Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máq...
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Ano: 2023
Banca:
INEP
Órgão:
ENEM
Prova:
INEP - 2023 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo - PPL |
Q2546406
Português
Para começar, ele nos olha na cara. Não é como
a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com
superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho.
Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu
desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer.
A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo
que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você
faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo
dele, senão ele não aceita. Às vezes, quando a gente
erra, ele faz “bip”. Assim, para todo mundo ouvir. Comecei
a usar o computador na redação do jornal e volta e meia
errava. E lá vinha ele: “Bip!” “Olha aqui, pessoal: ele errou.”
“O burro errou!”.
Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria “bip” em público.
VERISSIMO, L. F. Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1990.
Ao descrever sua relação com a máquina de escrever e o computador, o cronista adota uma perspectiva que
Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria “bip” em público.
VERISSIMO, L. F. Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1990.
Ao descrever sua relação com a máquina de escrever e o computador, o cronista adota uma perspectiva que