Questões de Concurso Militar PM-SP 2013 para Tecnólogo de Administração Policial-Militar

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Q2212795 Português
Leia o texto para responder à questão.

A língua frouxa

  O poeta Ezra Pound dizia que era preciso manter a língua eficiente. Palavras corrompidas, usadas fora de contexto, e a substituição arbitrária e compulsória de umas por outras tornam a língua pobre, imprecisa, ineficiente. Com isso, produzem pensamentos frouxos, e a vida vai para o beleléu.
  Ao agradecer, por exemplo, quase ninguém mais diz “Obrigado”. O gato comeu o primeiro “o”. Milhões agora gorgolejam um excruciante “Brigado”. Não que isso seja novidade – apenas tornou-se uma regra não escrita. Naturalmente, o mesmo empobrecimento que produz o “brigado” impede que, se for uma mulher, ela diga “Obrigada”.
  Da mesma forma, quando alguém hoje nos lisonjeia com um “Obrigado” (ou seu correspondente “Obrigada”), abandonamos a resposta clássica, sóbria e elegante, “De nada” ou “Por nada”. Em vez disso, cacarejamos “Imagina!” – como se ficássemos sinceramente ofendidos por alguém estar nos agradecendo. Há casos em que, não contente, a pessoa solta: “Magina!”. Proponho o seguinte: se alguém nos diz “Brigado!”, fica liberado o uso de “Magina!” – uma elocução merece a outra.
   E o que dizer do “Com certeza!”? Há anos, mandou para o limbo uma variedade de opções, como “Claro!”, “Sem dúvida!”, “Evidente!” ou “Certo!”, além do melhor e tão mais simples “Sim!”. Jogadores de futebol, nas torturantes entrevistas que concedem ao fim da partida, são os grandes abonadores do “Com certeza!”. Quase sempre, sem saber o que significa.
  O locutor pergunta: “Fulaninho, vocês perderam por 10 a 0. Como será o próximo jogo?”. O craque responde: “Com certeza. Agora é levantar a cabeça e trabalhar duro para vencer o próximo jogo e conquistar nossos objetivos”. O locutor só pode agradecer: “Brigado!”.
   E o craque, retrucar: “Magina!”.

(Ruy Castro, Folha de S.Paulo, 01.11.2008. Adaptado)
Para defender a ideia de que a língua precisa manter-se eficiente, o autor argumenta que
Alternativas
Q2212797 Português
Leia o texto para responder à questão.

A língua frouxa

  O poeta Ezra Pound dizia que era preciso manter a língua eficiente. Palavras corrompidas, usadas fora de contexto, e a substituição arbitrária e compulsória de umas por outras tornam a língua pobre, imprecisa, ineficiente. Com isso, produzem pensamentos frouxos, e a vida vai para o beleléu.
  Ao agradecer, por exemplo, quase ninguém mais diz “Obrigado”. O gato comeu o primeiro “o”. Milhões agora gorgolejam um excruciante “Brigado”. Não que isso seja novidade – apenas tornou-se uma regra não escrita. Naturalmente, o mesmo empobrecimento que produz o “brigado” impede que, se for uma mulher, ela diga “Obrigada”.
  Da mesma forma, quando alguém hoje nos lisonjeia com um “Obrigado” (ou seu correspondente “Obrigada”), abandonamos a resposta clássica, sóbria e elegante, “De nada” ou “Por nada”. Em vez disso, cacarejamos “Imagina!” – como se ficássemos sinceramente ofendidos por alguém estar nos agradecendo. Há casos em que, não contente, a pessoa solta: “Magina!”. Proponho o seguinte: se alguém nos diz “Brigado!”, fica liberado o uso de “Magina!” – uma elocução merece a outra.
   E o que dizer do “Com certeza!”? Há anos, mandou para o limbo uma variedade de opções, como “Claro!”, “Sem dúvida!”, “Evidente!” ou “Certo!”, além do melhor e tão mais simples “Sim!”. Jogadores de futebol, nas torturantes entrevistas que concedem ao fim da partida, são os grandes abonadores do “Com certeza!”. Quase sempre, sem saber o que significa.
  O locutor pergunta: “Fulaninho, vocês perderam por 10 a 0. Como será o próximo jogo?”. O craque responde: “Com certeza. Agora é levantar a cabeça e trabalhar duro para vencer o próximo jogo e conquistar nossos objetivos”. O locutor só pode agradecer: “Brigado!”.
   E o craque, retrucar: “Magina!”.

(Ruy Castro, Folha de S.Paulo, 01.11.2008. Adaptado)
Em – Há anos, mandou para o limbo uma variedade de opções… –, o verbo haver contribui para marcar a passagem do tempo.
Assinale a alternativa em que o verbo em destaque exerce a mesma função e foi empregado de acordo com a norma­ -padrão.
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Q2212798 Português

Leia o trecho do conto “Fatalidade”, de Guimarães Rosa.


  Na data e hora, estava-se em seu fundo de quintal, exercitando ao alvo, com carabinas e revólveres, revezadamente. Meu Amigo, a bom seguro que, no mundo ninguém, jamais, atirou quanto ele tão bem – no agudo da pontaria e rapidez em sacar arma; gostava disso, por dia, caixas de balas. Sucedeu nesse comenos que o vieram chamar, que o homenzinho o procurava.

   O qual, vendo-se que caipira, ar e traje. Dava-se de entre vinte-e-muitos e trinta anos; devia de ter bem menos, portanto. Miúdo, moído. Mas concreto como uma anta, e carregado o rosto, gravado, tão submetido, o coitado; as mãos calosas, de enxadachim. Meu Amigo, mandando-lhe sentar e esperar, continuou, baixo, a conversa; fio que, apenas, para poder melhor observar o outro, vez a vez, com o rabo-do-olho, aprontando-lhe a avaliação. Do que disse: – “Se o destino são componentes consecutivas – além das circunstâncias gerais de pessoa, tempo, lugar… e o karma…” Ponto que o Meu Amigo existia, muito; não se fornecia somente figura fabulável, entenda-se. O homenzinho se sentara na ponta da cadeira, os pés e joelhos juntos, segurando com as duas mãos o chapéu; tudo limpinho pobre.

   Convidado a dizer-se, declinou que de nome José de Tal, mas, com perdão, por apelido Zé Centeralfe. Sentia-se que era um sujeito já arrumado de si, mas embrulhava-se a falar, por gravidade: – “Sou homem de muita lei… Tenho um primo oficial-de-justiça… Mas não me abrange socorro… Sou muito amante da ordem…” Meu Amigo murmurou mais ou menos: – “Não estamos debaixo da lei, mas da graça…” O homenzinho, posto em cruz comprida, e porque se achasse rebaixado, quase desonrado – e ameaçado – viera dar parte.

   Representou: que era casado, em face do civil e da igreja, sem filhos, morador no arraial do Pai-do-Padre. Vivia tão bem, com a mulher, que tirava divertimento do comum e no trabalho não compunha desgosto. Mas, de mandado do mal, se deu que foi infernar lá um desordeiro, vindiço, se engraçou desbrioso com a mulher, olhou para ela com olho quente… – “Qual era o nome?” – Meu Amigo o interrompeu. – “É um Herculinão, cujo sobrenome Socó…” – explicou o homenzinho.


(João Guimarães Rosa. Primeiras Estórias.

Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1978. Adaptado)


Pela leitura do texto, é correto afirmar que

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Q2212799 Português
Leia o capítulo XX de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, para responder à questão.

Bacharelo-me


   Um grande futuro! Enquanto esta palavra me batia no ouvido, devolvia eu os olhos, ao longe, no horizonte misterioso e vago. Uma ideia expelia outra, a ambição desmontava Marcela. Grande futuro? Talvez naturalista, literato, arqueólogo, banqueiro, político ou até bispo, – bispo que fosse, – uma vez que fosse um cargo, uma preeminência, uma grande reputação, uma posição superior. A ambição, dado que fosse águia, quebrou nessa ocasião o ovo, e desvendou a pupila fulva e penetrante. Adeus, amores! adeus, Marcela! dias de delírio, joias sem preço, vida sem regime, adeus! Cá me vou às fadigas e à glória; deixo-vos com as calcinhas da primeira idade.
   E foi assim que desembarquei em Lisboa e segui para Coimbra. A Universidade esperava-me com as suas matérias árduas; estudei-as muito mediocremente, e nem por isso perdi o grau de bacharel; deram-mo com a solenidade do estilo, após os anos da lei; uma bela festa que me encheu de orgulho e de saudades, – principalmente de saudades. Tinha eu conquistado em Coimbra uma grande nomeada de folião; era um acadêmico estroina, superficial, tumultuário e petulante, dado às aventuras, fazendo romantismo prático e liberalismo teórico, vivendo na pura fé dos olhos pretos e das constituições escritas. No dia em que a Universidade me atestou, em pergaminho, uma ciência que eu estava longe de trazer arraigada no cérebro, confesso que me achei de algum modo logrado, ainda que orgulhoso. Explico-me: o diploma era uma carta de alforria; se me dava a liberdade, dava-me a responsabilidade. Guardei-o, deixei as margens do Mondego, e vim por ali fora assaz desconsolado, mas sentindo já uns ímpetos, uma curiosidade, um desejo de acotovelar os outros, de influir, de gozar, de viver, – de prolongar a Universidade pela vida adiante…

(Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ática, 1997)
Com base nas informações do texto, é correto afirmar que o narrador sentia-se
Alternativas
Q2212800 Português
Leia o capítulo XX de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, para responder à questão.

Bacharelo-me


   Um grande futuro! Enquanto esta palavra me batia no ouvido, devolvia eu os olhos, ao longe, no horizonte misterioso e vago. Uma ideia expelia outra, a ambição desmontava Marcela. Grande futuro? Talvez naturalista, literato, arqueólogo, banqueiro, político ou até bispo, – bispo que fosse, – uma vez que fosse um cargo, uma preeminência, uma grande reputação, uma posição superior. A ambição, dado que fosse águia, quebrou nessa ocasião o ovo, e desvendou a pupila fulva e penetrante. Adeus, amores! adeus, Marcela! dias de delírio, joias sem preço, vida sem regime, adeus! Cá me vou às fadigas e à glória; deixo-vos com as calcinhas da primeira idade.
   E foi assim que desembarquei em Lisboa e segui para Coimbra. A Universidade esperava-me com as suas matérias árduas; estudei-as muito mediocremente, e nem por isso perdi o grau de bacharel; deram-mo com a solenidade do estilo, após os anos da lei; uma bela festa que me encheu de orgulho e de saudades, – principalmente de saudades. Tinha eu conquistado em Coimbra uma grande nomeada de folião; era um acadêmico estroina, superficial, tumultuário e petulante, dado às aventuras, fazendo romantismo prático e liberalismo teórico, vivendo na pura fé dos olhos pretos e das constituições escritas. No dia em que a Universidade me atestou, em pergaminho, uma ciência que eu estava longe de trazer arraigada no cérebro, confesso que me achei de algum modo logrado, ainda que orgulhoso. Explico-me: o diploma era uma carta de alforria; se me dava a liberdade, dava-me a responsabilidade. Guardei-o, deixei as margens do Mondego, e vim por ali fora assaz desconsolado, mas sentindo já uns ímpetos, uma curiosidade, um desejo de acotovelar os outros, de influir, de gozar, de viver, – de prolongar a Universidade pela vida adiante…

(Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ática, 1997)
Pela leitura do capítulo “Bacharelo-me”, é correto concluir que
Alternativas
Respostas
1: E
2: D
3: D
4: C
5: D