Em “lendo no dicionário encarnado”, o narrador se refere a um:
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Q1354372
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É uma das recordações mais desagradáveis que me fi caram: sujeito magro, de olho duro, aspecto tenebroso. Não me lembro de o ter visto sorrir.
A voz áspera, modos sacudidos, ranzinza, impertinente, Fernando era assim. E junto a isso qualquer coisa de frio, úmido, viscoso, que me dava a
absurda impressão de uma lesma vertebrada e muito rápida. [...]
Essas noções me chegavam lentas e incompletas. Novo ainda, eu não
entendia certas coisas. Entretanto, aquele indivíduo me causava arrepios.
Sempre foi demasiado grosseiro comigo, e isto me levou a aceitar sem
exame os boatos que circulavam a respeito dele. Acostumei-me a julgálo um bicho perigoso. E lendo no dicionário encarnado, onde existiam
bandeiras de todos os países e retratos de personagens vultosas, que Nero
tinha sido o maior dos monstros, duvidei. Maior que Fernando? A afirmação do livro me embaraçava. Como seria possível medir por dentro as
pessoas? E senti pena de Nero, que nunca me havia feito mal. Fernando
me atormentava e era péssimo. Talvez não fosse o pior monstro da Terra, mas era safadíssimo. O rosto de caneco amassado, a fala dura e impertinente, os resmungos, o olho oblíquo e cheio de fel, um jeito impudente e
desgostoso, um ronco asmático findo em sopro, tudo me dava a certeza
de que Fernando encerrava muito veneno. Se aquele sopro, rumor de
caldeira, se transformava em palavras, saíam dali brutalidades. O sujeito se
tornou para mim um símbolo — e pendurei nele todas as misérias.
(RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Mediafashion, 2008. pp. 185-6.)
Em “lendo no dicionário encarnado”, o narrador se refere a um: