A frase final do texto – É a tecnologia da cópia a serviço d...
Na década de 20, uma prosódia veloz, que soava como se fosse uma conversa árabe sob batida de pandeiro, deixava o modernista Mário de Andrade, em viagem etnográfica, com cara de turista abestalhado.
Era o choque diante da embolada, ou coco de embolada, poesia cantada de improviso que acaba de ganhar, juntamente com o repente de viola, o mais amplo registro fonográfico de todos os tempos: um pacote de 50 CDs.
A primeira dúzia de discos foi lançada este mês em São Paulo, por iniciativa do repentista Téo Azevedo, 59, caboclo do sertão mineiro que se firma, depois de 3000 produções musicais do gênero, como um dos maiores apanhadores dos ritmos populares do país.
Os repentistas de viola (cantadores) e de pandeiro (emboladores) escaparam da praga apocalíptica de muitos folcloristas.
Agora o gênero alcança até o mercado pirata, mesmo sem nunca ter sido xodó da indústria cultural. É a tecnologia da cópia a serviço do folclore?
(Xico Sá, Gravadora lança 50 discos de repentistas e emboladores. Folha de S.Paulo, 22.11.2001. Adaptado)