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Q1261783
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Firme vontade de viver, de navegar na transparência da verdade, na criação do instante presente.
Sentir a força dos segundos transformados em horas,
meses, em eternidade histórica do ser. Viver, sentir
o presente como verdade, como instante único e imponderável é recuperar na irrecuperabilidade do rio
que passa, a força das águas, a memória que jamais
deixa de ser ela mesma – é o recomeço dos tempos
a cada minuto corporificado, vivido intensamente
com sua energia, sem voltar-se lacrimosamente ao
passado; sem projetar-se também para o futuro, esquecendo o agora. Sintonizar-se no presente, recuperar sua força, não deixá-lo esvair-se, escorrer em
vãs suposições é marca original do homem que se
faz e se reconhece historicamente nos passos da humanidade, no correr do rio, no vôo das aves; ouvir
sua voz no ciciar dos ramos, na sinfonia do amanhecer primeiro: virginal manhã de sua criação e do
recomeço do universo.
[...]
Traço letras, as histórias se embaralham nas páginas soltas, as personagens cruzam-se nos enredos
diversos misturando seus papéis. Penélope e Páris.
Helena e Ulisses. José, esposo de Maria, impulsivamente não quer representar o marido exemplar.
Olhos, braços e devaneios deslocam-no para outros
amores. A troca é nítida, as personagens esfumaçam-se na trama existencial. A vida não é tida como
absolutamente irremediável. A leveza nos atos das
trocas não altera o valor do câmbio. Na roda viva
nem sempre o balé é sutil, há também marchas militares e nupciais. Há o desencontro harmonioso na
dança da capoeira, os corpos não se tocam. Os parceiros se avaliam, espreitam-se e batem em retirada.
O duelo corporal e verbal é abandonado. Dos corpos sensíveis e expressivos ficam ecos e imagens fugidias nas lembranças que se esvaem ao menor aceno do presente. O passado não possui consistência,
não houve emoção no ato vivido, só a gratuidade do
descompromisso, do non-sense tacitamente aceito
por todos...
(MARTINS, Maria Teresinha. Rapto de memória. 2. ed.
Goiânia: Ed. da PUC Goiás, 2010. p. 18 e 40.)
Angústia, verdade e possibilidade de redenção do
homem que entra em contato com seu eu profundo por
meio da linguagem, são traços encontrados no fragmento do livro Rapto de Memória (texto 02), de Maria Teresinha Martins. Tais características devem-se (marque a
alternativa correta)