Questões de Concurso Militar EsFCEx 2014 para Oficial - v
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O Amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.
(Fragmento do poema “Definição do Amor", de Gregório de Matos)
Fonte: MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Sel., introdução e notas de José Miguel Wisnik. São Paulo: Editora Cultrix, 1981, p. 25.
Sobre o poeta citado em fragmento, verifique as proposições abaixo e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta
I. O poema pertence à poesia erótica ou érotico-irônica de Gregório de Matos.
II. Há, no poema, desprezo pela concepção amorosa cristã e idealizada do amor, ao optar por uma definição do amor ligada ao corpo e à sua experiência direta.
III. O poema possui um teor lírico e amoroso, quase religioso, na exaltação que faz à mulher.
IV. Pertence à poesia religiosa de Gregório de Matos, sendo um dos poemas mais significativos por sua definição do Amor, com letra maiúscula.
Castro Alves
NÃO SABES, criança? 'Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
Na selva sombria de tuas madeixas, (1)
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.
Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita, (2)
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.
E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh'alma se embate, se irrita... (3)
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!
Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
Um laço de fita. (4)
Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
Teu laço de fita.
Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso
No laço de fita.
Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...
Teu laço de fita.
(ALVES, Castro. Obra completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1997, p. 84-85.
( ) O poema pertence à poesia social de Castro Alves, gênero no qual canta em favor da liberdade, em versos como: “O braço, que rompe cadeias de ferro,/ Não quebra teus elos,/Ó laço de fita!"
( ) A morte, ao final do poema, representa o aprisionamento do eu-lírico, ao impossibilitar a realização do sentimento amoroso.
( ) Há a sugestão de possível relação íntima entre os amantes, nas ações de: “despir os adornos" e “libertar as tranças" e na imagem do “crepitar da vela".
João Cabral de Melo Neto
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro;de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
(MELO NETO, João Cabral. Obra completa – Volume Único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 345)
Sobre o poema Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto, e o modernismo brasileiro, analise as afirmativas abaixo e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
I. O poema, pertencente ao livro A Educação pela Pedra, de João Cabral de Melo Neto, revela a face mais lírica e menos objetiva do poeta modernista, na evocação da concepção mágica e propiciatória dos cantos dos galos.
II. É possível assegurar que o poeta João Cabral de Melo Neto realiza plenamente, em “Tecendo a Manhã", o seu projeto de impessoalidade da poesia modernista na supressão do tom lírico tradicional.
III. As metáforas da “manhã" e da “luz balão" representam o próprio poema (sinônimos ainda de “tela", “tecido", “tenda", “toldo"), do que se conclui ser o poema metalinguístico.
IV. Há no poema referência direta ao ditado popular “uma andorinha só não faz verão", cujo tema é a solidariedade.
Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades... Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente."
(ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 29 ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986, p. 270.)
Texto 2
Poema Didáctico
(Socorro Lira/ Mia Couto)
Já tive um país pequeno, tão pequeno
que andava descalço dentro de mim
Um país tão magro que, no seu firmamento,
não cabia senão uma estrela menina
tão tímida e delicada, que só por dentro brilhava
Eu tive um país escrito sem maiúscula
Não tinha fundos para pagar um herói
Não tinha panos para costurar bandeira
nem solenidade para entoar um hino
Mas tinha pão e esperança pros viventes
e tinha sonhos pros nascentes
Eu tive um país pequeno
que não cabia no mundo
meu país – meu continente
há de caber nesse mundo
meu país e sua gente...
Mas tinha pão e esperança pros viventes
e tinha sonhos pros nascentes
Eu tive um país pequeno
que não cabia no mundo
meu país – meu continente
há de caber nesse mundo
meu país e sua gente
terá que caber no mundo,
meu país e minha gente.
(LIRA, Socorro. Os Sertões do Mundo. EP independente, ano 2014. Disponível em:<http://www.socorrolira.com.br/> Acesso em 25/05/2014.)
Texto 3
“João Guimarães Rosa criou este lugar fantástico, e fez dele uma espécie de lugar de todos os lugares. O sertão e as veredas de que ele fala não são da ordem da geografia. O sertão é um mundo construído na linguagem. “O sertão", diz ele, “está dentro de nós." Rosa não escreve sobre o sertão. Ele escreve como se ele fosse o sertão.
Em Moçambique nós vivíamos e vivemos ainda o momento épico de criar um espaço que seja nosso, não por tomada de posse, mas porque nele podemos encenar a ficção de nós mesmos, enquanto criaturas portadoras de História e fazedoras de futuro. Era isso a independência nacional, era isso a utopia de um mundo sonhado."
(COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 110.)
( ) As metáforas do “sertão" e do “país", nos textos 1 e 2 citados, são análogas e representativas do “lugar fantástico" a que se refere o escritor Mia Couto, no texto 3.
( ) As referências a “sertão" e “país", nos textos 2 e 3, “não são da ordem da geografia" e representam o mundo subjetivo dos personagens/ eu-lírico representados.
( ) “Já tive um país pequeno, tão pequeno/ que andava descalço dentro de mim" diz respeito, circunstancialmente, a Moçambique, país natal do escritor Mia Couto; pode-se inferir, remete ainda a outros sertões, como o sertão mineiro de, Guimarães Rosa.
Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades... Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente."
(ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 29 ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986, p. 270.)
Texto 2
Poema Didáctico
(Socorro Lira/ Mia Couto)
Já tive um país pequeno, tão pequeno
que andava descalço dentro de mim
Um país tão magro que, no seu firmamento,
não cabia senão uma estrela menina
tão tímida e delicada, que só por dentro brilhava
Eu tive um país escrito sem maiúscula
Não tinha fundos para pagar um herói
Não tinha panos para costurar bandeira
nem solenidade para entoar um hino
Mas tinha pão e esperança pros viventes
e tinha sonhos pros nascentes
Eu tive um país pequeno
que não cabia no mundo
meu país – meu continente
há de caber nesse mundo
meu país e sua gente...
Mas tinha pão e esperança pros viventes
e tinha sonhos pros nascentes
Eu tive um país pequeno
que não cabia no mundo
meu país – meu continente
há de caber nesse mundo
meu país e sua gente
terá que caber no mundo,
meu país e minha gente.
(LIRA, Socorro. Os Sertões do Mundo. EP independente, ano 2014. Disponível em:<http://www.socorrolira.com.br/> Acesso em 25/05/2014.)
Texto 3
“João Guimarães Rosa criou este lugar fantástico, e fez dele uma espécie de lugar de todos os lugares. O sertão e as veredas de que ele fala não são da ordem da geografia. O sertão é um mundo construído na linguagem. “O sertão", diz ele, “está dentro de nós." Rosa não escreve sobre o sertão. Ele escreve como se ele fosse o sertão.
Em Moçambique nós vivíamos e vivemos ainda o momento épico de criar um espaço que seja nosso, não por tomada de posse, mas porque nele podemos encenar a ficção de nós mesmos, enquanto criaturas portadoras de História e fazedoras de futuro. Era isso a independência nacional, era isso a utopia de um mundo sonhado."
(COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 110.)
I. A narrativa de Grande Sertão: Veredas é centrada na necessidade do narrador Riobaldo em contar e confessar o encontro e perda da personagem principal Otacília.
II. É possível afirmar que o romance Grande Sertão: Veredas reescreve o tema do sertão presente na literatura denominada regionalista, cujo marco é Os Sertões, de Euclides da Cunha, até os chamados autores regionalistas dos anos 30.
III. Polifonia, plurilinguísmo, prolixidade e abertura são características da linguagem do romance Grande Sertão: Veredas.
IV. O narrador do romance Grande Sertão: Veredas é transparente, unívoco e destituído de conflitos, diferentemente da personagem Diadorim, que assume faces diversas: Diadorim/Reinaldo/Maria Deodorina; belo e feroz; delicado e terrível.
Anderson Cunha
A derradeira...
A derradeira
Lágrima de dor
Teimou e caiu
Ai saudade, eu não sei esquecer
Lágrima de dor
Teimou e caiu
Ai saudade, eu não sei esquecer
Aquela estrela...
Aquela estrela
Marvada chegou
Tinhosa e vil
De mim levou meu bem querer
Aquela estrela ô
Tinhosa e vil
De mim levou meu bem querer
Minha pele é solidão
O meu colo, bem querer
Lágrima de dor
Teimou e caiu
Ai saudade, eu não sei esquecer
Aquela estrela ô
Tinhosa e vil
De mim levou meu bem querer “
(...) Era a Mulher, que falava. Ah, e a Mulher rogava: – Que
trouxessem o corpo daquele rapaz moço, vistoso, o dos olhos muito verdes...
Eu desguisei. Eu deixei minhas lágrimas virem, e ordenando: – 'Traz Diadorim!' (...)
Diadorim, Diadorim, oh, ah, meus buritizais levados de verdes... (...)
Sufoquei, numa estrangulação de dó. Constante o que a
Mulher disse: carecia de se lavar e vestir o corpo.
Piedade, como que ela mesma, embebendo toalha,
limpou as faces de Diadorim, casca de tão grosso sangue, repisado. (...)
Eu dizendo que a Mulher ia lavar o corpo dele. Ela rezava rezas da Bahia.
Mandou todo o mundo sair. Eu fiquei. (...) Não me mostrou de propósito o corpo.
E disse...
Diadorim – nu de tudo. E ela disse:
– 'A Deus dada. Pobrezinha...' (...)
Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor – e mercê peço: – mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo somente no átimo em que eu também só soube... Que Diadorim era o corpo de uma mulher, moça perfeita... (...)
Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci,
retirando as mãos para trás (...) E a Mulher estendeu a toalha,recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. (...) E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:
– 'Meu amor!...' "
Texto extraído do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa
I. Na trama de citações da canção Meus Buritizais levados de verdes, há uma referência à personagem Diadorim (“Diadorim, oh, ah, meus buritizais levados de verdes"), mas também uma citação textual direta à clássica canção do sertão, Asa Branca (“Quando o verde dos teus olhos/ Se espalhar na plantação").
II. Embora a saudade seja tema de ambos os textos, Meus buritizais levados de verdes e Grande Sertão: Veredas, é possível verificar um sentimento de plenitude e realização do desejo pelos amantes nos versos: “Minha pele é solidão/ O meu colo, bem querer" e no trecho citado: “Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. (...) E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo: – 'Meu amor!...' "
III. Meus buritizais levados de verdes tematiza uma das principais problemáticas do romance Grande Sertão: Veredas: a presença do maligno, a mistura entre bem e mal, o que é sintetizado na metáfora da “estrela tinhosa e vil".
IV. A cena clássica da morte de Diadorim, para a qual toda a narrativa de Riobaldo converge, é recuperada pela canção, decorrendo disso o seu teor dramático e trágico, corroborando a impossibilidade de realização do amor sintetizada no romance “até que ponto esses olhos, sempre havendo, aquela beleza verde, me adoecido, tão impossível." (p. 36).