Questões Militares de Português - Interpretação de Textos
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Leia com atenção dois fragmentos de Lucíola, de José de Alencar.
Se tivesse agora ao meu lado o Sr. Couto, estou certo que ele me aconselharia para as ocasiões difíceis uma reticência. Com efeito, a reticência não é a hipocrisia no livro, como a hipocrisia é a reticência na sociedade?
Sempre tive horror às reticências; nesta ocasião antes queria desistir do meu propósito, do que desdobrar aos seus olhos esse véu de pontinhos, manto espesso, que para os severos moralistas da época, aplaca todos os escrúpulos, e que em minha opinião tem o mesmo efeito da máscara, o de aguçar a curiosidade. (p.253-254)
Quando a mulher se desnuda para o prazer, os olhos do amante a vestem de um fluido que cega; quando a mulher se desnuda para a arte, a inspiração a transporta a mundos ideais onde a matéria se depura ao hálito de Deus; quando porém a mulher se desnuda para cevar, mesmo com a vista, a concupiscência de muitos, há nisto uma profanação da beleza e da criatura humana, que não tem nome.
É mais do que a prostituição: é a brutalidade da jumenta ciosa que se precipita pelo campo, mordendo os cavalos para despertar-lhes o tardo apetite. (p. 258)
ALENCAR, José de. Lucíola. Ficção completa e outros escritos, vol 1. Rio de Janeiro: Aguilar, 1965.
Considere as afirmativas abaixo:
1. A estratégia narrativa de Lucíola superpõe, entre o real e o ficcional, três figuras autorais: José de Alencar, o escritor do romance; Paulo, o autor das cartas em primeira pessoa; G.M, a destinatária que as organiza em forma de livro, atribuindo-lhe o título.
2. Apesar de situado no romantismo brasileiro, Lucíola inaugura o naturalismo na literatura brasileira ao explicar a sensualidade e a prostituição da protagonista como consequência do meio em que vive: a sociedade degradada da Corte no ano de 1855.
3. O grande amor de Paulo por Lúcia faz com que ele conheça profundamente os sentimentos e pensamentos da amada, gerando em alguns momentos uma oscilação entre a narração em primeira pessoa e a narração onisciente.
4. Paulo é ao mesmo tempo personagem do acontecimento passado e narrador do relato presente. A distância de seis anos possibilita comentários, conclusões e reflexões, deixando clara a diferença temporal entre viver e narrar o vivido.
Assinale a alternativa correta.
As palavras e o tempo
Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” soava-me tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”.
Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. [...]
A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito, parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeitão de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de 20 anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar disponível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi alguém confessar: “Deletei ela da minha vida”.
Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela segue adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.
Cristóvão Tezza, Gazeta do Povo, 20 set.2011.
A partir do texto, considere as seguintes afirmações:
1. O tempo imprime mudanças na língua e as inovações não caracterizam perda de recursos ou de expressividade.
2. Ao falar de formas novas, o autor menciona duas vezes que essas formas estão no Houaiss. Com isso, quer dizer que as formas inovadoras já são reconhecidas como fazendo parte da língua.
3. Segundo o autor, uma frase como “Emprestei dinheiro à minha mãe” é inovadora.
4. Os diferentes contornos que a língua vai tomando não são perceptíveis no dia a dia, mas somente quando o intervalo de tempo é significativo.
Assinale a alternativa correta.
As palavras e o tempo
Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” soava-me tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”.
Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. [...]
A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito, parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeitão de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de 20 anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar disponível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi alguém confessar: “Deletei ela da minha vida”.
Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela segue adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.
Cristóvão Tezza, Gazeta do Povo, 20 set.2011.
“Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir
expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeitão de que vieram lá do
tempo de Camões, na verdade não terão mais de 20 anos – e também já estão no Houaiss.” A partir desse trecho, é
correto afirmar:
Ao anunciar que o Hotel Copacabana Palace passou por uma grande reforma para a Copa do Mundo, a revista TAM nas Nuvens (abril 2014) veiculou o seguinte texto:
O Copacabana Palace é daqueles hotéis – dá para contar nos dedos pelo mundo – que são ao mesmo tempo substantivo e adjetivo. Você já deve ter lido “um Copacabana Palace de Buenos Aires” ou algo assim. Mas a verdade é que apenas recentemente, às vésperas de essa grande senhora de Copacabana – sim, porque tudo me faz crer que “o” Copa é um substantivo feminino – completar 90 anos, passei por aquela porta giratória como hóspede. Porém, longe de encontrar uma old lady.
Informe Publicitário publicado em TAM nas Nuvens, abril de 2014.
Sobre o texto, considere as seguintes afirmações:
1. Ao dizer que o Copacabana Palace é “ao mesmo tempo substantivo e adjetivo”, mencionam-se as propriedades de nomear o local e, paralelamente, de designar qualidade quando a expressão é aplicada a outro local.
2. A publicidade argumenta que existem poucos hotéis no mundo comparáveis ao Copacabana Palace.
3. O texto mostra a expansão da rede do “Copa”, exemplificada pela filial em funcionamento na capital argentina.
4. A ideia central do informe é defender que, apesar de sua tradição, o Copacabana Palace responde às exigências da modernidade.
Assinale a alternativa correta.
Ensaio sobre a cegueira
E então o Congresso saltitou de alegria porque aprovou que nos próximos dez anos 10% do PIB serão destinados para a Educação.
E então os governadores e prefeitos trombetearam de satisfação porque o Congresso deixou para posterior regulamentação as formas de garantir a aplicação adequada desses recursos e a responsabilização de quem não cumprir.
E então os empresários serpentearam de júbilo porque as verbas não são, assim, propriamente para a educação pública.
E então o governo federal ululou de felicidade porque a medida é um resgate histórico de lutas pela melhoria da educação e com recursos ninguém segura esse país e esse é um país que vai pra frente e quem não gostar, ora, deixe-o.
E então as empresas de informática e de outras parafernálias de última geração para garantir ensino como nunca se viu nesse país deliciaram-se com o êxito da medida que gerará empregos e revolucionará para sempre a educação pátria.
E então muitos professores sapatearam frevos, polcas e mazurcas porque agora terão computadores e tablets, quadros digitais e outras ferramentas tecnológicas a aí sim, a educação vai deslanchar.
E então muitos pais exultaram emocionados e eufóricos porque agora as crianças receberão uniforme escolar e materiais diversos e enfim poderão aprender e tornarem-se cidadãos melhores e mais preparados.
E então muitos alunos festejaram e fizeram chacrinhas e chistes uns com os outros porque agora terão aulas em tempo integral, com muitas atividades de informática e outras atividades lúdicas e jogos e não precisarão mais ficar em casa sem fazer nada.
E então disse o mestre Saramago: “Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos, que, vendo, não veem”.
Daniel de Medeiros, 18/06/2014, http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-no-dia-a-dia/
O autor enfatiza a euforia de diferentes segmentos da sociedade após a aprovação pelo Congresso da destinação de mais verbas para a educação. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmações:
1. Com a repetição da expressão “e então”, o autor sugere o encadeamento dos fatos motivados pela deliberação do Congresso.
2. O autor destaca o efeito positivo que a destinação de 10% do PIB terá sobre a educação.
3. As citações de Saramago no título e no último parágrafo evidenciam que os segmentos da sociedade citados não se preocupam efetivamente com a qualidade da educação.
4. Uma regulamentação mais precisa do Congresso atenuaria os interesses escusos de alguns segmentos.
Assinale a alternativa correta.
Marcha a ré
Um grupo de ativistas promoverá neste sábado, em São Paulo e em outras 200 cidades, a "Marcha da Família com Deus", para fazer frente a um "golpe comunista marcado para este ano" – a ser dado, segundo eles, pelo PT e seus aliados. A passeata será uma reedição da "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", que, no dia 19 de março de 1964, protestou contra a "ameaça comunista" e contribuiu para a queda do presidente João Goulart.
É difícil imaginar um "golpe comunista" em que os aliados são Sarney, Collor, Maluf, Renan Calheiros e outros. Mas, quando se trata dessa turma, tudo é possível. A exemplo de 1964, os ativistas vão conclamar os militares a tomar o poder, fechar os partidos, varrer a subversão e a corrupção e, com tudo saneado, nos devolver o país – ou o que sobrar dele.
Pessoalmente, acho a pauta até modesta. Eu pediria também a volta de Claudia Cardinale, Stefania Sandrelli e Vera Vianna. Dos cigarros Luiz XV e Mistura Fina e dos fósforos marca Olho. Da cuba-libre, do hi-fi e da vaca preta. Dos LPs do Tamba Trio, do Henry Mancini e do Modern Jazz Quartet. Das cuecas samba-canção, ideais para um bate-coxa, e dos penteados femininos armados com Bom Bril. Do sexo à milanesa (de noite, na praia) e das corridas de submarino. Tudo isso era 1964.
Do "Correio da Manhã", do pente Flamengo e do concretismo. Da Gillette Mono Tech, da pasta d'água e da Coca-Cola como bronzeador. Do Toddy em lata, dos tróleibus e das bicicletas Monark com pneu balão. Da Parker 21, do papel almaço e da goma arábica. Dos currículos com latim, francês e canto orfeônico. Tudo isso também era 1964.
Já os militares que a "Marcha" quer chamar de volta, não recomendo. Sob eles, a família se esgarçou, a liberdade acabou e, em pouco tempo, o próprio Deus saiu de fininho para não se comprometer.
Ruy Castro, www.folha.uol.com.br, 19 de março de 2014.
Marcha a ré
Um grupo de ativistas promoverá neste sábado, em São Paulo e em outras 200 cidades, a "Marcha da Família com Deus", para fazer frente a um "golpe comunista marcado para este ano" – a ser dado, segundo eles, pelo PT e seus aliados. A passeata será uma reedição da "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", que, no dia 19 de março de 1964, protestou contra a "ameaça comunista" e contribuiu para a queda do presidente João Goulart.
É difícil imaginar um "golpe comunista" em que os aliados são Sarney, Collor, Maluf, Renan Calheiros e outros. Mas, quando se trata dessa turma, tudo é possível. A exemplo de 1964, os ativistas vão conclamar os militares a tomar o poder, fechar os partidos, varrer a subversão e a corrupção e, com tudo saneado, nos devolver o país – ou o que sobrar dele.
Pessoalmente, acho a pauta até modesta. Eu pediria também a volta de Claudia Cardinale, Stefania Sandrelli e Vera Vianna. Dos cigarros Luiz XV e Mistura Fina e dos fósforos marca Olho. Da cuba-libre, do hi-fi e da vaca preta. Dos LPs do Tamba Trio, do Henry Mancini e do Modern Jazz Quartet. Das cuecas samba-canção, ideais para um bate-coxa, e dos penteados femininos armados com Bom Bril. Do sexo à milanesa (de noite, na praia) e das corridas de submarino. Tudo isso era 1964.
Do "Correio da Manhã", do pente Flamengo e do concretismo. Da Gillette Mono Tech, da pasta d'água e da Coca-Cola como bronzeador. Do Toddy em lata, dos tróleibus e das bicicletas Monark com pneu balão. Da Parker 21, do papel almaço e da goma arábica. Dos currículos com latim, francês e canto orfeônico. Tudo isso também era 1964.
Já os militares que a "Marcha" quer chamar de volta, não recomendo. Sob eles, a família se esgarçou, a liberdade acabou e, em pouco tempo, o próprio Deus saiu de fininho para não se comprometer.
Ruy Castro, www.folha.uol.com.br, 19 de março de 2014.
No texto, o autor
1. destaca que, 40 anos depois, as mesmas reivindicações da marcha de 1964 ainda mobilizam a população.
2. reitera a importância de enfocar temas como “família”, “liberdade”, “Deus” em qualquer época.
3. manifesta avaliação negativa em relação aos políticos que seriam “aliados” do PT.
4. avalia como retrocesso a manifestação feita em 2014.
Assinale a alternativa correta.
Marcha a ré
Um grupo de ativistas promoverá neste sábado, em São Paulo e em outras 200 cidades, a "Marcha da Família com Deus", para fazer frente a um "golpe comunista marcado para este ano" – a ser dado, segundo eles, pelo PT e seus aliados. A passeata será uma reedição da "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", que, no dia 19 de março de 1964, protestou contra a "ameaça comunista" e contribuiu para a queda do presidente João Goulart.
É difícil imaginar um "golpe comunista" em que os aliados são Sarney, Collor, Maluf, Renan Calheiros e outros. Mas, quando se trata dessa turma, tudo é possível. A exemplo de 1964, os ativistas vão conclamar os militares a tomar o poder, fechar os partidos, varrer a subversão e a corrupção e, com tudo saneado, nos devolver o país – ou o que sobrar dele.
Pessoalmente, acho a pauta até modesta. Eu pediria também a volta de Claudia Cardinale, Stefania Sandrelli e Vera Vianna. Dos cigarros Luiz XV e Mistura Fina e dos fósforos marca Olho. Da cuba-libre, do hi-fi e da vaca preta. Dos LPs do Tamba Trio, do Henry Mancini e do Modern Jazz Quartet. Das cuecas samba-canção, ideais para um bate-coxa, e dos penteados femininos armados com Bom Bril. Do sexo à milanesa (de noite, na praia) e das corridas de submarino. Tudo isso era 1964.
Do "Correio da Manhã", do pente Flamengo e do concretismo. Da Gillette Mono Tech, da pasta d'água e da Coca-Cola como bronzeador. Do Toddy em lata, dos tróleibus e das bicicletas Monark com pneu balão. Da Parker 21, do papel almaço e da goma arábica. Dos currículos com latim, francês e canto orfeônico. Tudo isso também era 1964.
Já os militares que a "Marcha" quer chamar de volta, não recomendo. Sob eles, a família se esgarçou, a liberdade acabou e, em pouco tempo, o próprio Deus saiu de fininho para não se comprometer.
Ruy Castro, www.folha.uol.com.br, 19 de março de 2014.
Maravilha!
Pode-se parafrasear Winston Churchill e dizer da democracia o mesmo que se diz da velhice, que, por mais lamentável que seja, é melhor que sua alternativa. A única alternativa para a velhice é a morte. Já as alternativas para a democracia são várias, uma pior do que a outra. É bom lembrá-las sempre, principalmente no horário político, quando sua irritação com a propaganda que atrasa a novela pode levá-lo a preferir outra coisa. Resista. [...] Diante disso, em vez de “que chateação”, pense “que maravilha!”. É a democracia em ação, com seus grotescos e tudo. Saboreie, saboreie.
O processo, incrivelmente, se autodepura, sobrevive aos seus absurdos e dá certo. Ou dá errado, mas pelo menos de erro em erro vamos ganhando a prática. Mesmo o que impacienta é aproveitável, e votos inconsequentes acabam consequentes. O Tiririca, não sei, mas o Romário não deu um bom deputado? Vocações políticas às vezes aparecem em quem menos se espera. E é melhor o cara poder dizer a bobagem que quiser na TV do que viver num país em que é obrigado a cuidar do que diz. Melhor ele pedir voto porque é torcedor do Flamengo ou bom filho do que ter sua perspectiva de vida decidida numa ordem do dia de quartel. Melhor você ser manipulado por marqueteiros políticos, com direito a desacreditá-los, do que pela propaganda oficial e incontestável de um poder ditatorial. [...]
Certo, às vezes as alternativas para a democracia parecem tentadoras. Ah, bons tempos em que o colégio eleitoral era minimalista: tinha um só eleitor. O general da Presidência escolhia o general que lhe sucederia, e ninguém pedia o nosso palpite. Era um processo rápido e ascético que não sujava as ruas. A escolha do poder nas monarquias absolutas também é simples e sumária, e o eleitor do rei também é um só, Deus, que também não se interessa pela nossa opinião. Ou podemos nos imaginar na Roma de Cícero, governados por uma casta de nobres, sem nenhuma obrigação cívica salvo a de aplaudi-los no fórum, só cuidando para não parecer ironia. A democracia é melhor. Mesmo que, como no caso do Brasil das alianças esquisitas, os partidos coligados em disputa lembrem uma salada mista, e ninguém saiba ao certo quem representa o quê. E onde, com o poder econômico mandando e desmandando, a atividade política termine parecendo apenas uma pantomima. Não importa, não deixa de ser – comparada com o que já foi – uma maravilha.
Luis Fernando Veríssimo, 31/08/2014, www.geledes.org.br
Maravilha!
Pode-se parafrasear Winston Churchill e dizer da democracia o mesmo que se diz da velhice, que, por mais lamentável que seja, é melhor que sua alternativa. A única alternativa para a velhice é a morte. Já as alternativas para a democracia são várias, uma pior do que a outra. É bom lembrá-las sempre, principalmente no horário político, quando sua irritação com a propaganda que atrasa a novela pode levá-lo a preferir outra coisa. Resista. [...] Diante disso, em vez de “que chateação”, pense “que maravilha!”. É a democracia em ação, com seus grotescos e tudo. Saboreie, saboreie.
O processo, incrivelmente, se autodepura, sobrevive aos seus absurdos e dá certo. Ou dá errado, mas pelo menos de erro em erro vamos ganhando a prática. Mesmo o que impacienta é aproveitável, e votos inconsequentes acabam consequentes. O Tiririca, não sei, mas o Romário não deu um bom deputado? Vocações políticas às vezes aparecem em quem menos se espera. E é melhor o cara poder dizer a bobagem que quiser na TV do que viver num país em que é obrigado a cuidar do que diz. Melhor ele pedir voto porque é torcedor do Flamengo ou bom filho do que ter sua perspectiva de vida decidida numa ordem do dia de quartel. Melhor você ser manipulado por marqueteiros políticos, com direito a desacreditá-los, do que pela propaganda oficial e incontestável de um poder ditatorial. [...]
Certo, às vezes as alternativas para a democracia parecem tentadoras. Ah, bons tempos em que o colégio eleitoral era minimalista: tinha um só eleitor. O general da Presidência escolhia o general que lhe sucederia, e ninguém pedia o nosso palpite. Era um processo rápido e ascético que não sujava as ruas. A escolha do poder nas monarquias absolutas também é simples e sumária, e o eleitor do rei também é um só, Deus, que também não se interessa pela nossa opinião. Ou podemos nos imaginar na Roma de Cícero, governados por uma casta de nobres, sem nenhuma obrigação cívica salvo a de aplaudi-los no fórum, só cuidando para não parecer ironia. A democracia é melhor. Mesmo que, como no caso do Brasil das alianças esquisitas, os partidos coligados em disputa lembrem uma salada mista, e ninguém saiba ao certo quem representa o quê. E onde, com o poder econômico mandando e desmandando, a atividade política termine parecendo apenas uma pantomima. Não importa, não deixa de ser – comparada com o que já foi – uma maravilha.
Luis Fernando Veríssimo, 31/08/2014, www.geledes.org.br
Maravilha!
Pode-se parafrasear Winston Churchill e dizer da democracia o mesmo que se diz da velhice, que, por mais lamentável que seja, é melhor que sua alternativa. A única alternativa para a velhice é a morte. Já as alternativas para a democracia são várias, uma pior do que a outra. É bom lembrá-las sempre, principalmente no horário político, quando sua irritação com a propaganda que atrasa a novela pode levá-lo a preferir outra coisa. Resista. [...] Diante disso, em vez de “que chateação”, pense “que maravilha!”. É a democracia em ação, com seus grotescos e tudo. Saboreie, saboreie.
O processo, incrivelmente, se autodepura, sobrevive aos seus absurdos e dá certo. Ou dá errado, mas pelo menos de erro em erro vamos ganhando a prática. Mesmo o que impacienta é aproveitável, e votos inconsequentes acabam consequentes. O Tiririca, não sei, mas o Romário não deu um bom deputado? Vocações políticas às vezes aparecem em quem menos se espera. E é melhor o cara poder dizer a bobagem que quiser na TV do que viver num país em que é obrigado a cuidar do que diz. Melhor ele pedir voto porque é torcedor do Flamengo ou bom filho do que ter sua perspectiva de vida decidida numa ordem do dia de quartel. Melhor você ser manipulado por marqueteiros políticos, com direito a desacreditá-los, do que pela propaganda oficial e incontestável de um poder ditatorial. [...]
Certo, às vezes as alternativas para a democracia parecem tentadoras. Ah, bons tempos em que o colégio eleitoral era minimalista: tinha um só eleitor. O general da Presidência escolhia o general que lhe sucederia, e ninguém pedia o nosso palpite. Era um processo rápido e ascético que não sujava as ruas. A escolha do poder nas monarquias absolutas também é simples e sumária, e o eleitor do rei também é um só, Deus, que também não se interessa pela nossa opinião. Ou podemos nos imaginar na Roma de Cícero, governados por uma casta de nobres, sem nenhuma obrigação cívica salvo a de aplaudi-los no fórum, só cuidando para não parecer ironia. A democracia é melhor. Mesmo que, como no caso do Brasil das alianças esquisitas, os partidos coligados em disputa lembrem uma salada mista, e ninguém saiba ao certo quem representa o quê. E onde, com o poder econômico mandando e desmandando, a atividade política termine parecendo apenas uma pantomima. Não importa, não deixa de ser – comparada com o que já foi – uma maravilha.
Luis Fernando Veríssimo, 31/08/2014, www.geledes.org.br
Ao fazer o elogio à democracia, o autor aponta, também, defeitos do regime. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmativas:
1. A democracia apresenta grandes incoerências internas.
2. O sistema econômico tem grande poder sobre as decisões.
3. O regime democrático tem, na sua contraparte, muitas alternativas.
4. As articulações entre os partidos são pouco claras, dada sua indefinição.
Comprovam a afirmação de que o autor tanto elogia quanto critica o regime democrático as afirmativas:
A melhor forma de se evitar a dengue é combater os focos de acúmulo de água, locais propícios para a criação do mosquito transmissor da doença. Para isso, é importante não acumular água em latas, pneus velhos, vasos de plantas, caixas d´água, entre outros. Lembre-se: a prevenção é a única arma contra a doença.
(www.dengue.org.br. Adaptado)
Um termo empregado com sentido figurado, no texto, é:
(André Dahmer. www.folha.uol.com.br, 14.05.2015. Adaptado)
A partir da análise da fala da personagem, conclui-se, corretamente, que a crítica principal explicitada na tira diz respeito
O termo meio, destacado em – Ele é um sujeito meio estranho. –,
A passagem – Não pode ouvir sirene da polícia, larga tudo e sai correndo... – está corretamente reescrita, com as relações de sentido preservadas, em:
O mal-estar provocado por gripes e resfriados é o principal motivo que os brasileiros alegam para se ausentar do trabalho, apontou a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O levantamento mostrou que 17,8% dos brasileiros que faltaram ao trabalho pelo menos um dia alegaram ter tido gripe ou resfriado. A pesquisa foi feita em 2013, em 62,9 mil domicílios em todos os Estados da federação. O estudo é inédito e não tem, portanto, base de comparação.
Ainda que virais, a gripe e o resfriado têm diferenças. Segundo o médico Drauzio Varela, o resfriado é menos intenso e caracteriza-se por coriza, cabeça pesada e irritação na garganta. Mais brando, pode provocar febres isoladas, que não ultrapassam 38,5 graus. A gripe pode derrubar a pessoa por alguns dias, requer repouso, boa hidratação e, com a orientação profissional, uso de analgésicos e antitérmicos.
(Lucas Vettorazzo. “Resfriado é principal motivo para falta no trabalho ou
estudos, aponta IBGE”. www.folha.uol.com.br, 02.06.2015. Adaptado)
O mal-estar provocado por gripes e resfriados é o principal motivo que os brasileiros alegam para se ausentar do trabalho, apontou a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O levantamento mostrou que 17,8% dos brasileiros que faltaram ao trabalho pelo menos um dia alegaram ter tido gripe ou resfriado. A pesquisa foi feita em 2013, em 62,9 mil domicílios em todos os Estados da federação. O estudo é inédito e não tem, portanto, base de comparação.
Ainda que virais, a gripe e o resfriado têm diferenças. Segundo o médico Drauzio Varela, o resfriado é menos intenso e caracteriza-se por coriza, cabeça pesada e irritação na garganta. Mais brando, pode provocar febres isoladas, que não ultrapassam 38,5 graus. A gripe pode derrubar a pessoa por alguns dias, requer repouso, boa hidratação e, com a orientação profissional, uso de analgésicos e antitérmicos.
(Lucas Vettorazzo. “Resfriado é principal motivo para falta no trabalho ou
estudos, aponta IBGE”. www.folha.uol.com.br, 02.06.2015. Adaptado)