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Q1261819
Não definido
Texto associado
Fabiano curou no rasto a bicheira da novilha raposa. Levava no aió um frasco de creolina, e se houvesse
achado o animal, teria feito o curativo ordinário. Não
o encontrou, mas supôs distinguir as pisadas dele na
areia, baixou-se, cruzou dois gravetos no chão e rezou.
Se o bicho não estivesse morto, voltaria para o curral,
que a oração era forte.
Cumprida a obrigação, Fabiano levantou-se com a
consciência tranqüila e marchou para casa. [...]
Chape-chape. Os três pares de alpercatas batiam
na lama rachada, seca e branca por cima, preta e mole
por baixo. [...]
A cachorra Baleia corria na frente, o focinho arregaçado, procurando na catinga a novilha raposa.
Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se.
Chegara naquele estado, com a família morrendo de
fome, comendo raízes. [...]
Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca
de ponta, esgaravatou as unhas sujas. [...]
– Fabiano, você é um homem, exclamou em voz
alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto,
com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E,
pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. [...]
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente.
Corrigiu-a, murmurando:
– Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor,
um bicho, capaz de vencer dificuldades.
– Um bicho, Fabiano.
Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde
cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu
e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o
fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se desentendido e oferecera os seus préstimos [...].
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 100. ed. Rio de Janeiro:
Record, 2006. p. 17-19.).
Com relação ao texto 08, assinale a alternativa correta: