. Muitas vezes te vi, comandante
Comandar, batido de ventos, perdido na fosforência
De vastos e noturnos oceanos
Sem jamais.
Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste
A suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar
Em silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor
Em silêncio. Foste um no lado esquerdo. Mas
Teu amor inventou. Financiaste uma lancha
Movida a água: foi reta para o fundo. Partiste um dia
Para um brasil além, garimpeiro sem medo e sem mácula.
Doze luas voltaste. Tua primogênita — diz-se —
Não te reconheceu. Trazias grandes barbas e pequenas
[águas-marinhas.
(Vinicius de Moraes. Antologia poética. 11 ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1974, p. 180-181.)
(*) Semovente: “Que ou o que anda ou se move por si próprio.”
(**) Marraio: “No gude e noutros jogos, palavra que dá, a quem
primeiro a grita, o direito de ser o último a jogar.”
(***) Provecto: “Que conhece muito um assunto ou uma ciência,
experiente, versado, mestre.”
(Dicionário Eletrônico Houaiss)
Esta imagem significa, nos versos em que surge,
Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes,
poeta e cidadão
A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.
Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.
De repente não tinha pai.
No escuro de minha casa em Los Angeles procurei recompor
[tua lembrança
Depois de tanta ausência. Fragmentos da infância
Boiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu menino
Correndo ao teu encontro. Na ilha noturna
Tinham-se apenas acendido os lampiões a gás, e a clarineta
De Augusto geralmente procrastinava a tarde.
Era belo esperar-te, cidadão. O bondinho
Rangia nos trilhos a muitas praias de distância...
Dizíamos: “Ê-vem meu pai!”. Quando a curva
Se acendia de luzes semoventes*, ah, corríamos
Corríamos ao teu encontro. A grande coisa era chegar antes
Mas ser marraio** em teus braços, sentir por último
Os doces espinhos da tua barba.
Trazias de então uma expressão indizível de fidelidade e
[paciência
Teu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçura
De quem se deixou ser. Teus ombros possantes
Se curvavam como ao peso da enorme poesia
Que não realizaste. O barbante cortava teus dedos
Pesados de mil embrulhos: carne, pão, utensílios
Para o cotidiano (e frequentemente o binóculo
Que vivias comprando e com que te deixavas horas inteiras
Mirando o mar). Dize-me, meu pai
Que viste tantos anos através do teu óculo de alcance
Que nunca revelaste a ninguém?
Vencias o percurso entre a amendoeira e a casa como o atleta
[exausto no último lance da maratona.
Te grimpávamos. Eras penca de filho. Jamais
Uma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa
humilde
A um gesto do mar. A noite se fechava
Sobre o grupo familial como uma grande porta espessa.
Muitas vezes te vi desejar. Desejavas. Deixavas-te olhando
[o mar
Com mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feios
Buscavam ilhas, outras ilhas... — as imaculadas, inacessíveis
Ilhas do Tesouro. Querias. Querias um dia aportar
E trazer — depositar aos pés da amada as joias fulgurantes
Do teu amor. Sim, foste descobridor, e entre eles
Dos mais provectos***. Muitas vezes te vi, comandante
Comandar, batido de ventos, perdido na fosforência
De vastos e noturnos oceanos
Sem jamais.
Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste
A suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade de amar
Em silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amor
Em silêncio. Foste um no lado esquerdo. Mas
Teu amor inventou. Financiaste uma lancha
Movida a água: foi reta para o fundo. Partiste um dia
Para um brasil além, garimpeiro sem medo e sem mácula.
Doze luas voltaste. Tua primogênita — diz-se —
Não te reconheceu. Trazias grandes barbas e pequenas
[águas-marinhas.
(Vinicius de Moraes. Antologia poética. 11 ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1974, p. 180-181.)
(*) Semovente: “Que ou o que anda ou se move por si próprio.”
(**) Marraio: “No gude e noutros jogos, palavra que dá, a quem
primeiro a grita, o direito de ser o último a jogar.”
(***) Provecto: “Que conhece muito um assunto ou uma ciência,
experiente, versado, mestre.”
(Dicionário Eletrônico Houaiss)
O emprego da palavra brasil com inicial minúscula, no poema de Vinicius, tem a seguinte justificativa:
A literatura em perigo
A análise das obras feita na escola não deveria mais ter
por objetivo ilustrar os conceitos recém-introduzidos por este
ou aquele linguista, este ou aquele teórico da literatura, quando,
então, os textos são apresentados como uma aplicação da
língua e do discurso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter
acesso ao sentido dessas obras — pois postulamos que esse
sentido, por sua vez, nos conduz a um conhecimento do humano,
o qual importa a todos. Como já o disse, essa ideia não é
estranha a uma boa parte do próprio mundo do ensino; mas é
necessário passar das ideias à ação. Num relatório estabelecido
pela Associação dos Professores de Letras, podemos ler:
“O estudo de Letras implica o estudo do homem, sua relação
consigo mesmo e com o mundo, e sua relação com os outros.”
Mais exatamente, o estudo da obra remete a círculos concêntricos
cada vez mais amplos: o dos outros escritos do mesmo
autor, o da literatura nacional, o da literatura mundial; mas
seu contexto final, o mais importante de todos, nos é efetivamente
dado pela própria existência humana. Todas as grandes
obras, qualquer que seja sua origem, demandam uma reflexão
dessa dimensão.
O que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma
obra e revelar o pensamento do artista? Todos os “métodos”
são bons, desde que continuem a ser meios, em vez de se tornarem
fins em si mesmos. (...)
(...)
(...) Sendo o objeto da literatura a própria condição humana,
aquele que a lê e a compreende se tornará não um
especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser
humano. Que melhor introdução à compreensão das paixões
e dos comportamentos humanos do que uma imersão na obra
dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há milênios?
E, de imediato: que melhor preparação pode haver para
todas as profissões baseadas nas relações humanas? Se entendermos
assim a literatura e orientarmos dessa maneira o seu
ensino, que ajuda mais preciosa poderia encontrar o futuro
estudante de direito ou de ciências políticas, o futuro assistente
social ou psicoterapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter
como professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski e Proust
não é tirar proveito de um ensino excepcional? E não se vê que
mesmo um futuro médico, para exercer o seu ofício, teria mais
a aprender com esses mesmos professores do que com os manuais
preparatórios para concurso que hoje determinam o seu
destino? Assim, os estudos literários encontrariam o seu lugar
no coração das humanidades, ao lado da história dos eventos
e das ideias, todas essas disciplinas fazendo progredir o pensamento
e se alimentando tanto de obras quanto de doutrinas,
tanto de ações políticas quanto de mutações sociais, tanto da
vida dos povos quanto da de seus indivíduos.
Se aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o
qual não serviria mais unicamente à reprodução dos professores
de Letras, podemos facilmente chegar a um acordo sobre
o espírito que o deve conduzir: é necessário incluir as obras
no grande diálogo entre os homens, iniciado desde a noite dos
tempos e do qual cada um de nós, por mais ínfimo que seja,
ainda participa. “É nessa comunicação inesgotável, vitoriosa
do espaço e do tempo, que se afirma o alcance universal da
literatura”, escrevia Paul Bénichou. A nós, adultos, nos cabe
transmitir às novas gerações essa herança frágil, essas palavras
que ajudam a viver melhor.
(Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2 ed.Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 89-94.)
I. O estudo de obras literárias na escola tem como objetivo fundamental ensinar os fundamentos da Linguística.
II. A análise das obras feita na escola deve levar o estudante a ter acesso ao sentido dessas obras.
III. O objetivo do ensino da literatura na escola não é formar teóricos da literatura.
IV. De nada adianta a leitura das obras literárias sem a prévia fundamentação das teorias literárias.
Das quatro opiniões, as que se enquadram na argumentação manifestada por Todorov em seu texto estão contidas apenas em:
A literatura em perigo
A análise das obras feita na escola não deveria mais ter
por objetivo ilustrar os conceitos recém-introduzidos por este
ou aquele linguista, este ou aquele teórico da literatura, quando,
então, os textos são apresentados como uma aplicação da
língua e do discurso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter
acesso ao sentido dessas obras — pois postulamos que esse
sentido, por sua vez, nos conduz a um conhecimento do humano,
o qual importa a todos. Como já o disse, essa ideia não é
estranha a uma boa parte do próprio mundo do ensino; mas é
necessário passar das ideias à ação. Num relatório estabelecido
pela Associação dos Professores de Letras, podemos ler:
“O estudo de Letras implica o estudo do homem, sua relação
consigo mesmo e com o mundo, e sua relação com os outros.”
Mais exatamente, o estudo da obra remete a círculos concêntricos
cada vez mais amplos: o dos outros escritos do mesmo
autor, o da literatura nacional, o da literatura mundial; mas
seu contexto final, o mais importante de todos, nos é efetivamente
dado pela própria existência humana. Todas as grandes
obras, qualquer que seja sua origem, demandam uma reflexão
dessa dimensão.
O que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma
obra e revelar o pensamento do artista? Todos os “métodos”
são bons, desde que continuem a ser meios, em vez de se tornarem
fins em si mesmos. (...)
(...)
(...) Sendo o objeto da literatura a própria condição humana,
aquele que a lê e a compreende se tornará não um
especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser
humano. Que melhor introdução à compreensão das paixões
e dos comportamentos humanos do que uma imersão na obra
dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há milênios?
E, de imediato: que melhor preparação pode haver para
todas as profissões baseadas nas relações humanas? Se entendermos
assim a literatura e orientarmos dessa maneira o seu
ensino, que ajuda mais preciosa poderia encontrar o futuro
estudante de direito ou de ciências políticas, o futuro assistente
social ou psicoterapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter
como professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski e Proust
não é tirar proveito de um ensino excepcional? E não se vê que
mesmo um futuro médico, para exercer o seu ofício, teria mais
a aprender com esses mesmos professores do que com os manuais
preparatórios para concurso que hoje determinam o seu
destino? Assim, os estudos literários encontrariam o seu lugar
no coração das humanidades, ao lado da história dos eventos
e das ideias, todas essas disciplinas fazendo progredir o pensamento
e se alimentando tanto de obras quanto de doutrinas,
tanto de ações políticas quanto de mutações sociais, tanto da
vida dos povos quanto da de seus indivíduos.
Se aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o
qual não serviria mais unicamente à reprodução dos professores
de Letras, podemos facilmente chegar a um acordo sobre
o espírito que o deve conduzir: é necessário incluir as obras
no grande diálogo entre os homens, iniciado desde a noite dos
tempos e do qual cada um de nós, por mais ínfimo que seja,
ainda participa. “É nessa comunicação inesgotável, vitoriosa
do espaço e do tempo, que se afirma o alcance universal da
literatura”, escrevia Paul Bénichou. A nós, adultos, nos cabe
transmitir às novas gerações essa herança frágil, essas palavras
que ajudam a viver melhor.
(Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2 ed.Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 89-94.)
Esta questão levantada por Todorov, no contexto do terceiro parágrafo, significa:
A literatura em perigo
A análise das obras feita na escola não deveria mais ter
por objetivo ilustrar os conceitos recém-introduzidos por este
ou aquele linguista, este ou aquele teórico da literatura, quando,
então, os textos são apresentados como uma aplicação da
língua e do discurso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter
acesso ao sentido dessas obras — pois postulamos que esse
sentido, por sua vez, nos conduz a um conhecimento do humano,
o qual importa a todos. Como já o disse, essa ideia não é
estranha a uma boa parte do próprio mundo do ensino; mas é
necessário passar das ideias à ação. Num relatório estabelecido
pela Associação dos Professores de Letras, podemos ler:
“O estudo de Letras implica o estudo do homem, sua relação
consigo mesmo e com o mundo, e sua relação com os outros.”
Mais exatamente, o estudo da obra remete a círculos concêntricos
cada vez mais amplos: o dos outros escritos do mesmo
autor, o da literatura nacional, o da literatura mundial; mas
seu contexto final, o mais importante de todos, nos é efetivamente
dado pela própria existência humana. Todas as grandes
obras, qualquer que seja sua origem, demandam uma reflexão
dessa dimensão.
O que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma
obra e revelar o pensamento do artista? Todos os “métodos”
são bons, desde que continuem a ser meios, em vez de se tornarem
fins em si mesmos. (...)
(...)
(...) Sendo o objeto da literatura a própria condição humana,
aquele que a lê e a compreende se tornará não um
especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser
humano. Que melhor introdução à compreensão das paixões
e dos comportamentos humanos do que uma imersão na obra
dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há milênios?
E, de imediato: que melhor preparação pode haver para
todas as profissões baseadas nas relações humanas? Se entendermos
assim a literatura e orientarmos dessa maneira o seu
ensino, que ajuda mais preciosa poderia encontrar o futuro
estudante de direito ou de ciências políticas, o futuro assistente
social ou psicoterapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter
como professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski e Proust
não é tirar proveito de um ensino excepcional? E não se vê que
mesmo um futuro médico, para exercer o seu ofício, teria mais
a aprender com esses mesmos professores do que com os manuais
preparatórios para concurso que hoje determinam o seu
destino? Assim, os estudos literários encontrariam o seu lugar
no coração das humanidades, ao lado da história dos eventos
e das ideias, todas essas disciplinas fazendo progredir o pensamento
e se alimentando tanto de obras quanto de doutrinas,
tanto de ações políticas quanto de mutações sociais, tanto da
vida dos povos quanto da de seus indivíduos.
Se aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o
qual não serviria mais unicamente à reprodução dos professores
de Letras, podemos facilmente chegar a um acordo sobre
o espírito que o deve conduzir: é necessário incluir as obras
no grande diálogo entre os homens, iniciado desde a noite dos
tempos e do qual cada um de nós, por mais ínfimo que seja,
ainda participa. “É nessa comunicação inesgotável, vitoriosa
do espaço e do tempo, que se afirma o alcance universal da
literatura”, escrevia Paul Bénichou. A nós, adultos, nos cabe
transmitir às novas gerações essa herança frágil, essas palavras
que ajudam a viver melhor.
(Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2 ed.Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 89-94.)
Com base no fato de que a palavra “imersão", usada na expressão uma imersão na obra, caracteriza uma metáfora, indique a alternativa que elimina essa metáfora sem perda relevante de sentido:
A literatura em perigo
A análise das obras feita na escola não deveria mais ter
por objetivo ilustrar os conceitos recém-introduzidos por este
ou aquele linguista, este ou aquele teórico da literatura, quando,
então, os textos são apresentados como uma aplicação da
língua e do discurso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter
acesso ao sentido dessas obras — pois postulamos que esse
sentido, por sua vez, nos conduz a um conhecimento do humano,
o qual importa a todos. Como já o disse, essa ideia não é
estranha a uma boa parte do próprio mundo do ensino; mas é
necessário passar das ideias à ação. Num relatório estabelecido
pela Associação dos Professores de Letras, podemos ler:
“O estudo de Letras implica o estudo do homem, sua relação
consigo mesmo e com o mundo, e sua relação com os outros.”
Mais exatamente, o estudo da obra remete a círculos concêntricos
cada vez mais amplos: o dos outros escritos do mesmo
autor, o da literatura nacional, o da literatura mundial; mas
seu contexto final, o mais importante de todos, nos é efetivamente
dado pela própria existência humana. Todas as grandes
obras, qualquer que seja sua origem, demandam uma reflexão
dessa dimensão.
O que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma
obra e revelar o pensamento do artista? Todos os “métodos”
são bons, desde que continuem a ser meios, em vez de se tornarem
fins em si mesmos. (...)
(...)
(...) Sendo o objeto da literatura a própria condição humana,
aquele que a lê e a compreende se tornará não um
especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser
humano. Que melhor introdução à compreensão das paixões
e dos comportamentos humanos do que uma imersão na obra
dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há milênios?
E, de imediato: que melhor preparação pode haver para
todas as profissões baseadas nas relações humanas? Se entendermos
assim a literatura e orientarmos dessa maneira o seu
ensino, que ajuda mais preciosa poderia encontrar o futuro
estudante de direito ou de ciências políticas, o futuro assistente
social ou psicoterapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter
como professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski e Proust
não é tirar proveito de um ensino excepcional? E não se vê que
mesmo um futuro médico, para exercer o seu ofício, teria mais
a aprender com esses mesmos professores do que com os manuais
preparatórios para concurso que hoje determinam o seu
destino? Assim, os estudos literários encontrariam o seu lugar
no coração das humanidades, ao lado da história dos eventos
e das ideias, todas essas disciplinas fazendo progredir o pensamento
e se alimentando tanto de obras quanto de doutrinas,
tanto de ações políticas quanto de mutações sociais, tanto da
vida dos povos quanto da de seus indivíduos.
Se aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o
qual não serviria mais unicamente à reprodução dos professores
de Letras, podemos facilmente chegar a um acordo sobre
o espírito que o deve conduzir: é necessário incluir as obras
no grande diálogo entre os homens, iniciado desde a noite dos
tempos e do qual cada um de nós, por mais ínfimo que seja,
ainda participa. “É nessa comunicação inesgotável, vitoriosa
do espaço e do tempo, que se afirma o alcance universal da
literatura”, escrevia Paul Bénichou. A nós, adultos, nos cabe
transmitir às novas gerações essa herança frágil, essas palavras
que ajudam a viver melhor.
(Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2 ed.Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 89-94.)
O autor defende, com essa afirmação, o argumento segundo o qual o verdadeiro valor de um método de análise literária
A literatura em perigo
A análise das obras feita na escola não deveria mais ter
por objetivo ilustrar os conceitos recém-introduzidos por este
ou aquele linguista, este ou aquele teórico da literatura, quando,
então, os textos são apresentados como uma aplicação da
língua e do discurso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter
acesso ao sentido dessas obras — pois postulamos que esse
sentido, por sua vez, nos conduz a um conhecimento do humano,
o qual importa a todos. Como já o disse, essa ideia não é
estranha a uma boa parte do próprio mundo do ensino; mas é
necessário passar das ideias à ação. Num relatório estabelecido
pela Associação dos Professores de Letras, podemos ler:
“O estudo de Letras implica o estudo do homem, sua relação
consigo mesmo e com o mundo, e sua relação com os outros.”
Mais exatamente, o estudo da obra remete a círculos concêntricos
cada vez mais amplos: o dos outros escritos do mesmo
autor, o da literatura nacional, o da literatura mundial; mas
seu contexto final, o mais importante de todos, nos é efetivamente
dado pela própria existência humana. Todas as grandes
obras, qualquer que seja sua origem, demandam uma reflexão
dessa dimensão.
O que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma
obra e revelar o pensamento do artista? Todos os “métodos”
são bons, desde que continuem a ser meios, em vez de se tornarem
fins em si mesmos. (...)
(...)
(...) Sendo o objeto da literatura a própria condição humana,
aquele que a lê e a compreende se tornará não um
especialista em análise literária, mas um conhecedor do ser
humano. Que melhor introdução à compreensão das paixões
e dos comportamentos humanos do que uma imersão na obra
dos grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há milênios?
E, de imediato: que melhor preparação pode haver para
todas as profissões baseadas nas relações humanas? Se entendermos
assim a literatura e orientarmos dessa maneira o seu
ensino, que ajuda mais preciosa poderia encontrar o futuro
estudante de direito ou de ciências políticas, o futuro assistente
social ou psicoterapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter
como professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski e Proust
não é tirar proveito de um ensino excepcional? E não se vê que
mesmo um futuro médico, para exercer o seu ofício, teria mais
a aprender com esses mesmos professores do que com os manuais
preparatórios para concurso que hoje determinam o seu
destino? Assim, os estudos literários encontrariam o seu lugar
no coração das humanidades, ao lado da história dos eventos
e das ideias, todas essas disciplinas fazendo progredir o pensamento
e se alimentando tanto de obras quanto de doutrinas,
tanto de ações políticas quanto de mutações sociais, tanto da
vida dos povos quanto da de seus indivíduos.
Se aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o
qual não serviria mais unicamente à reprodução dos professores
de Letras, podemos facilmente chegar a um acordo sobre
o espírito que o deve conduzir: é necessário incluir as obras
no grande diálogo entre os homens, iniciado desde a noite dos
tempos e do qual cada um de nós, por mais ínfimo que seja,
ainda participa. “É nessa comunicação inesgotável, vitoriosa
do espaço e do tempo, que se afirma o alcance universal da
literatura”, escrevia Paul Bénichou. A nós, adultos, nos cabe
transmitir às novas gerações essa herança frágil, essas palavras
que ajudam a viver melhor.
(Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2 ed.Trad. Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 89-94.)