Questões Militares de Literatura - Realismo
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As cortinas da janela cerraram-se; Cecília tinha-se deitado. Junto da inocente menina, adormecida na isenção de sua alma pura de virgem, velavam três sentimentos profundos, palpitavam três corações bem diferentes.
Em Loredano, o aventureiro de baixa extração, esse sentimento era desejo ardente, uma sede de gozo, uma febre que lhe requeimava o sangue: o instinto brutal desta natureza vigorosa era ainda aumentado pela impossibilidade moral que sua condição criava, pela barreira que se elevava entre ele, pobre colono, e a filha de D. Antônio de Mariz, rico fidalgo de solar e brasão.
(...)
Em Álvaro, cavalheiro delicado e cortês, o sentimento era uma afeição nobre e pura, cheia de graciosa timidez que perfuma as primeiras flores do coração, e do entusiasmo cavalheiresco que tanta poesia dava aos amores daquele tempo de crença e de lealdade.
(...)
Em Peri, o sentimento era um culto, espécie de idolatria fanática, na qual não entrava um só pensamento de egoísmo; amava Cecília não para sentir um prazer ou ter uma satisfação, mas para dedicar-se inteiramente a ela, para cumprir o menor de seus desejos, para evitar que a moça tivesse um pensamento que não fosse imediatamente uma realidade.
(...)
Assim o amor se transformava tão completamente nessas organizações que apresentava três sentimentos bem distintos: um era uma loucura, o outro uma paixão, o último uma religião.
Leia o capítulo de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, para responder às questões de números 71 a 74.
O cimo da montanha
“Uma das grandes preocupações desses autores era opor-se à burguesia. Criticavam o comportamento abjeto, como o adultério feminino; revelavam também o lado corrupto do clero e a hipocrisia de muitos fieis extremosos, como as beatas. Os escritores, apesar das críticas, mostravam-se impassíveis diante dos fatos narrados, distantes da situação. Apelavam ainda para as impressões sensoriais e, com isso, tornava-se frequente a sexualização do amor.”
O texto acima caracteriza o
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.
Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
(Disponível em: ASSIS, Machado. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
São Paulo: Martin Claret, 1999. p. 17.)
Texto III
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, cousa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual, ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.”
O fragmento acima é parte da obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, publicada em folhetim em 1880 e editada em livro em 1881. Essa obra, de autoria de