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Q574602 Português

Tabacaria


Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é

(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente

[certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos

[seres,

Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos

[brancos nos homens,

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada

[de nada.

(Fernando Pessoa, Obra Poética)

O poema revela
Alternativas

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Alternativa correta D

A leitura atenta do poema permite identificar a inquietação diante do incompreensível, daquilo que vai além dos sentidos (metafísica), e também de certo pessimismo e falta de esperança do eu-lírico. Aliás, características bem típicas deste heterônimo de Fernando Pessoa.

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