Questões Militares
Sobre orações coordenadas assindéticas em português
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“Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.” (Luís Fernando Veríssimo)
A terceira oração do referido fragmento classifica-se como:
Leia atentamente o texto abaixo e responda a questão proposta.
MEU MELHOR CONTO
Moacyr Scliar
Você me pergunta qual foi o melhor conto que escrevi. Indagação
típica de jovens jornalistas; vocês vêm aqui, com esses pequenos gravadores,
que sempre dão problema, e uma lista de perguntas - e aí querem saber qual foi
o melhor ponto que a gente fez, qual provocou maior controvérsia, essas coisas.
Mas tudo bem: não vou me furtar a responder essa questão. Dá mais trabalho
explicar por que a gente não responde do que simplesmente responder.
Meu melhor
conto... Não está em nenhum dos meus livros, em nenhuma antologia, em nenhuma
publicação. Ele está aqui, na minha memória; posso acessá-lo a qualquer
momento. Posso inclusive lembrar as circunstâncias em que o escrevi. Não
esqueci, não. Não esqueci nada. Mesmo que quisesse esquecer, não o
conseguiria.
Eu era então um
jovem escritor - faz muito tempo, portanto, que isso aconteceu. Estava
concluindo o curso de Letras e acabara de publicar meu primeiro livro, recebido
com muito entusiasmo pelos críticos. É uma revelação, diziam todos, e eu, que à
época nada tinha de modesto, concordava inteiramente: considerava-me um gênio.
Um génio contestador. Minhas histórias estavam impregnadas de indignação; eram
verdadeiros panfletos de protesto contra a injustiça social. O que me salvava
do lugar-comum era a imaginação - a imaginação sem limites que é a marca
registrada da juventude literária e que, como os cabelos, desaparecem com os
anos.
Mas eu não
era só escritor. Era militante político. Fazia parte de um minúsculo, obscuro,
mas extremado grupo de universitários. Veio o golpe de 1964, participei em
manifestações de protesto, cheguei a pensar em juntar-me à guerrilha - o que
certamente seria um-desastre, porque eu era um garoto de classe média, mimado
pelos pais, acostumado ao conforto, enfim, uma antípoda do guerrilheiro. De
qualquer modo, fui preso.
Uma tragédia.
Meus pais quase enlouqueceram. Fizeram o possível para me soltar, falaram com
Deus e todo mundo, com políticos, jornalistas e até generais. Inútil. O momento
era de linha dura, linha duríssima, e eu estava em mais de uma lista de suspeitos.
Não me soltariam de jeito nenhum.
Fui levado para um
lugar conhecido como Usina Pequena. Havia duas razões para essa denominação.
Primeiro, o centro de detenção ficava, de fato, perto de uma termelétrica. Em
segundo lugar, o método preferido para a tortura era, ali, o choque elétrico.
O chefe da Usina
Pequena era o Tenente Jaguar. Esse não era o seu verdadeiro nome, mas o apelido
era mais que o apropriado: ele tinha mesmo cara de felino, e de felino muito
feroz. Ao sorrir, mostrava os caninos enormes - e isso era suficiente para dar
calafrios nos prisioneiros.
Fiquei pouco tempo
na Usina Pequena, quinze dias. Mas foi o suficiente. Da cela que eu ocupava, um
cubículo escuro, úmido, fétido, eu ouvia os gritos dos prisioneiros sendo torturados
e entrava em pânico, perguntando-me quando chegaria a minha vez. E aí uma manhã
eles vieram me buscar e levaram-me para a chamada Sala do Gerador, o lugar das
torturas, e ali estava o Tenente Jaguar, à minha espera, fumando uma cigarrilha
e exibindo aquele sorriso sinistro. Leu meu prontuário e começou o
interrogatório. Queria saber o paradeiro de um dos meus professores, suspeito
de ser um líder importante na guerrilha.
Tão apavorado eu
estava que teria falado - se soubesse, mesmo, onde estava o homem. Mas eu não
sabia e foi o que respondi, numa voz trémula, que não sabia. Ele me olhou e
estava claramente decidindo se eu falava a verdade ou se era bom ator. Mas ali
a regra era: na dúvida, a tortura. E eu fui torturado. Choques nos genitais, o método
clássico. No quarto choque, desmaiei, e me levaram de volta para a cela.
Durante dois dias
ali fiquei, deitado no chão, encolhido, apavorado. No terceiro dia o carcereiro
entrou na sala: o Tenente queria me ver. Implorei para que não me levasse: eu
não aguento isso, vou morrer, e vocês vão se meter em confusão. Ignorando
minhas súplicas, arrastou-me pelo corredor, mas não me levou para o lugar das
torturas, e sim para a sala do Tenente. O que foi uma surpresa. Uma surpresa
que aumentou quando o homem me recebeu gentilmente, pediu que sentasse,
ofereceu-me um chá. Perguntou se eu tinha me recuperado dos choques; e aí - eu
cada vez mais atônito - pediu desculpas: eu tinha de compreender que torturar
era a função dele, e que precisava cumprir ordens.
Ficou um instante
olhando pela janela - era uma bela manhã de primavera - e depois voltou-se para
mim, anunciando que tinha um pedido a me fazer.
Àquela altura eu
não entendia mais nada. Ele tinha um pedido a me fazer? O todo-poderoso chefe
daquele lugar? O cara que podia me liquidar sem qualquer explicação tinha um
pedido? Estou às suas ordens, eu disse, numa voz sumida, e ele foi adiante. Eu
sei que você é escritor, e um escritor muito elogiado.
Está na sua
ficha - acrescentou, sorridente. - Nós aqui temos todas as informações sobre
sua vida.
Olhou-me de
novo e acrescentou:
- Tem uma
coisa que eu queria lhe mostrar.
Abriu uma gaveta
e tirou de lá um recorte de jornal. Era uma notícia sobre um concurso de
contos. Cada vez mais surpreso, li aquilo e mirei-o sem entender. Ele explicou.
Eu escrevo.
Contos, como você. Mas tenho de admitir: não tenho um décimo do seu talento.
Nova pausa, e continuou:
Quero ganhar
esse concurso literário. Melhor, preciso ganhar esse concurso literário. Não me
pergunte a razão, mas é muito importante para mim. E você vai me ajudar. Vai
escrever um conto para mim. Posso contar com você, não é?
E então aconteceu
a coisa mais surpreendente. Eu disse que não, que não escreveria merda nenhuma
para ele.
Tão logo falei,
dei-me conta do que tinha feito - e fiquei a um tempo aterrorizado e orgulhoso.
Sim, eu tinha ousado resistir. Sim, eu tinha mostrado a minha fibra de
revolucionário. Mas, e agora? E os choques?
Para meu espanto,
o homem começou a chorar. Chorava desabaladamente, como uma criança. E então me
explicou: quem tinha mandado aquele recorte fora o seu filho, um rapaz de
catorze anos que adorava o pai, e adorava as histórias que o pai escrevia
- Ele quer que
eu ganhe o concurso, o meu filho o Tenente, soluçando. E eu quero ganhar o
concurso. Para ele. É um rapaz muito doente, talvez não viva muito. Eu preciso
lhe dar essa alegria. E só você pode me ajudar.
Olhava-me, as
lágrimas escorrendo pela face.
O que podia eu
dizer? Pedi que me arranjasse uma máquina de escrever e umas folhas de papel.
Naquela tarde
mesmo escrevi o conto. Nem precisei pensar muito; simplesmente sentei e fui
escrevendo. A história brotava de dentro de mim, fluía fácil. E era um belo
conto, diferente de tudo o que eu tinha escrito até então. Não falava em
revolta, não satirizava opressores. Contava a história de um pai e de seu filho
moribundo.
Entreguei o
conto ao Tenente, que o recebeu sem dizer palavra, sem sequer me olhar. E no
dia seguinte fui solto.
Nunca fiquei
sabendo o que aconteceu depois, o resultado do concurso, nada disso. Não estava
interessado; ao contrário, queria esquecer a história toda, e inclusive o conto
que eu tinha escrito. O que foi inútil. A narrativa continuava dentro de mim,
como continua até hoje. Se eu quisesse, poderia escrevê-la de uma sentada.
Mas não o
farei. Esse conto não me pertence. É, acho, a melhor coisa que escrevi, mas não
me pertence. Pertence ao Tenente, que esses dias, aliás, vi na rua: um ancião
alquebrado, que anda apoiado numa bengala.
Ele me olhou e
sorriu. Talvez tivesse, com gratidão, lembrado aquele episódio. Ou talvez
estivesse debochando de mim. Com esses velhos torturadores, a gente nunca sabe.
(Porto Alegre, 2003.)
Conto de Moacyr Scliar
publicado no livro "Do conto à crônica".
Marque a alternativa CORRETA. Identifique o fragmento em que há período composto:

“O livro é um conselheiro silencioso e paciente. Traz- -nos ensinamentos preciosos, aumenta nossa cultura, tem um tempo inesgotável, portanto não nos apressa a leitura, e, além do mais, pode atravessar várias gerações.” (Josué Solar)
Assinale a alternativa incorreta sobre o texto acima.
Ser solidário é bom, mas não basta
As doações de empresas e indivíduos para financiar o esforço no combate à pandemia de covid-19 já superaram R$ 3 bilhões. É uma cifra formidável. Dessa forma, a elite nacional exibe notável senso de solidariedade em relação aos milhões de brasileiros que dependem de ajuda para sobreviver, não só ao coronavírus, mas à miséria.
O problema é que, passada a pandemia, a elite, hoje solidária, retomará seus afazeres privados, mas nada da duríssima realidade de seus miseráveis compatriotas terá mudado. Assim, a solidariedade ante o padecimento dos desafortunados, embora louvável e necessária, não é suficiente. É preciso que a sociedade, em especial a elite política e econômica, considere inaceitável que a maioria de seus conterrâneos viva apartada daquilo a que chamamos de civilização.
Adentramos o século 21, quando as maravilhas das tecnologias digitais multiplicam o conforto e a sofisticação das sociedades, mas há uma parte significativa dos brasileiros que vive como se ainda estivéssemos no século 19 – sem acesso a equipamentos públicos que a esta altura já deveriam ser universais.
Não se pode considerar aceitável que 100 milhões de brasileiros não tenham acesso a esgoto tratado, como se todas essas pessoas fossem cidadãs de segunda classe. Do mesmo modo, devemos considerar vergonhoso viver em um dos países mais desiguais do mundo, em múltiplos sentidos, não só em renda, como em outros indicadores.
Assim, não se trata mais de uma crise social e sanitária. É uma crise vital. Para enfrentá-la, não basta ser solidário. Está na hora de lutar, para que a sociedade se transforme, de tal maneira que todos os que aqui vivem, sem exceção, sejam afinal tratados com um mínimo de dignidade.
(O Estado de S.Paulo, 31.05.2020. Adaptado)
“(…) e não seja influenciado por ninguém!”.
Como podemos classificá-la?
Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. (linhas 21 e 22)
A respeito do trecho sublinhado acima, assinale a afirmativa correta.
Redes sociais: o reino encantado da intimidade de faz de conta
Recebi, por e-mail, um convite para um evento literário. Aceitei, e logo a moça que me convidou pediu meu número de Whatsapp para agilizar algumas informações. No dia seguinte, nossa formalidade havia evoluído para emojis de coraçãozinho. No terceiro dia, eia iniciou a mensagem com um "bom dia, amiga". Quando eu fizer aniversário, acho que vou convidá-la pra festa.
Postei no Instagram a foto de um cartaz de cinema, e uma leitora deixou um comentário no Direct. Disse que vem passando por um drama parecido como do filme; algo tão pessoal, que ela só quis contar para mim, em quem confia 100%. Como não chamá-la para a próxima ceia de Natal aqui em casa? Fotos de recém-nascidos me são enviadas por mulheres que eu nem sabia que estavam grávidas. Mando condolências pela morte do avô de alguém que mal cumprimento quando encontro num bar. Acompanho a dieta alimentar de estranhos. Fico sabendo que o amigo de uma conhecida troca, todos os dias, as fraldas de sua mãe velhinha, mas que não faria isso pelo pai, que sempre foi seco e frio com ele - e me comovo; sinto como se estivesse sentada a seu lado no sofá, enxugando suas lágrimas.
Mas não estou sentada a seu lado no sofá e nem mesmo sei quem ele é; apenas li um comentário deixado numa postagem do Facebook, entre outras milhares de postagens diárias que não são pra mim, mas que estão ao alcance dos meus olhos. É o reino encantado das confidências instantâneas e das distâncias suprimidas: nunca fomos tão íntimos de todos.
Pena que esse mundo fofo é de faz de conta, intimidade, pra valer, exige paciência e convivência, tudo o que, infelizmente, tornou-se sinônimo de perda de tempo. Mais vale a aproximação ilusória: as pessoas amam você, mesmo sem conhecê-la de verdade. É como disse, certa vez, o ator Daniel Dantas em entrevista à Marilia Gabriela: "Eu gostaria de ser a pessoa que meu cachorro pensa que eu sou".
Genial. Um cachorro começa a seguir você na rua e, se você der atenção e o levar pra casa, ganha um amigo na hora. O cachorro vai achá-lo o máximo, pois a única coisa que ele quer é pertencer. Ele não está nem aí para suas fraquezas, para suas esquisitices, para a pessoa que você realmente é: basta que você o adote.
A comparação é meio forçada, mas tem alguma relação com o que acontece nas redes. Farejamos uns aos outros, ofertamos um like e, de imediato, ganhamos um amigo que não sabe nada de profundo sobre nós, e provavelmente nunca saberá. A diferença - a favor do cachorro - é que este está realmente por perto, todos os dias, e é sensível aos nossos estados de ânimo, tornando-se íntimo a seu modo. Já alguns seres humanos seguem outros seres humanos sem que jamais venham a pertencer à vida um do outro, inaugurando uma nova intimidade: a que não existe de modo nenhum.
Martha Medeiros <https://www, revistaversar.com. br/redes-sociais-inttmÍdade/>
Assinalar a opção que contém uma informação CORRETA sobre o período abaixo.
“A legislação brasileira (LDBEN 9394/96) busca garantir que a inclusão escolar permita
que as crianças, que apresentam algum tipo de necessidade especial, possam se socializar,
desenvolver suas capacidades pessoais e aprimorar sua inteligência emocional." (L. 5/7)
TEXTO I
Janus era o deus com dupla face no mundo antigo. Contemplava direções opostas. Ele batiza o monte Janículo, em Roma, onde está enterrada Anita Garibaldi (a heroína de dois mundos no monte do deus de duas faces). Janus também orienta o nome do Mês de janeiro. É o deus de começo e fim, de passado e futuro, dos momentos de transição.
Janeiro é bifronte. Estão frescas as memórias de Ano-Novo. Desejamos um ser novo daqui para frente. Perderemos peso, aprenderemos línguas, guardaremos dinheiro, visitaremos mais os amigos. Então, chega a festa dos Reis, 6 de janeiro, limite do ímpeto transformador. O rio da transformação desacelera e chega ao calmo fluxo da planície cotidiana. Como diz meu querido Hamlet no seu monólogo, a consciência nos torna covardes e o ânimo mais resoluto se afoga na sombra do pensar. Decidimos pela ação e o cotidiano a dilui. O soluto da vontade se entrega ao solvente dos dias intermináveis e do cotidiano desgastante.
O ano será bom ou ruim? Entramos no campo cediço do acaso. A Fortuna romana era a deusa do acaso. Os gregos a chamavam Tique. Nossas vidas serão regidas pelo aleatório. Às vezes parece que sim. O Romeu de Shakespeare brada ao espaço ser um joguete do destino. A grande Bárbara Heliodora prefere traduzir “I am fortune’s fool” por “eu sou palhaço dos fados”.
Sou historiador. Gosto de exemplos concretos. Jean-Baptiste Lully era o italiano que Luiz XIV adotou como o grande compositor da corte francesa de Versalhes. Brilhou musicando bailados para o Rei Sol. Ele estava no auge da fama e do dinheiro. Por determinação do monarca, controlava toda a produção musical francesa. Em 8 de janeiro, ele regia um Te Deum, um hino de ação de graças pela saúde do Rei que se recuperava de uma doença. Batendo com um grande bastão no chão para marcar o compasso, Jully se distraiu e alvejou o próprio pé. A pequena ferida infeccionou numa era pré-antibiótico. Ele determinou que o pé não poderia ser amputado. Morreu dois meses depois, em 22 de março de 1687. Foi vítima de si mesmo e do acaso.
Jully não foi a primeira morte estranha, fruto de um acaso cruel. O autor teatral Ésquilo era aclamado como o maior de toda a Grécia clássica. Suas peças, como Prometeu acorrentado e Os persas, são encenadas até hoje. Era um talento reconhecido e premiado. Ésquilo ostentava luzidia careca. Escrevia ao ar livre para se inspirar. Uma águia segurava nas garras uma tartaruga e, seguindo velha tradição, jogava o réptil numa pedra para espatifar o casco. Viu a brilhante cabeça do tragediógrafo e arremeteu o petardo, confundindo-o com uma rocha. Ésquilo morreu de uma “tartarugada” na cabeça. O leitor pode supor como essa história me assusta.
Dos gregos à corte de Luiz XIV e dali a um avião que conduzia o time de Chapecó: por todo o lado, a tragédia parece combinar acaso com a incompetência. Jovens que teriam uma vida toda de glórias pela frente encontram seu fim no cruzamento entre a imperícia e a ganância. Como pensar algo original sobre esse absurdo?
Janus olha para frente e para trás. O acaso nos ronda e desafia a racionalidade. Maquiavel falava do cruzamento entre virtù e fortuna. A primeira seria a soma de suas habilidades pessoais, seus dons e talentos, que podem ser melhorados. Fortuna seria o acaso, aquilo que não se controla. O príncipe de sucesso seria o que combinasse as duas coisas: saberia usar a fortuna e suas habilidades. Por um lado, todos os fatalistas amam a fortuna. Quem usa maktub , a expressão árabe para “ estava escrito” (próximo da latina fatum), pensa imediatamente no quanto somos marionetes de forças super/supranaturais. Por outro lado, todos os adeptos do empreendedorismo falam do poder das escolhas feitas. Sou esculpido por mim ou pela sorte? Sou um cruzamento dessas forças? Qual o grau de autonomia que terei ao longo do ano?
É sempre muito alentador imaginar que exista algo superior a mim que me determine. Esse é o conforto dos fados. O que fez com que Edgar Allan Poe, um dos maiores poetas norte-americanos, fosse brilhante e dependente do álcool? O que fez de Ernest Hemingway um escritor intenso e atormentado que iria até o suicídio? Como a Guerra Civil Espanhola interrompeu a carreira de uma artista total como Frederico García Lorca? Por que um duelo cortou a carreira precoce de um dos grandes inovadores da matemática: Évariste Galois? Era um gênio. Morreu com 21 anos incompletos. São as formas pelas quais as cartas saem do baralho da vida, dirão alguns. Trata-se de escolhas racionais e autônomas, garantem outros.
Jean-Paul Sartre enfatizava muito que nossa experiência antecede nossa essência, que somos e fazemos as coisas a partir de nossa liberdade, que eu sou fruto da liberdade inelutável e angustiante do existir. Há, aqui, uma crença forte da autonomia do humano e da sua vontade.
Meu orgulho impede que eu me entregue ao fatalismo absoluto. Meu senso de equilíbrio sabe que não sou um deus criando mundos. De fato, creio que somos uma linha curva entre o acaso e a força de vontade, entre a fortuna e a virtù . Seu ano será essa curva graciosa e ousada. Você tomará decisões racionais e interessantes. O mundo fará sua oposição usual. O que resultará disso? Difícil saber. A resposta é parte da aventura da nossa biografia.
Jonh Lennon escreveu para seu filho, em “Beautiful Boy”, que a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos.
KARNAL, Leandro. Diálogo das culturas. São Paulo: Contexto, 2017, pp. 94-96.
TEXTO II
A TRISTE PARTIDA
Patativa do Assaré
Meu Deus, meu Deus. . .
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai
A treze do mês
Ele fez experiência
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
Meu Deus, meu Deus
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
Ai, ai, ai, ai
Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além
Meu Deus, meu Deus
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois a barra não tem
Ai, ai, ai, ai
Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
Meu Deus, meu Deus
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
Ai, ai, ai, ai
Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Senhor São José
Meu Deus, meu Deus
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé
Ai, ai, ai, ai
Agora pensando
Ele segue outra tria
Chamando a famia
Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus
Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nós vamos a São Paulo
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai
Nós vamos a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
Ai, ai, ai, ai
E vende seu burro
Jumento e o cavalo
Inté mesmo o galo
Venderam também
Meu Deus, meu Deus
Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem
Ai, ai, ai, ai
Em um caminhão
Ele joga a famia
Chegou o triste dia
Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus
A seca terrível
Que tudo devora
Lhe bota pra fora
Da terra natá
Ai, ai, ai, ai
O carro já corre
No topo da serra
Oiando pra terra
Seu berço, seu lar
Meu Deus, meu Deus
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu lugar
Ai, ai, ai, ai
No dia seguinte
Já tudo enfadado
E o carro embalado
Veloz a correr
Meu Deus, meu Deus
Tão triste, coitado
Falando saudoso
Seu filho choroso
Exclama a dizer
Ai, ai, ai, ai
De pena e saudade
Papai sei que morro
Meu pobre cachorro
Quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus
Já outro pergunta
Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato
Mimi vai morrer
Ai, ai, ai, ai
E a linda pequena
Tremendo de medo
"Mamãe, meus brinquedo
Meu pé de fulô?"
Meu Deus, meu Deus
Meu pé de roseira
Coitado, ele seca
E minha boneca
Também lá ficou
Ai, ai, ai, ai
E assim vão deixando
Com choro e gemido
Do berço querido
Céu lindo azul
Meu Deus, meu Deus
O pai, pesaroso
Nos filho pensando
E o carro rodando
Na estrada do Sul
Ai, ai, ai, ai
Chegaram em São Paulo
Sem cobre quebrado
E o pobre acanhado
Procura um patrão
Meu Deus, meu Deus
Só vê cara estranha
De estranha gente
Tudo é diferente
Do caro torrão
Ai, ai, ai, ai
Trabaia dois ano,
Três ano e mais ano
E sempre nos prano
De um dia vortar
Meu Deus, meu Deus
Mas nunca ele pode
Só vive devendo
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar
Ai, ai, ai, ai
Se arguma notícia
Das banda do norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir
Meu Deus, meu Deus
Lhe bate no peito
Saudade lhe molho
E as água nos óio
Começa a cair
Ai, ai, ai, ai
Do mundo afastado
Ali vive preso
Sofrendo desprezo
Devendo ao patrão
Meu Deus, meu Deus
O tempo rolando
Vai dia e vem dia
E aquela famia
Não vorta mais não
Ai, ai, ai, ai
Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
À lama e o paú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul
Ai, ai, ai, ai
TEXTO 3
Leia:
“Apiedei-me; tomei-a na palma da mão e fui depô-la no peitoril da janela. Era tarde; a infeliz expirou dentro de alguns segundos.” (Machado de Assis)
Quantas orações coordenadas podemos depreender do texto acima?
Leia:
Silenciei-me, desliguei o rádio e deixei meu pensamento livre.
Sobre o período acima, é incorreto afirmar que
I. “Coube-me fazer uma pesquisa com dez adolescentes..." (l. 6 e 7)
II. “Acontece que nossa sociedade seleciona um determinado corpo como modelo..." (l. 13 e 14)
III. “Existe a visão de que a diferença se identifica com a desigualdade." (l. 28 e 29)
IV. “Há pessoas que dizem que só a educação é capaz de salvar e desenvolver um país." (l. 34 e 35)
V. “Há um padrão de ser humano estandardizado..." (l. 29 e 30)
Assinale a alternativa em que o comentário apresentado está de acordo com as regras gramaticais para uma norma padrão da língua.