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Q1261782
Não definido
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Firme vontade de viver, de navegar na transparência da verdade, na criação do instante presente.
Sentir a força dos segundos transformados em horas,
meses, em eternidade histórica do ser. Viver, sentir
o presente como verdade, como instante único e imponderável é recuperar na irrecuperabilidade do rio
que passa, a força das águas, a memória que jamais
deixa de ser ela mesma – é o recomeço dos tempos
a cada minuto corporificado, vivido intensamente
com sua energia, sem voltar-se lacrimosamente ao
passado; sem projetar-se também para o futuro, esquecendo o agora. Sintonizar-se no presente, recuperar sua força, não deixá-lo esvair-se, escorrer em
vãs suposições é marca original do homem que se
faz e se reconhece historicamente nos passos da humanidade, no correr do rio, no vôo das aves; ouvir
sua voz no ciciar dos ramos, na sinfonia do amanhecer primeiro: virginal manhã de sua criação e do
recomeço do universo.
[...]
Traço letras, as histórias se embaralham nas páginas soltas, as personagens cruzam-se nos enredos
diversos misturando seus papéis. Penélope e Páris.
Helena e Ulisses. José, esposo de Maria, impulsivamente não quer representar o marido exemplar.
Olhos, braços e devaneios deslocam-no para outros
amores. A troca é nítida, as personagens esfumaçam-se na trama existencial. A vida não é tida como
absolutamente irremediável. A leveza nos atos das
trocas não altera o valor do câmbio. Na roda viva
nem sempre o balé é sutil, há também marchas militares e nupciais. Há o desencontro harmonioso na
dança da capoeira, os corpos não se tocam. Os parceiros se avaliam, espreitam-se e batem em retirada.
O duelo corporal e verbal é abandonado. Dos corpos sensíveis e expressivos ficam ecos e imagens fugidias nas lembranças que se esvaem ao menor aceno do presente. O passado não possui consistência,
não houve emoção no ato vivido, só a gratuidade do
descompromisso, do non-sense tacitamente aceito
por todos...
(MARTINS, Maria Teresinha. Rapto de memória. 2. ed.
Goiânia: Ed. da PUC Goiás, 2010. p. 18 e 40.)
Releia o trecho “Viver, sentir o presente como verdade [...] esquecendo o agora.”, retirado do texto 02, e
examine cada assertiva a seguir, a fim de verificar se a
seleção de ideias e palavras traduz a relação correta entre
forma e conteúdo do trecho destacado. Depois, marque a
alternativa verdadeira: I - As orações “Viver, sentir o presente” foram elaboradas com o recurso sintático de justaposição, característica da coordenação. A falta do conectivo entre
as orações obriga o leitor a construir a coerência
textual, estabelecendo, mentalmente, as relações de
sentido. II - O adjetivo “imponderável” foi utilizado como sinônimo de único, caracterizando a palavra “instante”.
Dessa forma, criou-se um efeito de sentido ambíguo, ferindo a construção do texto. III - A passagem “é recuperar na irrecuperabilidade do
rio” constitui um recurso avaliativo da autora, expressando seu sentimento desolador e desesperançoso. IV - As expressões “a força das águas” e “a memória” são
complementos da forma verbal “recuperar”, que é
um verbo transitivo. Os complementos distanciados produzem no leitor a sensação de que esses fatos representam elementos de uma sequência argumentativa em desenvolvimento.