Em “A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo...

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Ano: 2021 Banca: Marinha Órgão: EAM Prova: Marinha - 2021 - EAM - Marinheiro |
Q1870269 Português

Texto 1

Eu sei, mas não devia

        Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

        A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

        A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

        A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

         Agente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando - precisava tanto ser visto.

        A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

        A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. À ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, tançado na infindável catarata dos produtos.

        A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

        A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

        A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

COLASANTI, M. Eu sei, mas não devia. Jornal do Brasil, 1972.

Em “A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.” (3º) e “Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.” (10º8), as palavras destacadas foram empregadas, respectivamente, como:  
Alternativas

Gabarito comentado

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A alternativa correta é: E - verbo, conjunção, pronome, preposição.

Vamos entender por que esta é a resposta certa, analisando cada palavra destacada na questão:

1. "Ler" - A palavra "ler" é uma verbo do infinitivo, que expressa a ação de ler.

2. "Porque" - Aqui, "porque" é uma conjunção explicativa, usada para introduzir uma explicação ou razão.

3. "Que" - No trecho "que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma," o "que" é um pronome relativo, que se refere a "vida".

4. "De" - A palavra "de" é uma preposição, que estabelece uma relação entre "perde" e "si mesma".

Agora, vejamos por que as outras alternativas estão incorretas:

A - substantivo, pronome, conjunção, conjunção.
"Ler" não é um substantivo; é um verbo.

B - verbo, conjunção, conjunção, preposição.
"Que" é um pronome relativo, não uma conjunção em seu uso no texto.

C - substantivo, conjunção, pronome, preposição.
Novamente, "ler" é um verbo, não um substantivo.

D - verbo, pronome, advérbio, conjunção.
A palavra "de" é uma preposição, não um advérbio.

Com essas explicações, espero ter esclarecido como identificar as categorias gramaticais dessas palavras no contexto. Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!

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Comentários

Veja os comentários dos nossos alunos

E) Verbo, conjunção, pronome, preposição

"que" se torna pronome relativo porque pode ser substituído por " a qual".

A ler o jornal no ônibus....

A questão parece está equivocada, pois artigo + verbo no infinitivo = mudança de classe gramatical, ou seja, viraria um substântivo.

Gab deveria ser C!

FATIOU PASSOU!!!!

Pessoal o artigo "A" não está substantivando o verbo "ler" ? Não entendi.

Não está substantivando. Leiam a frase no texto pra entenderem melhor

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