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Q1359264
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É assim que emurchece a campainha dos vales; é assim que morre a abelha que não lhe encontra no seio o último favo de mel.
A alma da criança voara de seus lábios sorrindo e parecia adejar ainda em torno daquela cabeça emoldurada em ouro.
É que as almas das moças bonitas são como as mariposas da noite, amam as rosas mesmo depois que se esfolham.
E a Nhan-nhanzinha já não podia ouvir o soluçar de
sua negra velha!
Era em vão que as lágrimas caíam sobre as mãos frias da criança; o sono dos que vão para o céu é tão suave que os próprios espíritos aprazem-se em fazê-lo eterno!
E quando, no outro dia, o esquife saiu, a pobre escrava
deixava cair sobre a mortalha fria de Angelina um ramo de
cravos brancos, que fora arrancar no jardim.
A ponte desceu... os convidados voltaram... e a menina
ficou na sua cova do cemitério velho.
Nunca mais a alegria voltou à estância.
Durante um ano e mais, os escravos supersticiosos imaginavam ver a figura branca e vaporosa de Nhannhanzinha, altas horas da noite, voltear sorrindo por entre as cravinas e as rosas do canteiro grande ao pé da casa!
Leia o texto a seguir.
ANGELINA
I
A mão de Deus passou de leve pelos seus cabelos loiros e ela adormeceu.
Ao pé de sua alcova, nesse dia de luto e de tristeza para os de sua casa, as roseiras amareleciam e finavam também com saudade.
Era quase noite... a lua pálida, como um cadáver, surgia através da montanha, atirando os primeiros raios à cabeceira da morta.
II
Angelina expirara com um sorriso a brincar-lhe na boca
cor de rosa.
É assim que emurchece a campainha dos vales; é assim que morre a abelha que não lhe encontra no seio o último favo de mel.
A alma da criança voara de seus lábios sorrindo e parecia adejar ainda em torno daquela cabeça emoldurada em ouro.
É que as almas das moças bonitas são como as mariposas da noite, amam as rosas mesmo depois que se esfolham.
III
Pobre Angelina!
E a dor prostrara a todos naquela casa, porque ninguém supunha que ela morresse; tão linda que era, tão cheia de vida!
A família não se animara a vê-la no leito de defunta.
Apenas de joelhos junto à cabeceira, chorava uma pobre escrava que a trouxera aos peitos, quando pequena, e chorava com a eloqüência dessas agonias maternais que não se explicam.
E a dor prostrara a todos naquela casa, porque ninguém supunha que ela morresse; tão linda que era, tão cheia de vida!
A família não se animara a vê-la no leito de defunta.
Apenas de joelhos junto à cabeceira, chorava uma pobre escrava que a trouxera aos peitos, quando pequena, e chorava com a eloqüência dessas agonias maternais que não se explicam.
IV
Era em vão que as lágrimas caíam sobre as mãos frias da criança; o sono dos que vão para o céu é tão suave que os próprios espíritos aprazem-se em fazê-lo eterno!
V
VI
Nunca mais a alegria voltou à estância.
Durante um ano e mais, os escravos supersticiosos imaginavam ver a figura branca e vaporosa de Nhannhanzinha, altas horas da noite, voltear sorrindo por entre as cravinas e as rosas do canteiro grande ao pé da casa!
VII
Mas, o certo foi que, sobre a sepultura da menina,
nasceram muitos cravos brancos e perfumosos, cuja essência
agreste e divina embalsama o leito de mármore dos que ali
dormem...
Ainda hoje mesmo, as borboletas, que perpassam pelo
ninho daquelas flores, parecem ser o espírito de Angelina
que se lembra, com saudade, da casa onde nasceu e para
onde nunca mais voltará!
LOBO DA COSTA, Francisco. Angelina. Arauto das Letras, 8 de
outubro de 1882.
A função sintática da expressão sublinhada em “E a
dor prostrara a todos naquela casa...” (parte III,
linha 2) é