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Q718386 Português

A casa das ilusões perdidas  


            Quando ela anunciou que estava grávida, a primeira reação dele foi de desagrado, logo seguida de franca irritação. Que coisa, disse, você não podia tomar cuidado, engravidar logo agora que estou desempregado, numa pior, você não tem cabeça mesmo, não sei o que vi em você, já deveria ter trocado de mulher havia muito tempo. Ela, naturalmente, chorou, chorou muito. Disse que ele tinha razão, que aquilo fora uma irresponsabilidade, mas mesmo assim queria ter o filho. Sempre sonhara com isso, com a maternidade – e agora que o sonho estava prestes a se realizar, não deixaria que ele se desfizesse. 

            – Por favor, suplicou. – Eu faço tudo que você quiser, eu dou um jeito de arranjar trabalho, eu sustento o nenê, mas, por favor, me deixe ser mãe.

            Ele disse que ia pensar. Ao fim de três dias daria a resposta. E sumiu.

           Voltou, não ao cabo de três dias, mas de três meses. Àquela altura ela já estava com uma barriga avançada que tornava impossível o aborto; ao vê-lo, esqueceu a desconsideração, esqueceu tudo – estava certa de que ele vinha com a mensagem que tanto esperava, você pode ter o nenê, eu ajudo você a criá-lo.

          Estava errada. Ele vinha, sim, dizer-lhe que podia dar à luz a criança; mas não para ficar com ela. Já tinha feito o negócio: trocariam o recém-nascido por uma casa. A casa que não tinham e que agora seria o lar deles, o lar onde – agora ele prometia – ficariam para sempre.

           Ela ficou desesperada. De novo caiu em prantos, de novo implorou. Ele se mostrou irredutível. E ela, como sempre, cedeu.

           Entregue a criança, foram visitar a casa. Era uma modesta construção num bairro popular. Mas era o lar prometido e ela ficou extasiada. Ali mesmo, contudo, fez uma declaração.

          – Nós vamos encher esta casa de crianças. Quatro ou cinco, no mínimo.

         Ele não disse nada, mas ficou pensando. Quatro ou cinco casas, aquilo era um bom começo.


                                                                                                             Moacyr Scliar. Folha de S.Paulo, 14/06/99.  

Para responder à questão 2, leia a oração abaixo e considere como classes de palavras: substantivo, adjetivo, artigo, pronome, numeral, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição.

“Eu faço tudo que você quiser [...]”

Assinale a alternativa cujo vocábulo destacado pertence à mesma classe de palavra de “tudo”, na oração acima.

Alternativas

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Para resolver a questão apresentada, é fundamental entender que ela trata da identificação da classe gramatical de palavras dentro de uma oração. A classe de palavras destacada na oração é "tudo", que, neste contexto, funciona como um pronome indefinido.

Alternativa correta: D - “Ele disse que ia pensar.”

"Ele" é um pronome pessoal do caso reto. Assim como "tudo", que é um pronome indefinido, "ele" pertence à classe de pronomes. Ambos são utilizados para substituir ou referir-se a um substantivo, qualificando-os como da mesma classe de palavras.

Análise das alternativas incorretas:

A - “Quando ela anunciou que estava grávida [...]”.

A palavra "quando" é uma conjunção subordinativa que introduz uma oração subordinada adverbial temporal. Portanto, não pertence à mesma classe de palavras que "tudo".

B - “E ela, como sempre, cedeu.”

"Sempre" é um advérbio de tempo, usado para indicar a frequência com que uma ação ocorre. Novamente, é uma classe diferente de "tudo".

C - “Ela, naturalmente, chorou, chorou muito.”

A palavra "naturalmente" é um advérbio de modo, que modifica o verbo "chorou", indicando a maneira como a ação foi realizada. Isso a distingue da classe dos pronomes.

Ao compreender a função de cada classe gramatical e identificar corretamente os pronomes, você conseguirá resolver questões como esta com mais confiança e precisão.

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Comentários

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"Tudo", morfologicamente, é um pronome indefinido.

Pronomes, na sintaxe, sempre serão (I) substantivo, quando substituirem um nome, ou (II) adjetivo, quando acompanharem um nome.

Na hipótese, "tudo" não acompanha nada, ele substitui alguma coisa. Logo, possui natureza substantiva.

Dentre as alternativas trazidas pela questão, a única que trata de um substantivo é a D (gabarito).

O bizu é que a questão pediu a análise morfológica ( ou seja, a forma da palavra/classificação) e não a análise sintática

Tudo- Pronome, especificamente, indefinido

Ele- Pronome, especificamente, pessoal do caso reto.

LETRA D

"Tudo" e "Ele" são pronomes. Gab: E

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