A posição do pronome oblíquo é facultativa em
TELEFONE, UM INIMIGO NECESSÁRIO
Anna Veronica Mautner
Na vida nossa de cada dia, muitos tornam o número de telefone acessível, nem sempre com disposição para atender as exigências que disso decorrem. Existe aí uma responsabilidade em relação ao "outro". Se eu dou meu número para alguém, estou anunciando que sou acessível.
No tempo em que existia lista telefônica, isso poderia ser discutível, pois os números ficavam públicos de certa forma, por lei. Mas, hoje, meu número de celular não está em lista oficial nenhuma, só é acessível se eu der. A partir daí, torno-me responsável por atendê-lo. O processo funciona em mão dupla. Quando ligo para alguém, imagino que vá me atender - senão, por que teria me dado seu número?
A relação com a telefonia é uma escolha pessoal. Há quem ama falar, há quem é lacônico. Seja como for, tornar-se acessível significa perder graus de liberdade e, ao mesmo tempo, ganhar em acessibilidade.
O telefone me torna pública, mas também pode preservar minha privacidade. Para me garantir e me defender, posso usar a secretária eletrônica ou o bina, aliás, inventado e patenteado por um brasileiro.
Tudo isso é muito recente. Há cinquenta anos, o telefone era uma raridade reservada para pessoas da classe A. A linha era comprada a preço de ouro. Muitas lojas não tinham mais do que um aparelho - muitas vezes com cadeado; outras, com cadeado só das 13h às 15h, quando ilegalmente recebiam o resultado do jogo do bicho - não disponível para fregueses.
E, então, um dia, privatizaram a companhia telefônica, e a cidade foi inundada por telefones. Logo depois chegaram os celulares, que invadiram definitivamente nossa vida.
Tudo isso transformou as relações interpessoais de maneira avassaladora. Não atender o celular pode ser visto quase como um estelionato. Você está privando o outro do acesso a você - que você prometeu quando deu o número.
O celular foi uma revolução tão grande quanto a difusão do telefone fixo. Se ligo para o fixo de alguém que não me atende, só sei que a pessoa não está lá. Mas, com o celular, temos que aprender a mentir melhor. Vamos desenvolvendo jeitinhos. Se fulano não me atende, ligo de um número que ele não conhece e descubro se não está lá ou se não quer me atender. Inventamos o bina e depois inventamos jeitinhos para driblá-lo.
A barreira da invisibilidade ainda não foi vencida. Se é meu amigo ou meu inimigo, não sou capaz de distinguir antes de atender e ouvir a voz. Só depois de atender, o enigma se desfaz. Uma educação para o uso do telefone se faz cada dia mais necessária.
Folha de São Paulo, 05 fev.2013
VOCABULÁRIO
Lacônico: breve, conciso.
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Comentários
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Alguém poderia me explicar essa questão? Pra mim, a letra C é próclise obrigatório devido ao pronome QUE. Eu respondi a letra A.
Essa questão é muito ESTRANHA,principalmente, a Letra C deveria está errada: Só seria facultativa se tivesse PREPOSIÇÃO ou PALAVRAS NEGATIVAS+ VERBO NO INFINITIVO.
Verbo no infinito não flexionado a próclise ou ênclise são facultaivas...
Para mim, essa questão tem duas assertvas corretas. Na letra A, tem-se sujeito explícito logo é facultativo. Na letra C, entre o QUE e o ME há uma palavra (verbo), podendo ocorrer tanto próclise quanto ênclise.
GABARITO: LETRA C
A) “Uma educação para o uso do telefone se faz cada dia mais necessária.” → temos a preposição "para" sendo fator atrativo do pronome, fato de próclise, única colocação possível.
B) “Se fulano não me atende, ligo de um número que ele não conhece [...].” → temos o advérbio de negação sendo fator atrativo do pronome, única colocação possível.
C) “Quando ligo para alguém, imagino que vá me atender [...].” → temos um verbo no infinitivo impessoal, mesmo a conjunção integrante "que" sendo fator atrativo a colocação pronominal é facultativa, podendo ocorrer próclise (me atender) OU ênclise (atender-me).
D) “A partir daí, torno-me responsável por atendê-lo.” → a vírgula joga o pronome para depois do verbo (fator de ênclise), única colocação possível.
FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☺
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