O poema Navio negreiro, de Castro Alves, é uma obra decisiv...
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Q1705830
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TEXTO
E existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente1 na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo2 abriu na vaga,
Como um íris no pélago3 profundo!
Mas é infâmia de mais!... Da etérea plaga4
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada5! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
ALVES, Castro. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986. p.
283-284.
Glossário
1. que não tem pudor
2. Cristóvão de Colombo (1451-1506), navegador e
explorador italiano, responsável por liderar a frota que
alcançou o continente americano em 1492
3. abismo
4. região, lugar, país
5. José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), o
patriarca da Independência do Brasil
O poema Navio negreiro, de Castro Alves, é uma
obra decisiva dentro do projeto abolicionista na
literatura brasileira. O trecho apresentado é
re p re se n ta tivo dessa im p o rtâ n cia , devido à
expressão, pelo eu lírico, de um: