Questões de Concurso Militar PM-PR 2014 para Aspirante da Polícia Militar
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Ensaio sobre a cegueira
E então o Congresso saltitou de alegria porque aprovou que nos próximos dez anos 10% do PIB serão destinados para a Educação.
E então os governadores e prefeitos trombetearam de satisfação porque o Congresso deixou para posterior regulamentação as formas de garantir a aplicação adequada desses recursos e a responsabilização de quem não cumprir.
E então os empresários serpentearam de júbilo porque as verbas não são, assim, propriamente para a educação pública.
E então o governo federal ululou de felicidade porque a medida é um resgate histórico de lutas pela melhoria da educação e com recursos ninguém segura esse país e esse é um país que vai pra frente e quem não gostar, ora, deixe-o.
E então as empresas de informática e de outras parafernálias de última geração para garantir ensino como nunca se viu nesse país deliciaram-se com o êxito da medida que gerará empregos e revolucionará para sempre a educação pátria.
E então muitos professores sapatearam frevos, polcas e mazurcas porque agora terão computadores e tablets, quadros digitais e outras ferramentas tecnológicas a aí sim, a educação vai deslanchar.
E então muitos pais exultaram emocionados e eufóricos porque agora as crianças receberão uniforme escolar e materiais diversos e enfim poderão aprender e tornarem-se cidadãos melhores e mais preparados.
E então muitos alunos festejaram e fizeram chacrinhas e chistes uns com os outros porque agora terão aulas em tempo integral, com muitas atividades de informática e outras atividades lúdicas e jogos e não precisarão mais ficar em casa sem fazer nada.
E então disse o mestre Saramago: “Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos, que, vendo, não veem”.
Daniel de Medeiros, 18/06/2014, http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-no-dia-a-dia/
Ao anunciar que o Hotel Copacabana Palace passou por uma grande reforma para a Copa do Mundo, a revista TAM nas Nuvens (abril 2014) veiculou o seguinte texto:
O Copacabana Palace é daqueles hotéis – dá para contar nos dedos pelo mundo – que são ao mesmo tempo substantivo e adjetivo. Você já deve ter lido “um Copacabana Palace de Buenos Aires” ou algo assim. Mas a verdade é que apenas recentemente, às vésperas de essa grande senhora de Copacabana – sim, porque tudo me faz crer que “o” Copa é um substantivo feminino – completar 90 anos, passei por aquela porta giratória como hóspede. Porém, longe de encontrar uma old lady.
Informe Publicitário publicado em TAM nas Nuvens, abril de 2014.
Sobre o texto, considere as seguintes afirmações:
1. Ao dizer que o Copacabana Palace é “ao mesmo tempo substantivo e adjetivo”, mencionam-se as propriedades de nomear o local e, paralelamente, de designar qualidade quando a expressão é aplicada a outro local.
2. A publicidade argumenta que existem poucos hotéis no mundo comparáveis ao Copacabana Palace.
3. O texto mostra a expansão da rede do “Copa”, exemplificada pela filial em funcionamento na capital argentina.
4. A ideia central do informe é defender que, apesar de sua tradição, o Copacabana Palace responde às exigências da modernidade.
Assinale a alternativa correta.
Há vários exemplos de substantivos que são usados como adjetivos. Os termos grifados das frases que seguem são exemplos disso, COM EXCEÇÃO DE:
As palavras e o tempo
Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” soava-me tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”.
Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. [...]
A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito, parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeitão de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de 20 anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar disponível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi alguém confessar: “Deletei ela da minha vida”.
Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela segue adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.
Cristóvão Tezza, Gazeta do Povo, 20 set.2011.
“Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir
expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeitão de que vieram lá do
tempo de Camões, na verdade não terão mais de 20 anos – e também já estão no Houaiss.” A partir desse trecho, é
correto afirmar:
As palavras e o tempo
Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” soava-me tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”.
Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. [...]
A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito, parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeitão de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de 20 anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar disponível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi alguém confessar: “Deletei ela da minha vida”.
Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela segue adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.
Cristóvão Tezza, Gazeta do Povo, 20 set.2011.
A partir do texto, considere as seguintes afirmações:
1. O tempo imprime mudanças na língua e as inovações não caracterizam perda de recursos ou de expressividade.
2. Ao falar de formas novas, o autor menciona duas vezes que essas formas estão no Houaiss. Com isso, quer dizer que as formas inovadoras já são reconhecidas como fazendo parte da língua.
3. Segundo o autor, uma frase como “Emprestei dinheiro à minha mãe” é inovadora.
4. Os diferentes contornos que a língua vai tomando não são perceptíveis no dia a dia, mas somente quando o intervalo de tempo é significativo.
Assinale a alternativa correta.