A partir da leitura dos textos O pastor pianista e Lira 77, ...
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Ano: 2024
Banca:
CESPE / CEBRASPE
Órgão:
UNB
Prova:
CESPE / CEBRASPE - 2024 - UNB - Prova de Conhecimentos II - 1° dia |
Q3107450
Literatura
Texto associado
O pastor pianista
Soltaram os pianos na planície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.
Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem
Que reclamando a contemplação,
Sonha e provoca a harmonia,
Trabalha mesmo à força,
E pelo vento nas folhagens,
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.
Murilo Mendes. O pastor pianista. In: Antonio Candido.
Na sala de aula. Caderno de análise literária. São Paulo: Ática, 2004, p. 82.
Lira 77
Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro,
fui honrado pastor da tua aldeia;
vestia finas lãs e tinha sempre
a minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado,
nem tenho a que me encoste um só cajado.
(...)
Ah! minha bela, se a fortuna volta,
se o bom, que já perdi, alcanço e provo,
por essas brancas mãos, por essas faces
te juro renascer um homem novo,
romper a nuvem que os meus olhos cerra,
amar no céu a Jove e a ti na terra!
Fiadas comprarei as ovelhinhas,
que pagarei dos poucos do meu ganho;
e dentro em pouco tempo nos veremos
senhores outra vez de um bom rebanho.
Para o contágio lhe não dar, sobeja
que as afague Marília, ou só que as veja.
Se não tivermos lãs e peles finas,
podem mui bem cobrir as carnes nossas
as peles dos cordeiros mal curtidas,
e os panos feitos com as lãs mais grossas.
Mas ao menos será o teu vestido
por mãos de amor, por minhas mãos cosido.
Nós iremos pescar na quente sesta
com canas e com cestos os peixinhos;
nós iremos caçar nas manhãs frias
com a vara enviscada os passarinhos.
Para nos divertir faremos quanto
reputa o varão sábio, honesto e santo.
Nas noites de serão nos sentaremos
cos filhos, se os tivermos, à fogueira:
entre as falsas histórias, que contares,
lhes contaras a minha, verdadeira.
Pasmados te ouvirão; eu, entretanto,
ainda o rosto banharei de pranto.
Quando passarmos juntos pela rua,
nos mostrarão co dedo os mais pastores,
dizendo uns para os outros: — Olha os nossos
exemplos da desgraça e sãos amores.
Contentes viveremos desta sorte,
até que chegue a um dos dois a morte.
Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu. In: Antonio Candido. Na sala de aula. Caderno de análise literária. São Paulo: Ática, 2004, p. 20 (com adaptações).
A partir da leitura dos textos O pastor pianista e Lira 77,
apresentados anteriormente, julgue o item.
O último verso de O pastor pianista expressa uma verdade da poesia que, até o momento, a mais alta tecnologia não pôde produzir: dar forma sensível, a partir da recriação da vida, ao “antigo clamor do homem” (terceiro verso da segunda estrofe).
O último verso de O pastor pianista expressa uma verdade da poesia que, até o momento, a mais alta tecnologia não pôde produzir: dar forma sensível, a partir da recriação da vida, ao “antigo clamor do homem” (terceiro verso da segunda estrofe).