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Slogans de protesto
Samantha Pearson, colunista do prestigioso Financial
Times, escreveu um artigo sobre a adoção de slogans
publicitários pelos manifestantes que tomaram as ruas de
diversas cidades brasileiras nos últimos meses. Segundo ela, a
utilização dos temas "O gigante acordou", extraída da
campanha do uísque Johnnie Walker, e do "Vem pra rua",
retirado dos anúncios da Fiat, revelam sinais de consumismo
excessivo e alienação política.
Entendo a surpresa da moça. Relacionamos protestos
com palavras de ordem contra o establishment e não a favor
dele. No entanto, como um dos mais antigos historiadores da
humanidade e, porque não dizer, na qualidade de o “pai da
história”, devo esclarecer que a utilização de slogans de
anunciantes em protestos e revoluções não é algo novo.
[...]
O lema “paz, pão e terra”, usado por Lenin para promover
a primeira fase da revolução soviética, expressou com perfeição
três demandas da época: a saída da Rússia da Primeira Guerra
Mundial, comida para todos e a necessidade de uma reforma
agrária radical. Esse simples e brilhante slogan não saiu da
cabeça de nenhum propagandista marxista. Os bolcheviques o
tomaram de uma campanha de um condomínio fechado que
prometia paz, pão e terra aos compradores, pois, os imensos
lotes oferecidos aos burgueses se encontravam longe do centro
de Moscou e ao lado de um campo de trigo.
O caso de Maio de 68 é o mais exemplar. Esse
movimento talvez seja o mais profícuo em slogans. Centenas
de frases de efeito foram gritadas e estampadas em muros e
cartazes pelos manifestantes. Algumas delas seguem ainda
hoje animando as mentes inquietas. O que pouca gente sabe é
que muitos dos ditos da época foram sacados de campanhas
publicitárias de produtos dos mais diversos setores da
economia. "Decretado o estado de felicidade permanente."
(Cerveja). “A Poesia está na rua.” (Perfume). “O sonho é
realidade.” (Previdência privada). "Não mudem de
empregadores, mudem o emprego da vida." (Trabalho
autônomo). "A imaginação toma o poder." (Carro).
Ao historiador, cabe analisar o passado e não fazer
previsões, mas me arrisco a dizer que, num futuro próximo,
manifestantes poderão se apropriar também das frases
promocionais usadas pelo varejo. Já vejo cartazes estampando
dizeres como “imperdível, redução de tarifa já”, “pelo fim da
corrupção, nem que seja em 10x sem juros”, “queima total de
estoque de parlamentares”. O ambiente é propício.
KNIJNIK, Vitor. Blog do Heródoto. Carta Capital. São Paulo: Confiança, Ano XVIII, Nº 757, jul.
2013, p.19. (adaptado)
De acordo com o tipo de discurso, predominantemente,
utilizado pelo autor do texto, é CORRETO afirmar que