Sobre a linguagem do poema Vila Rica, assinale a afirmativa ...
Vila Rica
O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.
O ângelus plange ao longe em doloroso dobre,
O último ouro de sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema-unção.
Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião, que o tempo enegreceu...
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,
Como uma procissão espectral que se move...
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.
(BILAC, O. Poesias. São Paulo: Ed. Martim Claret, 2002.)
Cerro – monte, serra
Ciciar – sussurrar Fulvo – dourado,
louro Laivo – mancha
Urbe – cidade
Cancioneiro da Inconfidência
(Excerto Canto XXXI)
Por aqui passava um homem
– e como o povo se ria! –
que reformava este mundo
de cima da montaria.
Tinha um machinho rosilho.
Tinha um machinho castanho.
Dizia: „Não se conhece
país tamanho!‟ „
Do Caeté a Vila Rica,
tudo ouro e cobre!
O que é nosso, vão levando...
E o povo aqui sempre pobre!‟
Por aqui passava um homem
– e como o povo se ria! –
que não passava de Alferes
de cavalaria!
„Quando eu voltar – afirmava –
outro haverá que comande.
Tudo isto vai levar volta,
e eu serei grande!‟
„Faremos a mesma coisa
que fez a América Inglesa!‟
E bradava: "Há de ser nossa
tanta riqueza!"
Por aqui passava um homem
– e como o povo se ria! –
„Liberdade ainda que tarde‟
nos prometia.
(MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar S.A., 1987.)