O trecho – ... Sandra teria de admitir seu erro. (2.º parágr...
Não era exatamente um trabalho muito agradável: Jordão
supervisionava o funcionamento de 20 câmeras de segurança
espalhadas numa área da cidade muito sujeita a assaltos (bancos,
lojas, joalherias etc.). Sua tarefa era certificar-se de que as câmeras
estavam captando e gravando adequadamente imagens que
poderiam servir de prova contra delinquentes.
Sandra, sua mulher, jovem e ambiciosa, achava esse trabalho um
lixo. Como o marido ganhava pouco, moravam num apartamento
minúsculo, desde que se casaram há mais de cinco anos e andavam de
ônibus, porém o sonho dela era ter uma mansão e um carro de luxo. Se
isso não acontecia era só por causa dele. “Você é um incompetente”,
dizia. Jordão optava por ignorar as observações da mulher, mesmo
porque tinha certeza de que, um dia, seu trabalho seria reconhecido.
Um dia ocorreria um assalto, ele identificaria os bandidos, seu nome
apareceria nos jornais. E aí Sandra teria de admitir seu erro. Mas,
enquanto isso, era um desagradável e irritante bate-boca atrás de
outro entre eles. Mas um dia, irritado, Jordão acabou gritando com
ela. “Vou me vingar”, ela prometeu, então, vermelha de raiva.
Um mês depois, ladrões, de madrugada, tiveram a ousadia de
entrar num banco vigiado pelas câmeras, levando todo o dinheiro.
Jordão foi chamado pela polícia e dirigiu-se, de manhã, para o
seu local de trabalho, precisava examinar e ampliar as gravações
feitas pelas câmeras. Sem demora, começou a trabalhar, e, de fato,
uma das câmeras captara o momento em que os criminosos, três,
saíam do banco com as sacolas de dinheiro. Todos estavam com
capuzes de lã preta na cabeça. Observava aquilo e então sentiu
um baque no coração: junto com os assaltantes havia uma mulher
que não usava capuz. Ao contrário, olhava de frente para a câmera
sorrindo ironicamente. Ele reconheceu: era Sandra, sua mulher.
Então deletou as imagens. À polícia disse que algum problema
acontecera com a câmera e que nada fora gravado. A tecnologia
é assim: quando menos se espera, ela nos trai.
(Moacyr Scliar, Folha de S.Paulo, 02.05.05. Adaptado)
Gabarito comentado
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Para resolver essa questão, precisamos focar em interpretação de texto, especificamente no contexto das relações entre os personagens e suas percepções sobre o trabalho de Jordão. Vamos analisar cada alternativa e entender por que a alternativa B é a correta.
Alternativa A: "agredi-lo fisicamente."
Essa alternativa não é mencionada no texto. Não há qualquer indicação de que Sandra tenha agredido Jordão fisicamente. O foco do texto é sobre a insatisfação dela com o trabalho dele e suas consequências.
Alternativa B: "achar que o trabalho dele não tinha valor."
Esta é a alternativa correta. No enredo, Sandra desdenha do trabalho de Jordão, chamando-o de "lixo" e atribuindo a ele a culpa por não terem uma vida melhor. Isso deixa claro que ela não vê valor no trabalho dele, o que vai de encontro ao desejo de Jordão de que ela reconheça seu valor.
Alternativa C: "não usar capuz quando seguia os ladrões."
Embora Sandra seja vista sem capuz nas imagens, essa ação está relacionada a outro contexto do texto, que é o assalto, e não à percepção do valor do trabalho de Jordão. Portanto, não se conecta com o erro que Jordão esperava que Sandra admitisse.
Alternativa D: "pretender que ele conseguisse o dinheiro sendo assaltante."
Essa ideia não é abordada no texto. Não há menção de que Sandra desejasse que Jordão se tornasse assaltante para conseguir dinheiro. A crítica dela é sobre o salário e o valor que ela atribui ao trabalho dele.
Alternativa E: "desejar ter um carro de luxo."
Embora o desejo de Sandra por uma vida mais luxuosa seja mencionado, não é isso que Jordão espera que ela admita como erro. O ponto central é a percepção dela sobre o valor do trabalho dele.
Para resolver questões de interpretação como essa, é fundamental identificar o tema central do texto e como ele se relaciona com as alternativas oferecidas. Fique atento a palavras-chave e a sentimentos expressos nas relações dos personagens para guiar sua interpretação.
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