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Q1263182
Não definido
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O texto a seguir é parte de uma entrevista publicada pela revista CULT e serve de base para as questão.
No final de maio deste ano, a revista Science publicou um trabalho que causou alarde para além dos muros da comunidade
científica. Liderado pelo doutor Craig Venter, um grupo de cientistas norte-americanos conseguiu criar em laboratório a primeira
célula controlada por um genoma sintético. A descoberta sinaliza para o fato de que a criação de seres vivos inéditos na natureza
parece não estar distante, o que despertou a atenção de diversos setores da sociedade. Prova disso foi a atitude do presidente
Barack Obama que, após tomar conhecimento do feito, pediu a seus conselheiros especializados em biotecnologia que
elaborassem um relatório sobre os possíveis prós e contras da descoberta. O Vaticano, por sua vez, conclamou para o debate
ético, ao afirmar que a descoberta “deve ter regras, como tudo o que toca o coração da vida”.
Esse exemplo é apenas um entre os tantos avanços recentes da ciência que suscitam acaloradas discussões. O homem está
autorizado a criar seres vivos inéditos na natureza? Quais os dilemas éticos envolvidos? Qual o papel da sociedade e dos
cientistas diante desses dilemas? Para discutir essas e outras questões, a CULT entrevistou uma das maiores autoridades
brasileiras no assunto, a geneticista Lygia da Veiga Pereira.
CULT – Com relação ao genoma sintético, é correto falar em “criação” da vida, como a mídia vem fazendo?
Lygia da Veiga Pereira – O que esse grupo [pesquisadores norte-americanos liderados pelo doutor Craig Venter] fez foi
sintetizar no laboratório um genoma completo de uma bactéria e, ao colocar esse genoma dentro de outra, ele passou a reger a
vida dessa bactéria. Então, rigorosamente falando, ele não criou vida, eu diria que ele reprogramou uma vida, pois transformou
uma forma de vida A em uma forma de vida B. Trata-se de um grande avanço tecnológico, pois ele mostrou que consegue
sintetizar no laboratório um genoma de uma bactéria e que esse genoma funciona quando é posto dentro de outra.
Por que eu digo que é um avanço puramente tecnológico? Eles de fato sintetizaram as moléculas de DNA em laboratório,
mas a sequência daquele DNA já existia na natureza. O próximo passo, esse sim revolucionário, será criar um genoma inédito,
que a natureza não selecionou. Baseados nos milhares de genes já descritos em bancos de dados, os pesquisadores poderão
criar um genoma completamente inédito, inseri-lo em uma bactéria e então vão criar um ser vivo inédito. E para que fazer isso?
Porque eles acham que vão conseguir desenhar seres vivos que exerçam funções interessantes para nós, como, por exemplo,
captar CO2 da atmosfera ou digerir o petróleo no mar. É um enorme desafio.
CULT – Que implicações éticas você prevê para isso?
Lygia – O dilema ético é que não conseguimos prever se esse ser vivo fará somente o que o pesquisador pretende que ele
faça. Não sabemos se aquela bactéria que ele desenhou só para digerir o petróleo na água do mar vai, por exemplo, começar a
digerir algas ou será tóxica para alguns peixes e então provocar um desastre ecológico. A questão é que os sistemas biológicos
são muito complexos e não conhecemos todas as leis que os regem. Então, se propor a construir novos seres vivos, desenhar
novos seres vivos talvez seja uma pretensão ainda muito grande, dado o nosso pouco conhecimento dessas leis. Pode-se ter a
melhor das intenções, mas, quando esse ser vivo estiver solto no meio ambiente, ele vai se comportar de forma imprevisível e o
tiro pode sair pela culatra. É nisso que devemos prestar atenção.
(CULT, 16 jul. 2010.)
Segundo o texto, é correto afirmar: